sábado, 30 de novembro de 2013

UM TOLO ADQUIRIU UM TESOURO


Era uma vez um senhor que durante muitos anos fora boiadeiro, viajava conduzindo boiadas pelo estradão, agora já de bastante idade e que só possuiu três filhos ao longo da vida, quase nem viu os filhos crescerem de tanto que viajava, quem os instruiu nas profissões que deveriam exercer quando crescessem foi a mamãe, mas como qualquer um eles tinham nomes bonitos, eles também tinham lá seus gracejos, mas eram mais conhecidos e chamados por apelidos até certo ponto debochados. Era de acordo com as características de cada um, “Fininho” porque era alto e magricelo, franzino mesmo, mais do que seus dois irmãos, a sua profissão era a de carpinteiro. “Corote” era o segundo, este era baixo e rechonchudo, tinha por profissão a de moleiro. ”Urutau” o derradeiro porque era do tipo calado, parecia desligado do mundo atual, não estava nem aí para coisa alguma. Parecia um trouxa de férias, ou um “Urutau”, aquela ave que é tida com a mais tola de todas porque vive de bico aberto o tempo todo na ponta de um galho seco ou tronco sem os mesmos. Exercia a profissão de roceiro. Um dia desses o Fininho enjoado de viver no lugarejo onde não tinha nada de novo, resolveu ir embora daquele lugar monótono em busca de melhores condições de vida e até mesmo divertido. Arrumou as ferramentas de seu oficio numa sacola e algumas moedas no bolso para suas despesas de viagem até conseguir um serviço bom e rendoso. Chamou no pé depois de despedir dos pais e seus irmãos os quais lhe desejaram muita sorte no empreendimento. Viajou feliz, ia para toda parte sempre confiante em adquirir o que sempre sonhara, embora a tarefa não era tão fácil como parecia . Um dia  observou que já não tinha mais nenhum trocado no bolso, ficou imaginando como faria para comer no dia seguinte. Estava sentado na beira do caminho pensando, nisto surgiu um velhote que vinha da sua casa não muito longe dali, perguntou o motivo da sua tristeza, o que ele respondeu: Estou longe de casa e não tenho nenhum tostão para comer alguma coisa, não conheço ninguém e estou com fome! Como posso estar feliz e sorrindo numa situação dessas, meu senhor? Isso não é nada disse o velhinho! Venha comigo, moro aqui perto com minha velha num bosque lindo, nos fundos dele tem um regato bom para se tomar banho, dar-te-ei o que comer e um lugar para você descansar da viagem. Lá chegando estava a mesa posta para o almoço, a bondosa velha acrescentou mais um prato. Almoçaram e o velho perguntou: O que sabe fazer? Sou carpinteiro, respondeu o jovem! Vou dar serviços a você, conserte todos os meus móveis e lhe darei uma recompensa que te fará muito feliz. O Fininho se sentia muito a vontade naquela casa, o velhote era muito alegre e a sua esposa muito boa cozinheira e preparava pratos deliciosos, além de seus serviços não serem pesados, o velhote era muito divertido. Ficou ali quase um ano, fabricando cochos, bancos, cabides, utensílios de madeira para a cozinha mochos e cadeiras de balanços para os velhinhos e muitas outras coisas, depois o serviço acabou. Então o velhote lhe disse: Meu filho, já não tenho mais serviços, agora  tenho que despedi-lo, como não tenho dinheiro para lhe pagar dar-te-ei de presente esta mesinha mágica que vale mais que dinheiro. Recomendou dizendo: Ela é mágica, quando tiver fome diga: Mesinha? Eu tenho fome! Imediatamente ela se cobrirá de alimentos. Não perca ela, não venda a ninguém e nem se esqueça de mim, está bem? O Fininho sentiu muito em ter que ir embora, deixar aquela casinha agradável, no meio do bosque, uma delicia de lugar, mas como não havia outro jeito, agradeceu o presente despediu dos velhinhos e partiu. Não andou muito tempo, lá próximo das onze horas teve fome, tirou a mesa das costas e colocou-a no chão e disse: Mesinha, eu tenho fome? Imediatamente sobre ela surgiu uma toalha cor de rosa bordada, pão saído do forno, assados e guisados, em travessas de prata, frutas de todas as estações e até uma ânfora cheinha de um vinho de qualidade, agua fresquinha. O Fininho comeu, bebeu, descansou e depois colocou a mesinha nas costas continuando alegremente o seu caminho de volta para a sua casa. Durante a viagem o Fininho pode comer e beber a vontade de tudo o que lhe apetecia sem se preocupar com dinheiro. Depois de muitos dias de viagem chegou num lugarejo bem próximo ao seu. Parou numa hospedaria, pediu acomodação para descansar, pediu ao hospedeiro que guardasse com cuidado a sua mesinha. Foi para o seu quarto e descansou bastante, chegando a hora do jantar ele não quis pedir comida nenhuma ao hospedeiro, o que este achou esquisito não pedir o que comer, pediu a mesinha; o hoteleiro deu-lhe a mesa, mas ficou curioso quando o Fininho fechou a porta e sussurrando lá dentro sozinho, para quem seria? O hospedeiro ficou sem saber com quem ele estava conversando, aproximou e ouviu: Mesinha eu tenho fome! A mesinha logo cobriu de comidas e bebidas finas. O hospedeiro viu tudo pelo buraco da fechadura e disse consigo: Vou ficar com esta mesa de qualquer jeito, ela me fará rico e minha hospedaria será a melhor do mundo. Terminado o jantar o Fininho deu-a para que ele  guardasse de novo. O velhaco do hoteleiro deu um jeito e trocou a mesinha por uma de igual tamanho e forma, era igualzinha que só vendo! No outro dia o Fininho sem desconfiar de nada pôs a mesinha nas costas e partiu. Quando chegou em casa contou aos pais e irmãos que tinha tido uma grande sorte mostrou a mesinha que tinha ganhado de presente e lhes pediu que convidassem parentes e amigos para um almoço. Mas um almoço para todo este povo custa muito caro, objetou o seu pai. O almoço pode deixar por minha conta, basta que façam os convites, disse o Fininho. Quando estavam todos reunidos, o Fininho colocou a mesinha bem no meio da sala e explicou: Esta mesinha é mágica, peçam o que quiserem de comer que logo ela se cobrirá de toda espécie de alimentos. O povo que fora convidado olharam incrédulos, para o rapaz, mas escolheram os pratos que queriam. Então o Fininho ordenou: Mesinha, eu tenho fome! Parecia, no entanto que a mesinha mágica tinha perdido os seus poderes, pois manteve surda e insensível, O rapaz repetiu a frase mágica em todos os tons e nada de nada! Enfim todos foram  embora rindo-se muito e o Fininho além da vergonha que passou teve que ir se virar com o seu oficio de carpinteiro trabalhando muito. Algum tempo depois o segundo filho do velho, o Corote resolveu também sair de casa aventurando a sua sorte, quem sabe faria fortuna com o seu oficio de moleiro, pôs suas ferramentas numa sacola e partiu no mundo. Andou, e andou por muitos dias sem nada conseguir, por fim chegou no bosque e de lá veio o velhote saber o que ele queria. Eu quero trabalho meu senhor, disse o Corote. Venha comigo disse o velhote hospede-se na minha casa, lá só é eu e minha velha. Ficou trabalhando por alguns meses como moleiro até que um dia o seu bom patrão disse: Não posso mais ficar contigo aqui, porque o serviço acabou e tenho que despedi-lo. Como não tenho dinheiro para paga-lo te darei uma coisa melhor que dinheiro. Dou-lhe este jumento. Ele parece igual a todos os demais mas quando você disser: Jumento espirre? Verás a diferença, porque só espirrará moedas de ouro. Moedas de ouro? Gritou o Corote cheio de alegria. Viva! Depois de agradecer ao velho e sua mulher, partiu. Mas antes de sair do bosque fez o jumento espirrar um saquinho de moedas. Naturalmente, o Corote fez uma viagem de rei, pois com aquele dinheiro podia comprar tudo o que desejasse e comer como um príncipe. Já tinha esvaziado a sacola quando chegou ao hotel onde se hospedara o Fininho. Decidiu passar a noite naquele lugar, pediu que o jumento ficasse na estrebaria e bem cuidado, quando foi a hora de pagar, disse ao hoteleiro: Vou apanhar o dinheiro, e dirigiu para a estrebaria. O hoteleiro ficou curioso pois o dinheiro a gente guarda nos bolsos ou no quarto e não na estrebaria. Por isso seguiu o rapaz e espiou. O Corote estendera uma toalha no chão e agora ordenava: Jumento espirre! Atchim! Fez o asno, espirrando uma porção de moedas de ouro. O hospedeiro muito safado maquinou um jeito de roubar-lhe o asno, a noite quando todos dormiam levou o asno do Corote para outro lado do seu quintal fingindo dar-lhe agua no poço e de lá trouxe outro jumento da mesma cor e tamanho. Deixou na estrebaria porque bem cedinho o Corote ia embora. De nada desconfiando o rapaz pegou o asno e foi-se embora. Viajou por algumas horas logo chegou em sua casa. Foi uma festa na sua chegada. Feliz da vida anunciou aos pais e seus irmãos que tivera uma grande sorte. Ganhei um jumento mágico. Logo pediu ao seu pai que convidasse os seus amigos compadres e vizinhos para um jantar festivo. O velho pai disse: Qua! Não vou fazer isto não! Além de muito caro um jantar para esse povo, não temos dinheiro. Mesmo contrariado o velho pai fez o que o corote pediu. Não se preocupe papai. Deixe por minha conta as despesas! Pagarei sozinho Basta convidá-los e pronto! Foi feito o convite e o povo compareceu. As iguarias para o requintado jantar vieram todas, saiu caro mesmo, mas o gordo disse: Deixe comigo que pago tudo! Depois que todo o povo tinha jantado e bebido o que queriam, o Corote trouxe para a sala o seu jumento, estendeu uma toalha no chão e explicou ao povo: Este jumento é muito especial. Faço ele espirrar moedas de ouro para pagar as despesas e cada um de vocês levar algumas de lembrança. Porque este jumento é diferente dos demais, ele é mágico, querem ver? Deu a ordem para o jumento espirrar, dizendo: Jumento espirre! Que nada! O asno nem se importou com a ordem, o rapaz repetiu por umas vezes e o animal continuava sem dar-lhe bolas. Suplicou tanto que até perdeu a paciência, deu-lhe umas bordoadas que o pobre bicho zurrava de dor, era o mesmo que nunca lhe tivessem falado nada. O pessoal que estavam presente riam de doer a barriga e o pobre do Corote com a cara no chão teve que suportar aquela humilhação. Foi trabalhar dia e noite para pagar as despesas. O Urutau vendo o que acontecera com seus dois irmãos, começou a imaginar o que havia de errado com os seus irmãos, tinham sorte mas alguém mais esperto atravessava na frente, certamente seria por onde tinham passado. Resolveu averiguar de perto, não é possível um negócio deste repetir-se por duas vezes consecutivas, vou descobrir! Inventou de sair de casa também como fizera os manos. Pôs na sacola uma lima, algumas cunhas para a ferramenta, uma marreta pequena, e no ombro uma enxada encabada. Era as ferramentas de roceiro. Despediu dos familiares saiu atento a tudo e a todos. Finalmente chegou no bosque onde morava o velhinho que ajudara os seus irmãos e pediu serviços de roças é o que ele sabia fazer. O velhote gostou muito dele e aceitou em casa, olhava o rapaz, a fisionomia era muito parecida com os rapazes que o antecedera, pensou: São irmãos com certeza. Mas ficou calado. O rapaz limpou toda a roça do velhote, quintal e pomares, deixou tudo uma beleza. O serviço acabou e o velhote disse: Filho, sinto muito em dizer-lhe que não posso mais tê-lo como ajudante nos serviços que preciso, está tudo limpo, nada mais resta a não ser despedi-lo. Você é irmão de dois rapazes que por aqui passaram? Sim! Disse o Urutau! Que pena! Disse o ancião, os melhores presentes que tinha, dei a teus irmãos. Só restou este saco com um bastão dentro. É o mais simples dos presentes. Te darei com muito prazer! Você aceita como recompensa pelos serviços prestados? Aceito sim senhor!  Disse o rapaz! Ademais fui muito bem tratado pelo senhor e sua esposa, me resta agradecer-lhe de coração o que fizeram por mim. O velhinho acrescentou dizendo: Sempre que disser: Cacete sai do saco! Ele te defenderá de todo o malfeitor e animais ferozes. É um companheirão e tanto. Vale mais que cem homens valentes na sua defesa. Só vai parar de fazer artes, quero dizer, parar de bater quando você disser: Cacete entra no saco! Quem sabe fará fortuna com este modesto presente. Não o perca, viu? Sim senhor disse o Urutau. Abraçou os velhinhos e viajou para casa. Ao longo do caminho usou-o para afugentar uns cães que queriam mordê-lo, e nada mais. Chegando mais adiante avistou a hospedaria onde seus irmãos tinha pousado, desconfiando que era ali que eles tinham sido logrado pelo hospedeiro, ficou mais atento ainda. Pediu para descansar e foi prontamente atendido pelo fulano. O hospedeiro não saia de perto dele disfarçando sempre, mas vigiando-o. Ah! é você o maroto! Descobriu o Urutau! Espere aí que acharás o que está procurando! Fingiu nada saber e pediu para ele guardar o saco com o bastão dentro, dizendo: Tenha muito cuidado com ele, nunca diga: Cacete sai do saco! Pois tu há arrepender  amargamente se assim o fizer! O hoteleiro pegou o saco e se afastou. Muito enxerido inventou de dizer: Cacete sai do saco! O bastão não esperou a segunda ordem, ali mesmo já lhe deu uma cacetada na cabeça, foi o primeiro tombo, não parou, continuou dando nele em tudo o que era lugar, nas costas, nos bumbuns, nas pernas, nos peitos e onde acertasse. O hoteleiro estava já deitado de tanto apanhar, gritava por socorro e por tudo o que era santo, aprontou uma gritaria e o cacete não queria nem saber se estava doendo ou não, espancava-o sem dó nem piedade. O Urutau ouvindo aquela barulheira foi ver do que se tratava. Ah! seu malandro! Bem que desconfiei de você! Reforçou o serviço do bastão dizendo: Cacete, pode bater a vontade nesse vagabundo até ele contar o que fez dos presentes dos meus irmãos! Não fiz nada, dizia o hospedeiro! Então vai apanhar mais ainda! Cacete, dá nele até confessar tudo! Chega-lhe o couro! O velho hospedeiro rolava no chão, já mole de tanto apanhar, não teve outra saída senão devolver os presentes, a mesinha, o jumento e as moedas que fizera o jegue espirrar. Ai o Urutau deu ordem para o bastão parar: O infeliz estava todo roxo da surra que tomou, ainda deitado no chão e mole. O rapaz perguntou ao hospedeiro depois que tudo acabou: Quanto eu te devo do pernoite, amigo? O hoteleiro, mal balbuciou: Nâ, Nâ, Não é nada não meu senhor. Está tudo certo! Vai com Deus. O Urutau foi embora rindo atoa com os presentes feliz da vida. Ao chegar em casa, relatou toda a sua aventura e o que aconteceu na hospedaria com seus irmãos e com ele, por isso pediu que os parentes e amigos fossem convidados para uma ceia, sendo a terceira vez que isto se dava, vieram todos preparados para debocharem do Urutau. Mas ficaram boquiabertos quando viram a mesinha cobrir-se de manjares requintados e vinhos da melhor qualidade e quantidade, viram o jumento espirrar moedas de ouro e o cacete saltar do saco e ameaçar as costas daqueles que riram das outras duas vezes. O Urutau, porém era um bom rapaz e só permitiu que o bastão fizesse algumas piruetas no ar o que assustou os debochadores. Depois todos comeram e beberam até não quererem mais, voltaram para suas casas com algumas moedas de lembrança. Daquele dia em diante ninguém ousou chamar de Urutau aquele inteligente rapaz.
MORAL: O CAVALO BOM É O QUE AJUDA DERRUBAR O BOI NA HORA CERTA.
CONTO MUITO ANTIGO REPRODUZIDO POR LUIZÃO-O-CHAVES
HISTÓRIA QUE CONTAMOS PARA DIVERTIR A CRIANÇADA.

ANASTÁCIO MS.  09/11/2013

          

UM CAVALO VELHO E O BANDO DE MACACOS


                O mês era Julho, um tempo de uma seca que prometia ir longe, não se via uma nuvem nos céus que desse ao menos uma esperança ou uma indicação que prenunciasse mudanças no tempo, aquelas que os povos e os animais tanto esperam! Uma chuva! Que ela amenizasse o calor sufocante, além de fazer os cursos d’agua aliviarem, pois diminuíam a cada dia que passava. As pastagens dava pena ver, quase todas secas, alguns fiapinhos verdes de pastos nos lugares mais baixos. As arvores perdiam suas folhas a cada abanada de vento que dava. Uma situação terrível, principalmente para os animais. O pequeno chacareiro imaginava como fazer para dar pasto aos seus bichos.  Teve uma ideia brilhante, venderia os bezerros, vacas, cavalos novos deixando só um para sua montaria. E aquele cavalo velho que possuía há tantos anos e que lhe servira todo este tempo? Ah, já sei! Vou soltá-lo campo afora, sairá por ai sozinho a defender a vida pastando onde tiver recursos, ninguém naquela época tinha tantas cercas de arame farpado a ponto dos animais ficarem privados de andar ou entrar onde quisesse. Também não sofriam maus tratos por ninguém, eram tempos de ouro para todos os viventes. Assim fez, o cavalo velho saiu mundo afora contando com a sorte que Deus podia lhe dar, andou por muitos dias até chegar num lugar muito distante dali, já era de tarde, sentiu o cheiro de palha de milho verde numa casinha a beira da estrada, aproximou e logo viu um velhinho sentado na biqueira da casa a pitar um cigarro de palha. Foi chegando, chegando até parou alguns metros do ancião.  Este levantou e estendeu a mão para o cavalo num gesto de dar-lhe algo para comer, o cavalo gostou, cheirou a mão do velho e relinchou de contentamento. O ancião entendeu que ele trazia fome, deu-lhe algumas palhas de milho verde que tinha num saco dependurada na parede. O cavalo comeu satisfeito. Enquanto comia o velhinho acariciou seus pelos no lombo, nas espáduas, no pescoço, na testa, na anca, no rabo, rodeou-o, e viu que era mansinho. Gostou dele, pensou consigo! De quem será este animal! Ah! seja lá de quem for, vou cuidar dele, vendo-o tão magro, as costelas e quadris mostrando os ossinhos, já idoso e naquela situação, teve pena! Acabando de comer, deu-lhe agua num coxo de lixeira que estava embaixo de uma arvore de nome sete-copas, sorveu o liquido com satisfação, lavou a boca, deu um relincho de agradecimento. Os dois se entenderam e o cavalo ficou por ali no terreiro, aguardando o anoitecer. Deitou-se, espojou de um lado para o outro, para tirar a canseira da viagem, esticou a vontade ficou abanando o rabo fazendo poeira no chão. Ficou querendo o velhinho saber o nome do cavalo, mas como? Chamou de vários nomes mas, ele não atendeu por nenhum. Ai o cavalo disse-lhe: O meu nome é Castanho, se o senhor quer saber! O velhinho espantou vendo-o falar na linguagem dos humanos. Respondeu: É mesmo? Sim, retrucou o animal! O meu dono mora muito longe daqui, soltou-me campo afora porque lá não tinha mais capim para a gente pastar. Lá pras bandas donde vim está uma seca danada. Deu-me a liberdade de correr o trecho por onde eu quisesse. Por isto cheguei até aqui. Sou muito idoso por isso não se importou em me soltar. Se o senhor não se aborrecer ficarei por aqui contigo, não tenho morada mesmo! Nisso o velho ouviu uma bagunça de macacos lá na beira da mata, saiu correndo para ver, levou a espingarda para assustar o bando de micos, mas estes o viram e saíram dali, fugiram todos do ancião. Dando muita risada do velho, a macacada. Ele voltou aborrecido porque os macacos viriam mais tarde surpreendê-lo. Quem sabe até a boquinha da noite, era uma roça de milho já amadurecendo de cujas palhas o cavalo tinha comido horas antes. O animal vendo o velho aborrecido, indagou o que lhe fazia triste. Ele respondeu: Estes macacos não me dão paz um dia, se eu deixar, eles acabam com minha roça de milho. É uma trabalheira danada, bichos safados, ás vezes sou obrigado a sair de madrugada para vigiá-los senão comem todo o meu milho. Já nem sei o que fazer mais! Nem durmo direito. Todos os anos é essa amargura! Porque o senhor perguntou? Disse o velho! O cavalo velho respondeu: Posso lhe fazer uma proposta? Sim! Diga! Disse o velhinho! Ouça bem, retrucou o cavalo: Vou vigiar este bando de macacos para o senhor, não deixarei nenhum comer uma espiga de milho. Nenhuma sequer! Te garanto que, colherá todo seu milho sem prejuízo algum! Está bom? E quanto me cobrará pelo serviço? Perguntou o velhinho todo animado! Basta que me dê todos os dias, uma ração, agua fresquinha e um cantinho para mim descansar nas horas de sol muito ardente, disse o cavalo velho. Está feito, disse muito esperançoso o caboclinho. Podes começar amanhã, se quiser! Esta noite já vou dormir bem, pois ando muito cansado e sonolento! Anoitecendo foram os dois descansarem, um com o bucho cheio de palhas fresquinhas de milho verde, e o outro de arroz com feijão e carne seca na polenta, bem cozida. Logo na madrugadinha o cavalo foi para a roça, deitou-se no chão bem no lugar onde os macacos desceriam. Lá ficou quietinho, de olhos fechados como se estivesse morto. Até as aves de rapina, urubus e carcarás começaram chegando e pousando nos galhos das arvores ali perto, pensando estar morto o cavalo. Assim que os macacos chegaram, viram o cavalo, um deles gritou para o chefe: Só faltava essa, logo onde a gente vai almoçar aparece um cavalo morto, já está fedendo, funnn! Funnn! Que catinga horrível! Desçam todos e vamos tirar esta carniça daqui, tem que ser logo, Pera aí, disse o chefe: Arranje uns cipós para a gente amarrá-lo, depois nós arrastaremos daqui esta coisa fedorenta. Um bem-te-vi, lá no galho vendo aquilo tudo, avisou: Este cavalo está vivo! Tá vivo! Este cavalo está vivo! O carcará deu sua opinião, crá, crá e crá! Para saber se está vivo? Bica lá naquele lugar! Crá crá crá! Bica lá que tu verá? Não pegue nele senão bicá! Mas os macacos nem se importaram com o aviso  das aves. Todos amarraram os cipós no cavalo para tudo o que era canto, no pescoço, no rabo, nas pernas, pelo meio, nas paletas e todos os macacos também foram atados, pela cintura, pelo pescoço, nos punhos, nas pernas para que fizessem força todos parelhos, bem unidos assim: Um, dois, e Já! Quando moveram o cavalo do lugar: Este cavalo levantou e saiu numa carreira doida, arrastando tudo o que era macaco e pulando e dando coices passando por cima de tocos e troncos caídos, relinchando, peidando e assoprando as ventas, parecia um furacão. Só via pedaços de macacos para todos os lados, uns sem cabeça, outros sem braços e pernas, outros cortados pelo meio, cabeças quebradas porque batera num toco outros destripados, foi um arraso, morreram quase todos, só escapou alguns que estavam coordenando o serviço para retirada do cavalo morto, assim mesmo andou levando uns tombos e patadas porque o cavalo não escolheu direção para ir quando se levantou. Passando por cima de tudo o que havia pela frente, entrou mata adentro, quando não tinha mais nenhum macaco vivo, parou! Só se ouvia os bem-te-vis gritando: Bem-que-eu-vi! Bem-que-eu-vi! Naquele reboliço que o cavalo aprontou, não se viu nenhum carcará. Sumiram todos. O cavalo olhando por onde tinha passado, parecia que foi um terremoto, um desastre nunca visto, só macacos mortos. Assuou as ventas, e seguiu para casa devagarinho mas contente, missão cumprida! Chegou na casa sujo de terra e sangue, marcado nos pelos arrepiados dos cipós amarrados, sorrindo baixinho. O velho vendo-o naquelas condições quis saber o que havia acontecido. O cavalo nada disse! O velho curioso foi na roça ver, ficou abismado com o que viu! Nunca mais apareceu um macaco sequer para incomodá-los. Nem sequer imaginara que o seu novo amigo fosse capaz de tal façanha. Cuidou dele até o fim de sua vida.
       HISTÓRIAS QUE CONTAMOS PARA CRIANÇADA SE DIVERTIR.
       CULTURA CABOCLA QUE PASSA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO.
       LUIZÃO-O-CHAVES....07/11/2013   ANASTACIO MS.

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O AMIGO DO SACI PERERÊ



Durante muitos anos, trabalhou de peão do trecho, transportando boiada, cortando o estradão. Conheceu muitos lugares, muitas pessoas, trabalhou de diversos serviços. Quando enjoava de um mudava para outro, e de lugares também. Era viageiro de profissão e de gosto por rodar o mundo, um aventureiro de natureza. Como todas as coisas tem seu tempo e duração, um dia resolveu fixar em uma fazenda e trabalhar como domador de animais, burros e cavalos. O que é mais comum da profissão. Campeava também quando o patrão precisava dos seus serviços, pois sendo muito conhecedor do ramo e esperto, prestativo e servidor, amigo de confiança, o sujeito quando é andado, normalmente é assim mesmo. Era conhecedor de muita coisa da profissão de homem que lida com gado e outros animais, as baldas e treitas de burros, manhas de cavalos sabia como tirá-las. Enfim um campeiro completo. Em todo este tempo nosso amigo fizera amizades com meio mundo, era uma pessoa formidável Imagine o que ele contou; até com o saci arranjou amizade, quem diria! Mas foi mesmo, um dia viu um companheiro velho deixar numa tronqueira uma cuia de cachaça. Ficou vendo sem nada dizer por uma educação e fino trato, um dia o companheiro percebendo a curiosidade dele e rindo-se muito disse: Está curioso meu rapaz? Sim! Disse ele. Pois é, disse o velho: A gente tem que agradar o companheiro. O saci é meu amigo de muitos anos. Ele gosta de cachaça e fumo. Sempre dou a ele estas coisas. Já me ajudou muito, é recompensa isto que dou a ele. Contou toda a sua historia e o rapaz gostou, faça para ver se não é verdade? O rapaz convidou o Negrinho de uma perna só para serem amigos, ele topou. Sempre ouvia aquela risadinha, qui, qui, qui mas não via ninguém, era o saci contente em ter mais um amigo. Assim foram por muito tempo. O saci ajudava-o amansar os animais, pegar a tropa de madrugadinha, viajava com ele onde quer que fosse. Sempre estava por perto, assoviando fininho ou mais grosso, dava um aviso quando uma coisa parecia estranho ao amigo, já se entendiam bem, um conhecia a linguagem do outro. Um dia este moço resolveu casar e adquirindo um lugar seu, um pedacinho de terra para viver com a esposa. Deu tudo muito certo, tinha a casa, um pomar alguns animais, aves que criavam, não viajava mais como antes, só lá de vez em quando. A sua esposa sofria de síncope ou desmaio, então era difícil deixa-la só. Mas um dia precisou fazer uma viagem de uns dois dias, preparou tudo e na madrugada seguinte sairia a cavalo. Naquela noite o saci assoviou muito mesmo, mas como era muito natural seus assovios o rapaz nem se importou com aquilo. Quando ele viajava o saci ia junto sem falta, nas encruzilhadas da um assovio fininho, dizia que tudo estava certo, sem perigo nenhum, se assoviasse mais grosso anunciava perigo, podia ser cobra na estrada ou sinal de onças nas mediações, a gente não enxerga de noite, só a montaria e ele saci. Por isso avisava. Ora ele ia, lá na frente do cavaleiro, ora atrás dele, sempre cuidando do companheiro. Nessa madrugada da viagem aconteceu diferente, saíra no horário previsto deixando a esposa dormindo, viajou uma meia hora e o saci assoviava insistentemente próximo a ele e o cavalo. Ele não estava entendendo o recado do negrinho. Parece que dizia que algo não ia bem, apeou, olhou as coisas que ia levando, não faltava nada. Seguiu mais cauteloso, ouvindo o companheiro assoviar, em um dado momento parece que alguém segurou as rédeas do animal fazendo-o voltar para trás. Era mesmo, o animal obedeceu não quis seguir, não havia meio de ir, nem a peso de esporadas. O cavaleiro ouviu um assovio bem pertinho do ouvido, entendeu que não deveria seguir, mas que voltasse; obedecendo, retornou do caminho que seguiam agora o saci só seguia na frente dele assoviando alegre. Ele conheceu a linguagem, chegando em casa tal não foi o seu espanto: A sua esposa fora acometida de um desmaio e estava caída no chão desacordada. Ninguém sabia que horas ele voltaria a si. Ás vezes aquele desmaio demorava horas, ela sem sentidos, sabe Deus quanto tempo ficaria naquela situação. Levanto-a deu-lhe remédio assistiu ela ate ficar boa, o dia amanheceu ele desistiu da viagem, foi lá e agradeceu o negrinho de uma perna só, e de borrete vermelho com gratidão, deu-lhe uma cuia daquelas de pescoço de cabaça cheinha de cachaça e um pedaço de fumo. Deixando no fundo de seu quintal na cabeça de um poste da cerca. Ele, o saci só fazia: Qui Qui Qui, e Qui Qui Qui!  Reconheceu que o amigo era do peito mesmo.
HISTÓRIAS DO NOSSO FOLCLORE.
LUIZÃO-O-CHAVES.......17/10/2013

ANASTÁCIO  MS        

ASSEMBLÉIA DAS RATAZANAS EM EFERVESCÊNCIA


Num velho prédio abandonado onde durante muito tempo, fora morada de nobres e seus serviçais tornou-se agora um ninho  tão grande de ratazanas, que parecia uma cidade, onde os habitantes não se encontrava outra espécie a nãos ser ratos de todas qualidades conhecidas no mundo animal. Os dias não são difíceis só para o ser humano, para os animais também. Escassez de alimentos, doenças e perseguições são para todos que habitam o planeta terra. No velho prédio não andavam nada bem as coisas. Tinham que sair longe em busca do que comer, o problema estava na travessia da rua para outras moradias, onde de lá sentiam o cheiro dos manjares fosse a hora que fosse, principalmente na hora do jantar. Nos vizinhos ali bem pertinho lá de vez em quando, uma escapulida até dava para fazer, assim: Se o caminho de ida estivesse livre, aquela viagem  lograva êxito. Mas na volta lá mais tarde, não faltava um gato para bloquear o caminho, tinham que esperar a boa vontade dos gatos, até que estes resolvessem subir nos telhados das casas ficando por lá, ou que eles estivessem entretidos em algum namoro. De quando em quando desaparecia um companheiro. As ratazanas ficavam em polvorosa, um reboliço danado, todos agitados em busca de uma solução para o caso. Vida difícil, com muitos gatos nas redondezas, ninguém tinha paz, nem podia descuidar por nada, um pequeno descuido era fatal. O chefe deles era um ratão deste tamanho, já muito idoso mas muito cauteloso, se assim não fora não teria chegado naquela idade. A ninhada não concordava com aquela situação infeliz, queriam ter mais liberdade, para tudo na vida deles. Quando convocavam o velho para discutirem a situação, ele sempre pedia a todos que tivessem paciência, devagar turma! Dizia ele! Um dia não é tão longe! Mas a situação continuava na mesma agrura! Só que não entendiam que, vida de rato é assim mesmo. Um deles, um rato novo e forte, muito desembaraçado nos assuntos, convocou a turma e disse: O nosso chefe está muito velho e ultrapassado nas ideias, nada resolve, nada fez até agora e acho que não fará nunca, só sabe pedir paciência e nada mais! Assim não dá! Paciência tem limites, vocês não acham? É verdade! Confirmou um grupo deles! Será  que você não resolveria esse impasse para nós? Objetou um deles! A turma animou com a ideia, e todos convergiram em torno daquele rato que ao ouvir a manifestação dos companheiros, se ufanou e disse: Deixem comigo! O que o velho não fez em tanto tempo que o conhecemos, eu farei em poucos dias, podem crer! Deem uma noite para a gente observar tudo ao nosso redor, mapear tudo, tim tim por tim tim. Haveremos de encontrar a solução que precisamos com urgência. Dito e feito! Espalharam-se para todos os lados verificando tudo, com muita cautela, aquela noite tudo deu muito certo, voltaram todos e de barriga cheia. Parecia mesmo que tudo se resolvera como por encanto. O ratão que era o candidato sério ao cargo de chefia do grupo, ora ocupado pelo velho chefe, observara que não tinha tanto gato assim como pensavam. Viu só um que andava de tocaia nas mediações, era um baita bicho, por sinal muito perigoso para a turma. Chegou a seguinte conclusão: Verdadeiramente  só há um inimigo, um apenas, os outros debandaram. Ficou fácil para a gente se defender, mais fácil do que pensei, imaginou o futuro comandante da turma. Agora estudar um “Quengo” para a gente aplicar no gatão. De um jeito que haveremos de vencê-lo  em definitivo. Retirou-se para um momento de reflexão e meditação e ver se uma boa inspiração lhe acudisse naquela hora de tomar uma decisão que necessariamente teria que ser muito sábia, e muito eficaz. Finalmente encontrou a solução acertada. Repensou a astúcia, observando tudo mais uma vez concluiu: Estamos seguros com a minha ideia em prática. Convocou a turma rapidinho para a informação, que por certo  deveria cair como uma bomba, de tanto sucesso. Vieram todos, até aqueles que por fidelidade ao velho chefe se mantinham calados até ali. Ficaram atentos ao moço que se mostrara intrépido, valoroso que prometia ser um guerreiro audaz e destemido na luta pela continuidade da espécie que o seu futuro estava em jogo. O ratão subiu numa cadeira, pediu atenção de todos, cofiou os bigodes como um sinal de prudência e sabedoria naquilo que ia dizer para a multidão. Olhou a todos, sim! Menos o velho que não quis comparecer, apesar de ter sido convidado com insistência pelos seus admiradores fiéis. Esperarei a decisão para ver e me convencer. Dai há pouco veio a nova: O ratão disse: Companheiros! Encontrei a solução para o nosso caso! Só há um inimigo nas mediações! Apenas um! Só um! Confirmou com o dedo indicador da mão direita! Está muito fácil de todos se defenderem dele! Arranjarei um cincerro, uma sineta, ou um guizo, como queiram falar, para colocar no pescoço da fera, quando ela se locomover com aquilo no pescoço, ouviremos o barulho do guizo, então, já sabemos que é perigo a vista. Cada um que se defenda! Só cairá nas garras do gato se derem bobeira, caso contrário, o que nos espera são dias felizes de muita paz e sossego! Fora aclamado com uma salva de palma que parecia não ter fim! Dentre a turma surgiu um dos mais afoitos com a nova de paz e disse: Vou buscar o velho caduco para que o destronemos e ele lhe passe o cetro do “Governo” nosso, que doravante será  a Vossa Senhoria. Outra salva de palmas e grito de aclamação que ate o velho se incomodou lá do seu labirinto. Ficou atento, com um ruído de passos vindo em sua direção. Educadamente lhe chamaram para ir ante a turma para tomar conhecimento da situação que agora era outra. Foi cortesmente com o cetro do poder em mãos, sabendo que seria destronado, mas que não faria questão nenhuma em continuar no governo. Ficaria feliz em saber que a sua turma estaria em boas mãos, com um futuro risonho e promissor, desejava o de melhor para todos. Governo nenhum é eterno a não ser o de Deus! Assim sempre pensou! Foi bem recebido, aclamado e agradecido por tantos anos de governo e intimado a passar o mandato ao moço. Fez com muito apreço e respeito á todos! A cerimonia foi muito bela. Fez o seu discurso de agradecimento á todos pelo apoio recebido todos os anos que comandou a turma! Então o novo mandatário disse ao Ex-chefe: O senhor viu como deu certo as minhas ideias? Precisávamos delas há muito tempo. Observa-se o tom de leve ironia para com o velho! E levantando um guizo numa das mãos exibiu-o a todos os presentes. O gato agora andará com isto dependurado no pescoço, para que a gente facilmente o detecte em suas andanças ao nosso redor. Vivaaaaa! Disseram todos em coro! O velho passou a mão na barba, coçou o queixo, meditou uns segundos e perguntou: Quem é de vocês, que colocará este negocio no pescoço do gatão? Quem se habilitará a fazê-lo! Foi um silêncio geral! Parece que morreram todos! Antes de morrer queria tanto conhecer o herói desta façanha,como ainda não apareceu vou vivendo e tendo paciência. Até logo! Saiu da sala de audiência caladinho. Mas feliz por ter cumprido sua missão! 
MORAL DA HISTÓRIA: DO FALAR, ATÉ NO “FAZER”, TEM MUITO  CHÃO A PERCORRER.
MORAL: ASSIM ACONTECE COM DIVERSOS GOVERNOS QUE PENSAM SER FÁCIL LIDAR COM GENTE!
ATÉ AGORA SÓ UM!  QUE CONSEGUIU DRIBLAR O GATÃO: LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA!
HISTÓRIAS QUE REPRODUZIMOS PARA DIVERTIR NOSSOS LEITORES.

LUIZÃO-O-CHAVES....... ANASTÁCIO MS    28/11/2013 .

UM AMOR SÁBIO VENCEU A MESQUINHEZ


Tempos antigos que se foram para nunca mais voltar, juntamente com os bons costumes e honradez, pessoas de pouca cultura, pouco saber e conhecimentos parcos, mas de pessoas que em muitos casos tinham muita sabedoria. Os modernos chamam aqueles tempos de: “Tempos do Êpa”. Seja lá com for, dá saudades para quem alcançou mesmo pouquinho, destas riquezas que hoje não existe mais. Sem exagero em comentar, homens e mulheres com muita dignidade e honradez, respeito e vergonha com abundancia, crianças educadas, jovens felizes, longevidade, casais com prole de dar admiração se o povo de hoje vissem. Fartura nas mesas, serviços para todos, desde crianças já trabalhavam com os pais, tempos de muita saúde no mundo. Salvo uma ou outra vez surgiam guerras, no mais era muita paz entre os povos, as nações e no mundo. As moças eram caipiras, tinham vergonha de olhar um moço de perto, eles também tolos de dar dó. Os casamentos eram na sua maioria, arranjados pelos pais, tios,  avós,  compadres, padrinhos e madrinhas. Dava muito certo mesmo, e quando casavam, viviam até quando um dos cônjuges morresse. Separação? Não era assunto para ninguém. As famílias eram numerosas, os filhos só saiam de casa  casados, do contrario não! Então conta-se um caso de uma moça que estava lá pelos seus quase trinta anos de idade. Seus irmãos todos casaram e ficando ela por derradeira, o seu pai fazia de tudo para que nunca se casasse, fazia-lhe todos os gostos. Se surgia algum rapaz para namorá-la com intenção de casamento, os seus pais, ou se arranjado por alguns da família, porque achavam que já era hora de se casar. O velho pai dava sempre uma desculpa, não dá filha! Não dava certo e pronto! Ele a queria somente porque era muito serviçal, tanto em casa quanto na roça, era um peão e tanto para ele, então estava difícil para ela se casar. Depois de muitas tentativas ela se acomodou, mas o destino é caprichoso e o cupido vem na hora certa. Surgiu um moço muito distinto, delicado que se tornou o sonho dela. Pensou consigo! Agora ou nunca! Muito a contragosto o pai aceitou o pedido da mão dela em casamento. Ficou muito feliz! Ele também! Depois de tudo acertado nos mínimos detalhes para o casamento, no mês de Junho estava um frio de dar medo. Faltava um mês e pouco para realizar o casório, o rapaz veio fazer uma visita aos futuros sogros e aproveitar as festas Juninas; o velho armou um quengo para despistar e desencorajar o moço fazendo-o desistir do intento. A noite estava muito fria, apesar de estarem na beira da fogueira. Dissera ao rapaz: Você terá que suportar a friagem desta noite ali em cima daquele galpão, sentado na cumieira, só com este casaco. Nada mais! Se aguentar o frio da noite, casarás com minha filha. Se não aguentar e descer, pode ir embora, acabou-se o casamento! A pobre moça ficou em prantos lá no quarto, ante a atitude do pai para com o rapaz. A pobre mãe então, perdera toda a alegria, olhou para o velho que estava sisudo, o pobre rapaz gelou antes de sentir o frio esperado. Pensou a vida, refletiu na proposta maléfica do velho, concluiu com uma tristeza? Estou perdido! Resolveu aceitar, puxa vida! Já vim até aqui, irei até o final! Seja o que Deus quiser! Jantaram, esquentaram um pouco na fogueira até mais tarde. Lá pela meia noite, o velho deu a ordem: Pode subir lá! O rapaz subiu, pensando no que poderia acontecer, parece que cairia geada naquela noite de tão fria estava. A fogueira ficava uns dez metros do galpão. O velho não dormiria, ficaria de guarda sentado na beira do fogo enrolado num cobertor e tomando café o resto da noite. A moça, coitada nem dormiu! Pensando no sofrimento do seu amado! Aquilo era uma perversidade do pai, um negócio deste! Mas que fazer? Nada! Esperou o dia amanhecer! Lá pelas tantas o rapaz esfregava uma mão na outra e depois no rosto. Vendo o fogo de longe, teve uma ideia! Abria as mãos, espalmando-as, estendia os braços na direção dele, com se o calor alcançasse as palmas das mãos, em seguida passava-as no rosto. Assim passou o resto da madrugada. Amanheceu o dia. Duro de frio, que foi preciso ajudá-lo a descer do galpão. Triste, mas sentindo-se vitorioso. A moça levantou-se também, banharam o rosto, tomaram café, comeram. Depois foram para a sala conversar sobre o casamento. Ela, a mãe, o rapaz e o velho! Então meu rapaz, como se sente? Disse o velho! Acho que venci o frio, senhor? Respondeu ele animado! E o que o senhor tem a dizer? Replicou o moço! Nada! Apenas que o senhor, perdeu, disse o velho! De cá eu vi esquentando as mãos no fogo! Não foi?  Assim não vale! Foi mesmo que matar o rapaz, com uma punhalada no coração! A moça então, nem chorou mais, de tamanho susto! A velha disse: Tem dó deles, meu velho!  Sacrificou tanto? Para nada? Já falei! Disse o velho! Todos se calaram, estava tudo perdido! Nada feito! O velho acendeu um cigarro, soltou uma baforada e disse á filha: Va na dispensa e pegue um pedaço de carne seca, bem boa e asse para o moço levar de matula, porque daqui a pouco ele viajará de volta para sua casa. Ela obedeceu, com o instinto de uma guerreira que não esmorece na primeira batalha e nem na última. Arranjou um espeto, enfiou na carne, espalhou as brasas da fogueira e depois colocou o espeto de ponta no chão, com uns dois metros de distancia das brasas. Foi lá para dentro conversarem mais um pouco, só que eles estranharam a atitude dela, parecia tão feliz, ao passo que o moço sofria que dava dó. A mãe sofria com o rapaz, mas calada. Mãe é mãe, e naquela hora era duas vezes mãe! Estava demorando assar, o velho perguntou: Já assou? A moça disse: Não ainda, espere mais um pouco! Demorou outro tanto. O velho perdeu a paciência, e gritou: Anda logo, menina! Espera aí pai? Ainda não assou! Replicou ela de novo. O velho levantou-se bravo, foi até ao fogo, quando viu a distancia da carne até ao fogo, gritou: Isso nunca vai assar! Sua maluca! Olhe a distancia das brasas! Nem esquentou a carne! Quanto mais assar? Pegue para você ver? A moça, educadamente e com calma disse: O espeto de carne eu deixei a dois metros do fogo de propósito, só para o senhor ver que nunca ia assar. Agora na distância do galpão até a fogueira as mãos do meu amor, será que esquentaram? As mãos dele estavam a mais de dez metros da fogueira. O que é que o senhor quer agora, meu pai? Sabia que o peixe morre pela boca? Sois  um derrotado meu estimado pai, não por mim sua filha, mas pelas suas próprias conclusões. Não teve outro remédio para o velho, a não ser realizar o casamento a contento dos noivos felizes. A mãe então, rejubilando de alegria, e o velho teve que engolir a sua mesquinhez. Foram muito felizes! Viveram longe dali, só vinham visitá-los em época de festas, Dezembro e Janeiro!   E Junho? Nunca mais!
MORAL: O AMOE É IGUAL O SOL, UMA NUVEM LHE OFUSCA, MAS NUNCA O APAGA.
OS MATUTOS SERTANEJOS GOSTAM DE CONTAR HISTÓRIAS ASSIM.

LUIZÃO-O-CHAVES....  23/10/2013   ANASTÁCIO  MS

O BOIADEIRO E O PAPAGAIO






Era uma vez um homem que possuía uma família numerosa, apenas ele a esposa só mais nove filhos que ambos tinham muito cuidado com todos. Criavam um papagaio muito falador o que era a alegria da criançada, falava de tudo mesmo, chamava as crianças um por um pelos seus nomes, chamava os cães por seus nomes também, atiçava os cães se passasse algum animal solto por ali, depois dava boas gargalhadas com a bagunça que tinha provocado, muito conhecido por todos os passeantes que por ali transitavam, era muito cobiçado pelo povo que o conhecia, mas nosso amigo roceiro não desfazia dele por nada, por ser muito estimado da família. O homem trabalhava na roça, como todo roceiro leva uma vida difícil no aspecto financeiro por que só nas colheitas é que aparece algum dinheiro. Lá de vez em quando trabalhava alugado para outros, para obter alguns trocados quando precisasse. Este fazia os chamados ”Bicos” sempre que a roça lhe dava tréguas. Assim ia vivendo, morava na beira de uma estrada de muito movimento, por ali passava de tudo principalmente em épocas de safras, eram caminhões carregados de algodão, milho feijão, arroz, café enfim, de tudo o que era cultivado na região cujo escoamento era aquela estrada que dava acesso as maiores cidades e centros comerciais. Ali passavam também cargueiros, cavaleiros, gente á pé também, tropas, boiadas carroções e carroças diversas cada uma com o que transportava em pequena escala. Num dia desses passou uma boiada, muitas reses que vinha de muito longe, bastante o número de peões que a conduziam pelo estradão. Depois de três dias que a boiada passou, apareceu uma vaca que por estar cansada da longa viagem, vinha arrastando os cascos como é dito pelo sertanejo, tinha ficado na “arribada”, quer dizer, lá atrás do rebanho que não conseguira acompanhar na marcha por sentir muito cansaço. Era um sábado já de tarde. O roceiro deu por fé da vaca porque o louro viu-a primeiro e atiçou os cães nela, a pobre vaca não pode correr por estar entregue ao cansaço, O homem ralhou com os cães e tangeu-a para o terreiro, deu agua para ela beber, estava com sede mesmo, sorveu o liquido e depois ele ficou olhando a vaca, estava boa de carne, apenas cansada! Teve uma ideia, tocou ela para os fundos de sua casa e amarrou-a pelo pescoço num pé de laranjas para que ela deitasse e descansasse melhor. Logo ao anoitecer, após as crianças dormirem ele foi num dos quartos da casa e confidenciou com a esposa! Ana, vamos matar esta vaca para nós comer a carne, dará para uns três meses, no mínimo. Vamos tomar porre, o que você acha? A mulher objetou: Será que ninguém não virá atrás dela? De repente vem alguém e daí? O marido pensou e disse: Vamos matá-la no capão, deixaremos a carne secando num estaleiro bem alto, lá mesmo e só teremos que cuidar os urubus. Depois traremos para a casa e esconderemos o couro detrás da porta. Ensacarei a carne seca, porei no fundo do galpão e ninguém saberá! A Ana concordou! Era boca da noite este diálogo, as crianças já estavam dormindo mas eles se esqueceram do louro que ouvira tudo lá do seu poleiro enquanto coçava os piolhos e lubrificava as penas, enfiou a cabeça por cima das asas e dormiu. Na madrugada de Domingo, o homem tangeu a vaca para o lugar, e mataram-na. Fizeram tudo certinho, conforme planejaram! Deu tudo certo! Dalí há quatro dias apareceu um peão que de volta a procura de algum “arribado”, passou  lá na estrada, nem chegou, só falou bom dia. Continuou estrada afora em sentido contrário ao que ajudara a conduzir a manada. De tarde lá vem o peão sem nada e sem esperanças de encontrar a tal vaca. Parou e perguntou ao homem: Já faz quatro dias que passamos por aqui com um gado, por acaso o senhor não viu uma vaca preta da paleta branca passando por aqui sozinha, ficou na “arribada”? Já andei tanto e não consegui encontrá-la? Vim nas batidas dela mas logo ali perdi o seu rastro. A mulher, a Ana assistindo a conversa estava com o coração nas mãos de tanto medo, daquilo dar uma encrenca para eles. Mas o marido era um cara de pau daqueles de encomenda. Não, não senhor! Não vi nenhuma vaca passar por aqui! Deve ter ficado em outro lugar, lá mais para trás, aqui não! O boiadeiro até se conformara com a informação do homem, já ia embora quando o papagaio aprontou a dele: Que nada, boiadeiro! Dissera o louro! Ele matou sua vaca lá no capão, secou a carne lá mesmo, trouxe para casa está na dispensa ensacada, para ninguém descobrir! O couro está enrolado atrás da porta! Olha lá para o senhor ver, se não é verdade? O pobre homem e a mulher ficaram de cara no chão sem articular uma palavra! Morrendo de vergonha, mas foram obrigados a confirmar a versão do louro ante o ocorrido! O boiadeiro por sua vez, viu aquela família, com tantos filhos, onze ao todo; vendo aquela casinha humilde, pobre, o rosto do homem que mostrava ser sofrido de trabalhar e lutar por aquele monte de crianças correndo no terreiro a mulher com as vestes simples e desgastadas sentiu pena e disse: Me traz apenas o couro, para mim recortar a marca  dela e levá-la ao patrão, direi a ele que achei-a morta. Entre nós não haverá problemas, pode ficar descansado! Só tenha cuidado com o seu louro! Ele te dará muitos! Pediu agua tomou, se despediu e foi embora. O homem ficou com tanta raiva do louro que nem fez nada naquela hora. Ficou imaginando como faria para matá-lo, como judiaria daquele linguarudo para descontar aquela vergonha que tinham passado! Papagaio filho de uma P..... Filho daquela outra, filho de nem sei quem mais.  Bicho infeliz, imundo! Há, se eu te pego! Nem sei onde estou agora, que não te estrangulo! Vais me pagar caro! Imundície! Despejou mais um monte de impropérios ao louro, que se xingo matasse, cairia duro no chão naquela hora! A Ana vendo a ira que o marido estava do louro, disse: O bicho não tem culpa! Culpado fomos nós, que fizemos errado! Você ainda defende esta peste de bicho! Retrucou o homem, ele tem mais é que morrer! Deixe estar, ele não perde por esperar! Naquela noite o homem custou dormir de tão apreensivo que estava! Pensava na vergonha que tinha passado, nunca acontecera em sua vida uma coisa daquelas. Na forma como o boiadeiro teve compaixão de sua família, principalmente das crianças dele, mas acreditava no boiadeiro que nada falaria do episódio. Por fim dormiu, o louro amanheceu bem como sempre, cantando e aprontando sua barulheira! Já aproximava o mês de junho, o tempo já estava esfriando aos poucos, numa tarde choveu e esfriou mesmo. O homem teve uma ideia, Ah!  ja sei! Na tarde seguinte estava frio pra burro, pegou o louro sem que a esposa visse e saiu com ele embaixo do braço. Subiu lá para o espigão, bem na croa mesmo. Arrancando-lhe todas as penas, a ave começou a tremer de frio. Ele todo feliz por vingar do ultraje que sofrera, deixou-o naquele frio terrível. Falou para o papagaio: Isto é porque você falou da vaca, seu linguarudo. Começou a garoar, imagine um frio com garoa e aquele ventinho assoprando, era de cortar a pele da gente, o bicho ficaria duro, enrijecido em pouco tempo, além de ter que passar a noite inteira naquela situação! Deixou-o lá  na cabeça de um toco á beira da estrada. O bicho encolhido e louco de frio, estava  encarangado a não poder nem se mexer mais. Foi embora o amigo nosso todo feliz. Já estava quase anoitecendo quando lá ao longe o louro avistou um homem que vinha naquela direção, só que estava nu por completo, era um andarilho, estava só com a roupa do corpo, para não molhar na garoa, tirou-a toda e fazendo uma trouxinha, enfiou debaixo do chapéu de jeito que não molharia. Não tinha ninguém mesmo que o visse para sentir vergonha. Foi passando por ali peladinho como nasceu, nem veria o louro na cabeça do toco, se este não lhe perguntasse: Você também falou da “vaca”? O andarilho tomou um susto vendo o papagaio pelado, sem uma pena sequer e respondeu: Porque louro? Porque tu tá pelado também! O meu dono me deixou aqui pelado deste jeito por que falei da “vaca”. Pensei que você fosse mais um linguarudo que tivesse falado da vaca também!

ESTE CONTO É MAIS UM QUE OS CABOCLOS CONTAM.
CULTURA SERTANISTA QUE PASSA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO
ESCRITO E REPRODUZIDO POR LUIZÃO-O-CHAVES. 
LUIZÃO-O-CHAVES.    ANASTÁCIO MS     26/11/2013



UM TATU MUITO RISONHO


Era uma vez um senhor já entrado em anos e que vivia no seu sítio, que era um lugar muito aprazível, ainda havia uma pequena mata, alguns capões que era para os seus animais sombrearem nos dias de alta atividade solar e capoeiras onde foram as suas roças alguns anos passados, o restante das terras era só cerrado, um córrego que banhava as suas terras e que tinha até alguns peixes comuns bagres, traíras, piavas, lambaris e cascudinhos. Quando o velho tinha um tempinho, e na companhia de um velho cão de guarda que já estava lá pelos seus treze anos de idade, ia com a vara e iscas pegar alguns peixes para um jantar diferente. Era viúvo há muito tempo, muito bem cuidado pelos filhos que apesar de não morarem juntos porque cada um tinha sua família a cuidar. Durante muito tempo gostou de caçar em suas terras, envelhecendo um pouco deixou daquela modalidade de diversão que os caboclos gostam muito. Cuidava só da roça que  nela cultivava de tudo, nada lhe faltava para ter motivos de sair pelos matos caçando. Abandonara a atividade de vez. Os tempos passam, mas a saudade de algo feito no passado sempre incomoda lá de vez em quando. Dia desses uma delas lhe importunou, deu vontade de caçar um tatu, tinha chovido a tarde e anoiteceu fresquinho, então ele lembrou; resolveu ir ao cerrado com o seu cão, velho amigo das caçadas. Ver se matavam um tatu gordo. Pegou um enxadão, uma pá, um facão e um saco de estopa, a lanterna e bem calçado, porque quem anda nos matos a qualquer momento pode até pisar em cobras e ser picado se descuidar com calçados comuns, lá se foram animados. Porque ao entardecer após uma chuvinha, os tatus saem cedo das tocas para caçarem alimentos, e o cheiro de terra molhada os atraem achando com facilidades insetos diversos, besouros cascas de cigarras e quem sabe elas mesmas. Andando a noite toda, ás vezes retornando de volta para as tocas lá pelas oito ou nove horas do dia seguinte. Andaram pelas beiradas do cerrado um tempão, nada de nada acharam! Resolveram entrar cerrado adentro, o cão velho farejou o chão e saiu numa carreira danada, localizara uma presa, saindo na sua batida foi calado sem dar um ganido sequer, por que o cão quando vê a caça dá o seu aviso ganindo, o caçador prático já fica de prontidão, vê a direção e sai atrás em busca do petisco, acuado seja no chão ou entocado está pronto para agarrá-lo, mas desta vez não aconteceu assim! Andou um bocado sem nada ouvir, andou mais um pouco e escutou um reboliço que parecia estar distante, foi aproximando e cautelosamente parou para ver o que era, Escutando umas risadas, gargalhadas, bem gargalhadas mesmo daquelas de quem se diverte a beça. Pensou consigo: Deve ser assombração, mas aqui nunca teve isso! Será que agora tem? Não duvido nada! Também há quanto tempo eu não caço! Vou ver o que é? Nunca vi isto e nem tenho medo destas coisas!. Saiu devagarinho na direção das risadas, quase  pé ante pé, foi chegando, chegando olhou por cima dos arbustos com o facho da lanterna firme na direção, viu os matos e os arbustos balançando e aquele bolo no chão rolando para lá e para cá, Sabem o que o velho viu, já bem pertinho? O tatu deitado de costas no chão, o cachorro velho abocanhando a barriga dele, como o cão não tinha mais dentes de tão idoso, as gengivas dele faziam cócegas no couro da barriga do tatu e este não aguentando, destemperou a rir até urinou-se todo de tantas gargalhadas que dava. Quá  quá quá!  Qué  qué  qué! e Quí quí quí quí! O velho caçador também desatou a rir do negócio, até chegar em casa. Qua, qua qua qua qua e qua qua qua! 

HISTÓRIAS QUE CONTAMOS PARA A CRIANÇADA DIVERTIREM.
ESCRITA POR LUIZÃO-O-CHAVES. ANASTÁCIO MS  24/11/2013
CULTURA SERTANISTA PASSANDO DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO.


A ONÇA, A RAPOSA E O MACACO

                         

Durante muito tempo a onça planejou pegar o macaco, estava difícil por que o símio sempre fora muito velhaco, vigilante em tudo o que fazia e por onde andava com o bando. Fosse caçando frutas no mato, pulando de galho em galho, ou simplesmente passeando, era esperto demais pelo seu tamanho. Na hora de se recolherem para o pernoite, escolhiam um lugar mais impossível para não dar o acesso aos predadores seus, que no caso aqui é a onça, bicho traiçoeiro  para tudo que é bicho. Basta dizer que a espécie felina não tem amigos, a não ser em historias e contos. Nas aguadas então ele vigiava o dobro, tinha mil e um cuidados quando o bando ia descer para beberem agua, ainda que fosse, no rio, no córrego, ou alguma poça d’agua na mata, quando chovia muito e as poças custavam secar. O chefe ou líder do grupo seguiria na frente sozinho para a aguada, assim poderia ver quem chegava para sorver o precioso líquido, era um plantão eficaz até que passassem quase todos pela fonte. Vinha o veado, a anta, o porco do mato, quatis, lobos, pacas, cutia, tatus, airara, lobinhos, as aves em geral. Nenhum felino! Então dava a senha para o bando vir, não havia perigo á vista. FÓÓÓ, FÓÓÓ, FÓÓÓ! Todos chegavam seguros. Enquanto uns bebiam, outros vigiavam, até que todos saciassem a sede. Depois caiam fora dali, cuidar da vida por que a morte poderia sobrevir a qualquer momento. Nas matas que tem onças, macacos não fazem bailes, nem festejam nos galhos baixos!  Nesta situação não tinha como a onça concluir o seu plano, Pensou muito até que parece ter achado uma solução para o impasse. Ah! já sei? Comadre raposa é muito esperta, talvez mais que o próprio macaco. Vou procurá-la! Dará certo, ora se não dará! Desta vez duvido daquele safado me escapar! Está no papo! Deu uns murros no chão de tanta certeza que este plano daria certo! Afiou as garras num tronco de angiqueiro com as cascas bem velhas, bastante ásperas. Arrancou lascas com as unhas, de tanta convicção. Porque os felinos quando vão pegar uma caça antes  porém,  afiam as garras, é o sinal de banquete. Churrasco á vista! Lambeu os beiços, temperando a boca! Agora sim! Onde estará a minha amiga raposa?   Foi lá para a beira do córrego, esperançosa que a raposa apareceria por lá para beber agua, então conversaria com ela, apesar de não serem amigas chegadas, tentar não custa nada! Pensou com seus botões! Esperou por um bom tempo, até que enfim lá vem ela de pança cheia, louca para matar a sede, ao chegar pressentiu a onça pelo faro. Deu uma parada, escutou, farejou mais; teve certeza, era mesmo a onça, pensou consigo deve estar por aqui deitada na sombra. Chegou e logo bebeu agua á vontade, quando ia saindo para ir embora a onça veio em sua direção, dizendo: Olá amiga raposa, tudo bem com você? Há quanto tempo a gente não se encontra? Não é? Pois é? Respondeu a raposa, meio surpresa com aquela saudação tão amistosa. E você amiga onça, como vai? Disse assim a ela, desconfiada que atrás daquela alegria continha algo, ela precisava saber. Fingiu confiança na onça, para ela se abrir de uma vez deixando de rodeios.  Sabedora que onça não tem esse papo! Deu certo! A onça disse-lhe: Estava te esperando aqui, para pedir-lhe uma ajuda! O que é? Indagou a raposa! Olha! Disse a onça: Você é um animal muito inteligente, esperto de natureza, se dá com meio mundo. Por isso escolhi-a par me ajudar num intento, é o seguinte: Pretendo pegar o macaco, se você me ajudar como penso. A raposa pensou e disse: Desde que não me traga problemas, será um prazer te dar uma demão, conte comigo, discorra o que tem em mente: A onça se abriu toda. Vou fingir de doente a beira da morte, lá na minha toca de pedra. Morro de repente, inventa o que você achar melhor. Ou você sai avisando que levei um tombo me quebrei toda. Avisa a bicharada que morri. Que todos venham no velório, deixando um banco na entrada da porta do lado de dentro, mande o macaco sentar ali, de cá da mesa, o defunto dará um salto certeiro nele. Não escapará desta vez. E claro que ninguém espera isso do defunto. Todos sairão correndo, inclusive você, saindo a mil, deixe o resto comigo. Não ficará comprometida no assunto. O problema é que o defunto reviveu, levantou doido e grudou no macaco. Ninguém saberá como isso aconteceu e fim de papo. Topa? A raposa disse: Sim! Plano bem arquitetado! Admirou a raposa. Deixe comigo, vá logo para a sua toca, sei onde ela fica. Deu um tempo a onça chegar lá e saiu avisando os bichos, logo deu a noite. Tinha tanto bicho no velório que dava até nojo. Em cima de uma pedra grande lá dentro estava a onça deitada de bruços, e de frente para o banco que o macaco iria sentar. De vez em quando abria um olho bem devagarinho para ninguém perceber. Estava coberta de flores ramos verdes. Num galho da árvore que fazia sombra na porta da toca em dias de sol lá estava o macaco-chefe, sentado e espiando aquele espetáculo macabro. Os bichos todos admirados  e desconfiados por saberem da morte da onça, tão repentina se deu. O macaco estava mais cismado ainda, não quis descer, veio a raposa e disse-lhe: Amigo, desça daí e chega para cá, tem um banco vazio aqui, sente-se e fique a vontade! Vou te oferecer umas bananas, chama  também os demais companheiros? A macacada estava na maior farra, aprontaram uma gritaria! Em coro diziam: É mentira, é mentira, é mentira! Se é que morreu mesmo, já foi tarde! Um deles falou ao chefe: Conversa mole; cuidado cunhado! Não marque bobeira! Ela quer é te pegar, seu tolo! A raposa é mentirosa, vive só de enganar os outros, pensa que a gente é trouxa! Cai fora daqui chefe! Mas este resolveu perguntar a raposa: Nossa! Como se deu o acidente? Ela caiu de um galho seco que quebrou no alto. Eu não vi. Mas escutei o barulho do tombo, corri para ver o que era, achei-a nas ultimas, dissera a raposa. Trouxemos á toca e morreu instantes após. Hã-rãã!  Disse o macaco!  Acho esquisito, a morte dela! Não vejo o marido dela, nem filhos e ninguém chorando? Quá! Será? Mas! Tornou o macaco! Ela já rosnou depois de estar na mesa sendo velada? Não! Disse a raposa! Ainda não! Então está viva? Replicou o macaco! É certeza, que ela só está desacordada! Está viva mesmo, sem dúvida? Mas morto não rosna, afirmou a raposa! Rosna sim? Já vi muito isso acontecer? Garantiu o macaco!   Nessas alturas a onça para confirmar que de fato estava morta, soltou um baita rosnado que a bicharada saiu tudo doido do recinto do velório, uns passando por cima dos outros e ganharam a mata para nunca mais acreditarem na raposa. O símio com é safado deu uma baita gargalhada dizendo: Deixe de ser besta, amiga raposa. Onça morta, não rosna! Ká, ká,  ká !  FÓÓÓ, FÓÓÓ, FÓÓÓ!  Sumiram na mata! Nem a raposa ficou ali!

MORAL: PARA A ESPERTEZA, USA-SE ESPERTEZA E MEIA.

FÁBULAS E CONTOS ESCRITOS / REPRODUZIDOS  POR: LUIZÃO-O-CHAVES

ANASTÁCIO. MS 25/10/2013

domingo, 24 de novembro de 2013

AS QUEIXAS DA BICHARADA PARA O LEÃO


Houve ha muitos anos passados conforme os povos contam,  que existiu uma era que os animais se comunicavam como nós o fazemos desde a nossa criação, isto é, usar a faculdade de falar, linguajar se comunicar através da voz. Nesta época os homens já estavam povoando a terra de uma maneira rápida, crescente se espalhando por toda parte dela, cultivando-a, abrindo caminhos, estradas fazendo casas, derrubando matas caçando os bichos, matando-os sem piedade levando para cativeiro, armavam laços e armadilhas de todo jeito e em toda parte, perseguiam de dia e de noite os pobres animais indefesos, que só tinham uma maneira de escaparem dos homens. Correrem salvando-se quem pudesse, acabara a paz deles, viviam atormentados, atribulados sem sossego, se andassem de dia dava de cara com o homem e um monte de cães que os atropelavam até pega-los, se recolhessem de dia para sair a noite, morriam nas esperas, se abandonassem uma região indo para outras, o homem iria atrás do mesmo modo, estava implantada a soberania do homem na terra, conforme Deus o predestinara, só que estavam errando, desrespeitava tudo. Como se só ele precisasse viver. Vejam so, quem seria capaz de dormir com um reboliço desses? Onça pintada, jaguatirica, lontra, ariranha, lobos, jacarés, gatos do mato e diversos bichos de belo porte, os homens abatiam para vender suas peles. Caititu, queixada, anta, veados, pacas, cutias, tatus, coelhos, preás, quatis, ouriços, capivaras, mutuns, jacus, bragadas, jacutingas, macucos, jaós, aracuans, pombas, nhambus eram presas que os homens gostam muito por ser deliciosa suas carnes. Ante essa explanações podem ver que a vida da bicharada estava uma loucura e desespero, uma angustia sem fim. Reclamar para quem? Ah sim! Para o rei leão! Pensou a anta, que tem o apelido de jegue da mata. Ele como nosso rei e soberano dos bichos selvagens, quem sabe , terá uma solução para o nosso caso! Irei procura-lo de imediato. Sendo informado da terrível situação que viviam, a sua majestade deu a seguinte orientação para a anta: Daqui a noventa dias, está marcada uma reunião embaixo da figueira grande. Em assembleia decidiremos o que for melhor para todos, tendo em vista a queixa de cada um, elas são muito diversas pelo que já ouvi até agora. Vá por aí espalhando esta noticia, ha tempo de sobra, ninguém deverá faltar nesta data. Aqui está o comunicado, leve-o contigo, mostre a todos os bichos, e cada um que tomar conhecimento, tem a missão de avisar outros que encontrar. Esperaram o dia, que finalmente chegou. Lá estava tanto bicho que só vendo, desde os camundongos até a anta, não faltou ninguém! O rei deu abertura nos trabalhos, pedindo que todos se comportassem bem, ouvirei á todos, prometeu: Foi um silêncio! O rei de posse de uma extensa lista de nomes foi chamando um a um sem distinção! Veio a anta e disse: Além de caçar a gente, com armas e cães, na espera e com armadilhas. O homem tem a mania de comparar-nos com outros homens que não são educados, com a gente: Diz que o sujeito é bruto igual anta, me ofendeu! Vem o veado, entre os homens há os que não se comportam como tais, já lhe chamam de viado! Pode? Veio o gambá, o sujeito é um beberrão de pinga. Já é chamado de Gambá. Vem a onça, queixo-me dos homens: Matam a gente vendem nossa pele, roubam nossos filhos criam para vender também. Assisti a morte do meu marido, os homens e seus cães atropelaram a gente, tivemos que correr; subi num pau seco, fiquei lá em cima ele sentou no chão e enfrentou os cães, enquanto isso um homem fez um disparo contra o pobre que caiu morto sem apelação, desci de qualquer jeito sai correndo, pude escapar com vida. Vem o porco: Minhas queixas são resumidas porque são muitas: O sujeito não toma banho, outro diz: seu porco! Faz um serviço mal feito, outro diz serviço porco! Se ele bebe e vomita, vomitou como um porco!  Dorme e está  roncando, tá roncando igual um porco! Bêbado está babando, é igual um cachaço!   Arranja parafusos, pede logo a porca, minha esposa não! O senhor viu? Maestro leão? Vem a capivara, o sujeito escolhe qualquer mulher feia, diz que ela é parecida uma capivara de tanto feia! A polícia pega a ficha dos malandros, chamam-na de capivara! Vem o rato, o sujeito rouba dinheiro do outro, é chamado de rato. Mulher dá luz um monte de filhos, a outra fala, parece rata! Vem o burro, Apesar de ser bem tratado pelo homem, ele critica a gente: Se o filho não está bem nos estudos, porque é burro! Amansa aquele burro, capa ele, dá uma coça e solta na invernada! Assim não dá! Único desabafo que tenho, burro é quem monta em mim!  É por isso que os derrubo em cima de cercas, dentro de valas, em pilhas de pedras ou madeiras, corcoveio e mando-os na terra, dou coices, manotaços e mordo mesmo. Qualquer pancada que levam, dizem parece coice de burro. A cutia e a paca reclamaram que são enganadas  nas cevas, os tais esperam a gente de noite e nos passam chumbo. O jumento queixou-se apesar da gente prestar serviços ao homem, ele nos debocha, basta a gente estar mijando, eles ficam rindo do nosso membro, diz para o outro: Olha o tamanho! Parece o seu, hein Clóvis! Kkkkkkkkkkk. Quando uma mulher e bem dotada, comparam com a minha esposa, fulana você parece jumenta, dá quatro dedos de testa? O tatu reclama, vão caçar a gente, ensina ao outro: Se o tatu entrar no buraco, enfie isto no c... dele que sai ligeirinho. A raposa disse: sou comparada com os homens que logram os outros, esperto igual raposa. O macaco disse: Dizem ao homem  namorador, você parece macaco, não pode ver mulher! Quando a mulher está desligada e crava a unha, diz as outras: Coçando igual macaca, hein fulana! Depois de ouvir todos, o rei passou a mão nas barbas e disse: O caso está sério mesmo! Vão cada um para seu lugar, e aguardem! Vou encontrar o homem! Desafiá-lo para uma luta limpa. Quem vencer dominará tudo! Quem perder, não pode reclamar nada! A reunião está encerrada, obrigado á todos.
VEM A SEGUIR: O LEÃO E O BICHO HOMEM.

17/10/2013.........LUIZÃO-O-CHAVES

O ENCONTRO DO LEÃO COM O BICHO-HOMEM


Logo após ter presidido a reunião da bicharada embaixo da figueira grande, onde o assunto era as reclamações dos bichos, inerente ás perseguições do homem para com eles, o Leão resolveu ir sozinho conhecer e enfrentar o bicho homem, para um tira-teima, ouvira falar que o homem era soberano na terra, ele o Leão era soberano na selva ou no reino da bicharada. O Leão sabia que o primeiro de tudo era Deus criador de todas as coisas boas e animais bons. Não conformava em ser o terceiro colocado na terra, queria ser o segundo porque toda a selva lhe pertencia por direito, o homem se quisesse, que ficasse com a terceira colocação. Então ai surgiu o desencontro das opiniões. Nada mais certo do que tirarem a dúvida. Seria num duelo limpo sem trapaças. Mediriam as forças, cada um mostrando o seu poder de luta, domínio e inteligência para governar. O vencedor ficaria em segundo lugar. Todos os bichos ficaram cientes do que estava para acontecer entre os dois. Todos os felinos aconselharam o Leão a desistir daquela ideia. O homem era muito perigoso, cheio de truques, estratégia de guerra e lutas, portanto era invencível. Não valeria a pena o Leão se arriscar tanto, não lograria êxito na disputa. Convinha ficar quieto que seria melhor. Homem não é brincadeira, diziam os outros bichos que o conheciam por terem escapado de suas artimanhas, perseguições, balaços e armadilhas. Mas o Leão não cria em conversas, queria ver com os próprios olhos. Então vá! Disseram eles. Não queixe depois! Saiu mata afora andando e olhando tudo, via vestígios do homem nas matas, carreadores, picadas, clareiras, roçados, limpeza na beira dos rios, lagos, córregos matas derrubadas e estradas até. Resolveu esperar o bicho-homem em um lugar que por certo ele passaria, era na beira de uma carreteira meada por um caminho mais batido pelo meio. Sentou-se e esperou calmamente, de repente, surgiu uma velha que vinha para casa com  um embornal contendo vasilhas do almoço , ela vinha da roça. Isso era já de tardezinha, lá pelas quatro horas ou mais. Fitou aquela figura e pensou: Deve ser o bicho-homem! Deu um salto felino na frente da velha que quase desmaiou de susto, Indagou: É você o guerreiro, bicho-homem? Ela disse: Não sou guerreira! Sou a mãe de um e esposa do outro! Daqui a pouco ele passa. Daí a pouco vem um garoto de uns dez anos, o Leão rosnou e o moleque deu um grito que amoleceu as pernas de susto. Tu sois, o guerreiro  bicho-homem? Não, disse o moleque! Sou filho dele! Ele está vindo ai! O Leão aguardou mais um pouco, lá longe vinha um tipo diferente maior que a velha e o garoto, deve ser o tal, pensou o Leão. A figura chegou, o Leão deu um salto na frente dela, seguido de um esturro. Perguntou: É você o guerreiro, bicho-homem? O velho deu um salto de banda e disse: Não pense que sou filho de pai assombrado, puxou de um facão e o brandiu no ar. Disse ao Leão: Já fui bicho-homem, hoje estou muito velho, não guerreio mais, mas sou o pai dele. Ele vem aí, espere só mais um pouquinho e verás! O Leão sentou de novo e ficou espiando para o caminho ao longe, divisou um baita negão acompanhado por três enormes cães de caça, com uma espingarda a tiracolo, um facão balançando do outro lado, chapéu de palha deste tamanho, barba crescida, cabeludo e calçando uma alparcata, pitava um cigarro de fumo de corda, baforando para cima e olhando para todos os lados, desconfiado que só ele. Não foi surpreendido pelo leão, viu-o de longe, fingiu nada ter visto. O leão saltou na sua frente. O negão puxou do facão e escorou o felino, dizendo: Você está doido, bicho? Está querendo morrer? Não venha, porque te corto igual um salame! Os cães avançaram no Leão, mas o negão ralhou com eles, O leão perguntou-lhe: És tu, o guerreiro bicho-homem?  Estes aí,  que fazem?  Sim, sou eu!  Disse o bicho-homem. Estes são meus auxiliares, eles estraçalham tudo que eu mandar. Porque quer saber? Pergunta o negão! É porque te aguardo aqui para tirar uma dúvida, vamos para um duelo, quem vencer, dominará tudo abaixo de Deus. Você persegue os animais da mata, eu não gostei nada disso que você faz. Lá na mata quem manda, sou eu! Disse o leão! Você invadiu o meu território! Dois mandarem num espaço só, está errado. Um terá que sair, e de qualquer jeito! Por bem ou por mal! Está bem, falou o negão, vamos lá! Como faremos? Eu darei três esturros perto de você, se tremer estará derrotado. Farás o mesmo comigo, disse o Leão! O que fraquejar dará a coroa de rei para o outro. Se houver empate, decidiremos de outra forma. Combinado dissera o bicho-homem! Então o Leão abriu o par de queixos e esturrou forte. O negão nem se importou com o barulho que chegou a estremecer a terra, estrondando na mata, onde tudo silenciou, foi o segundo e o terceiro e nada do bicho-homem assustar. Agora é a sua vez disse o Leão: O Negão bicho-homem disse: Não vou fazer nada além de um espirro com este negócio aqui, apontando a espingarda para o lado do Leão que nem imaginava o que poderia acontecer. Nunca tinha visto aquele tareco e muito menos aquilo funcionar!  Apontando para a paleta do Leão, de propósito só para raspar o seu couro com uma camada de chumbo fino. Engatilhou a arma, segurou firme e lascou fogo no Leão. Foi um estrondo seguido de um tombo que o leão levou, que nem viu a hora que caiu, nem a que levantou. Saiu louco de dor e surdo com aquele estampido que quase lhe estoura os ouvidos, e abalou os miolos, entrou mata adentro correndo só com três patas. Uma delas pendurada, ferida e escorrendo sangue. E os três cães na culatra dele. Com essa o Leão não quis saber quem era bicho-homem e nem se guerreava. Guardou a cara na mata rasgando cipoal, espinhos de caraguatá, arranha-gato, urtigas, cansanção, japecanga, espinheira de tucum, rompe-gibão. Tudo o que tinha pela frente levava no peito. Só parou muito adiante já no pé da serra, cansado de correr, todo arranhado e sangrando, deitou-se embaixo de uma pateira de folhas largas e secas que forravam o chão, debatendo e urrando de dor. Passou a noite gemendo e lamentando o que lhe acontecera. Dali a três dias foi que a onça o encontrou magro, faminto e desolado da vida, deitado no mesmo lugar. A onça lhe perguntou o que havia acontecido com ele para estar num sofrimento desses! Respondeu muito sem graça: Encontrei o bicho-homem, este é o resultado da minha teimosia! Não te falei, disse a onça! O homem é terrível, ninguém o vence! E como ficou a disputa? Indagou a onça! Sei lá de disputa! Me deu um espirro, e eu cai cego e surdo no chão! Tive que sair de qualquer jeito da frente dele, senão me mataria! Nunca mais quero vê-lo. Nem me importo que ele seja o segundo depois de Deus. Avise os bichos que cada um se defenda como puder das garras dele. Estamos irremediavelmente perdidos, isso sim! Salve-se quem puder!
MORAL; QUEM NÃO OUVE CONSELHO, OUVE COITADO!
SE CONSELHO FOSSE VENDIDO, QUEM COMPRASSE VALORIZAVA!
CONTOS QUE CONTAMOS PARA DIVERTIR AS CRIANÇAS!
LUIZÃO-O-CHAVES.........ANASTACIO  MS.


A ANTA E A ONÇA


A anta desceu até ao rio para beber água e lá encontra a onça jantando um filhote de capivara, vendo aquele espetáculo horrível, dilacerando o pobre bicho indefeso com uma gulodice de dar náuseas em quem visse. Saiu de fininho como quem dissesse aos seus botões, se não  fartar deste, poderá me cobiçar para completar a refeição, antes que o mal cresça, te corto a cabeça , pernas para que te quero. Não tardou muito a anta andando na mata ouviu um esturrar de felino que de tão forte, estremecia o chão e silenciava até os pássaros que cantavam na floresta. Parou, escutou mais vezes e conheceu; era do rei Leão. Depois ouviu outro mais brando, era da onça se maldizendo, reclamando da sorte. Resolveu chegar mais perto para ver do que se tratava. Fez isso porque era um período que os homens estavam perseguindo sem dar tréguas todos os animais da selva. Matava-os, em esperas, caçavam de dia com cães ou na sonda de tardezinha. Os pobres bichos não tinham paz nem descanso, viviam  assustados o tempo todo, até os felinos procuravam os demais para uma aliança, uma estratégia de defesa, estava difícil a situação, por isso que a anta aproximou dos dois felinos, quem sabe  pensando ela: Pode ser alguma coisa em favor da bicharada. O que viu foi o Leão sentado, ouvindo as queixas da onça. Dizia ela: Malditos caçadores! Infames, traiçoeiros, não servem para nada a não ser para fazer mal aos animais. Se eu pudesse os esganaria a todos, o leão ouvia tudo, calado estava? Calado ficou! Com a presença da anta, ela apimentou mais os queixumes para o Rei. Aproveitou a presença da curiosa e disse-lhe, você não concorda comigo amiga? Veja só, disse a onça, estava eu fora de casa e os malditos raptaram meus filhos, sem dó nem piedade. Deixaram-me com o coração dilacerado, imagine você que também é mãe como fica o coração da gente numa situação dessas! Perder os filhos para nunca mais vê-los. Estou sofrendo muito, não conformo em saber por que fazem isto com os filhos alheios, não tiveram um mínimo de compaixão desta pobre mãe. E agora o que faço? Chorar a desdita de nunca mais ver meus filhinhos adorados. Majestade? Dê um jeito! Preciso resgatar meus filhos, faça algo por mim! O Leão pensou refletiu na conversa, e disse: É um caso sem jeito. Nada posso fazer! Deixe isto para lá! Vá cuidar de sua vida que é melhor! Qualquer um de nós que tentar ir até aos homens reclamar, está sujeito a levar um balaço e ficar por lá, e ainda vendem a nossa pele, que vão os anéis, mas que fiquem os dedos. A onça desolada com a opinião do Rei, disse a anta, e você que faria no meu lugar? Salvaria a minha pele, respondeu a anta! A onça pensava que a anta lhe daria apoio. Ficou mais furiosa ainda. Sua estúpida! É isso o que você pensa? Sim! Replicou a anta! Fizeram uma vez contigo o que tu fazes todos os dias com os filhos alheios. Quantas mães você já deixou sem os filhos, matando-os sem piedade. Quantos corações você estraçalhou matando filhotes de tantas mães, já  está esquecida do filhote da capivara que você estava jantando na beira do rio? Como será que ficou o coração daquela mãe? Agora doeu em você?  Nos outros não dói, não é? Desde que o problema de hoje é seu; vá atrás dos caçadores. Se tiveres a sorte, trará teus filhos de volta, caso não tiver, ficará por lá, o que nunca fará falta para nós. Ainda acrescentou um pouquinho. Vocês felinos são assim mesmo, iguais sem exceção. Até o leão teve que engolir esta verdade de graça.
MORAL DA HISTÓRIA: PIMENTA NOS OLHOS ALHEIOS, É UM REFRESCANTE BOM MESMO!
FÁBULAS QUE REPRODUZIMOS PARA DIVERTIR A TODOS.

LUIZÃO-O-CHAVES.........ANASTÁCIO  MS.18/10/2013

O ASSALTANTE DO GONÇALO


Viajando por uma estrada que dava acesso da comarca  de Aquidauana á de um distrito, o do  Cipó, um lugar de garimpo muito falado no Brasil inteiro, eram lá pelas onze e quarenta da noite, lugar ermo sem um morador nas mediações, nada menos de uns oito quilômetros distante do ultimo boteco que por obrigação todo viajante fazia parada para tomar alguma coisa ou até mesmo comprar ou reforçar a matula para o resto do trecho que teria pela frente até o final da viagem. Como já era altas horas da noite por certo o boteco já havia fechado e o nosso viajante passara de largo, o final da viagem não estava tanto a ponto de precisar de matula. Montava um cavalo bom de sela, acostumado a viajar longe. Só nunca haviam visto qualquer aparição nas viagens noturnas. Animal manso, ele o cavaleiro um modesto e pacato homem pai de família trabalhador e os tempos também eram de outrora, lá pelos anos 1950 e alguma coisa mais ou menos. Nesta estrada tinha duas referencias muito conhecidas dos andarilhos e viajantes, duas arvores nativas da região, uma era um pé de “Sucupira Preta” e mais em cima um pé de “Gonçalo” distante uma da outra uns 500 metros. Ambas estavam localizadas numa extensão da estrada onde a mesma começava uma subida longa. Pois é, nesta noite sem luar, céu estrelado, um silêncio profundo onde se ouvia somente o canto das aves noturnas e dos grilos do mato, de um lado e outro da estrada de terra batida e muita areia antes da subida, um cerrado meio mata era o que se via. Fora disto era o barulho natural da montaria pisando e os apetrechos ringindo as amarras, a sela de couro, as cinchas, argolas e freios no seu barulho natural chocalhando. Eis que de repente surge um vulto estranho na sua frente e toma as rédeas do animal segurando-o pelos freios, era um homem de estatura boa, como a noite todo gato é pardo, não se via a cor, nem o rosto do assaltante, o nosso viajante ouviu apenas uma ordem: Me da o dinheiro, ou  fica sem sua vida! O animal ficou sem ação, seguro pelos queixos, escapar como? Correr de que jeito? O cavaleiro ouviu de novo a mesma ordem! Mil e um pensamentos  perturbam a sua cabeça naquele instante, num relance e como um raio sacou da cintura uma arma e abriu fogo na altura do peito daquele assaltante mão armada, pois não sabia se o individuo portava arma de fogo ou outra. Não titubeou, fez o que deu na mente. Só ouviu o estampido de sua arma e um ligeiro tombo, levantou e saiu numa carreira louca em direção ao cerrado pela esquerda do cavaleiro e do cavalo. Não esperou mais nada, chegou as esporas  no animal, que saiu dali a galope até o cume da subida. Chegando lá em cima o pobre do animal resfolegava não mais aguentar aquela disparada louca e repentina. Puxa vida, e agora? Será que matei ou não? Quem será? É conhecido ou estranho? Será que alguém viu, ou ouviu? Meu Deus e agora, que farei? Ficou aquele turbilhão de perguntas na cabeça, sem nenhuma resposta. Seguiu a sua viagem até o seu final. Chegando em casa já na madrugada, desencilhou o animal, soltou-o no piquete, deu-lhe de comer e beber, Tomou banho, comeu alguma coisa, mas com aquela apreensão que só ele sabia. Acomodou-se para descansar da viagem. Acordou cedo para as atividades do seu dia-a-dia ainda meio pensativo no ocorrido da noite anterior. Finalmente tirou da cabeça aquilo e a vida continuou. Sempre em fazendas chegam pessoas estranhas com as mais variadas noticias, depois de uns quatro dias, correu uma, tinham achado um homem morto lá subida do “Gonçalo”. Quem o achou, foi por causa de urubus sobrevoando o local, e da catinga de carniça que vinha do mato ate na beira da estrada. Um curioso foi ver o que era, deparou com um cadáver humano, já em estado de decomposição elevado, as rapinas carniceiras tinham comido os olhos e língua daquele corpo, quase todo o rosto. Ninguém reconheceu, até as roupas estavam rasgadas pelos bichos carniceiros. Só puderam ver na camisa que trajava um furo de bala na altura do peito e uma costela quebrada. Ninguém seria capaz de saber quem o matara, nem como saber quem era o morto. Ficou por isso mesmo. Naquela época era assim, morreu? Enterra e pronto! Nem sequer deixaram uma cruz para a marca quando morre alguém desconhecido na beira de estradas conforme é o costume.   Ficou o viajante com este segredo até 1964, quando o conheci. Um dia resolveu contar este fato. Por eu ser amigo e de sua confiança, fui escolhido para saber disto. Porque me disse que tinha que contar a alguém, não suportava mais ficar com o segredo sozinho há tantos anos. Guardei o seu segredo! Em respeito e consideração, e enquanto fomos amigos até o fim de sua vida, que se deu em 1999. Já com 86 nos de idade e muito enfermo, despediu-se de nós e desta terra terrível, imprevisível, traiçoeira, perversa e muito má. Onde muitos caem no laço das forças malignas. Durante muito tempo, naquele lugar aparecia sempre vindo lá de cima da subida, uma luz com se fosse de uma pequena lanterna, mas de longo alcance o seu facho luminoso, clareava a gente no peito. Vi muitas vezes isto, porque passei muito nesta estrada que até hoje é importante para o município e adjacências. Por isso relato com convicção este fato. Desaparecia como aparecia, era um encanto num piscar de olhos. Todos que conheci daquela época, se foram. O nome dele é J.R.G. descanse amigo! Ao menos deste mundo!  Oxalá tenha conseguido o perdão de Deus para aquele crime imprevisto, penso nisso e desta forma porque a última hora de uma pessoa, só Deus ouve o seu lamento. Ir para o Céu? Quem não quer?  Deus sabe quem ele arrebata para lá! 
ESTE NÃO É CONTO, COMO SÃO OS OUTROS QUE ESCREVO.
É FATO VERDADEIRO! (Será mera coincidência se alguém contar igual)
LUIZÃO-O-CHAVES........16/10/2013

ANASTACIO MS.