sexta-feira, 5 de julho de 2013

O SACI PERERÊ E O HOMEM BRANCO


Há muitos e muitos anos atrás moravam numa colônia de trabalhadores, diaristas, empreiteiros,  roceiros, chacareiros  etc. Um lugar muito antigo desde os tempos da escravidão no Brasil. Esses lugarejos ou colônias até mesmo vilarejos sempre tem histórias que os mais antigos contam. Essa cultura vai sendo transmitida de pais para filhos e netos. As vezes elas se tornam lendas onde muitos creem nas narrativas, outros duvidam dos chamados “causos’. Sabemos que em todas as épocas de nossa vida deparamos com pessoas de todas as classes, mais cultas, menos cultas as pessoas que gostam de divertir os outros com pilhérias, contos, anedotas fatos acontecidos outros inventados com muita perfeição que até parece verdade, mas de qualquer forma sendo mentira ou verdade divertem a gente. No caso que vou contar a você é narrativa verídica acontecido mesmo, de verdade!  Numa fazenda antiga nas mediações desta colônia que mencionamos cujos donos e seus herdeiros já tinham morrido há muitos anos existia uma história a respeito do saci Pererê,  dizia um dos mais antigos da colônia que neste lugar era o reduto de sacis um ou outro que passava por aqueles lados tinha a sorte de ver o negrinho de um perna só pulando para todo lado com seu cabelinho carapinhado, um borrete vermelho na cabeça e pitando um cachimbo. Não pense as criaturas que não existe a sacizinha esposa dele, existe sim! Só que ela não é pretinha. Ela é loirinha, ele a ama que ninguém e capaz de crer. Tem dela um ciúme mortal. Doentio mesmo. O lugar que eles dois tem para descansar é em cima de tronco de árvore caído e alto do chão, se eles estão em cima , de lá do alto ele vê quem se aproxima. Melhor é quando o tronco está de um lado de um córrego e, na queda fez sobre o curso d’agua uma pinguela; este é o seu lugar ideal de descanso. Sempre alegre, descontraído fazedor de artes que só ele sabe. Apronta de tudo, curtas e grossas: É sabido por todos os que o conhecem que ele gosta de lugares onde tem velhos mangueiros, tronqueiras, casas abandonadas, estradas velhas, taperas e onde tem marcas diversas de passagens de nós os humanos. Eles são na verdade seres sobrenaturais , visíveis e outras horas invisíveis, ouvimos o seu assovio, as vezes pertinho de nós, de repente está tão longe que não dá para acreditar, que seja dele o assovio, as vezes vocês chega a sentir que próximo de ti há alguma coisa que não consegue ver. É ele, com certeza, cheio de truques e malandragens  querendo aprontar uma contigo, ele te sonda de todo jeito, se você é fumante , tá pra ele! Tá do jeito que ele gosta! Experimente deixar um pedaço de fumo de corda em cima de um toco, ou em cima de um pau deitado e você diz: Este é para ti, meu amigo, ponha no teu cachimbo e pite! Você acabou de arrumar um companheiro  e tanto, ele nunca esquece do que fazem por ele. Sabe ser agradecido! Não tarda muito ele arranja um jeito de lhe agradecer. Se você perde um objeto, ele não deixa outro achar senão você que é o dono! Esteja certo disso! Ele sabe onde você mora, ele espanta gavião ou algum bicho que quer pegar suas galinhas, ele cuida a sua casa, ajuda a pegar o seu animal de montaria quando você precisar. Porque cavalgar é com ele mesmo. Não há animal bravo para ele. Quando é tarde da noite, que escutamos os animais correndo e escaramuçando nos corredores e pátios de fazendas: Você ouve o tradicional nome dele no barulho que os animais fazem ao correrem. Pererê, Pererê, Pererê .  É ele anunciando que está por aí sempre pronto para o que der e vier. Também não há quem goste de cachaça igual ele. Os beberrões em  especial  peões  campeiros  oferecem-lhe um trago quando estão trabalhando e tem cachaça nos alforges. Ele o saci se torna um companheiro inseparável dos tais. Agora vamos ver o outro lado do saci, ele não gosta muito de cachorro, porque o cão o vê! Principalmente porque o animal tudo o que vê late. Não gosta de ser mal falado, criticado ou zombado; ele procura se vingar o mais rápido possível, quem fez a ele algum mal que se cuide! Se for mulher,  ele dá um jeito de fazer alguma coisa para lhe dar raiva e xingar, ele é pirracento até não poder mais, faz as galinhas chocas levantar do ninho fora de hora para esfriar os ovos e agourá-los, isto é, não vingar os pintinhos, faz mosca cair dentro do latão de leite faz o leite azedar esconde as coisas, a mulher fica doida procurando e não acha! O saci dá é muitas gargalhadas! Depois se for os homens que lhe fez desfeitas, é outro problema se duvidar mais grave ainda, esparrama a tropa, fazendo-a escapar do piquete, espalha as vacas leiteiras dos bezerros deixa-os berrando a noite toda, monta os cavalos, trança as crinas do animal, amarra, dá um nó tão bem feito o rabo da tropa que só você vendo para acreditar e que dá um trabalho danado para no outro dia cedo você desfazer aquilo tudo, enfim; não adianta insultá-lo. Agrade-o que sairá melhor, outra verdade não é correto aborrecer ninguém, muito menos o saci. Conforme iniciei esta história vamos aos fatos, na dita colônia que falamos no início dêsse ‘causo’. Como sempre há pessoas que são arrogantes ás vezes, ou  por uma tola ignorância, que nem mesmo o idiota sabe de onde veio. O sujeito ouvia alguém contar sobre o saci onde afirmara que ele havia dado uma surra nos cães de certo senhor. E quando viram que era as artes do negrinho, entraram casa adentro fechando todas as portas e janelas, com medo dele, este fato aconteceu numa noite dessas. No dia seguinte os cães amanheceram de lombo inchado de tanto que apanharam do saci. Ninguém conseguiu ver nada, só ouviam o chicote do saci cortando o ar e os cães gritarem no couro. Um samba de laçaços que os cachorros não tinham para onde correr. O dito cujo sujeito já bravateou: Se ele vir dar nos meus cachorros, quem vai sair de lombo ardendo será esse “Preto mal acostumado” Quem vai dar no lombo dele sou eu. Ele não criou cachorro. O que ele está pensando! Aqui  não, Bastião! Vai baixar em outro “Centro.” Manda  ele vir aqui! Mas antes prepare uma salmoura para passar nas costas quando chegar em casa! Não vou alisar esse preto. Parece até que as suas bravatas ecoaram pelo sertão afora e chegaram aos ouvidos do saci Pererê. De imediato nada aconteceu, passaram-se os dias e numa noite dessas ouvem-se os cães uivarem logo a boca da noite. De repente uma brisa suave, aquele ventinho da noite assoprando cada vez mais forte até que, os cães rosnaram, latiram e avançaram em alguma coisa, ninguém viu o que era, evidente  que foi a presença do saci que incomodou os cachorros; de lá de dentro da casa o homem atiçou os cães; estava formada a confusão era isso que o saci queria; viera para isso; vingar-se das ofensas recebidas. É agora ou nunca! Deu uma chicotada num dos cachorros, cainhãem, cainhãem  cainhãem. O homem levanta furioso, esbravejando, Ah! seu vagabundo, é você que está aí? Espere só um pouquinho! Vou dar o que você precisa! Armou-se de uma faca, trouxe na outra mão uma lamparina de querosene acesa para ver se enxergava o saci. Ele só pode ver dois olhos brilhantes  reluzindo na noite escura. Partiu para cima do negrinho, norteando pelo par de olhos, levou um escorregão ninguém sabe em quê. Caiu para um lado e a lamparina para outro, derramando o querosene  e incendiando ao mesmo tempo, as labaredas levantaram no chão sobre o combustível, enquanto isso o saci dava chicotadas nos cães e no homem que rolava pelo chão sem que pudesse levantar. Enfim levantou, tomou uma rasteira como se fosse um vento que tornara derrubá-lo, vai “pêia” no lombo do homem sem dó nem piedade; naquele reboliço a esposa veio lá do quarto com outra lamparina acesa socorrer o marido que já estava roxo de tanto apanhar, mal chegou,  uma chicotada tirou-lhe das mãos a lamparina, que de novo derrama o liquido comburente, fogo de novo! O reboliço ficou maior ainda, ela no escuro pegou o marido do braço e arrastou-o para dentro de casa de qualquer jeito, o saci só deixou de surrá-lo quando ele estava dentro da casa. O pobre homem apanhado, humilhado na frente da família não teve outro recurso a não ser ficar quietinho dentro do quarto e pedir a ela que passasse salmoura nos calombos das costas, era cada vergão de dar pena. No outro dia cedo a vizinhança que havia ouvido  a bagunça  á noite estava  toda curiosa para saber o que barulheira era aquela. O coitado do homem não pôs sequer a ponta do nariz para fora de tanta vergonha. Desfiara o saci e não dera conta do que falou.  Enquanto isso o saci fora embora assoviando como é o seu costume quando se vinga de um ultraje recebido e sai vitorioso de mais uma missão.

MORAL: QUEM CONVERSA DEMAIS, DÁ BOM DIA ATÉ PARA CAVALO!
ESSE “CAUSO” É UMA PARTE DO NOSSO FOLCLORE, FAZ SENTIDO PORQUE SÃO: COISAS DE CABOCLO........
ESCRITO POR LUIZÃO-O-CHAVES
ANASTÁCIO MS 03/07/2013
luizmoreirachaves@gmail.com             

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