quinta-feira, 26 de maio de 2016

ECONOMIZAR TANTO ASSIM NÃO DÁ!

                                   


Hoje vamos contar a história de um senhor que era o máximo em economizar de tudo. Uma coisa nunca vista antes. Acho que dá para acreditar. Sabe aquelas pessoas que não roem as unhas porque dói? È um destes. Nem é preciso dizer sobre a mesquinhez. A criatura era demais em tudo o que fazia, regulava sem ao menos ter cerimônia de quem quer que fosse, um exemplo: Exigia da esposa e da única filha que tinham do seu casamento que ambas assim que coassem o café não jogassem o pó molhado do coador, seria colocado numa tabuinha lá no telhado para secar e depois ser reutilizado. Quando já estava mais para água de batata, do que para café e somente no cheiro, acrescentava sementes de fedegoso torrado e moído e um pouco de outro café novo para saborear. Nossa como ficou bom, dizia! Não alimentava seu cão e seu gato com sobras de comidas, somente com carnes de caça, caçava nos fins de semanas. Fazia de tudo para não errar um tiro. Se acertasse mal a caça, perdia-a, além da munição. Caçava ou esperava os bichos, pacas, cutias, tatus, veados e antas, outras vezes capivaras, aves silvestres etc. Dos animais caçados só não comia os pelos, as unhas, chifres as peles também, com exceção das pacas porque a gente pela-as com água quente igual se faz com porco e a pele fritinha fica uma delicia, da fissura ele aproveitava tudo. kkkkkkkkkkk. Só não economizava água porque o ribeirão passava nos fundos de sua casa e ainda um poço na varanda que era uma beleza. Mas economizava sabões e sabonetes. As roupas que usava na roça durante o dia eram lavadas só com água a tardezinha e postas no arame á noite para secar, vestia uma muda durante a semana. Só uma por semana. As de passeios aos domingos, eram usadas os quatro domingos do mês sem lavar, precisava economizar sabão. As roupas de cama também eram lavadas uma vez por mês. Tomava banho todos os dias mas sem sabonetes, estes eram para ser usados só nos sábados, domingos, feriados e dias santos de guarda. A esposa e a filha usavam sabonetes escondidos dele, se descobrisse, era uma briga, mas elas tinham paciência com ele. Naqueles tempos antigos as mulheres eram só lides do lar, nada de trabalharem fora. Se bem que nada lhes faltava. Iam vivendo assim. Já tinha conversado com a filha e a esposa que o moço que pretendesse desposar sua filha, teria que ter os mesmos hábitos dele, ou que fosse mais econômico ainda. Senão não casaria nunca a moça. Um dia surgiu um moço que queria namorar a moça, ele já avisou do seu sistema. O rapaz desistiu, apareceram outros que desistiram também, a moça e sua mãe já estavam desesperançadas do casamento. Só havia um remédio, esperar, quem sabe surgiria um moço esperto que conseguisse vencer o velho. Um dia numa festinha na vizinhança a moça encontrou um moço que muito lhe agradou, fê-lo pedir licença ao pai para namorarem, no domingo cedo o rapaz atendeu o pedido da moça e o velho aceitou, mas já avisou-o como era, se pretendesse casar, o moço nem se importou com aquilo, a moça tornou lhe avisar mas ele disse que depois veria aquilo. Depois a gente resolve isto, disse! Namoraram firme e um dia o rapaz pediu a mão da moça em casamento, agora o negócio era mais sério. o velho lembrou de tudo de novo mas o moço nem ligou para a tal conversa. Inquiriu dele você é econômico também? Sim disse o rapaz. Então está bem veremos de hoje em diante qual de nos dois é mais, precisamos conversar muito sobre isto. Se você perder não sai o casamento! Está bem, um dia desses veremos quem é mais, acrescentou o moço. Conversaram longamente e só dava empate. O velho dava gargalhadas porque até ali ele dominava a situação. Ninguém era mais que o outro. Aos sábados ele ia namorar na casa da moça e viu que o velho não deixava nem a lamparina acesa para não gastar querosene, proseavam no escuro e a moça sentada ao lado da mãe, o velho sempre atento, era um absurdo um negocio daquele, os namorados para verem os rostos só se fosse lá no terreiro e com a lua  clara, onde já se viu isto? Mas o rapaz não era tão desatento assim como se pensa. Examinou toda a situação em busca de uma falha do velho, não encontrou nenhuma. O velhote bloqueara todas as suas saídas. Namorava assim mesmo sem ver o rosto da moça no escuro, pegar ao menos na mão dela? Sentarem perto? Nem pensar! Não desistiu, sabia que daria uma rasteira no futuro sogro. Era um questão de paciência. No sábado foi á cidade e na volta passou na casa da namorada já era bem de tarde, trouxe um presentinho para ela além de vir de roupas novas, e chique mesmo. O velho nem lhe  convidou para entrar e sentar, mas ele não ligou. O pai da moça ficou olhando ele de roupas novas e bonitas até de cor, disse ao moço: O senhor está chique hoje rapaz? Deve ter gastado muito! Nem tanto senhor, é dever de um moço andar bem arrumadinho, inda mais quando tem uma noiva e se prepara para casar, respondera. Com a resposta o futuro ficou com uma cara e um bico de dar espanto nas mulheres, estas ficaram sem graça com a atitude do velho. Parecia que o mundo ia desabar naquela hora. O rapaz disse que já ia para casa e voltar mais tarde. Jantaram mais cedo até mesmo para não ter que dar janta para o rapaz, mas este não era tão bobo assim. Voltou com a noite já fechada, foi bem recebido e ainda trouxe um pacote de café novinho para tomarem entre uma conversa e outra, o velho agradeceu muito e elas também, já estavam enjoadas de beberem aquela água de batata. kkkkkkkkkkk. O que tirava a paciência do sogro era a frieza do rapaz, cismava que aquele dia seria a última tentativa de derrotar o rapaz, apesar de ser um "As" para desarticular qualquer insinuação de quem quer que fosse. A queda de braço estava prestes a acontecer, quem perderia? Não se sabe quem. Fora convidado a entrar e sentar o que ele fez com cortesia. O velho mandou esposa e filha para a cozinha que era fora do corpo da casa  acenderem o fogo e passarem o café. O rapaz sentou naquele banco de lascas de coqueiro áspero e com felpas, como estava escuro mesmo o moço sorrateiramente foi tirando a calça com cueca e tudo, ficou confortavelmente sentado nu, só de camisa kkkkkkkkkkkkk. Pelos movimentos dele o velho desconfiou que este tirara as roupas, perguntou: Parece que o senhor está nu? Sim, reponde o rapaz! Aí o velho virou uma fera acuada, o que está pensando menino? Nu na minha casa? Isso é falta de respeito comigo e minha família! O senhor não tem vergonha não? Pode ir embora, acabou o seu casamento, vista a sua roupa e suma daqui agora! O rapaz ignorou a ordem recebida e argumentou: Espere aí sogro, não é o que o senhor pensa, não tive intenção nenhuma de faltar com o respeito convosco e sua família. É que o seu banco é áspero e cheio de felpas e elas estragariam o fundo de minha calça  puxando os fios e as linhas. Preciso economizar ela para durar bastante pois custou muito cara. Outra coisa, está tudo escuro e ninguém viu nada amigo, além de estar só nos dois na sala! O velho sogro se calou, não teve contra argumento nenhum. Deu razão ao moço, este era mais economico  mesmo, sem dúvida, as duas lá na cozinha ouvindo tudo e batendo palmas. O rapaz se vestiu, o velho resolveu acender a lamparina, tomaram o café e o casamento saiu. kkkkkkkkkkkkk.

CONTOS DOS CABOCLOS SERTANEJOS PARA SE DIVERTIREM.


"COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES" ANASTÁCIO MS 25/05/2016     

AS MARAVILHAS DA MÃE NATUREZA- 08


Nós temos uma grande admiração pelas coisas da natureza, dentre elas os animais, as aves e os insetos. Hoje vamos falar das aves, ela é doméstica, não deixa de ser um componente da nossa fauna. A galinha-angola. Muito conhecida por todos, quem ainda não ouviu o seu canto tradicional em diversos lugares, nos sítios, chácaras, fazendas, nas vizinhanças e onde a gente mora. Atende por Capote, Tô fraco, Cocá ou simplesmente Angola. É uma ave de porte regular, menor que uma galinha comum, mas muito ativa, esperta, ágil, veloz porque corre muito, tem uma resistência física de causar inveja nas outras aves. Tem um pequeno chifre bem no alto da cabeça, é de cor cinzenta pintada, de preto bem miudinha, tem duas barbelas vermelhas embaixo do queixo, sua plumagem é muito bela. Não tem rabo, desconfiada de natureza, raro o fato de seus predadores pega-la, voa bem e rápido, vive aos bandos sem quantidade definida. Qualquer que seja o perigo elas dão alarme, as demais aves do terreiro ficam de alerta, até os cães acreditam nelas, não são mentirosas, com elas é assim, estão catando no terreiro ou fora dele, umas catam enquanto outras vigiam tudo ao seu redor, nada escapa de seus olhares perspicazes, se arribam de um local onde estavam catando, no resto do dia não pisam mais lá. São impertinentes, implicantes, arruaceiras, briguentas e traiçoeiras principalmente com o galo do terreiro, desde que este não seja seu amigo, o galo estranho passa maus bocados com elas. Agem sempre em mais de uma, ela se aproxima do galo e finge estar catando algo no chão, mas cuidando-o, a menor distração deste ela lhe surpreende com uma bicada nas costas, corre em seguida para longe como se nada tivesse feito de mal. Faz isto repetidas vezes, até que o galo fica de saco cheio e parte para a briga, junta duas ou mais e faz o galo correr, se este é valente e brigador a hora que uma toma um sopapo doído, não vem mais. Se apanharem acaba-se a briga. Há também casos de cruzamento do galo com angola, ou vice-versa. Na postura elas costumam ser muitas pondo num só ninho, este fica cheio de ovinhos, de côr chino arroxeado e de casca resistente, mais do que os ovos de galinha. Quando são pintinhos ainda e que foram chocadas por uma galinha comum, é uma sarna no seu modo de tratar a mamãe-galinha, é muito amorosa, crescem e quando chegam a época de largarem a mãe, não o fazem de jeito nenhum, acompanham a mãe por todo o tempo, cada baita bicho junto com a mamãe, catam juntas, andam por todos os lados  e dormem juntas. A galinha sentindo-se solteira porque já não mais chama "Crof e crof" o tradicional "Choco" por ter pintinhos, estando cantando e acompanhando o galo e já pondo ovos, elas, as angolinhas não a deixam mesmo. O Galo pega a galinha, elas partem em cima do galo para deixar sua mãe em paz. Tem muito ciúme da mãe. Esta, deitada no ninho e elas em volta cuidando, não saem dalí. Quando atingem a idade adulta e pondo ovinhos, fazem-no quase todas as fêmeas num só ninho bem escondidos dos olhos humanos. As vezes dá o que fazer para a gente achar seu ninho. Nossa, as vezes o ninho tá cheio, até 20 ou 30 ovos e ninguém deixa o ninho, continuam pondo alí sim. É preciso ter cuidado no colher os ovos, tem que ser com uma concha ou colher de pau. Se meter a mão nua  elas não voltam alí mais naquele ninho.  Enxergam bem á noite, lá do poleiro veem tudo o que passa embaixo dele. Cantam a noite inteira se a noite é de luar, voam se for preciso se defenderem de alguma coruja ou corujão. É muito boa para se comer, carne saborosa e nutritiva mais do que galinha. O camponês gosta de criá-las porque alem de seu canto não enjoar a gente ela é uma excelente vigia, nada escapa de seus olhares aguçados.  A gente ouve o seu trilado de alerta,  já corremos ver o que é, ela não mente, pessoas e animais estranhos ela dá o sinal.

MAIS UMA CURIOSIDADE DE NOSSA FAUNA E DOMÉSTICA.

ANASTACIO, 25 DE MAIO DE 2016. 

domingo, 22 de maio de 2016

O ENGENHO DO BRITO ERA ASSOMBRADO.

                                 

Num dia destes a dona Maria mandou o seu filho, o Carlinhos ir até a beirada do corregozinho que passava nos fundos de sua casa e do seu quintal apanhar umas folhas de hortelã na pequena horta que ela cultivava, lá tinha de tudo um pouco das hortaliças caseiras que conhecemos. Em especial algumas que serviam de remédios para qualquer eventualidade, losna, alecrim, poejo, boldo, alcânfora, buchinha, cidreira, nosmoscada etc. Estava com dor de cabeça, achava que era a labirintite que sentia. Lá se foi o menino, chegando pegou as folhas que a mãe mandou, em vez de ir logo para casa, ficou olhando os lambaris nadarem no poço do corregozinho. Do outro lado bem na beirada uns trinta metros dali tinha uma casinha de tábuas e coberta de folhas de zinco e ao lado desta um engenho onde o pessoal da fazendinha moíam canas aos domingos para tomarem garapa, fazerem melado  doces ou até mesmo rapaduras quando tinham o tempo que a roça lhes dava. Ali era conhecido por engenho do Brito, pois o Brito era um baita negrão muito divertido, era um solteirão que morou muito tempo ali naquela casinha. Depois se arribou para outras paragens e nunca mais ninguém teve notícias suas, isto já fazia muitos anos. Encostadinho dali estava o canavial, mais ou menos uma quarta da plantação, todos os anos o povo renovavam o plantio do quartel de cana. Isto era muito antigo, desde os antigos moradores que muitos até já tinham morrido de velhos. No galpãozinho de zinco era onde guardavam as formas da rapaduras, os tachos, as pás, conchas, baldes, bacias, facões e as tralhas dos animais que puxavam a almanjarra do engenho, no caso um burro ou cavalo amestrado para isso. A casinha era dividida em duas partes, uma delas era fechada mas com uma porta e duas janelas e a outra parte aberta. Nesta ultima estavam a fornalha, as trempes, as mesas, onde era enformadas as rapaduras, ao lado um fogãozinho pequeno a lenha para fazerem cafés e o lugar onde se colocavam a lenha para não molharem em caso de chuvas. No final do terreiro bem limpinho já começava o canavial. Um pé de jaca grande e frondoso, uma "Latada" na frente da casinha coberto por um pé de maracujá que serviam de varanda para descansarem entre uma tirada de tachos e outra, do lado de cá do corregozinho era o piquete dos animais para facilitar pegarem-nos nas madrugadas de moagem, o córrego era estreito e rasinho, mesmo assim tinha uma pinguela para quem não quisesse molhar os pés na travessia. Era só tanger os animais e estes passavam n'água e a gente na pinguela. O Carlinhos com as folhas do hortelã em mãos resolveu ir até á casinha dar uma espiada nas coisas lá no galpão, curiosidades, coisas de crianças, ele tinha uns sete anos de idade. Olhou tudo ao redor, moveu a almanjarra como se fosse o burro quando puxa-a, o engenho rangiu as moendas, ele pensou consigo: Quando eu crescer vou fabricar rapaduras e doces aqui. Será muito divertido, pois ele já ajudava o pai nesta lida e até gostava quando iam para este serviço, já entendia alguma coisa. Levantava com o pai nas madrugadas, ia no piquete trazer o burro, além de tocar o animal para rodar o engenho, se divertia montando no mesmo e de cima esporeava o animal para andar mais rápido. Assim pensando resolveu ir embora levar o hortelã para a sua mãe que decerto já estava apurada com a demora dele. Quando deu as costas para o engenho, ouviu um: FIIIIIIIUUUUU. Olhou para trás e não viu ninguém, fixou o olhar na estradinha que dividia o canavial dando saída para o lado das roças pensando que alguém surgira dali e o chamava. Pensou consigo: Vou ver quem é. Deu uns passos naquela direção, saiu bem sutil como quem fosse surpreender o amigo, mas  FIIIUUU. Foi novamente surpreendido pelo assovio, mas desta vez foi á suas costas e do outro lado. Ficou sem saber de onde vinha aquela coisa ou brincadeira de alguém. Não esperou mais nada, saiu correndo para casa, passou na água de qualquer jeito, e nem sequer lembrou de pinguela coisa nenhuma, tomado de um medo sem saber o que era que o assustava, dava uns cem metros até chegar em casa, nem viu quando passou aquele trecho. Chegou em casa resfolegando, pálido como uma flor de algodão, quase sem fôlego e com os bofes saindo pela boca. O que foi menino? Perguntou a sua mãe! O que é que tu tens? Nada mãe, nada mesmo. Como é que tu chega aqui quase morto de tanto correr, quase nem pode falar e ainda diz que não é nada? Diga logo o que viste? Pera aí, tome um copo de água, senta aí na cadeira e diz-me o que é que viste! Mãe, lá no engenho tem uma assombração, assoviou para mim duas vezes e não vi ninguém, nem barulho! Que assombração que nada menino, ali nunca teve isso! Você é medroso isso sim! Não mãe, é verdade! Decerto ela queria me pegar, por isso corri! Não volto lá mais por nada deste mundo! Quando o pai chegou do trabalho logo mais á noitinha vendo o filho assustado, este foi de novo sabatinado. Bateu firme o pé que era assombração. O pai olhou o menino, passou a mão nas barbas, e disse: Maria, é verdade isso. Só não sei se é assombração, mas ali tem esta coisa esquisita mesmo. Já ouvi isso algumas vezes. E por que não falou? Para não deixar vocês com medo. Passo o dia na roça e vocês sozinhos aqui, só calculo o medo que iriam passar. E agora homem? Como é que vai ficar as coisas? Perguntou a mulher. Sei não, responde o marido. Enquanto eles ficam entre o ora e veja, vamos confirmar o que o pai lhe dissera. Passou alguns anos deste fato, os povos dali se mudaram, outros morreram, a fazendinha foi vendida e acabou aquele recanto da serra que fora tão divertido. Nós também mudamos dali. Um dia destes o novo proprietário e um empreiteiro vieram á nossa procura para colhermos sementes de capim jaraguá que era abundante ali. Fomos contratados para a tarefa e fomos justamente acampar na casinha do engenho, só que este e nem o canavial existiam mais, estava tudo limpo o lugar, via-se ao longe a invernada e os bois pastando longe, o córrego era o mesmo, a casa onde morou o Carlinhos ainda estava em pé. Só tinha um caseiro cuidando da tropa do novo dono. Então nos primeiros dias de serviços, estava tudo normal, íamos ao corregozinho tomar banho á tarde após chegarmos do trabalho.á noite os companheiros em número de quatro estranhos a mais, jogavam cartas, até mais tarde. Como eu não gostava disto ficava lendo livrinhos de faroeste á luz da lamparina. Numa tarde dessas deu uma chuva lá pelas quatro horas, foi até lá pelas seis horas, estiando, o tempo limpou e após o jantar ficamos batendo papo. Cada um na sua rede, a lamparina acesa tomamos café e depois nos acomodamos para o descanso, pois amanhã seria novo dia de atividades, faríamos outro serviço até que a terra e as sementes secassem para darmos continuidade na colheita das mesmas. Alguns dormiram logo, outros ainda acordados como foi o nosso caso. Lá pelas dez ou mais da noite, pleno silêncio daquela noite tão fresquinha, não se ouvia nem um trilado das aves noturnas, parecia estar de capricho conosco a natureza. De repente caiu não sabemos de onde como se fosse uma enorme pedra em cima do telhado de zinco da casinha que chegou a ranger os caibros e as ripas no impacto dela. PRÀAAAAAAAAA. Rolou pelo telhado até cair no chão, onde deu um baque surdo no chão, quem estava dormindo acordou assustado, quem estava acordado tomou um susto daqueles, pensei que fosse aquele meteoro da Tunguska que caiu na Sibéria em 1908. Ninguém se atreveu a levantar e ver o que era aquilo. Lá fora uma escuridão tremenda, nós tínhamos lanternas a pilha: Você foi lá ver o que era aquilo? Não  foi não é? Nem eu! kkkkkkkkkkkkk.Logo cedinho todos levantaram e fomos ver aquele incidente, não se viu nada! Nem amassado no zinco, nem pedra e nem sinal no chão apesar do barulho que fez, parecia que entraria chão adentro no mínimo meio metro no solo. Espanto geral! O Engenho do Brito era assombrado mesmo! Antes do entardecer mudamos de acampamento. kkkkkkkkkkkkkkk!

ESTE CONTO É VERÍDICO PARA "COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"

NOSSO BLOGGER SEMPRE NA DEFESA DE NOSSA CULTURA SERTANISTA.
ANASTACIO 18 DE MAIO DE 2016.


VEJAM NO QUE DÁ UMA MÃE QUE XINGA OS FILHOS.

                          

Era uma vez um moleque traquina, levado, teimoso, boca suja e insuportável a ponto de sua mãe dizer que não o aguentava mais, sabia de coisas do arco da velha. Seu nome era Joãozinho. Sua mãe era viúva e vivia dos serviços da rocinha que tocava, dali tirava o sustento para ela e seu filho, era o ano inteirinho que Deus dava, lidando na roça, tecia algumas redes para os que precisavam, trançava rédeas de crina, fazia baixeiros e cobertores de lã também. Cuidava do cavalo e das demais criações que o seu marido lhe deixara, a carrocinha, para irem na feira fazer compras, levar os produtos da sua roça e vende-los. Era uma mulher muito esperta, trabalhadeira mas era doida, muito agitada, nervosa e de pouca paciência, por qualquer coisinha de nada já xingava tudo, era desequilibrada mesmo. Quando tomada daquela ira tola até o filho ela maltratava com tudo o que era nomes indecentes, imorais e pesados e até praguejava o pobre menino. Por isso que ele era daquele jeito, o xingo é uma ordem que o xingador dá aos espíritos imundos das trevas de atacarem o xingado. É o extremo do ódio, da falta de amor ao seu próximo. Muitas pessoas não sabem disto. A criança perde a presença do seu anjo da guarda. Ele vai embora, ele volta para o céu e a criança fica desprotegida, a mercê dos demônios. Mãe tem muita autoridade sobre seus filhos. Verão mais adiante o que a sua madrinha fez por ele. Ela a sua mãe, até já tinha oferecido o filho para quem o quisesse levá-lo. Mas ninguém o queria ainda mais depois de saber quem ele era. A vizinhança ficava escandalizada ao ver a mãe tratar um filho daquela maneira. Imaginem uma criança que não tem o carinho de sua mãe, parecia que a mulher nem fé em Deus possuía. O menino era para ela era um estorvo, aqueles nomes pesados e aquele xingatório que o pequeno recebia lhe atrasava a vida. Um dia estava tão atacada que ofereceu-o ao demônio, caso este o quisesse levá-lo. Os dias se passaram, algum tempo depois apareceu em sua casa um homem fumando um cachimbo e montado em uma mula preta, chegando, apeou e pediu água para ele e para a mula, fazia muito calor e ele vinha de longa viagem. A mulher o serviu e começou a conversar com o estranho, até que saíram no assunto do menino rebelde, o seu filho. O homem dissera haver sabido por terceiros que ela doava o garoto para quem o quisesse levá-lo e até ao capeta caso ele aparecesse e tivesse disposto a aguentar as peraltices do moleque, pois já não aguentava mais apesar de ser o seu filho. O estranho depois de tudo ouvir, respondeu-lhe: Se até agora ninguém o quis, eu o levo pois lá em casa temos um montes destes e até com qualidades piores, nós damos jeito nele sim, pode crer. Nunca deixamos escapar nenhum destes sapecas, a gente campeia eles para todos os lados e não perdemos nenhum. A palavra da senhora ainda está em pé? Sim, disse a mulher, pode levá-lo agora. Não quero vê-lo nem mais um minuto em minha frente. O moleque estava de um lado ouvindo a conversa entre sua mãe e o estranho, ficou triste em saber que iria embora de sua casa apesar de ser maltratado por sua mãe, duas lágrimas correu dos seus olhinhos por não saber que destino seria o seu dali em diante, mesmo ante as lágrimas do filho aquele coração duro daquela mãe desalmada nem sequer esboçou um gesto de despedida daquele que ela carregara nove meses no ventre e que deveria tê-lo amado muito. Coração, de pedra, rude, árido, seco, sem vida e sem amor, sem ao menos imaginar que aquela criança necessitaria de seu amor nem que fosse por mais um dia. Arrumou rápido as suas roupinhas numa sacola e despachou-o com aquele homem que ela nem sabia quem era. Engarupando na mula sumiram no estradão poeirento naquele calor sufocante, que parecia o verão não ter mais fim. Depois de alguns minutos de viagem chegaram na casa do homem, os seus familiares eram todos esquisitos, deformados, deficientes de todo jeito, magros, sujos, feios, fedorentos andavam todos nus, tinham aspecto de animais felinos e canídeos meio a meio, outros já de chifrinhos e rabos, não tinham o que comer lá, um calor insuportável não corria nem uma brisa sequer para desabafar o imenso calor. Uma casa velha caindo as paredes, sujeira ao redor um lugar terrível só de se olhar. O menino quis correr para voltar, mas foi impedido pelo homem, na hora de comerem alguma coisa foi-lhe apresentado uma orelha de defunto deste tamanho, podre, peluda de repunar só de ver aquilo, não tinha mais nada para se comer além de pedaços de defuntos na mesa. Recusou na hora!  O homem o ameaçou, se não come-la morrerá de fome ou te cozinharemos naquele tacho de água fervente que estava no quintal numa trempe de ferro e os demais daqui te jantarão ainda hoje. Trate de comer a orelha e deixe de teimosia, o menino chorou, suplicou, implorou, ajoelhou e pediu muito que o levasse embora, o homem pegou um relho deu-lhe umas lapadas nas costas, ele pegou a tal orelha, cheirou, tocou a língua e cuspiu, jamais comeria uma coisa fedorenta daquela, passou a noite com fome, o calor daquele lugar parecia multiplicar cada vez mais. O homem foi viajar e deu a seguinte ordem: Tens três dias para comer esta orelha. Sim senhor dissera o garoto. O menino enterrou a orelha lá no monturo de lixo.  Antes de viajar, assim que amanheceu o dia ele perguntou: Já comeste a orelha João? Já sim senhor! Mas o menino não sabia que a tal orelha falava igual gente. O homem pergunta: Orelha, onde estás? Esta responde: Estou aqui no monturo enterrada no lixo. O homem esbravejou. vá comê-la logo seu estrume, senão te afogo naquele tacho de água quente. O garoto caiu em prantos novamente, no outro dia teve uma ideia, colocou-a num de seus bolsos. De novo lá vem o homem e pergunta: E agora comeste? Sim senhor, comi! Orelha onde estás? Aqui no bolso de João. Outra bronca do homem. Deu-lhe mais um couro que o deixou-o com marcas do chicote. Joãozinho lembrou de sua casa e de sua madrinha que o queria tanto, sentiu um alívio. Enquanto o menino sofria lá a sua mãe estava toda feliz, não sentia a menor falta do filho, num dia destes a madrinha de Joãozinho foi ver a comadre e ele, não o encontrando ficou aflita pois gostava muito do afilhado. Não vendo o menino perguntou: Comadre, cadê o Joãozinho? O que a senhora fez dele? Esta lhe contou toda a história. A comadre virou uma fera ao saber do destino de seu afilhado, onde já se viu uma coisa destas mulher? Você é maluca? Oferecer seu filho para o capeta? Não foi o capeta comadre, foi um homem que montava uma mula preta, só que nunca vi ele por aqui, replicou a mãe do menino. Como é que deste  o filho á um estranho, e se este homem for o capeta? Vou embora daqui e nunca mais será minha comadre. Não pisarei meus pés aqui na tua casa. Dê um jeito e procure o menino, quero meu afilhado aqui vivo e são! Não levei ele para mim porque a obrigação de cuidar dele é sua, você é mãe ou é mandioca? Vou pedir á Nossa Senhora que me dê ele de volta, esteja onde estiver, saibas tu que a madrinha é a segunda mãe de uma criança. A comadre caiu em prantos enquanto a madrinha saiu pisando duro, mas com o coração em oração á Nossa Senhora pelo afilhado. Custe o que custar, quero meu afilhado comigo. Serei sua mãe enquanto Deus me der vida e saúde. A comadre ficou triste pela burrice que cometera além de ser um pecado grave. Chorou muito mas não havia meio de resgatar o menino. Quem é que sabia onde a criança foi parar, e se já estivesse morta? Logo mais o homem da mula preta apareceu na casa de Joãozinho e deu notícias do menino dizendo que ele estava muito bem e tinha enviado lembranças á ela. Pura mentira dele, o menino estava magrinho e chorando sem parar. Nada lhe consolava! O homem perguntou á ela: Quem é aquela mulher que esteve aqui falando contigo hoje de manhã? Ao que ela respondeu: É a minha comadre, a madrinha do menino que o senhor levou! Diabos retrucou o homem, e furioso acrescentou: Ela está me dando um trabalho danado, quer me tomar o garoto de qualquer jeito, ela pensa que eu não sei o que ele está fazendo contra mim. Aquela mulher vestida de branco, que mora lá nas maiores alturas deste infinito está me intimando a devolver o moleque. Saiu numa desabalada carreira na mula que era só poeira que levantou, parecia uma fera acuada, resmungando e se maldizendo em tudo. Foi até a casa da madrinha do moleque e antes de apear, viu a mulher de joelhos rezando, vendo aquilo virou em cima do rastro mais furioso ainda. Enquanto isso o Joãozinho, pensava como escaparia daquela situação para não comer aquela coisa horrível, saiu pelo terreiro e achou um pedaço de barbante e amarrou a orelha pelo meio e atou-a contra a sua barriga bem em cima do umbigo amarrando o barbante nas cadeiras, jogou a camisa por cima e dentro das calças de modo que ninguém via. Lá vinha o homem furioso, já perguntou-lhe: Tu comeste a orelha seu safado, canalha, vadio e se não comeste vou estrangular você e metê-lo no tacho de água fervente agora mesmo. Mas se a comeste és meu para sempre, serás meu amigão. Apavorado o menino disse: Já comi a orelha senhor! Pode crer! Para ver se era verdade o monstro perguntou: Orelha, onde você está! Esta responde: Estou aqui na barriga de João! Agora sim diz o homem, assim é se faz, tem que obedecer seu superior. Joãozinho ficou aliviado com a resposta do homem, parecia que algo diferente ia acontecer em sua vida, sentia uma alegria que nem ele sabia de onde vinha. De repente o homem olhou para a cara do menino e disse-lhe: Estou com nojo de sua cara, cate suas roupas e me acompanhe, porque aquela sua madrinha não deixa de me perturbar, quer você lá com ela de qualquer maneira, ainda hoje sem falta! Você mudou muito depois que sua madrinha deu por sua falta. É uma pena que lhe bati pouco, era para tu ser sovado por mim de laço até falar inglês, sua madrinha e aquela mulher vestida de branco atrapalhou todos os meus planos, nunca pude e nem posso com ela, por ser muito  forte e poderosa, a sua madrinha é devota dela. Chegando lá avise sua mãe que a qualquer momento irei buscá-la para que fique no seu lugar, você era meu, e não sendo mais, ela vai ter que ficar no seu lugar, porque a gente aqui não pode perder tempo. Ela praguejou você, ela também é minha. Aqui é o lugar das pessoas que vivem xingando e praguejando os outros. Lugar dos bocudos e das pessoas más. Fique sabendo que aqui é o inferno, viu? Sou o manda chuva, o chefão, o mandão daqui.  Se você consertar a vida escaparás de mim, e se continuar como era, vou te buscar de novo e nunca mais sairá daqui, te enforco primeiro e depois te trago. Quero ver escapar das minhas garras. Dizendo isto trouxe a mula e deu ordem á esta que derrubasse o menino lá no terreiro de sua madrinha. A mula fez direitinho, derrubando-o, ainda deu-lhe um coice na cabeça mas não acertou. Joãozinho chegando correu para os braços de sua madrinha e esta o abençoou de coração, deu-lhe banho com água benta, jogando suas roupas sujas e imundas fora, deu outras novas, deu-lhe de comer, estava magrinho de dar dó, arrumou sua caminha. Ela ficou muito feliz, acabou de criar seu afilhado com o maior mimo, ensinou-lhe a rezar e ser obediente á madrinha. levava-o á missa fazendo dele um bom menino e um bom cristão.

"CAUSO" E CONTO ANTIGO QUE TRANSCREVEMOS PARA O NOSSO BLOGGER.

"COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"-- 20 DE MAIO DE 2016

UM HOMEM ESTRANHO NO MUTIRÃO.

                                           

                                             
Em tempos antigos os homens que lidavam na roça, os camponeses de um modo geral e de serviços diversos também eram muitos unidos no jeito de lidarem com as tarefas. O mutirão para quem não sabe, é uma modalidade de ajuda mutua, isto é, muitos para ajudar um. Assim, um roceiro ou camponês como queiram, estava em apuros com sua roça invadida pelo mato e que sozinho não daria conta da tarefa, corria o risco de sua lavoura ser aniquilada pelas ervas daninhas e prejudicar sua colheita, ou em outro serviço este ficar atrasado em relação ao tempo de ser preparado no tempo certo. Então um destes camponeses faria um roçado grande mas como o tempo urge, resolveu convidar seus amigos e vizinhos para dar-lhe uma demão, uma força na longa tarefa. Saiu de casa em casa deles num final de semana destes combinando o dia  que contaria com a boa vontade de todos, queria realizar o trabalho em dois dias, sexta-feira e sábado da outra semana. Chegando em casa todo feliz com a recepção que a vizinhança e amigos lhe deram tratou de providenciar o necessário para o evento, claro que seria um evento, pois no final daria uma brincadeira dançante para todos os seus familiares e convidados  independente de terem ou não ajudado no serviço. A tarefa estaria terminada e agora vamos nos divertir, bezerro gordo abatido, ou um capado cevado, peru, frango doces e outras iguarias. A festinha se estenderia até a madrugada de domingo. Cantoria, namoro para as moças e rapazes no bailinho familiar, namorarem a beça. Jogos de truco ou outro para os mais velhos se divertirem caso estes não quisessem dançar. Era comum naquela época muito respeito á todos pois tudo eram família, compadres, comadres, padrinhos e afilhados, as vezes rezavam até um terço antes da função iniciar. Bons tempos aqueles, que não voltam mais, nada de contendas ou brigas apesar do mutireiro distribuir bebidas diversas ao povo, ao que  fazia parte daquela coisa tão comum entre os povos daquela comunidade. Ninguém "enchia a cara" para ficar dando trabalho aos outros. Então este amigo nosso organizou tudo com o maior carinho e apreço com seus familiares. Viria de longe o sanfoneiro, pandeirista, solista de violão e cavaquinho moços e moças de outras bandas. A expectativa era muito animadora, carramanchão pronto, recrutavam bancos de quase toda a vizinhança, que chegariam no horário combinado. Os donos da casa na sexta-feira levantaram de madrugada, prepararam o almoço numa baita mesa deste tamanho embaixo do carramanchão, potes de água, garrafas e litros de bebidas para os participantes do mutirão comerem e beberem logo cedinho e irem para o trabalho de papo-cheio, as bebidas eram para os homens rebaterem o orvalho que iriam enfrentarem, o almoço seria lá pelas doze horas ou mais. O almoço iria no eito para não terem que ficarem indo e vindo, depois a janta lá pelas dezenove horas quando todos voltasse de suas casa já tomado banhos da labuta daquele dia. No sábado cedinho tudo se repetiria, trabalhariam até as três horas da tarde e fim de serviço. Caso terminassem antes era melhor ainda. Cada um para sua casa e logo mais á noitinha retornarem para  jantar e sambarem até mais tarde. Tudo programado e em harmonia. Mas naquela manhã conforme combinado e esperado, não se sabe porque o povo não compareceu, nenhum dos convidados para a tarefa, nenhum sequer. E agora? O dono da casa e seus familiares ficaram apurados, o que será que aconteceu? Porque não vieram? Os vizinhos são pontuais! Pessoas de elevada estima e consideração de uns para com os outros? Como fizeram isso? E agora o que faremos com esta enorme quantidade de comidas prontas, dava pena ter que jogar fora, se não houvesse ninguém para ajudar a comê-las. Distribuiria aos vizinhos mais próximos, era o que restava fazer.  Perguntas sem respostas, ninguém sabia dizer por que isso aconteceu! Enquanto espremiam os miolos para descobrir o porquê daquele desarranjo naquilo que dariam tão certo, apareceu lá um sujeito desconhecido com uma foice nas costas! Desconhecido mesmo, ninguém dali o tinha visto em lugar nenhum. Falou bom dia para o nosso mutireiro muito alegre e descontraído, dizendo que tinha vindo dar uma "Mãozinha" no seu mutirão. O dono da casa agradeceu a sua cooperação, dizendo: Os amigos falharam todos, estamos só nos dois sozinhos, muito cortês lhe convidou para comerem e seguir para o roçado, mas o recém-chegado dispensou a oferta dizendo mais tarde a gente vem comer, vamos ver primeiro o seu serviço. Saíram os dois conversando caminho a fora levando somente uma cabaça de água. Então vamos começar amigo disse-lhe o patrão. Sapecaram a foice no mato só se via arbustos caindo para todos os lados e os dois conversando alegres um ao lado do outro correndo o eito. Nossa, nunca ninguém tinha visto um homem daqueles. O nosso mutireiro era bom de foice que dava gosto, naqueles cipós tripa de galinha ele dava um golpe em baixo, outro em cima e mais um no meio caindo dois pedaços no chão. Coisas de peões para provocar o outro, sem que precisasse dizer que é bom foiceiro. kkkkkkkkkkkkkkk. Vendo isso o visitante admirou: O senhor é bom de foice mesmo kkkkkkkkkkkkkk. Gostei do amigo! Sabem o que o visitante fez? Deu também dois golpes noutro cipó maior ainda. Antes deste cair no chão deu-lhe mais dois golpes certeiros no cipó fazendo-o cair em três pedaços antes de bater no chão. O patrão ficou abismado de ver um negocio daquele! Puxa vida! O senhor é mais ligeiro do que um raio, comentou! kkkkkkkkkkkkkkkk.  Ainda não perdi o jeito amigo, replicou o estranho! Estavam tão entretidos que o nosso patrão nem viu o tempo passar. Olhou no relógio já passava do meio dia. Assustou até! Vamos que já está passando do horário do almoço. Vá indo disse o companheiro, enquanto o senhor ajeita a mesa lá em casa, eu fico mais um bocadinho. A hora que estiver pronta o senhor me dá um grito. Ou venha até aqui para irmos juntos. Lá se foi o mutireiro. Chegando em casa já a mesa estava posta, a esposa disse-lhe: Cadê o companheiro? Já está fria a comida de tanto esperar vocês. Este voltou em cima do rastro para trazer o amigo desconhecido. Chegando não acertou com o lugar onde havia deixado sua foice fincada, ficou perdido sem saber onde havia deixado a ferramenta. Apurou os ouvidos para escutar onde estava o companheiro pelo barulhos das foiçadas, mal ouviu, mas longe dali, deu um grito: O homem ouviu e respondeu, seguiu naquela direção encontrando-o. Foram procurar sua foice, nossa como estava longe dali, acharam-na, ficou admirado do tanto que seu companheiro havia roçado sozinho. Já basta amigo! Vamos embora almoçar e não precisaremos voltar mais aqui hoje. A tarefa para mais de vinte homens, foi feita por nós dois.  Acho que enquanto eu fui em casa o senhor ultrapassou a medida deste roçado. kkkkkkkkkkkkkkkkk. Nem precisava mais. É que eu acertei o "Eito" roçando mais uma beiradinha para não ficar desparelho disse o bom foiceiro, o visitante inesperado! Nossa como o senhor é bom! Nunca ví igual! Que nada responde o amigo! Gente boa tem para todos os lados! Chegaram os dois, lavaram as mãos e sentaram á mesa. Coma a vontade amigo! Arroz e feijão cozidos ninguém planta e não nascem mais kkkkkkkkkkk. O estranho não usou de cerimônia, foi comendo tudo o que tinha pela frente, para começar ele não quis o prato,  pegando uma baciazinha que continha farofa de miúdos do bezerro, cabrito, leitão, perus e frangos e foi adicionando feijão arroz e o que tinha na mesa. O dono da casa espantou vendo ele fazer aquilo, mas fingiu nada ver. Ficou abismado! Pensou consigo: Hoje é sexta-feira e dia de surpresas! Já ví duas com essa, pensou! Bom será se não houver outra! Pediu licença e levantou da mesa dizendo: Sinta-se a vontade amigo, quase não comi porque ainda estava cheio. Mas não foi isso, estava assombrado vendo o homem comer aquilo tudo. O homem sozinho comeu por toda a turma que viria! Foi na cozinha disfarçando seu temor, comentou baixinho com a esposa: Isso é coisa do outro mundo! Porque não é possível um negocio destes! Esperou ele terminar de almoçar, recolheu as vasilhas, todas sem um caroço de nada! Limpou tudo! Nossa! Meu Deus o que é isso? Pensaram a esposa e o marido. Foi na dispensa e trouxe um prato de doce e algumas rapaduras dizendo: Isto é para o senhor endoçar a boca amigo. Espero que goste! O homem agradeceu e comeu tudo, pediu mais doce! A esposa dele foi na dispensa e trouxe mais uma 20 rapaduras e os doces que lá havia, provando que eles não eram mesquinhos, ali tinha fartura de tudo. Pois não é que o homem comeu tudo de novo? Virgem Maria, disse a dona da casa! Nunca vi uma coisa dessas! Nesta altura e ouvindo isso, o homem deu um salto da cadeira, que até balançou a mesa. Tirou o chapéu de palha da cabeça, mostrando os dois chifres, deu um estouro, e sumiu deixando uma catinga de enxofre na casa do homem e sua esposa que caíram no chão vendo aquela aparição do Demônio. Nunca mais fizeram Mutirão naquela região!

ISTO SÃO OS "CAUSOS" QUE OS CABOCLOS CONTAM UNS PARA OS OUTROS!

ESTE É O NOSSO BLOGGER: "COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"
ANASTACIO, MS 11/05/2016.