domingo, 22 de outubro de 2017

ESTA É A HISTÓRIA DE UM SABUCO - 1ª Parte .

                           



 1ª - Seu nome era Francisco, mas atendia por Chicão ou Sabuco, todo Francisco é chamado de Chico mas como era avolumado de corpo, então, Chicão. Sabuco, e não Sabugo era o apelido dado pelos colegas de acampamento e trecho, é muito difícil um peão não ter apelidos. Sabem desses personagens que vivem ao léu, não tem parentes e nem aderentes, sem morada certa, parecem jacutínga que onde deu noite ali pousa, e em qualquer galho ou zamboeira no cume do jatobá e angico na mata. Chicão era um desses, trabalhava como peão de empreiteiros que tinha muitos em épocas passadas, nos desbravamentos dos sertões para fundação de lugarejos, assentamentos ou formações de fazendas para plantios de cafezais e outras plantações da época. O que tinha de peões gira mundos naqueles tempos parecia brincadeiras. Muito trabalho para todos os tipos de atividades, tempos de ouro, ninguém ficava á toa, tinha vilarejos encravados nos sertões que durante a semana só ficava os vendeiros com suas famílias, assim mesmo cuidavam das roça nos fundos da propriedade. O comércio era parado a semana inteira, as ruelas eram desertas, nem cães latiam á noite, mas nos fins de semana, era tanta gente que só vendo para crerem, era mesmo um despejo do povo nas corrotelas, ou arraiais como queiram, vinham todos de uma só vez e de todo canto. Pareciam formigas saúvas quando descobrem uma roseira, vem todo o formigueiro para limpar a derradeira folha que tiver. Bares, farmácias, bazares, quitandas, lojinhas e outros comércios só viam movimentos nos dias de sábado do meio dia para a tarde  e no domingo, se tivesse na semana algum dia santo de guarda aí a coisa movimentava mesmo, chegava a ser um reboliço de tanta gente chegando, andando, passeando e comprando de tudo que precisavam. A grana era farta no bolso da turma. Ninguém queixava de falta de serviços e nem de dinheiro. Até nos prostíbulos não tinha movimento nenhum durante a semana. Os homens solteiros trabalhavam o tempo todo para terem dinheiro para gastarem lá com as pessoas de vida fácil. Eram localizadas, não haviam as piranhas como é nos dias de hoje, que você sai e depara com um monte delas em tudo o que é lugar atacando a gente. Tempos de vergonha, respeito e muito caráter entre todos sem distinção deles ou delas. As mulheres eram as coisas mais belas que existiam, casadas eram casadas, moças solteiras eram um tesouro encantado a serem descobertos, bem cuidadas pelos pais, respeitadas e respeitosas, difícil era ver uma mãe solteira, separações? Nem em sonhos! As crianças então, eram muito obedientes aos pais e a todos respeitavam, não tinham escolas, mas tinham muita educação. Nós vivenciamos uma parte deste tempo. Era um mundo maravilhoso mais ou menos assim: Quem era torto ficava arredado para lá! E quem era direito, era com muita honra e dignidade. Não havia esta misturada, bagunça ou entrevero, nada parecia com os dias atuais. Que se você não tem bom faro e conhecimentos, por mais honesto e sincero que for, se não tomar cuidado cai na primeira esparrela, armadilhas tem para todos os lados que você pender. Batedores de carteiras, assaltantes baratos, arrombadores de casas, disfarçados de pedintes durante o dia. Não havia isto, era todo mundo no trabalho, no batente, todos tinham dinheiro e nunca precisavam de andarem mendigando ou roubando o que não é seu. Não se via mendigos e nem índios vadios e bêbados pedindo comida ás bocas das noites nas casas, nem roubando o que achavam do lado de fora, nem muros as casas possuíam. A Policia só vivia dormindo de dia igual coelho na macega., não tinha trabalho, nem o que fazer como é hoje que só vivem como loucos atrás de tudo que é maloqueiros. Nem tem tempo de coçar o sovaco. Arriscam a vida por nada que vale a pena. Naqueles tempos salvo um ou outro crime que acontecia lá de vez em quando, porque os humanos nunca se esqueceram de matar o seu próximo até mesmo por bobagens que não valem a pena. Então, como iniciamos falando do Sabuco vamos aos fatos, e ver o que ele aprontou desta vez. Este camarada era o perfeito vida torta conforme dizem o povo, aquele fulano que vive do jeito que acha que está bom sem se importar com os outros, nem com as opiniões de terceiros. Faço o que quero e pronto, assim era seu lema. Mas no mundo não é bem assim, quem vive do jeito que quer, não viverá o tempo que quiser. É um ditado certo! Chicão chegava no prostíbulo e batia palmas dizendo aos homens que lá se encontravam: Caem fora cambada de frouxos, Chicão chegou! Vão caindo fora senão caem no cacete agora mesmo, era brigador, parecia um "Galo índio" na defesa do seu terreiro, e ainda por desaforo cantava mais alto no terreiro alheio, era bom no braço mesmo e o povo já sabia, as mulheres avisavam os seus homens: Se o Sabuco chegar vão embora logo, depois voltem. Chicão não é brincadeira, só anda armado! Os medrosos limpavam a área ligeirinho. O Sabuco fechava as portas para ninguém mais entrar! Ficava nu com a mulherada  e quando resolvia, batia numa por uma, dizia: Isso é para me respeitarem. Gritava a toda altura: Arre, Putada! Cambada de vadias, estão pensando o quê? Cadê seus homens? Aqui nesta espelunca quem manda sou eu. Caladas hem! Nem um pio! Era silêncio total. kkkkkkkkkkkkkk.  As vezes a policia era chamada, mas esta não vinha mesmo. Chicão era perigoso e atirava seguro, policia comigo é no estanho, se forem poucos eu enfrento, e se forem muitos? Tchau!. Debochava ele. De repente ele sumia e ficava até dois meses sem aparecer. Era um alívio para a turma e as mulheres. A chefe da casa era só dele, esta lhe obedecia por medo. Apanhava menos do que as outras. Mas apanhava também. kkkkkkkkkkkk.  Num dia destes e num fim de semana lá entrou um rapazola de uns dezesseis anos, sabe estes filhos criados sem pais igual filhote de perdiz? Era um deles que perambulava pelo mundo, um trabalhador braçal como os outros peões, boa gente até, estava aprendendo a viver no mundo, porque o mundo é um professor, nem documentos possuía, parecia caixa d'água só tinha um registro de nascimento que um peão idoso e companheiro seu tirou, por  ele ser bonzinho e muito educado com o velho, pois não sabia ler nem escrever. Segue........

ESTA É A HISTÓRIA DE UM SABUCO - 2ª Parte

                              


 2ª -  Agora com este documento em mãos, tornou-se meu filho, um dia poderá precisar de mim como a um pai, fiz esta caridade para você menino, dissera o ancião. Então o garotão estava lá dentro do prostíbulo despreocupado e com as mulheres lhe cortejando, sentia-se a vontade. Nisto entra o Sabuco de supetão, pois gostava de surpreender a turma, foi aquele reboliço,  ninguém esperava! O garotão nunca tinha visto aquilo, ficou atônito vendo aquela correria e gritos da mulherada, parecia que elas estavam vendo alguma assombração. E era a primeira vez que ele foi naquele lugar, mocinho novo, mancebo e sem experiência da vida, ainda não conhecia os percalços daquele ambiente infeliz, pecador e amaldiçoado. Nem sabia quem era o Chicão. Este lhe observou diretamente e o intimou: Cai fora daqui moleque, não vê que eu cheguei? O que faz aqui? Isto é lugar para homem, não para frangotes como você! Saia logo! O que está esperando? O rapazola nem sequer se incomodou com a ordem! Não se intimidou. Pediu a mulher que estava do seu lado tremendo de medo: Traga alguma bebida para vocês. Ignorando a ordem do Sabuco mas sem tirar os olhos dele, por precaução. Este ficou uma fera. Ninguém nunca lhe desobedecera, ora essa? Esta que é a tua? Logo você seu bosta? Reprimiu o Sabuco, foi na direção do rapaz e perguntou-lhe: Psiu? És surdo? Não senhor! Não sou surdo, pois ouço até heresias. Responde o moço. É que aqui é lugar público amigo! Ninguém manda em mim, e em nada daqui! Nem o senhor, sabia? É lugar de homens, e eu não sou diferente dos outros. Ademais não recebo ordens de qualquer um. Sou dono do meu nariz, assim como o senhor é dono do seu! Arreda-te daqui, não lhe conheço, deixe-nos em paz! Vou dar-lhe uma lição seu moleque desaforado, retrucara o Sabuco, atrevido igual abelha mamangava preta, já pegou o rapaz pela abertura da camisa, ali no pé do gogó, como ele era de corpo franzino suspendeu-o da cadeira, não deu trabalho para derrubá-lo, sentou na barriga do moço no meio do salão e começou assoviar a "Saudade de Matão." Chicão era pesado e o rapaz se debatia sem lograr êxito de escapar.  Já estava passando mal, faltando-lhe o fôlego apertado no chão, nisto uma meretriz com instinto defensivo de mãe por filho, única  que não quis correr, vendo aquela injustiça, partiu pra cima do Chicão  saindo na defesa do rapaz, pegou-o pelo braço na tentativa de arrancá-lo de cima do menino dizendo:  Deixe o menino Chicão, não faça isso homem? Chicão empurrando-a ela caiu, levantou e avançou de novo enfrentando-o sem medo, fez uma força descomunal na luta , até que conseguiu meter-lhe um murro na cara. Que mulherzinha valente! Sabuco foi se defender dela titubeou, nisto alivia o peso de cima do moço, este aproveitou, tirando de trás na sua cintura uma pequena faca pontiaguda e afiada. Fincou-a de baixo para cima bem embaixo da costela mindinha do Sabuco, acertou num dos rins, enterrou até o cabo. Foi aquele jato de sangue que espirrou longe, o Chicão deu um grito e um salto felino, rodopiou e caiu na sala rolando de dor. Já era a dor da morte. Moleque desgraçado, você me matou, seu infeliz! Nem se lembrou da arma que trazia na cintura embaixo da camisa. Mulherada fizeram uma gritaria e correram para todos os lados, não sabiam se acudiam o Sabuco ou se corriam dele, ficaram doidas quando viram sangue para todo lado. Até o rapaz assustou do que fizera, acho que nem imaginava que fora ele autor daquilo. Levantou e saiu correndo porta afora sem rumo e sem direção, todo lambuzado de sangue. Desnorteado sai rua acima até no pé de uma pequena serra que circundava a pequenina cidade, deu no aparado dela, não tendo saída ficou lá escondido atrás de umas pedras e moitas até a poeira baixar. Sabuco morreu, e nas mãos de um fraco! Mais um valentão que teve este destino! Capa de valentes é caixão! Sua casa é a sepultura! Vila é o cemitério! E a cidade deles é a dos pés-juntos! Em lugar que aparece raposa, galo não canta na madrugada! A policia foi acionada e meia desconfiada desta vez compareceu, levantou o cadáver e depois foi atrás do moço no pé da Serrinha. Trouxeram-no, mas era de menor, não podia ser preso os menores de idade naquela época. Além disso a mulherada saiu na defesa dele, que para elas aquilo foi um alívio. Ufa..... Agora teremos paz, disseram. Um velho cabo da polícia, muito sábio observando o mocinho todo sujo de sangue e assustado. Disse-lhe: Vá embora meu filho, e nunca mais pise os pés por aqui, você estragou a sua vida menino. A pior coisa desta vida é tirar a vida  do outro. Você perde tudo, a começar pela paz interior! É um desassossego sem fim! Nada está bom! Há pessoas que veem  sempre aquela imagem sinistra do morto por onde andam. Ainda mais se ficam sozinhas. O morto parece vir ao seu encontro,  quando  dormem e sonham com ele, se assustam e acordam angustiados e não conseguem mais dormir aquela noite. Sentem-se vigiadas! Veem sombras,  vultos, sussurros, gemidos e resfolegar de alguém quando está sufocado. É um tormento, muitos choram lágrimas sentidas de dor e arrependimento, dariam tudo e mais um pouco se pudessem não ter feito o que fizeram. Matar o seu próximo! Por isso que Deus deu uma vida para cada um, para ninguém roubar ou tirar a do outro. Mas pelo relato dos presentes não tivestes outra alternativa, senão matá-lo. Sabia que na mata que macacos dançam, quando aparece onça, ela acaba com o baile? Fim do baile pessoal, arrematou o cabo velho! A mulher que intervira na briga em defesa do mocinho vindo abraçou-o com lágrimas nos olhos dizendo:  Lastimo, lamento muito minha participação mesmo sendo indireta na morte deste homem! Nunca imaginei que isso fosse dar no que deu, mas já que aconteceu! Vamos embora daqui, juntos reconstruiremos nossas vidas, e um dia alcançaremos o perdão Divino. E a situação do mocinho acabou prevalecendo como a lei do velho oeste nos filmes de faroeste ou bang e bang: Quando o Xerife ouve as testemunhas julga a causa e diz:  Coveiro, tome dois dólares, sepulte o morto! Não houve assassinato! Foi em legítima defesa!  FIM.....

           "COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"

                         Anastácio MS 16/10/2017   

domingo, 15 de outubro de 2017

OS MALUCOS TAMBÉM SÃO INTELIGENTES, VEJAM SÓ!

                     

 Como em todo lugar existem pessoas de todos os jeitos, nacionalidades, credos religiosos, com tradições diferentes da nossa, mais evoluídos, menos sábios, mais alegres e sisudos também, de todos os tipos e jeitos em resumo. Sem esquecer que também tem aqueles que por motivos desconhecidos de nós vivem ao léu, não se sabe se tem um teto para morar ou não, ainda por cima são dementes, malucos, birutas da cabeça, doentes mentais que por vários motivos chegaram aquela situação, não se sabe se foi culpa do destino, dos pais, de alguma desilusão, enfermidades, expedicionários de guerras, pragas, macumbados e outras coisas alheias ao nosso conhecimento. Tem também em todo o lugar aqueles que parecem se divertir com os infelizes que estão nessa situação onde os encontram, nós achamos que deveriam dar respeito aos tais. Caçoístas, zombeteiros, debochadores, zuadores com tudo o que vê. São os gaiatos, nós assim os denominamos. Mas como toda ousadia tem seu custo, é bom deixar as barbas de molho os que assim procedem. Sempre em toda a história existe um velho ditado: Toda carta tem  resposta! Nunca cutuque o diabo na costela! Com cobra não se brinca! Homem covarde é o mais perigoso! Quem vai dar, leve um saco para trazer, poderá ganhar! Bairro dos valentões é só um: Cemitério! Neste conto nós abordamos um fato inédito! Numa corrotela do interior existia um rapaz ainda bem novo, mas era biruta da cabeça, um dia estava calado, noutro rindo atôa, em outra ocasião estava bravo e assim vivia o pobre e infeliz vivente entregue a própria sorte. Mas o povo que o conhecia davam-lhe o que comer o que vestir por onde perambulava. Em tempos frios ganhava cobertores e casacos da população só que ninguém se preocupava tanto como deveríamos fazer pelo nosso próximo como manda as regras Divinas amando o próximo. Um dia ele estava sentado na calçada quietinho e passou um cidadão e lhe deu um relógio de pulso destes de brinquedos de criança, mas o relógio funcionava, era a pilhas. Colocou no braço do moço doido e saiu, o moço ficou contente com o presente e espiava atentamente os ponteiros se moverem, para ele era novidade. Feliz da vida não tirava os olhos do mostrador do presente. Nisso passa um gaiato vindo nem sei de onde e para tirar uma onda de importante, querendo rir as custas do inocente lhe pergunta: Que horas são moço? Me diga aí! Ficou vendo o embaraço do maluco que até assustou dele, pois estava muito encabulado no relógio. Nisto aparece na esquina uma matilha de cães rosnando e brigando entre si, ninguém olhava para aquela bagunça dos cachorros. O moço biruta respondeu ao gaiato apontando para os cães e com o dedo indicador no relógio. Neste gesto ele informou as horas ao atrevido gaiato que ficou sem saída  e sem entender a  resposta do moço que foi muito exata. Um pequeno ponto de partida para você leitor, se nortear: Já passava do meio dia. Se vire amigo. kkkkkkkkkkkkkkkk. Você sabe dizer que horas o relógio indicava? Ajude o gaiato saber as horas e sair dessa. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

       "COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"  

                 Anastácio MS, 13/10/2017

UMA ILUSÃO, UMA PAIXÃO, UMA TRAIÇÃO E O CRIME!

                  

Conta-se que em épocas passadas existiu um casal muito bem sucedido na vida, eram felizes, dotados de uma sorte incrível para muitos, não para todos é claro. Possuíam muitos bens, um casal de filhos lindos, casas na cidade e até uma fazenda muito bem montada, muito gado, animais diversos, tropas e muitos empregados enfim, nada mais poderiam almejar ou exigir da vida melhor situação. Tudo iam as mil maravilhas naquelas vidas tão  bem sucedidas. Uma família de distinção na sociedade, magníficos exemplos de bondosas pessoas, um homem de honra, um pai de família dedicado, um bom patrão, e ela um exemplo de esposa e mãe. Espelhados por todas as pessoas sensatas. Mas quando as coisas estão muito bem é preciso ficar em alerta com os sinais agourentos que sempre rodeiam  as pessoas felizes. Nem sempre isto é para todos, mas sempre atingem os mais símplices de coração. Naqueles tempos antigos havia vaquejadas, cantorias e festas diversas em várias regiões deste País. O Patrão desejou dar uma festa, teria vaquejadas, montarias, cantorias e festa culminando com um baile na fazenda para encerrar as festividades com chave de ouro. Foram convidados toda a vizinhança, e fazendeiros desta região, seria uma festa daquelas de deixar saudades. Violeiros, sanfoneiros, repentistas, desafios, pelejas de cantores de todas regiões e modalidades lá estariam sem falta. Haveria rodeios, montarias em animais xucros, bois, burros, carreira ou raias, malabaristas em animais e diversos outros divertimentos. Seria três dias de festas, churrasco e muita animosidade, rapazes e moças viriam de todos os lados da região, tempos bons e de paz entre os povos, dificilmente surgia algum  atrito entre eles, tudo bem planejado e executado com sucesso, a festa começou e foi exatamente como o esperado. Transcorreram muito bem todas as atividades, a vaquejada, as montarias, as cantorias e os repentistas, premiações e condecorações aos vencedores, a peonada dos confins que vieram participar dos festejos não cabiam em si de contentes, dentre todos houve três deles que se destacaram no laço e na doma dos animais, eram de fora bem distante dali. Chegando ao final das festividades e nos últimos bailes, olha a complicação que surgiu na família do patrão. Ele a esposa, duas empregadas mais a governanta e as crianças já grandinhos felizes da vida. Num dos bailes a noite uma das empregadas disse ao patrão: O senhor já observou o comportamento de sua esposa no baile? Parece mocinha procurando namorado. Arranjou um e já estão de caso, tenho certeza porque dancei com ele e descobri tudo. Me cortou o coração em saber disso, porque o senhor não merece isto que ela está fazendo. Como a empregada era de confiança de ambos e tinha cuidado com suas crianças e sempre atenta percebeu a situação da patroa com um peão de fora, exatamente um dos três que mencionamos acima. Mulher conhece a outra, e peão é peão, inda mais sendo solteiro. Namoro tinha para todos os lados, moças e rapazes estavam á vontade para namorarem. O Patrão observou e viu com grande amargura e decepção a amizade dela com o peão. Olhem a ilusão dela! E agora? O que fazer? Saiu da festa por um pouco de tempo, alguns minutos, sentou num canto escuro pôs a mão no queixo e imaginou a vida inteirinha que desde seu casamento até ali era uma coisa inimaginável de tão bela. Nada lhes faltava, em especial para a esposa e esta fazer um papel deste? Era inconcebível uma coisa daquelas. Jamais pensou que um dia lhe acontecesse tal infortúnio. Mas a formiga quando quer se perder, dizem que cria asas e voa, em seguida cai num terreiro que tem galinha choca. Já entenderam? Armou um plano, avisou a esposa que teria que ir com certa necessidade até a cidade e que ela e as empregadas vigiassem a festa. Ausentou com o carro, voltaria no dia seguinte lá pela nove horas. Foi até a estrada que ficava a um quilometro da sede e deixou o carro camuflado na entrada de outra fazenda. Voltou a pé e entrou num dos quartos de visita que dava para os fundos da casa, eram dois ligados e fora do corpo da casa, meio isolados portanto, no quarto das visitas tinha de tudo, um conforto sem igual, até um frigobar. De posse das duas chaves de um, ficou de tocaia nele e ver o que poderia acontecer, não se enganou. Dali algum tempo lá vem a esposa de mãos dadas com o peão e abrindo a porta do outro adentraram, ela lhe disse: Espere aqui que já volto, vou pedir a governanta que faça as crianças dormirem. Já é tarde e deixe o povo que sambem a vontade, enquanto isso nós vamos gozar nosso amor, meu marido foi á cidade e só volta amanhã. A empregada não perdeu um só movimento da falsa esposa, fingia não saber de nada, estava vendo: O que o maligno não faz, gente? Tudo certo, ela disse a empregada, vou me recolher mais cedo hoje. Fiquem a vontade. Saiu e foi no quarto, lá estava o peão a sua espera, o marido no outro quarto assistindo tudo. Parede e meia e de madeira com alguns furinhos nas tábuas via tudo. com o coração em pedaços. Ela chegou toda assanhada, despiram, tomaram vinho a beça se amaram, rolaram na cama e aprontaram a rigor, juras de amor, promessas de ir com ele para onde ele quisesse. Dizia em sussurro sou só tua de hoje em diante. Meu marido é um homem morto para mim. Por tí deixo tudo o que possuo nesta vida. Se a morte vier me buscar irei com prazer. O que eu queria de ti, eu já consegui. não dormiremos esta noite nem um minuto. Estou em chamas, meu corpo está quentinho como nunca esteve, me mate de amor, senão enlouqueço. Olhem o tamanho desta paixão! Jogar fora toda a vida feliz de casada por uma simples aventura! Traiu o marido sem a mínima compaixão do infeliz, nem seus filhos nesta altura dos acontecimentos os amava mais. Ficou louca a mulher. Sabiam que a paixão não é de Deus? É de origem satânica. Enlouquece mesmo. Aí está a prova. Já no finzinho da madrugada adormeceram, justamente para que o marido saísse de fininho e voltasse para o carro lá na estrada. Como se nada tivesse acontecido levantaram depois, ele foi para o galpão onde se encontravam seus dois companheiros. Estes disseram: Onde estava que não te vimos mais? Em lugar nenhum responde. Companheiro, não somos trouxa, vimos seu namoro com a patroa! Nós o reprovamos! Você ficou louco? Perdeste o juízo? Porque fizeste isso? Não respeitou a festa do homem nem a sua esposa? Em meio á tantas moças bonitas, você foi dar em cima de mulher casada? Cutucaste o diabo com a vara curta! Isto vai dar um fim de festa dos piores que nós já vimos, pode ter certeza. E se este homem descobre? Previne-te! Nem queremos estar perto quando esta bomba estourar em tuas mãos. Ela como se nada tivesse feito estava do mesmo jeitinho. O marido chegou, ela o recebe com beijos e abraços. Terminou a festa todos foram embora, o peão não quis ir, vou depois dissera aos dois amigos. Estes foram embora desolados, preocupados com a situação do amigo que ficara. Em tempos de homens sérios e mulheres de muita honra ver um negocio deste? Era fim de mundo, pensavam.  No domingo a tarde ele e a esposa foram com as crianças e a empregada para a cidade, pois na segunda feira era dia de aulas e atividades de trabalho na fazenda e cada um nos seus afazeres. Deixou-os na cidade e na volta com a esposa para a fazenda num lugar ermo, isolado, com um silêncio macabro, parecendo adivinhar uma coisa sinistra, com matas de ambos os lados, nem uma ave sequer gorjeava naquela hora, ele parou o carro e desceram, entraram no mato alguns metros e ele sentou no chão e disse: Porque fizeste aquilo comigo mulher? Melhor se tivesse me matado! Vi tudo! Estava no quarto ao seu lado! E agora, o que tens a me dizer? A esposa gelou, ficou muda, estava petrificada, dura como uma pedra ante aquela revelação dura e inesperada. Vai morrer sabia? Tirou de uma arma e disparou em sua cabeça. Abriu o seu peito e dele tirou o coração dela e levou consigo. Lá ficou o corpo estendido sem vida. Olhem o lucro de uma traição! Seguiu para a fazenda, tratou aquele coração como se fosse o coração de uma rês. Preparando-o para ser almoçado na segunda feira. O homem estava vivo por fora e morto por dentro. Era um corpo ambulante sem vida, sem noção do tempo! Navegava em outra galáxia, num mundo obscuro e desconhecido. O peão ficando na companhia dos demais da fazenda estava todo feliz, entre aspas, preocupado por não ver a patroa na casa e nem em lugar nenhum. Era muito dada com todos, servira as refeições para todos depois da festa. Cadê ela perguntava de si para consigo. Não havia respostas! Na segunda feira antes do almoço o patrão disse aos demais empregados, estou sozinho hoje e sem cozinheira, vão para a pensão todos, ali ao lado dos galpões. Pediu gentilmente ao peão que de nada desconfiava que fosse seu hospede e que almoçasse com ele, fazendo-lhe companhia. O peão aceitou, era isso que ele queria, assim estaria ao menos vendo seu amor. Servindo o almoço sentaram á mesa e começaram comer, o patrão diz-lhe, este é o coração de uma vitela que preparei para nós, está uma delicia, sirva á vontade amigo. O peão serviu com gosto, de fato estava bem feito a iguaria. Olhava para os lados e nada de seu amor aparecer, não aguentou por muito tempo, e indagou: Cadê a sua esposa que não a vejo desde ontem a tarde? O patrão deu um sorriso amarelo, trespassado de amargura, de dor e ódio daquele verme imundo que destruíra sua vida e estava á sua frente comendo o coração de sua tão amada esposa. Respondeu ao peão: Ela não volta mais aqui! Você roubou o coração dela! Naquela noite de seus amores eu estava escondido no quarto ao lado, vi e ouvi tudo o que fizeram e disseram sobre mim. Vocês dois destruíram o meu lar, a minha vida e meu tudo que adquiri com tanto sacrifício! Não resisti a dor! Eu a matei! Este coração que acabaste de comer é o dela! Fiz você comê-lo sem saber! Agora vais morrer também, disse-lhe com a maior frieza. Tirou da gaveta da mesa a mesma arma que ceifou a vida dela lá na mata e disparou na testa do peão que estava gelado, duro, enrijecido, estático, paralisado, parecendo uma pedra, uma estátua, estarrecido, morreu nas roupas ouvindo aquela triste e aterradora revelação de seu temível e terrível adversário! O espírito da negra morte o dominou porque ele devia! Não esboçou nenhum gesto em defesa da vida! Tombou com a cabeça em cima do prato que comera o coração dela, o coração daquele maldito amor que não era seu. Cabeças que não tiveram juízo, os corpos pagaram a conta!

        "COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"

                      Anastácio MS 14/10/2017 

O JAPONÊS CACHACEIRO E O ALAMBIQUE.

                                

Nem sempre encontramos os japoneses pau d'água como são os outros povos, mas existem, e muitos sim, raro um andar caindo pelas sarjetas. Do que vamos falar e contar neste conto de peões do trecho é um deles. Morava numa ponta de rua do povoado, e nos arredores deste tinha duas hectares de terra na beira do córrego, que era de sua  propriedade onde cultivava sua horta, lá plantava de tudo, todas as hortaliças que existiam se encontrava lá. Vendia apurava um dinheirinho e com ele ia vivendo, era solitário, não tinha familia. Todos os dias pela manhãzinha atravessava a corrotela com seu caldeirãozinho do almoço e ia para a horta, passava o dia por lá, já no crepúsculo retornava para casa, sempre levava algumas verduras e oferecia para os vizinhos e amigos. Era muito conhecido e querido por todos, passava num dos últimos botecos para tomar um trago e seguir para casa. De quando em quando dava um maço de verduras para a dono do boteco, este lhe dava um gole e com isso ia todo feliz para casa. Quando saia mais cedo ficava mais tempo conversando com os outros fregueses do mesmo ramo" beberrões" da tarde. Todos lhe admiravam por ter um paladar apurado como nunca visto em lugar nenhum. Conhecia as cachaças pelo nome   uma por uma  pelo seu sabor. Podiam dar a pinga sem que ele visse a garrafa ou o rótulo que ele estalava a língua e dizia: Esta é a Teimosa! porque naqueles tempos existiam varias marcas de pingas ex: Del Nero, Caprichosa, Tatuzinho, Quatizinho, Oncinha, Teimosa, Atrás do Saco, 1921, 1931, 1951, Cangebrina, Amarelinha,  Praianinha, Ypioca, e outras de finissima qualidade que eram empalhadas com requinte. O Japa era um Às no conhecimento das cachaças. Com isso todos se divertiam com ele. De longe avistavam o japonês quando vinha vindo, um deles mandava, põe uma pinga aí para o japa, eu vou pagar, vamos ver se ele adivinha qual é. Ele chegava era aquela festa de cachaceiros. Ô Japa, se você adivinhar que pinga é, te dou uma garrafa para levar, combinado? O Japonês piscava aqueles olhos apertados e sorria dizendo. Japão nunca engana! Tomava, estalava a língua e dizia: E Campineira garantido, é ou não é? kkkkkkkkkkkkk.  Era mesmo!  Não errava uma! Mas um dia o dono do boteco resolveu pregar-lhe uma peça, a turma ficou sabendo do truque e aguardavam ansiosos a presença do japa. O que ele fez? Mandou sua mulher mijar num copo e misturou com a pinga que o japonês mais gostava , claro que a urina não foi muita, senão ele desconfiaria pelo cheiro e sabor salgado do produto adulterado. Ficaram na expectativa olhando para o fim da ruazinha deserta. Lá vinha ele com as verduras em mãos para dar a alguém. Todos quietos sem esboçar um pio sequer. Disse boa tarde e puxou um mochinho que tinham reservado para ele e sentou-se. Ufa que calor foi hoje? Viram como foi quente a tarde? Japão quase não aguenta o sol de hoje, mas agora uma pinga gelada resolve tudo nom? Os presentes se entreolhavam! O vendeiro disse: Japa temos   aqui uma pinga nova  e pelo jeito você vai gostar! Prove e veja como é? Ele pegou o copo levou na boca e tomou um pequeno gole já desconfiando de ser algum truque da turma, chegou engolir e estalando a língua  disse: Muito boa mesmo, japão anda carente desta qualidade: Não quer emprestar o alambique para mim levar hoje á noite? Japão devolve amanhã cedinho. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.


        "COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"

                     Anastácio MS, 13/10/2017.  

NÃO BRINQUE NEM DUVIDE DOS CACHACEIROS!

              

Quase em todo vilarejo ou cidadezinha pequenas existe um pau d'água alegre, divertido, muito conhecido e cheios de presepadas. Tem deles que não aguentam dois goles já caem, ficam rolando na sarjeta, resmungando, uns bravos, outros rindo de tudo que vê, até mexendo com quem passa na calçada onde estão sentados. Certa feita tinha um que era só o vendeiro da esquina abrir o comércio lá estava ele, era o primeiro que entrava, sondava os fregueses e lhes pedia: Paga uma pinga aí meu irmão, estou com a goela seca desde ontem, preciso curar a ressaca. Para o veneno da cobra, o remédio é de outra cobra: Outro veneno diferente. kkkkkkkkkkk.  Quando é assim tinha dormido bêbado e na sarjeta. Estava como se espera, mal cheirando,  um azedume daqueles, com um bafo de jiboia que Deus me livre! As vezes até todo mijado! E o povo nem ligavam para estes tipos,  se bem que há outros tipos de cachaceiros que são mais alinhados. Bebem mas não enchem o saco de ninguém, bebe e já vai  saindo, cai aqui, levanta ali e some de vista, peões de fazenda, corredores de trecho, aqueles dos fins de semana e vai por aí a fora. Este do qual falaremos era dos que passavam o dia roçando o umbigo na balcão, quando ganhavam um copo de pinga, levava um ano para acabar, economizando até chegar outro freguês para tentar ganhar outro e assim passava o dia, outros amigos mais camaradas, pagavam-lhe um sanduíche que era o seu almoço em lugar da pinga. Ele aceitava sim de bom grado, mas depois pedia. Só mais um trago amigo, para rebater o almoço, o amigo acabava lhe dando e com isso o vendeiro até se divertia. Era um dia de sábado a tarde o empório estava lotado de gente, neste dia o bêbado resolveu chegar lá pelo meio da  tarde, estava limpo e são, nem parecia aquele que tanto importunava o povo e o vendeiro. Os que o conhecia ficaram admirados, todo cheio de razões já pediu uma "Cipoada". O dono do estabelecimento aproveitando ele são, quis dar-lhe uma lição de moral e ver se conseguia desvencilhar daquela "Coisa chata" da semana inteira. O povo ali se entreolhavam como querendo adivinhar o que aconteceria. Como o dono do boteco ainda não tinha lhe atendido, então repetiu o pedido, espere um pouco amigo, retrucou o vendeiro. Foi lá na sala de sua casa que era só passar a cortina na porta. Veio de lá com uma fita métrica destas de costureira em volta do pescoço e disse-lhe: Amigo, desde ontem a gente modificou o sistema de vender cachaça: Só vendemos a garrafa cheia ou se for picado, retalho, no copo, agora é por metro. Dez, vinte, cinquenta centímetros e até dois metros que é a medida de nosso balcão. Fora isso não podemos lhe atender. Dava a certeza que queria fazê-lo lamber o balcão para humilhá-lo na frente do povo. O pedinte passou a mão no queixo pensando: E agora o que faço? Percebeu que o amigo do outro lado do balcão fazia aquilo para expulsá-lo dali. Completando a proposta o vendeiro disse: Se resolver é só pedir aqui está a fita para medir o tanto que o senhor quiser. kkkkkkkkkkkkkk.  Enquanto isso atendia os outros fregueses, mas ninguém pediu pinga por copos. Só a garrafa cheia e ele não tinha a grana para levar uma garrafa, ficou embaraçado por alguns instantes. Pensou e repensou acabou tendo uma ideia dizendo: Me de aí um metro e meio de cachaça. Acho que dá uma boa "lapada". Assim não incomodo mais o senhor! Já vou indo também. O vendeiro mais que depressa mediu e destampou a garrafa, despejando o liquido no comprimento medido. Escorria no balcão, e o bêbado são, espiando tudo. O povo então nem se fala, seguravam o riso que por certo dariam ás custas do infeliz pau d'água. kkkkkkkkkkkkk. Terminando todo garboso e estufado para debochar também, por certo seria um sucesso os deboches disse-lhe: Pronto amigo pode servir, tome á vontade, este seu primeiro pedido é por conta da casa, se precisar temos mais. O bêbado vendo aquela pequena lagoa de pinga sobre o balcão bem nivelado, tirou umas moedas do bolso pagando  deu um limpa na garganta e retrucou: Não vou tomar aqui amigo, faça-me o favor de embrulhar num jornal bem embrulhadinho para não vazar nem uma gota durante o caminho que vou fazer, pois pretendo tomar em casa quando eu chegar. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.  Debochou o pinguço. A Plateia ficou muda e o vendeiro puto da vida! Cachaceiro FDP resmungou. Me fez pagar um mico deste tamanho! Os fregueses: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.  Furioso entrou lá para a sala da casa e não voltou mais, a sua esposa foi quem atendeu o povo naquele resto do dia.

        "COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"

                      Anastácio MS 13/10/2017.