Num dia destes a dona
Maria mandou o seu filho, o Carlinhos ir até a beirada do corregozinho que
passava nos fundos de sua casa e do seu quintal apanhar umas folhas de hortelã
na pequena horta que ela cultivava, lá tinha de tudo um pouco das hortaliças
caseiras que conhecemos. Em especial algumas que serviam de remédios para
qualquer eventualidade, losna, alecrim, poejo, boldo, alcânfora, buchinha,
cidreira, nosmoscada etc. Estava com dor de cabeça, achava que era a
labirintite que sentia. Lá se foi o menino, chegando pegou as folhas que a mãe
mandou, em vez de ir logo para casa, ficou olhando os lambaris nadarem no poço
do corregozinho. Do outro lado bem na beirada uns trinta metros dali tinha uma
casinha de tábuas e coberta de folhas de zinco e ao lado desta um engenho onde
o pessoal da fazendinha moíam canas aos domingos para tomarem garapa, fazerem
melado doces ou até mesmo rapaduras
quando tinham o tempo que a roça lhes dava. Ali era conhecido por engenho do
Brito, pois o Brito era um baita negrão muito divertido, era um solteirão que
morou muito tempo ali naquela casinha. Depois se arribou para outras paragens e
nunca mais ninguém teve notícias suas, isto já fazia muitos anos. Encostadinho
dali estava o canavial, mais ou menos uma quarta da plantação, todos os anos o
povo renovavam o plantio do quartel de cana. Isto era muito antigo, desde os
antigos moradores que muitos até já tinham morrido de velhos. No galpãozinho de
zinco era onde guardavam as formas da rapaduras, os tachos, as pás, conchas,
baldes, bacias, facões e as tralhas dos animais que puxavam a almanjarra do
engenho, no caso um burro ou cavalo amestrado para isso. A casinha era dividida
em duas partes, uma delas era fechada mas com uma porta e duas janelas e a
outra parte aberta. Nesta ultima estavam a fornalha, as trempes, as mesas, onde
era enformadas as rapaduras, ao lado um fogãozinho pequeno a lenha para fazerem
cafés e o lugar onde se colocavam a lenha para não molharem em caso de chuvas.
No final do terreiro bem limpinho já começava o canavial. Um pé de jaca grande
e frondoso, uma "Latada" na frente da casinha coberto por um pé de
maracujá que serviam de varanda para descansarem entre uma tirada de tachos e
outra, do lado de cá do corregozinho era o piquete dos animais para facilitar
pegarem-nos nas madrugadas de moagem, o córrego era estreito e rasinho, mesmo
assim tinha uma pinguela para quem não quisesse molhar os pés na travessia. Era
só tanger os animais e estes passavam n'água e a gente na pinguela. O Carlinhos
com as folhas do hortelã em mãos resolveu ir até á casinha dar uma espiada nas
coisas lá no galpão, curiosidades, coisas de crianças, ele tinha uns sete anos
de idade. Olhou tudo ao redor, moveu a almanjarra como se fosse o burro quando
puxa-a, o engenho rangiu as moendas, ele pensou consigo: Quando eu crescer vou
fabricar rapaduras e doces aqui. Será muito divertido, pois ele já ajudava o
pai nesta lida e até gostava quando iam para este serviço, já entendia alguma
coisa. Levantava com o pai nas madrugadas, ia no piquete trazer o burro, além
de tocar o animal para rodar o engenho, se divertia montando no mesmo e de cima
esporeava o animal para andar mais rápido. Assim pensando resolveu ir embora
levar o hortelã para a sua mãe que decerto já estava apurada com a demora dele.
Quando deu as costas para o engenho, ouviu um: FIIIIIIIUUUUU. Olhou para trás e
não viu ninguém, fixou o olhar na estradinha que dividia o canavial dando saída
para o lado das roças pensando que alguém surgira dali e o chamava. Pensou
consigo: Vou ver quem é. Deu uns passos naquela direção, saiu bem sutil como
quem fosse surpreender o amigo, mas
FIIIUUU. Foi novamente surpreendido pelo assovio, mas desta vez foi á
suas costas e do outro lado. Ficou sem saber de onde vinha aquela coisa ou
brincadeira de alguém. Não esperou mais nada, saiu correndo para casa, passou
na água de qualquer jeito, e nem sequer lembrou de pinguela coisa nenhuma,
tomado de um medo sem saber o que era que o assustava, dava uns cem metros até
chegar em casa, nem viu quando passou aquele trecho. Chegou em casa
resfolegando, pálido como uma flor de algodão, quase sem fôlego e com os bofes
saindo pela boca. O que foi menino? Perguntou a sua mãe! O que é que tu tens?
Nada mãe, nada mesmo. Como é que tu chega aqui quase morto de tanto correr,
quase nem pode falar e ainda diz que não é nada? Diga logo o que viste? Pera
aí, tome um copo de água, senta aí na cadeira e diz-me o que é que viste! Mãe,
lá no engenho tem uma assombração, assoviou para mim duas vezes e não vi
ninguém, nem barulho! Que assombração que nada menino, ali nunca teve isso!
Você é medroso isso sim! Não mãe, é verdade! Decerto ela queria me pegar, por
isso corri! Não volto lá mais por nada deste mundo! Quando o pai chegou do
trabalho logo mais á noitinha vendo o filho assustado, este foi de novo
sabatinado. Bateu firme o pé que era assombração. O pai olhou o menino, passou
a mão nas barbas, e disse: Maria, é verdade isso. Só não sei se é assombração,
mas ali tem esta coisa esquisita mesmo. Já ouvi isso algumas vezes. E por que
não falou? Para não deixar vocês com medo. Passo o dia na roça e vocês sozinhos
aqui, só calculo o medo que iriam passar. E agora homem? Como é que vai ficar
as coisas? Perguntou a mulher. Sei não, responde o marido. Enquanto eles ficam
entre o ora e veja, vamos confirmar o que o pai lhe dissera. Passou alguns anos
deste fato, os povos dali se mudaram, outros morreram, a fazendinha foi vendida
e acabou aquele recanto da serra que fora tão divertido. Nós também mudamos
dali. Um dia destes o novo proprietário e um empreiteiro vieram á nossa procura
para colhermos sementes de capim jaraguá que era abundante ali. Fomos
contratados para a tarefa e fomos justamente acampar na casinha do engenho, só
que este e nem o canavial existiam mais, estava tudo limpo o lugar, via-se ao
longe a invernada e os bois pastando longe, o córrego era o mesmo, a casa onde
morou o Carlinhos ainda estava em pé. Só tinha um caseiro cuidando da tropa do
novo dono. Então nos primeiros dias de serviços, estava tudo normal, íamos ao corregozinho
tomar banho á tarde após chegarmos do trabalho.á noite os companheiros em
número de quatro estranhos a mais, jogavam cartas, até mais tarde. Como eu não
gostava disto ficava lendo livrinhos de faroeste á luz da lamparina. Numa tarde
dessas deu uma chuva lá pelas quatro horas, foi até lá pelas seis horas,
estiando, o tempo limpou e após o jantar ficamos batendo papo. Cada um na sua
rede, a lamparina acesa tomamos café e depois nos acomodamos para o descanso,
pois amanhã seria novo dia de atividades, faríamos outro serviço até que a
terra e as sementes secassem para darmos continuidade na colheita das mesmas.
Alguns dormiram logo, outros ainda acordados como foi o nosso caso. Lá pelas
dez ou mais da noite, pleno silêncio daquela noite tão fresquinha, não se ouvia
nem um trilado das aves noturnas, parecia estar de capricho conosco a natureza.
De repente caiu não sabemos de onde como se fosse uma enorme pedra em cima do
telhado de zinco da casinha que chegou a ranger os caibros e as ripas no
impacto dela. PRÀAAAAAAAAA. Rolou pelo telhado até cair no chão, onde deu um
baque surdo no chão, quem estava dormindo acordou assustado, quem estava
acordado tomou um susto daqueles, pensei que fosse aquele meteoro da Tunguska
que caiu na Sibéria em 1908. Ninguém se atreveu a levantar e ver o que era
aquilo. Lá fora uma escuridão tremenda, nós tínhamos lanternas a pilha: Você
foi lá ver o que era aquilo? Não foi não
é? Nem eu! kkkkkkkkkkkkk.Logo cedinho todos levantaram e fomos ver aquele
incidente, não se viu nada! Nem amassado no zinco, nem pedra e nem sinal no
chão apesar do barulho que fez, parecia que entraria chão adentro no mínimo
meio metro no solo. Espanto geral! O Engenho do Brito era assombrado mesmo!
Antes do entardecer mudamos de acampamento. kkkkkkkkkkkkkkk!
ESTE CONTO É VERÍDICO PARA
"COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"
NOSSO BLOGGER SEMPRE NA DEFESA DE NOSSA
CULTURA SERTANISTA.
ANASTACIO 18 DE MAIO DE
2016.
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