Num dia destes o cordeiro
amanheceu muito pensativo e falando com seus botões, a ovelha vendo-o assim
apreensivo perguntou-lhe o que era que tinha. Ele respondeu: Pensando numa
viagem maravilhosa que sonhei esta noite que fazíamos, era um grupo de animais
de nossa comunidade. Do nosso circulo de amizades, aqui ao redor. Então porque
não fazemos? O que é que falta? Vamos nos organizar então! O cordeiro pensou e
repensou, vamos sim, concluiu! Foi na invernada e falou com o touro e a esposa
que tinha um bezerrinho novo, com o cavalo, o galo, o pato, o peru, o ganso, o gato,
o papagaio, o jumento, o bode, o camelo, e o pavão, achou que já tinha formado
a comitiva com esta turma e convocou-os para
uma reunião no estábulo naquela manhã, ninguém podia faltar, era de muita
importância para todos. Expondo sua ideia, todos o ouviram atentamente. Acharam
muito oportuna esta viagem inda mais sendo num final de ano a data era 27 de
Dezembro. O destino seria a pequenina cidade de Belém. Mas o que vamos fazer
nesta cidadezinha? Perguntou o peru! É que lá nasceu o menino Jesus, e nós vamos
visitá-lo, replicou o cordeiro. Agora pela manhã recebi a noticia de fonte
segura, confirmando que o meu sonho foi real. Ah! sim. Agora entendi atalhou o
galo. Festa em família não é? Nossas esposas vão também? Claro que sim,
completou o cordeiro. Então vamos traçar os planos da viagem, estudaremos
juntos os pormenores, ver as incertezas, dúvidas, o horário de saída e a
distância a ser percorrida e o horário de chegada ao destino. Era muito longe,
dava uma jornada de 12 horas sem interrupção, não tinha atalho nenhum. Ainda
por cima era num deserto, e o sol causticante? Os ventos com poeira? Rajadas de
um calor sufocante em certas horas do dia. Que horas sairiam? Será que todos
suportariam a fadiga da viagem? Estariam preparados para esta aventura? Precisavam
pensar bem para não tornar a viagem num suplicio para os mais fracos. Alguém
cansaria com certeza, não poderiam de forma alguma abandonar uns aos outros.
Sair juntos e chegarem juntos. Ninguém poderia ficar na arribada. Seria muito
perigoso. A travessia do deserto era difícil, precisavam de cautela. De fôlego,
de saúde e resistência física para aguentar a viagem. Na reunião trataram de
tudo e ficaram todos pensativos, mas de comum acordo, ninguém falharia. O
camelo foi o primeiro a argumentar: Bem no meio do trecho tem um oásis, sabem o
que é isso? Não, disseram todos. É uma mina de agua bem fresquinha, um olho
d’agua ladeado por matos, arbustos e coqueiros para conservação do mesmo. Tem
até sombras ao redor. Ele não seca em tempos nenhum! Já passei por lá em viagem
com o patrão. Ponto de parada obrigatória. Daqui lá dá 6 horas de marcha. Até
Belém são mais 6 horas. Então fica fácil entender dissera o cavalo. Verdade
assentiu o burro. Depende da hora da partida, senão ficará pesada a jornada
para alguns de nós. O bode disse: Para mim e a minha velha, não há problemas,
nós somos de região sêca. E as aves que nos acompanham? Elas tem perninhas
curtas, com certeza vão cansar primeiro. O pavão cortou-o: Se precisar eu alço
um voo. E os outros que não voam? Como é que ficam? Perguntou o cavalo! Quem dá
carona para eles? Algum de nós ainda terá que levar matula para todos. Capim
verdinho, milho, forragem, feno, mandioca em crueira, frutas como bananas,
melancia, melões e outras que contém agua, vitaminas e sais minerais para nossa
resistência ser maior, teremos que levar muita coisa, somos muitos para comer,
levaremos nas bruacas de cargueiro, aquelas próprias dos boiadeiros, cabaças de
agua atreladas e uma cuia para por a agua para todos beberem no transcurso da
viagem e saciarem a sede até no oásis. Esta tarefa é minha, do burro e do
camelo. Levar víveres para no mínimo dois dias. Lá a gente abastece de agua
para chegar até Belém. O gato estava sentado assistindo os animais falarem e
argumentou: Tem uma coisa que ninguém lembrou: No oásis ninguém pode tomar
banho dentro da mina, ganso e o pato gostam de fazer isso quando vê agua. Pode
banhar sim, para descansar da fadiga, mas só de caneco. Um carrega agua para o
outro numa vasilha, até que todos se lavem. Muita solidariedade no grupo. O pato
ficou bicudo ouvindo isso. No deserto de dia é quente e de noite esfria muito.
Estejamos preparados então. Sim, tem outra
coisa, não vamos levar nenhum presente para o recém-nascido? Todos irem de mãos
abanando não está certo! Não podemos mesmo ir assim sem nada, completou o
papagaio. Cada um escolhe um presentinho diferente do outro. Aí sim! A galinha
disse: Eu levo ovos fresquinhos para alimentar o nenê. A pata também disse o
mesmo. O pavão disse: Abrirei as minhas asas para o nenê se divertir com minhas
lindas penas. O ganso disse: Sou o melhor vigia que existe, se lembram dos meus
antepassados do Capitólio? A cabra disse: Darei leite para ele. A vaca daria
leite para todos, mamãe, papai e o neném. O jumento disse: Eu dou carona para a
família Divina a hora que precisar. A ovelha disse: A minha lã vai aquecer toda
a família á noite, lá é muito frio. Nós também oferecemos montaria em caso de
precisarem viajar longe, foi o que disse o burro, cavalo e o camelo. A perua
falou: Meus ovinhos são muito nutritivos para o neném. A gata falou: Vou fazer
carinho no bebezinho e roncar para ele dormir feliz. Os louros disseram: Vamos
cantar “Currupaco” assoviar e conversar com o bebê. O cão e a cadela dando por
falta dos animais, farejou o chão e foi até lá no estábulo e viu a reunião
animada, deitou-se no chão do lado de fora e ficou ouvindo tudo. Ninguém se
lembrou dele e da sua esposa com os seus dois filhos já grandes. Quando
terminou a reunião que iam saindo o cão perguntou ao cordeiro: Porque não se
lembraram de nós os cães? Nenhum de vocês gosta mais de crianças do que nós!
Sabiam disso? Nós iremos também, mesmo sem sermos convidados! Pode ter certeza
disso! Foi um reboliço! Protestaram: Só vai quem foi convidado, intrusos não
vão. Disseram quase todos, menos o cavalo, o burro e o camelo. Estes disseram
aos demais: Seria bom se os cães fossem também, eles são ótimos companheiros de
viagem. O patrão e nós quando viajamos os levamos sem falta. Mas o chefe da
comitiva é o cordeiro, só ele dá a palavra final. Continuaram obstinados em não
levar os cães. O cordeiro ficou pensativo, mas não disse nada a respeito dos
cães. O louro perguntou aos contrários: Por que esta discriminação aos cães? O
que há de mal neles? Dando uma forcinha para seus amigos do mesmo terreiro. O
pato tomou peito e retrucou: Os cães não tem educação, peidam em qualquer
ambiente. Nem pedem licença para fazer isso. E lá tem um recém-nascido, agora
ele vai ficar respirando peido? Acha que pode? Não pode ir mesmo e pronto!
Formaram um bate-boca entre o pato e o cão. Este disse: E você pato que caga
pelo terreiro todo, lambuza por onde passa! O que me diz? Kkkkkkkkkkkkkkkk.
Todos riram a beça. O pato e o cão foram os únicos que não riram. O cordeiro
disse: Parem com isso! Silenciou tudo. O cordeiro emendou: Faremos a jornada em
dois turnos. Sairemos amanhã após as 12 horas. Ao anoitecer estaremos no oásis,
lá nós acamparemos, descansaremos á noite, e muito cedo lá pelas 3 horas da
madrugada levantaremos acampamento e chegaremos bem antes da dez horas em Belém
viajaremos com a fresca da manhã. Acabada a reunião saíram todos, cada um foi
cuidar da vida e do seu trabalho. Nada se comentou depois. Chegando em sua casa
a cadela disse ao marido: E agora meu velho, que faremos? Nós iremos de
qualquer jeito, eles são orgulhosos e trouxas se quer saber. Respondeu o cão,
Na travessia do deserto há perigos e eles nem nisso pensaram. Já passei por lá
e conheço tudo. A noite tem coiotes, lobos, raposas, gambás, que vem beber no
oásis, corujões que vem de longe, de dia tem abutres, águias sobrevoando o
deserto em busca de animais mortos que perecem na travessia, malucos de fome atacam
os vivos também. Nenhum deles sabe se defender, se os coiotes ou lobos os
atacarem. E as aves? Mais indefesas ainda. Vamos ajudá-los sem que eles
percebam. Na hora do perigo irão tremer, ai nos os salvaremos. Fazer favor não
custa nada para nós e nossos dois filhos que estão grandes. Admiro eles armarem
contendas conosco, baita ignorância, somos todos iguais. Cada um tem seus
préstimos, todos nós somos úteis. Ninguém é inútil como muitos pensam. Defeitos
e falhas, quem não tem? Faremos o seguinte: Eles saem e nós observamos, depois
de uma hora de viagem iremos atrás deles. Os alcançaremos num piscar de olhos.
Duvido que eles façam a gente voltar. Kkkkkkkkkkkkkkkk. Assim fizeram, a turma
estava bem adiante quando olharam para trás e viram os quatro cães se
aproximando deles. Chegaram felizes abanando os rabos. E agora, o que fazer?
Perguntaram! Nada! Foi o que o cordeiro falou. Não adianta brigar com eles
agora. Eles não voltarão! Vamos todos e pronto! Os contrários ficaram calados.
De quando em quando viam nos ares águias, urubus, falcões, cancões, carcarás,
gaviões se aproximando, cada um deste tamanho. As aves gelaram ao ver seus
predadores sobrevoando-os com vontade de atacá-los. Rodeavam lá das alturas,
davam rasantes, calculando como fariam para janta-los, os únicos que
atrapalhavam eles eram os quatro cães que ficavam ao redor da comitiva. Estes
olhavam para cima e latiam metendo medo neles. Nenhum se atreveu a dar um bote
nas aves. Chegando no oásis já cansados fizeram a parada, todos sentaram e
deitaram no chão para descansar. Lá vem a noite e com ela se ouvia uivos de
coiotes, lobos e até outros felinos famintos, gambás, corujões e outros. A
comitiva agrupou num só lugar, uns protegendo os outros, os maiores faziam
parede e os pequenos tudo embolado encostando um no outro, tremiam de tanto
medo, as aves então, nem piavam, o pato então, nem cagou de tanto medo.
Comeram, beberam agua e se preparavam para dormir quando um coiote uivou bem
pertinho deles, dois dos cães saíram em sua perseguição e o afugentou para
longe. Os outros dois ficaram de guarda. Os cães disseram a todos: Pode ir
dormir, nós vigiaremos vocês. Ninguém nos atacará. Só que os cães não pregaram
os olhos durante a noite, toda hora ouviam barulho dos predadores aproximando,
latiram a noite toda. Quando foi madrugada levantaram acampamento, seguiram a
viagem em paz. Nada os incomodou até o fim da viagem. Na viagem de regresso aos
seus lares transcorreu tudo em paz também. Os que protestaram contra os cães,
nem olhavam nos seus rostos de tanta vergonha que passaram. Os demais
conversavam o tempo todo com os cães. Afinal o burro, camelo e cavalo eram dos
cães velhos amigos de viagem. Um deles observou e falou na frente de todos;
Imagino se os cães não tivessem vindo conosco! O que seria de muitos de nós?
CONTO ENDEREÇADO ÁS
CRIANÇAS QUE GOSTAM DE HISTÓRIAS ASSIM.
NOSSOS PAIS CONTAVAM PARA
NÓS QUANDO ÉRAMOS PEQUENOS.
“COISAS DE CABOCLO DE
LUIZÃO-O-CHAVES” NOSSA CULTURA SERTANISTA.
ANASTACIO MS, 26/01/2015
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