sábado, 6 de fevereiro de 2016

UMA AVENTURA NO DESERTO!

                                       

Num dia destes o cordeiro amanheceu muito pensativo e falando com seus botões, a ovelha vendo-o assim apreensivo perguntou-lhe o que era que tinha. Ele respondeu: Pensando numa viagem maravilhosa que sonhei esta noite que fazíamos, era um grupo de animais de nossa comunidade. Do nosso circulo de amizades, aqui ao redor. Então porque não fazemos? O que é que falta? Vamos nos organizar então! O cordeiro pensou e repensou, vamos sim, concluiu! Foi na invernada e falou com o touro e a esposa que tinha um bezerrinho novo, com o cavalo, o galo, o pato, o peru, o ganso, o gato, o papagaio, o jumento, o bode, o camelo, e o pavão, achou que já tinha formado a comitiva com esta turma e convocou-os para uma reunião no estábulo naquela manhã, ninguém podia faltar, era de muita importância para todos. Expondo sua ideia, todos o ouviram atentamente. Acharam muito oportuna esta viagem inda mais sendo num final de ano a data era 27 de Dezembro. O destino seria a pequenina cidade de Belém. Mas o que vamos fazer nesta cidadezinha? Perguntou o peru! É que lá nasceu o menino Jesus, e nós vamos visitá-lo, replicou o cordeiro. Agora pela manhã recebi a noticia de fonte segura, confirmando que o meu sonho foi real. Ah! sim. Agora entendi atalhou o galo. Festa em família não é? Nossas esposas vão também? Claro que sim, completou o cordeiro. Então vamos traçar os planos da viagem, estudaremos juntos os pormenores, ver as incertezas, dúvidas, o horário de saída e a distância a ser percorrida e o horário de chegada ao destino. Era muito longe, dava uma jornada de 12 horas sem interrupção, não tinha atalho nenhum. Ainda por cima era num deserto, e o sol causticante? Os ventos com poeira? Rajadas de um calor sufocante em certas horas do dia. Que horas sairiam? Será que todos suportariam a fadiga da viagem? Estariam preparados para esta aventura? Precisavam pensar bem para não tornar a viagem num suplicio para os mais fracos. Alguém cansaria com certeza, não poderiam de forma alguma abandonar uns aos outros. Sair juntos e chegarem juntos. Ninguém poderia ficar na arribada. Seria muito perigoso. A travessia do deserto era difícil, precisavam de cautela. De fôlego, de saúde e resistência física para aguentar a viagem. Na reunião trataram de tudo e ficaram todos pensativos, mas de comum acordo, ninguém falharia. O camelo foi o primeiro a argumentar: Bem no meio do trecho tem um oásis, sabem o que é isso? Não, disseram todos. É uma mina de agua bem fresquinha, um olho d’agua ladeado por matos, arbustos e coqueiros para conservação do mesmo. Tem até sombras ao redor. Ele não seca em tempos nenhum! Já passei por lá em viagem com o patrão. Ponto de parada obrigatória. Daqui lá dá 6 horas de marcha. Até Belém são mais 6 horas. Então fica fácil entender dissera o cavalo. Verdade assentiu o burro. Depende da hora da partida, senão ficará pesada a jornada para alguns de nós. O bode disse: Para mim e a minha velha, não há problemas, nós somos de região sêca. E as aves que nos acompanham? Elas tem perninhas curtas, com certeza vão cansar primeiro. O pavão cortou-o: Se precisar eu alço um voo. E os outros que não voam? Como é que ficam? Perguntou o cavalo! Quem dá carona para eles? Algum de nós ainda terá que levar matula para todos. Capim verdinho, milho, forragem, feno, mandioca em crueira, frutas como bananas, melancia, melões e outras que contém agua, vitaminas e sais minerais para nossa resistência ser maior, teremos que levar muita coisa, somos muitos para comer, levaremos nas bruacas de cargueiro, aquelas próprias dos boiadeiros, cabaças de agua atreladas e uma cuia para por a agua para todos beberem no transcurso da viagem e saciarem a sede até no oásis. Esta tarefa é minha, do burro e do camelo. Levar víveres para no mínimo dois dias. Lá a gente abastece de agua para chegar até Belém. O gato estava sentado assistindo os animais falarem e argumentou: Tem uma coisa que ninguém lembrou: No oásis ninguém pode tomar banho dentro da mina, ganso e o pato gostam de fazer isso quando vê agua. Pode banhar sim, para descansar da fadiga, mas só de caneco. Um carrega agua para o outro numa vasilha, até que todos se lavem. Muita solidariedade no grupo. O pato ficou bicudo ouvindo isso. No deserto de dia é quente e de noite esfria muito. Estejamos preparados então.   Sim, tem outra coisa, não vamos levar nenhum presente para o recém-nascido? Todos irem de mãos abanando não está certo! Não podemos mesmo ir assim sem nada, completou o papagaio. Cada um escolhe um presentinho diferente do outro. Aí sim! A galinha disse: Eu levo ovos fresquinhos para alimentar o nenê. A pata também disse o mesmo. O pavão disse: Abrirei as minhas asas para o nenê se divertir com minhas lindas penas. O ganso disse: Sou o melhor vigia que existe, se lembram dos meus antepassados do Capitólio? A cabra disse: Darei leite para ele. A vaca daria leite para todos, mamãe, papai e o neném. O jumento disse: Eu dou carona para a família Divina a hora que precisar. A ovelha disse: A minha lã vai aquecer toda a família á noite, lá é muito frio. Nós também oferecemos montaria em caso de precisarem viajar longe, foi o que disse o burro, cavalo e o camelo. A perua falou: Meus ovinhos são muito nutritivos para o neném. A gata falou: Vou fazer carinho no bebezinho e roncar para ele dormir feliz. Os louros disseram: Vamos cantar “Currupaco” assoviar e conversar com o bebê. O cão e a cadela dando por falta dos animais, farejou o chão e foi até lá no estábulo e viu a reunião animada, deitou-se no chão do lado de fora e ficou ouvindo tudo. Ninguém se lembrou dele e da sua esposa com os seus dois filhos já grandes. Quando terminou a reunião que iam saindo o cão perguntou ao cordeiro: Porque não se lembraram de nós os cães? Nenhum de vocês gosta mais de crianças do que nós! Sabiam disso? Nós iremos também, mesmo sem sermos convidados! Pode ter certeza disso! Foi um reboliço! Protestaram: Só vai quem foi convidado, intrusos não vão. Disseram quase todos, menos o cavalo, o burro e o camelo. Estes disseram aos demais: Seria bom se os cães fossem também, eles são ótimos companheiros de viagem. O patrão e nós quando viajamos os levamos sem falta. Mas o chefe da comitiva é o cordeiro, só ele dá a palavra final. Continuaram obstinados em não levar os cães. O cordeiro ficou pensativo, mas não disse nada a respeito dos cães. O louro perguntou aos contrários: Por que esta discriminação aos cães? O que há de mal neles? Dando uma forcinha para seus amigos do mesmo terreiro. O pato tomou peito e retrucou: Os cães não tem educação, peidam em qualquer ambiente. Nem pedem licença para fazer isso. E lá tem um recém-nascido, agora ele vai ficar respirando peido? Acha que pode? Não pode ir mesmo e pronto! Formaram um bate-boca entre o pato e o cão. Este disse: E você pato que caga pelo terreiro todo, lambuza por onde passa! O que me diz? Kkkkkkkkkkkkkkkk. Todos riram a beça. O pato e o cão foram os únicos que não riram. O cordeiro disse: Parem com isso! Silenciou tudo. O cordeiro emendou: Faremos a jornada em dois turnos. Sairemos amanhã após as 12 horas. Ao anoitecer estaremos no oásis, lá nós acamparemos, descansaremos á noite, e muito cedo lá pelas 3 horas da madrugada levantaremos acampamento e chegaremos bem antes da dez horas em Belém viajaremos com a fresca da manhã. Acabada a reunião saíram todos, cada um foi cuidar da vida e do seu trabalho. Nada se comentou depois. Chegando em sua casa a cadela disse ao marido: E agora meu velho, que faremos? Nós iremos de qualquer jeito, eles são orgulhosos e trouxas se quer saber. Respondeu o cão, Na travessia do deserto há perigos e eles nem nisso pensaram. Já passei por lá e conheço tudo. A noite tem coiotes, lobos, raposas, gambás, que vem beber no oásis, corujões que vem de longe, de dia tem abutres, águias sobrevoando o deserto em busca de animais mortos que perecem na travessia, malucos de fome atacam os vivos também. Nenhum deles sabe se defender, se os coiotes ou lobos os atacarem. E as aves? Mais indefesas ainda. Vamos ajudá-los sem que eles percebam. Na hora do perigo irão tremer, ai nos os salvaremos. Fazer favor não custa nada para nós e nossos dois filhos que estão grandes. Admiro eles armarem contendas conosco, baita ignorância, somos todos iguais. Cada um tem seus préstimos, todos nós somos úteis. Ninguém é inútil como muitos pensam. Defeitos e falhas, quem não tem? Faremos o seguinte: Eles saem e nós observamos, depois de uma hora de viagem iremos atrás deles. Os alcançaremos num piscar de olhos. Duvido que eles façam a gente voltar. Kkkkkkkkkkkkkkkk. Assim fizeram, a turma estava bem adiante quando olharam para trás e viram os quatro cães se aproximando deles. Chegaram felizes abanando os rabos. E agora, o que fazer? Perguntaram! Nada! Foi o que o cordeiro falou. Não adianta brigar com eles agora. Eles não voltarão! Vamos todos e pronto! Os contrários ficaram calados. De quando em quando viam nos ares águias, urubus, falcões, cancões, carcarás, gaviões se aproximando, cada um deste tamanho. As aves gelaram ao ver seus predadores sobrevoando-os com vontade de atacá-los. Rodeavam lá das alturas, davam rasantes, calculando como fariam para janta-los, os únicos que atrapalhavam eles eram os quatro cães que ficavam ao redor da comitiva. Estes olhavam para cima e latiam metendo medo neles. Nenhum se atreveu a dar um bote nas aves. Chegando no oásis já cansados fizeram a parada, todos sentaram e deitaram no chão para descansar. Lá vem a noite e com ela se ouvia uivos de coiotes, lobos e até outros felinos famintos, gambás, corujões e outros. A comitiva agrupou num só lugar, uns protegendo os outros, os maiores faziam parede e os pequenos tudo embolado encostando um no outro, tremiam de tanto medo, as aves então, nem piavam, o pato então, nem cagou de tanto medo. Comeram, beberam agua e se preparavam para dormir quando um coiote uivou bem pertinho deles, dois dos cães saíram em sua perseguição e o afugentou para longe. Os outros dois ficaram de guarda. Os cães disseram a todos: Pode ir dormir, nós vigiaremos vocês. Ninguém nos atacará. Só que os cães não pregaram os olhos durante a noite, toda hora ouviam barulho dos predadores aproximando, latiram a noite toda. Quando foi madrugada levantaram acampamento, seguiram a viagem em paz. Nada os incomodou até o fim da viagem. Na viagem de regresso aos seus lares transcorreu tudo em paz também. Os que protestaram contra os cães, nem olhavam nos seus rostos de tanta vergonha que passaram. Os demais conversavam o tempo todo com os cães. Afinal o burro, camelo e cavalo eram dos cães velhos amigos de viagem. Um deles observou e falou na frente de todos; Imagino se os cães não tivessem vindo conosco! O que seria de muitos de nós?


CONTO  ENDEREÇADO ÁS CRIANÇAS QUE GOSTAM DE HISTÓRIAS ASSIM.
NOSSOS PAIS CONTAVAM PARA NÓS QUANDO ÉRAMOS PEQUENOS.
“COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES” NOSSA CULTURA SERTANISTA.
ANASTACIO MS, 26/01/2015