domingo, 15 de outubro de 2017

UMA ILUSÃO, UMA PAIXÃO, UMA TRAIÇÃO E O CRIME!

                  

Conta-se que em épocas passadas existiu um casal muito bem sucedido na vida, eram felizes, dotados de uma sorte incrível para muitos, não para todos é claro. Possuíam muitos bens, um casal de filhos lindos, casas na cidade e até uma fazenda muito bem montada, muito gado, animais diversos, tropas e muitos empregados enfim, nada mais poderiam almejar ou exigir da vida melhor situação. Tudo iam as mil maravilhas naquelas vidas tão  bem sucedidas. Uma família de distinção na sociedade, magníficos exemplos de bondosas pessoas, um homem de honra, um pai de família dedicado, um bom patrão, e ela um exemplo de esposa e mãe. Espelhados por todas as pessoas sensatas. Mas quando as coisas estão muito bem é preciso ficar em alerta com os sinais agourentos que sempre rodeiam  as pessoas felizes. Nem sempre isto é para todos, mas sempre atingem os mais símplices de coração. Naqueles tempos antigos havia vaquejadas, cantorias e festas diversas em várias regiões deste País. O Patrão desejou dar uma festa, teria vaquejadas, montarias, cantorias e festa culminando com um baile na fazenda para encerrar as festividades com chave de ouro. Foram convidados toda a vizinhança, e fazendeiros desta região, seria uma festa daquelas de deixar saudades. Violeiros, sanfoneiros, repentistas, desafios, pelejas de cantores de todas regiões e modalidades lá estariam sem falta. Haveria rodeios, montarias em animais xucros, bois, burros, carreira ou raias, malabaristas em animais e diversos outros divertimentos. Seria três dias de festas, churrasco e muita animosidade, rapazes e moças viriam de todos os lados da região, tempos bons e de paz entre os povos, dificilmente surgia algum  atrito entre eles, tudo bem planejado e executado com sucesso, a festa começou e foi exatamente como o esperado. Transcorreram muito bem todas as atividades, a vaquejada, as montarias, as cantorias e os repentistas, premiações e condecorações aos vencedores, a peonada dos confins que vieram participar dos festejos não cabiam em si de contentes, dentre todos houve três deles que se destacaram no laço e na doma dos animais, eram de fora bem distante dali. Chegando ao final das festividades e nos últimos bailes, olha a complicação que surgiu na família do patrão. Ele a esposa, duas empregadas mais a governanta e as crianças já grandinhos felizes da vida. Num dos bailes a noite uma das empregadas disse ao patrão: O senhor já observou o comportamento de sua esposa no baile? Parece mocinha procurando namorado. Arranjou um e já estão de caso, tenho certeza porque dancei com ele e descobri tudo. Me cortou o coração em saber disso, porque o senhor não merece isto que ela está fazendo. Como a empregada era de confiança de ambos e tinha cuidado com suas crianças e sempre atenta percebeu a situação da patroa com um peão de fora, exatamente um dos três que mencionamos acima. Mulher conhece a outra, e peão é peão, inda mais sendo solteiro. Namoro tinha para todos os lados, moças e rapazes estavam á vontade para namorarem. O Patrão observou e viu com grande amargura e decepção a amizade dela com o peão. Olhem a ilusão dela! E agora? O que fazer? Saiu da festa por um pouco de tempo, alguns minutos, sentou num canto escuro pôs a mão no queixo e imaginou a vida inteirinha que desde seu casamento até ali era uma coisa inimaginável de tão bela. Nada lhes faltava, em especial para a esposa e esta fazer um papel deste? Era inconcebível uma coisa daquelas. Jamais pensou que um dia lhe acontecesse tal infortúnio. Mas a formiga quando quer se perder, dizem que cria asas e voa, em seguida cai num terreiro que tem galinha choca. Já entenderam? Armou um plano, avisou a esposa que teria que ir com certa necessidade até a cidade e que ela e as empregadas vigiassem a festa. Ausentou com o carro, voltaria no dia seguinte lá pela nove horas. Foi até a estrada que ficava a um quilometro da sede e deixou o carro camuflado na entrada de outra fazenda. Voltou a pé e entrou num dos quartos de visita que dava para os fundos da casa, eram dois ligados e fora do corpo da casa, meio isolados portanto, no quarto das visitas tinha de tudo, um conforto sem igual, até um frigobar. De posse das duas chaves de um, ficou de tocaia nele e ver o que poderia acontecer, não se enganou. Dali algum tempo lá vem a esposa de mãos dadas com o peão e abrindo a porta do outro adentraram, ela lhe disse: Espere aqui que já volto, vou pedir a governanta que faça as crianças dormirem. Já é tarde e deixe o povo que sambem a vontade, enquanto isso nós vamos gozar nosso amor, meu marido foi á cidade e só volta amanhã. A empregada não perdeu um só movimento da falsa esposa, fingia não saber de nada, estava vendo: O que o maligno não faz, gente? Tudo certo, ela disse a empregada, vou me recolher mais cedo hoje. Fiquem a vontade. Saiu e foi no quarto, lá estava o peão a sua espera, o marido no outro quarto assistindo tudo. Parede e meia e de madeira com alguns furinhos nas tábuas via tudo. com o coração em pedaços. Ela chegou toda assanhada, despiram, tomaram vinho a beça se amaram, rolaram na cama e aprontaram a rigor, juras de amor, promessas de ir com ele para onde ele quisesse. Dizia em sussurro sou só tua de hoje em diante. Meu marido é um homem morto para mim. Por tí deixo tudo o que possuo nesta vida. Se a morte vier me buscar irei com prazer. O que eu queria de ti, eu já consegui. não dormiremos esta noite nem um minuto. Estou em chamas, meu corpo está quentinho como nunca esteve, me mate de amor, senão enlouqueço. Olhem o tamanho desta paixão! Jogar fora toda a vida feliz de casada por uma simples aventura! Traiu o marido sem a mínima compaixão do infeliz, nem seus filhos nesta altura dos acontecimentos os amava mais. Ficou louca a mulher. Sabiam que a paixão não é de Deus? É de origem satânica. Enlouquece mesmo. Aí está a prova. Já no finzinho da madrugada adormeceram, justamente para que o marido saísse de fininho e voltasse para o carro lá na estrada. Como se nada tivesse acontecido levantaram depois, ele foi para o galpão onde se encontravam seus dois companheiros. Estes disseram: Onde estava que não te vimos mais? Em lugar nenhum responde. Companheiro, não somos trouxa, vimos seu namoro com a patroa! Nós o reprovamos! Você ficou louco? Perdeste o juízo? Porque fizeste isso? Não respeitou a festa do homem nem a sua esposa? Em meio á tantas moças bonitas, você foi dar em cima de mulher casada? Cutucaste o diabo com a vara curta! Isto vai dar um fim de festa dos piores que nós já vimos, pode ter certeza. E se este homem descobre? Previne-te! Nem queremos estar perto quando esta bomba estourar em tuas mãos. Ela como se nada tivesse feito estava do mesmo jeitinho. O marido chegou, ela o recebe com beijos e abraços. Terminou a festa todos foram embora, o peão não quis ir, vou depois dissera aos dois amigos. Estes foram embora desolados, preocupados com a situação do amigo que ficara. Em tempos de homens sérios e mulheres de muita honra ver um negocio deste? Era fim de mundo, pensavam.  No domingo a tarde ele e a esposa foram com as crianças e a empregada para a cidade, pois na segunda feira era dia de aulas e atividades de trabalho na fazenda e cada um nos seus afazeres. Deixou-os na cidade e na volta com a esposa para a fazenda num lugar ermo, isolado, com um silêncio macabro, parecendo adivinhar uma coisa sinistra, com matas de ambos os lados, nem uma ave sequer gorjeava naquela hora, ele parou o carro e desceram, entraram no mato alguns metros e ele sentou no chão e disse: Porque fizeste aquilo comigo mulher? Melhor se tivesse me matado! Vi tudo! Estava no quarto ao seu lado! E agora, o que tens a me dizer? A esposa gelou, ficou muda, estava petrificada, dura como uma pedra ante aquela revelação dura e inesperada. Vai morrer sabia? Tirou de uma arma e disparou em sua cabeça. Abriu o seu peito e dele tirou o coração dela e levou consigo. Lá ficou o corpo estendido sem vida. Olhem o lucro de uma traição! Seguiu para a fazenda, tratou aquele coração como se fosse o coração de uma rês. Preparando-o para ser almoçado na segunda feira. O homem estava vivo por fora e morto por dentro. Era um corpo ambulante sem vida, sem noção do tempo! Navegava em outra galáxia, num mundo obscuro e desconhecido. O peão ficando na companhia dos demais da fazenda estava todo feliz, entre aspas, preocupado por não ver a patroa na casa e nem em lugar nenhum. Era muito dada com todos, servira as refeições para todos depois da festa. Cadê ela perguntava de si para consigo. Não havia respostas! Na segunda feira antes do almoço o patrão disse aos demais empregados, estou sozinho hoje e sem cozinheira, vão para a pensão todos, ali ao lado dos galpões. Pediu gentilmente ao peão que de nada desconfiava que fosse seu hospede e que almoçasse com ele, fazendo-lhe companhia. O peão aceitou, era isso que ele queria, assim estaria ao menos vendo seu amor. Servindo o almoço sentaram á mesa e começaram comer, o patrão diz-lhe, este é o coração de uma vitela que preparei para nós, está uma delicia, sirva á vontade amigo. O peão serviu com gosto, de fato estava bem feito a iguaria. Olhava para os lados e nada de seu amor aparecer, não aguentou por muito tempo, e indagou: Cadê a sua esposa que não a vejo desde ontem a tarde? O patrão deu um sorriso amarelo, trespassado de amargura, de dor e ódio daquele verme imundo que destruíra sua vida e estava á sua frente comendo o coração de sua tão amada esposa. Respondeu ao peão: Ela não volta mais aqui! Você roubou o coração dela! Naquela noite de seus amores eu estava escondido no quarto ao lado, vi e ouvi tudo o que fizeram e disseram sobre mim. Vocês dois destruíram o meu lar, a minha vida e meu tudo que adquiri com tanto sacrifício! Não resisti a dor! Eu a matei! Este coração que acabaste de comer é o dela! Fiz você comê-lo sem saber! Agora vais morrer também, disse-lhe com a maior frieza. Tirou da gaveta da mesa a mesma arma que ceifou a vida dela lá na mata e disparou na testa do peão que estava gelado, duro, enrijecido, estático, paralisado, parecendo uma pedra, uma estátua, estarrecido, morreu nas roupas ouvindo aquela triste e aterradora revelação de seu temível e terrível adversário! O espírito da negra morte o dominou porque ele devia! Não esboçou nenhum gesto em defesa da vida! Tombou com a cabeça em cima do prato que comera o coração dela, o coração daquele maldito amor que não era seu. Cabeças que não tiveram juízo, os corpos pagaram a conta!

        "COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"

                      Anastácio MS 14/10/2017 

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