domingo, 22 de janeiro de 2012

Pagode do matuto


Tou lutando pela vida, pra alcançar o que preciso,
Eu num perco a paciência, pra nunca perde o juízo,
O perigo da cascavel, é depois que sacode o guizo,
Se aí tem guri pagão, de cá ele que eu batizo,
A tribulação do mundo, é o preço pago no juízo.

No chiqueiro do vizinho, só porca sem parafuso,
O pião de cara cheia, só vai comete abuso,
Aí num posso te defende, também nunca te acuso,
Onde tive deputado, dinheiro tá jogando buzo,
Por que o respeito e a vergonha, já estão fora de uso.

Ser matuto é coisa boa, mas sô muito melindroso,
Muleque novo de colo em colo, fica safado e manhoso,
O carinho das muié feia, é demorado mais gostoso,
Um amor de braço em braço, é um tareco perigoso,
Só abelha de flor em flor, é que faz um mel cheiroso.

Tenho quatro namorada, que me disputam com certeza,
Sou um príncipe encantado, elas são minhas princesa,
Nosso pão de cada dia, num deixo faltá na mesa,
Só porque matou a sede, é que a água ficou presa,
Pra fazê um pagode assim, só o matuto tem destreza.

Luizão, o Chaves! 

Namoro antigo



Um namoro do tempo antigo era uma enjoera,
Eram moças bem cuidada, só meninas de primeira,
E além de ser honradas, eram muito trabalhadera,
Sabiam cuidar da casa, eram sinceras e verdadeiras,
Nenhuma andava a toa, e nem vivia na zuera,
Toda elas que casava, era pra vida inteira,
Dava gosto o casamento, compensava a rabugera,
Só pegava na mãozinha, além de uma companheira,
O namoro tinha regras, era os véio que ditava,
Sábado até nove horas, desta hora num passava,
Nos domingo e dia santo, então nóis aproveitava,
Meio de semana nem pensar, por que todos trabalhava,
O namoro com seis meses, casamento compromissado,
Os pais dela preparando, na espera do noivado,
O rapaz trouxe a aliança, o casamento tá marcado,
E as regras para os noivos, em nada tinha mudado,
Nossa filha vai casar, orgulhosos os pais diziam,
Num armoço caprichado, os pais e o noivo se reunia,
De agora em diante, nóis semo só uma familha,
Vamos preparar pra festa enquanto num chega o dia,
Cabrito, carneiro e leitão, frango, peru e novia,
O sanfoneiro c’oa pé-de-bode, foguete no ar subia,
Convidado de todo canto, no festejo comparecia,
Muitos doces nessas festa, vamos assar outra novia,
Um casamento duradouro,num havia separação,
Amor puro e verdadeiro, ninguém falava em traição,
A rainha do novo lar, era a virgem da Conceição,
A casa enchia de filhos e de amor o seus coração,
Tá diferente hoje em dia, que só vemos enganação,
Pai e mãe tão separados, filhos na solidão,
São criados sem amor, acho isso perversão,
O que aprende essas crianças, se seus pais num dá lição?!

Luizão, o Chaves!

Eu e o Tião



Topei um cara bacana, era chamado por Bastião,
Nóis inventamo de bebe todas, de grana nóis tava bão,
Ele vomitou na mesa, da cadeira eu fui pro chão,
A garçonete ao limpar a mesa, nas suas coisas enchi a mão,
Desta vez eu me enganei , era a muié do patrão.

Ele saltou como um felino, saiu por cima do balcão,
Falou um monte de asneira, com uma pistola na mão,
O bar lotado de gente, nóis tomemo esse carão,
Saimo de orelha quente, no trazeiro só bicudão,
Ele chamou dona justa, passeamo me camburão.

Na segunda logo cedinho, o delegado fez a triage,
Achou que nóis é gente fina, que não vive na malandrage,
Vocês dois levaram sorte, aquele é o rei da pistolage,
Atira só pra ver o tombo, além de atrevido tem corage,
Vocês trate de dar o fora, toma aqui suas passage.

É a pior das lembrança, que carrego na bagage,
É o que dá encher o caco, pra depois faze moage,
Ser metido a garanhão, embarca mal na carruage,
Meter a mão na coisa alheia, maior de todas bobage,
Se tivesse tido respeito, num tinha dormido na lage.

Luizão, o Chaves!

TRÊS CAÇADORES


Junho de quarenta e seis, um convite recebemo,
Um frio de rachar o cano, assim mesmo nós topemo,
Era pra caçar uma onça, nas mata de Juruena,
Uma famosa pintada, nóis em três nem vacilemo,
Comigo o Zé Roberto e um preto veio Seu Juremo,
Cipó gibom e arranha-gato com corage enfrentemo,
Cinco cão duas cadela, na batida istumemo,
No pescoço das cachorra, dois cincerro nóis puzemo,
No alto do pé da serra, lá pra baixo espiemo,
Só vendo pra acreditá, o lugar que nóis passemo,
Tinha cebo nas polaina, por isso que nóis cheguemo,
Era um gato macharrão, no mijado conhecemo,
A onça deu acuada, o rebuliço escutemo,
Dava cada bruto esturro, que até estremecemo,
Só vendo a cara do bicho, quando ele encherguemo,
Previnimo a 36 a carabina do Juremo,
Zé Roberto com o 32, com o bichão nóis num brinquemo,
Sentado no pé do angico, a estratégia nóis tracemo,
Um em cada posição, espalhado nóis fiquemo,
Caso o gato reagisse, a defesa nóis já temo,
Um paletó e chapéu velho, de um saco nóis tiremo,
Duas vara de marmelo, um caçador nóis inventemo,
Na frente do acuado, o espantalho nóis pusemo,
Distante uns nove metro, foi isto que calculemo,
Fosse o pulo do felino,era isso mais ou menos,
Caso a gente perdesse o tiro , o perigo num corremo,
E depois de tudo pronto, este plano executemo,
De nóis três dois atirava, a ordem do seu Juremo,
Um de nóis em cada olho, com o Juda nóis mexemo,
O veio conta um e já, o dedo nóis arrastemo,
O gatão salta pra riba, cai de lombo no terreno,
Com a cabeça estourada, do jeito que planejemo,
A onça rolava no chão, somente se debatendo,
Esse bicho é perigoso, mas destreza é o que nóis temo,
Com essa deu 36, fora as que num contemo,
Suspiramo aliviado, a empreitada terminemo,
Não é pra pater o papo, viu o tanto que caçemo,
Esta deu vinte e seis parmo, a maior que abatemo,
Do rabo até no focinho, esta a medida que achemo,
No chimarrão ao pé do fogo, este causo relembremo!

Luizão, o Chaves! 



Mundo desolado



Quando a luz raiou no mundo, das trevas surgiu o pecado,
Foi uma semente ruim que jogaro esparramado,
Nascendo toda espécie de coisa má pra todo lado,
Jesus veio e pelejo muito mas deu pouco resultado.

O matrimônio já acabou, já estão casando todo embolado,
Manchando a lei divina, ninguém mais é respeitado,
Filhos nascem pra sofrer, outros vivem rejeitado,
Teve pai que jogou a filha da janela do sobrado.

Pai ou mãe vai pra cadeia, se pegar o filho de relha,
Muitos filhos tão mandando, pai deixou de ser espelho,
A moral foi água abaixo, a família é um desmantelo,
A justiça tá perdida , o mundo entrou no vermelho.

Inda tem pai que pula quente, pra dá conta do recado,
Pôe o filho prá estudá, quer ver o filho formado,
Quando sai da faculdade, sai malandro diplomado
São jovens sem futuro, na vida são fracassado.

Ser humano e animais, foi criado diferente
O bicho não fala nada, dom da fala é só da gente
Animais tão amansando, povo virando serpente
A polícia ambiental, por um peixe matou gente.

O mestre lá nas alturas, vendo o mundo desolado
Neste mar de crueldade, onde o povo tá mergulhado
Até quem prega escritura, comete grave pecado
Quem desprezar Nossa Senhora, não crê no seu Filho amado.

Luizão, O Chaves!