domingo, 22 de outubro de 2017

ESTA É A HISTÓRIA DE UM SABUCO - 2ª Parte

                              


 2ª -  Agora com este documento em mãos, tornou-se meu filho, um dia poderá precisar de mim como a um pai, fiz esta caridade para você menino, dissera o ancião. Então o garotão estava lá dentro do prostíbulo despreocupado e com as mulheres lhe cortejando, sentia-se a vontade. Nisto entra o Sabuco de supetão, pois gostava de surpreender a turma, foi aquele reboliço,  ninguém esperava! O garotão nunca tinha visto aquilo, ficou atônito vendo aquela correria e gritos da mulherada, parecia que elas estavam vendo alguma assombração. E era a primeira vez que ele foi naquele lugar, mocinho novo, mancebo e sem experiência da vida, ainda não conhecia os percalços daquele ambiente infeliz, pecador e amaldiçoado. Nem sabia quem era o Chicão. Este lhe observou diretamente e o intimou: Cai fora daqui moleque, não vê que eu cheguei? O que faz aqui? Isto é lugar para homem, não para frangotes como você! Saia logo! O que está esperando? O rapazola nem sequer se incomodou com a ordem! Não se intimidou. Pediu a mulher que estava do seu lado tremendo de medo: Traga alguma bebida para vocês. Ignorando a ordem do Sabuco mas sem tirar os olhos dele, por precaução. Este ficou uma fera. Ninguém nunca lhe desobedecera, ora essa? Esta que é a tua? Logo você seu bosta? Reprimiu o Sabuco, foi na direção do rapaz e perguntou-lhe: Psiu? És surdo? Não senhor! Não sou surdo, pois ouço até heresias. Responde o moço. É que aqui é lugar público amigo! Ninguém manda em mim, e em nada daqui! Nem o senhor, sabia? É lugar de homens, e eu não sou diferente dos outros. Ademais não recebo ordens de qualquer um. Sou dono do meu nariz, assim como o senhor é dono do seu! Arreda-te daqui, não lhe conheço, deixe-nos em paz! Vou dar-lhe uma lição seu moleque desaforado, retrucara o Sabuco, atrevido igual abelha mamangava preta, já pegou o rapaz pela abertura da camisa, ali no pé do gogó, como ele era de corpo franzino suspendeu-o da cadeira, não deu trabalho para derrubá-lo, sentou na barriga do moço no meio do salão e começou assoviar a "Saudade de Matão." Chicão era pesado e o rapaz se debatia sem lograr êxito de escapar.  Já estava passando mal, faltando-lhe o fôlego apertado no chão, nisto uma meretriz com instinto defensivo de mãe por filho, única  que não quis correr, vendo aquela injustiça, partiu pra cima do Chicão  saindo na defesa do rapaz, pegou-o pelo braço na tentativa de arrancá-lo de cima do menino dizendo:  Deixe o menino Chicão, não faça isso homem? Chicão empurrando-a ela caiu, levantou e avançou de novo enfrentando-o sem medo, fez uma força descomunal na luta , até que conseguiu meter-lhe um murro na cara. Que mulherzinha valente! Sabuco foi se defender dela titubeou, nisto alivia o peso de cima do moço, este aproveitou, tirando de trás na sua cintura uma pequena faca pontiaguda e afiada. Fincou-a de baixo para cima bem embaixo da costela mindinha do Sabuco, acertou num dos rins, enterrou até o cabo. Foi aquele jato de sangue que espirrou longe, o Chicão deu um grito e um salto felino, rodopiou e caiu na sala rolando de dor. Já era a dor da morte. Moleque desgraçado, você me matou, seu infeliz! Nem se lembrou da arma que trazia na cintura embaixo da camisa. Mulherada fizeram uma gritaria e correram para todos os lados, não sabiam se acudiam o Sabuco ou se corriam dele, ficaram doidas quando viram sangue para todo lado. Até o rapaz assustou do que fizera, acho que nem imaginava que fora ele autor daquilo. Levantou e saiu correndo porta afora sem rumo e sem direção, todo lambuzado de sangue. Desnorteado sai rua acima até no pé de uma pequena serra que circundava a pequenina cidade, deu no aparado dela, não tendo saída ficou lá escondido atrás de umas pedras e moitas até a poeira baixar. Sabuco morreu, e nas mãos de um fraco! Mais um valentão que teve este destino! Capa de valentes é caixão! Sua casa é a sepultura! Vila é o cemitério! E a cidade deles é a dos pés-juntos! Em lugar que aparece raposa, galo não canta na madrugada! A policia foi acionada e meia desconfiada desta vez compareceu, levantou o cadáver e depois foi atrás do moço no pé da Serrinha. Trouxeram-no, mas era de menor, não podia ser preso os menores de idade naquela época. Além disso a mulherada saiu na defesa dele, que para elas aquilo foi um alívio. Ufa..... Agora teremos paz, disseram. Um velho cabo da polícia, muito sábio observando o mocinho todo sujo de sangue e assustado. Disse-lhe: Vá embora meu filho, e nunca mais pise os pés por aqui, você estragou a sua vida menino. A pior coisa desta vida é tirar a vida  do outro. Você perde tudo, a começar pela paz interior! É um desassossego sem fim! Nada está bom! Há pessoas que veem  sempre aquela imagem sinistra do morto por onde andam. Ainda mais se ficam sozinhas. O morto parece vir ao seu encontro,  quando  dormem e sonham com ele, se assustam e acordam angustiados e não conseguem mais dormir aquela noite. Sentem-se vigiadas! Veem sombras,  vultos, sussurros, gemidos e resfolegar de alguém quando está sufocado. É um tormento, muitos choram lágrimas sentidas de dor e arrependimento, dariam tudo e mais um pouco se pudessem não ter feito o que fizeram. Matar o seu próximo! Por isso que Deus deu uma vida para cada um, para ninguém roubar ou tirar a do outro. Mas pelo relato dos presentes não tivestes outra alternativa, senão matá-lo. Sabia que na mata que macacos dançam, quando aparece onça, ela acaba com o baile? Fim do baile pessoal, arrematou o cabo velho! A mulher que intervira na briga em defesa do mocinho vindo abraçou-o com lágrimas nos olhos dizendo:  Lastimo, lamento muito minha participação mesmo sendo indireta na morte deste homem! Nunca imaginei que isso fosse dar no que deu, mas já que aconteceu! Vamos embora daqui, juntos reconstruiremos nossas vidas, e um dia alcançaremos o perdão Divino. E a situação do mocinho acabou prevalecendo como a lei do velho oeste nos filmes de faroeste ou bang e bang: Quando o Xerife ouve as testemunhas julga a causa e diz:  Coveiro, tome dois dólares, sepulte o morto! Não houve assassinato! Foi em legítima defesa!  FIM.....

           "COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"

                         Anastácio MS 16/10/2017   

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