Há muitos e muitos anos atrás moravam numa colônia de
trabalhadores, diaristas, empreiteiros, roceiros, chacareiros etc. Um lugar muito antigo desde os tempos da
escravidão no Brasil. Esses lugarejos ou colônias até mesmo vilarejos sempre
tem histórias que os mais antigos contam. Essa cultura vai sendo transmitida de
pais para filhos e netos. As vezes elas se tornam lendas onde muitos creem nas
narrativas, outros duvidam dos chamados “causos’. Sabemos que em todas as
épocas de nossa vida deparamos com pessoas de todas as classes, mais cultas,
menos cultas as pessoas que gostam de divertir os outros com pilhérias, contos,
anedotas fatos acontecidos outros inventados com muita perfeição que até parece
verdade, mas de qualquer forma sendo mentira ou verdade divertem a gente. No
caso que vou contar a você é narrativa verídica acontecido mesmo, de
verdade! Numa fazenda antiga nas
mediações desta colônia que mencionamos cujos donos e seus herdeiros já tinham
morrido há muitos anos existia uma história a respeito do saci Pererê, dizia um dos mais antigos da colônia que
neste lugar era o reduto de sacis um ou outro que passava por aqueles lados
tinha a sorte de ver o negrinho de um perna só pulando para todo lado com seu
cabelinho carapinhado, um borrete vermelho na cabeça e pitando um cachimbo. Não
pense as criaturas que não existe a sacizinha esposa dele, existe sim! Só que
ela não é pretinha. Ela é loirinha, ele a ama que ninguém e capaz de crer. Tem
dela um ciúme mortal. Doentio mesmo. O lugar que eles dois tem para descansar é
em cima de tronco de árvore caído e alto do chão, se eles estão em cima , de lá
do alto ele vê quem se aproxima. Melhor é quando o tronco está de um lado de um
córrego e, na queda fez sobre o curso d’agua uma pinguela; este é o seu lugar
ideal de descanso. Sempre alegre, descontraído fazedor de artes que só ele sabe.
Apronta de tudo, curtas e grossas: É sabido por todos os que o conhecem que ele
gosta de lugares onde tem velhos mangueiros, tronqueiras, casas abandonadas,
estradas velhas, taperas e onde tem marcas diversas de passagens de nós os
humanos. Eles são na verdade seres sobrenaturais , visíveis e outras horas
invisíveis, ouvimos o seu assovio, as vezes pertinho de nós, de repente está
tão longe que não dá para acreditar, que seja dele o assovio, as vezes vocês
chega a sentir que próximo de ti há alguma coisa que não consegue ver. É ele,
com certeza, cheio de truques e malandragens
querendo aprontar uma contigo, ele te sonda de todo jeito, se você é
fumante , tá pra ele! Tá do jeito que ele gosta! Experimente deixar um pedaço
de fumo de corda em cima de um toco, ou em cima de um pau deitado e você diz:
Este é para ti, meu amigo, ponha no teu cachimbo e pite! Você acabou de arrumar
um companheiro e tanto, ele nunca
esquece do que fazem por ele. Sabe ser agradecido! Não tarda muito ele arranja
um jeito de lhe agradecer. Se você perde um objeto, ele não deixa outro achar
senão você que é o dono! Esteja certo disso! Ele sabe onde você mora, ele
espanta gavião ou algum bicho que quer pegar suas galinhas, ele cuida a sua
casa, ajuda a pegar o seu animal de montaria quando você precisar. Porque
cavalgar é com ele mesmo. Não há animal bravo para ele. Quando é tarde da noite,
que escutamos os animais correndo e escaramuçando nos corredores e pátios de
fazendas: Você ouve o tradicional nome dele no barulho que os animais fazem ao
correrem. Pererê, Pererê, Pererê . É ele
anunciando que está por aí sempre pronto para o que der e vier. Também não há
quem goste de cachaça igual ele. Os beberrões em especial
peões campeiros oferecem-lhe um trago quando estão trabalhando
e tem cachaça nos alforges. Ele o saci se torna um companheiro inseparável dos
tais. Agora vamos ver o outro lado do saci, ele não gosta muito de cachorro,
porque o cão o vê! Principalmente porque o animal tudo o que vê late. Não gosta
de ser mal falado, criticado ou zombado; ele procura se vingar o mais rápido
possível, quem fez a ele algum mal que se cuide! Se for mulher, ele dá um jeito de fazer alguma coisa para lhe
dar raiva e xingar, ele é pirracento até não poder mais, faz as galinhas chocas
levantar do ninho fora de hora para esfriar os ovos e agourá-los, isto é, não
vingar os pintinhos, faz mosca cair dentro do latão de leite faz o leite azedar
esconde as coisas, a mulher fica doida procurando e não acha! O saci dá é
muitas gargalhadas! Depois se for os homens que lhe fez desfeitas, é outro
problema se duvidar mais grave ainda, esparrama a tropa, fazendo-a escapar do
piquete, espalha as vacas leiteiras dos bezerros deixa-os berrando a noite
toda, monta os cavalos, trança as crinas do animal, amarra, dá um nó tão bem
feito o rabo da tropa que só você vendo para acreditar e que dá um trabalho
danado para no outro dia cedo você desfazer aquilo tudo, enfim; não adianta
insultá-lo. Agrade-o que sairá melhor, outra verdade não é correto aborrecer
ninguém, muito menos o saci. Conforme iniciei esta história vamos aos fatos, na
dita colônia que falamos no início dêsse ‘causo’. Como sempre há pessoas que são
arrogantes ás vezes, ou por uma tola
ignorância, que nem mesmo o idiota sabe de onde veio. O sujeito ouvia alguém
contar sobre o saci onde afirmara que ele havia dado uma surra nos cães de
certo senhor. E quando viram que era as artes do negrinho, entraram casa
adentro fechando todas as portas e janelas, com medo dele, este fato aconteceu
numa noite dessas. No dia seguinte os cães amanheceram de lombo inchado de
tanto que apanharam do saci. Ninguém conseguiu ver nada, só ouviam o chicote do
saci cortando o ar e os cães gritarem no couro. Um samba de laçaços que os
cachorros não tinham para onde correr. O dito cujo sujeito já bravateou: Se ele
vir dar nos meus cachorros, quem vai sair de lombo ardendo será esse “Preto mal
acostumado” Quem vai dar no lombo dele sou eu. Ele não criou cachorro. O que
ele está pensando! Aqui não, Bastião!
Vai baixar em outro “Centro.” Manda ele
vir aqui! Mas antes prepare uma salmoura para passar nas costas quando chegar
em casa! Não vou alisar esse preto. Parece até que as suas bravatas ecoaram
pelo sertão afora e chegaram aos ouvidos do saci Pererê. De imediato nada
aconteceu, passaram-se os dias e numa noite dessas ouvem-se os cães uivarem
logo a boca da noite. De repente uma brisa suave, aquele ventinho da noite
assoprando cada vez mais forte até que, os cães rosnaram, latiram e avançaram
em alguma coisa, ninguém viu o que era, evidente que foi a presença do saci que incomodou os
cachorros; de lá de dentro da casa o homem atiçou os cães; estava formada a
confusão era isso que o saci queria; viera para isso; vingar-se das ofensas
recebidas. É agora ou nunca! Deu uma chicotada num dos cachorros, cainhãem,
cainhãem cainhãem. O homem levanta
furioso, esbravejando, Ah! seu vagabundo, é você que está aí? Espere só um
pouquinho! Vou dar o que você precisa! Armou-se de uma faca, trouxe na outra
mão uma lamparina de querosene acesa para ver se enxergava o saci. Ele só pode
ver dois olhos brilhantes reluzindo na
noite escura. Partiu para cima do negrinho, norteando pelo par de olhos, levou
um escorregão ninguém sabe em quê. Caiu para um lado e a lamparina para outro, derramando
o querosene e incendiando ao mesmo
tempo, as labaredas levantaram no chão sobre o combustível, enquanto isso o
saci dava chicotadas nos cães e no homem que rolava pelo chão sem que pudesse
levantar. Enfim levantou, tomou uma rasteira como se fosse um vento que tornara
derrubá-lo, vai “pêia” no lombo do homem sem dó nem piedade; naquele reboliço a
esposa veio lá do quarto com outra lamparina acesa socorrer o marido que já
estava roxo de tanto apanhar, mal chegou, uma chicotada tirou-lhe das mãos a lamparina,
que de novo derrama o liquido comburente, fogo de novo! O reboliço ficou maior
ainda, ela no escuro pegou o marido do braço e arrastou-o para dentro de casa
de qualquer jeito, o saci só deixou de surrá-lo quando ele estava dentro da
casa. O pobre homem apanhado, humilhado na frente da família não teve outro
recurso a não ser ficar quietinho dentro do quarto e pedir a ela que passasse
salmoura nos calombos das costas, era cada vergão de dar pena. No outro dia
cedo a vizinhança que havia ouvido a
bagunça á noite estava toda curiosa para saber o que barulheira era
aquela. O coitado do homem não pôs sequer a ponta do nariz para fora de tanta
vergonha. Desfiara o saci e não dera conta do que falou. Enquanto isso o saci fora embora assoviando
como é o seu costume quando se vinga de um ultraje recebido e sai vitorioso de
mais uma missão.
ESSE “CAUSO” É UMA PARTE DO NOSSO FOLCLORE, FAZ SENTIDO
PORQUE SÃO: COISAS DE CABOCLO........
ESCRITO POR LUIZÃO-O-CHAVES
ANASTÁCIO MS 03/07/2013
luizmoreirachaves@gmail.com
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