2ª - Agora com este documento em mãos, tornou-se meu filho, um dia poderá precisar de mim como a um pai, fiz esta caridade para você menino,
dissera o ancião. Então o garotão estava lá dentro do prostíbulo despreocupado
e com as mulheres lhe cortejando, sentia-se a vontade. Nisto entra o Sabuco de
supetão, pois gostava de surpreender a turma, foi aquele reboliço, ninguém esperava! O garotão nunca tinha visto
aquilo, ficou atônito vendo aquela correria e gritos da mulherada, parecia que
elas estavam vendo alguma assombração. E era a primeira vez que ele foi naquele
lugar, mocinho novo, mancebo e sem experiência da vida, ainda não conhecia os
percalços daquele ambiente infeliz, pecador e amaldiçoado. Nem sabia quem era o
Chicão. Este lhe observou diretamente e o intimou: Cai fora daqui moleque, não vê
que eu cheguei? O que faz aqui? Isto é lugar para homem, não para frangotes
como você! Saia logo! O que está esperando? O rapazola nem sequer se incomodou com
a ordem! Não se intimidou. Pediu a mulher que estava do seu lado tremendo de
medo: Traga alguma bebida para vocês. Ignorando a ordem do Sabuco mas sem tirar
os olhos dele, por precaução. Este ficou uma fera. Ninguém nunca lhe desobedecera,
ora essa? Esta que é a tua? Logo você seu bosta? Reprimiu o Sabuco, foi na
direção do rapaz e perguntou-lhe: Psiu? És surdo? Não senhor! Não sou surdo, pois ouço até heresias. Responde o moço.
É que aqui é lugar público amigo! Ninguém manda em mim, e em nada daqui! Nem o
senhor, sabia? É lugar de homens, e eu não sou diferente dos outros. Ademais não
recebo ordens de qualquer um. Sou dono do meu nariz, assim como o senhor é dono
do seu! Arreda-te daqui, não lhe conheço, deixe-nos em paz! Vou dar-lhe uma
lição seu moleque desaforado, retrucara o Sabuco, atrevido igual abelha
mamangava preta, já pegou o rapaz pela abertura da camisa, ali no pé do gogó, como ele era de
corpo franzino suspendeu-o da cadeira, não deu trabalho para derrubá-lo, sentou
na barriga do moço no meio do salão e começou assoviar a "Saudade de Matão."
Chicão era pesado e o rapaz se debatia sem lograr êxito de escapar. Já estava passando mal, faltando-lhe o fôlego apertado no chão,
nisto uma meretriz com instinto defensivo de mãe por filho, única que não quis correr, vendo aquela injustiça,
partiu pra cima do Chicão saindo na
defesa do rapaz, pegou-o pelo braço na tentativa de arrancá-lo de cima do
menino dizendo: Deixe o menino Chicão, não faça isso homem? Chicão empurrando-a ela
caiu, levantou e avançou de novo enfrentando-o sem medo, fez uma força descomunal na luta , até que conseguiu meter-lhe um murro na cara. Que mulherzinha
valente! Sabuco foi se defender dela titubeou, nisto alivia o peso de cima do
moço, este aproveitou, tirando de trás na sua cintura uma pequena faca pontiaguda
e afiada. Fincou-a de baixo para cima bem embaixo da costela mindinha do Sabuco,
acertou num dos rins, enterrou até o cabo. Foi aquele jato de sangue que espirrou
longe, o Chicão deu um grito e um salto felino, rodopiou e caiu na sala rolando
de dor. Já era a dor da morte. Moleque desgraçado, você me matou, seu infeliz!
Nem se lembrou da arma que trazia na cintura embaixo da camisa. Mulherada
fizeram uma gritaria e correram para todos os lados, não sabiam se acudiam o
Sabuco ou se corriam dele, ficaram doidas quando viram sangue para todo lado.
Até o rapaz assustou do que fizera, acho que nem imaginava que fora ele autor
daquilo. Levantou e saiu correndo porta afora sem rumo e sem direção, todo
lambuzado de sangue. Desnorteado sai rua acima até no pé de uma pequena serra
que circundava a pequenina cidade, deu no aparado dela, não tendo saída
ficou lá escondido atrás de umas pedras e moitas até a poeira baixar. Sabuco
morreu, e nas mãos de um fraco! Mais um valentão que teve este destino! Capa de
valentes é caixão! Sua casa é a sepultura! Vila é o cemitério! E a cidade deles
é a dos pés-juntos! Em lugar que aparece raposa, galo não canta na madrugada! A
policia foi acionada e meia desconfiada desta vez compareceu, levantou o cadáver e depois foi
atrás do moço no pé da Serrinha. Trouxeram-no, mas era de menor, não podia ser
preso os menores de idade naquela época. Além disso a mulherada saiu na defesa
dele, que para elas aquilo foi um alívio. Ufa..... Agora teremos paz, disseram. Um velho
cabo da polícia, muito sábio observando o mocinho todo sujo de sangue e assustado.
Disse-lhe: Vá embora meu filho, e nunca mais pise os pés por aqui, você
estragou a sua vida menino. A pior coisa desta vida é tirar a vida do outro. Você perde tudo, a começar pela paz
interior! É um desassossego sem fim! Nada está bom! Há pessoas que veem sempre aquela imagem sinistra do morto por
onde andam. Ainda mais se ficam sozinhas. O morto parece vir ao seu encontro, quando dormem e sonham com ele, se assustam e acordam angustiados e não conseguem mais
dormir aquela noite. Sentem-se vigiadas! Veem sombras, vultos, sussurros, gemidos e resfolegar de alguém quando está sufocado. É um tormento, muitos choram lágrimas sentidas de dor e arrependimento, dariam tudo e mais um pouco se pudessem não ter feito o que fizeram. Matar o seu próximo! Por isso que Deus deu uma vida para cada um, para ninguém roubar ou tirar a do outro. Mas pelo relato dos presentes não tivestes outra
alternativa, senão matá-lo. Sabia que na mata que macacos dançam, quando aparece
onça, ela acaba com o baile? Fim do baile pessoal, arrematou o cabo velho! A
mulher que intervira na briga em defesa do mocinho vindo abraçou-o com lágrimas nos olhos dizendo: Lastimo, lamento muito minha
participação mesmo sendo indireta na morte deste homem! Nunca imaginei que isso fosse dar
no que deu, mas já que aconteceu! Vamos embora daqui, juntos reconstruiremos nossas
vidas, e um dia alcançaremos o perdão Divino. E a situação do mocinho acabou
prevalecendo como a lei do velho oeste nos filmes de faroeste ou bang e bang:
Quando o Xerife ouve as testemunhas julga a causa e diz: Coveiro, tome dois
dólares, sepulte o morto! Não houve assassinato! Foi em legítima defesa! FIM.....
"COISAS DE
CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"
Anastácio MS 16/10/2017
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