domingo, 24 de novembro de 2013

O ENCONTRO DO LEÃO COM O BICHO-HOMEM


Logo após ter presidido a reunião da bicharada embaixo da figueira grande, onde o assunto era as reclamações dos bichos, inerente ás perseguições do homem para com eles, o Leão resolveu ir sozinho conhecer e enfrentar o bicho homem, para um tira-teima, ouvira falar que o homem era soberano na terra, ele o Leão era soberano na selva ou no reino da bicharada. O Leão sabia que o primeiro de tudo era Deus criador de todas as coisas boas e animais bons. Não conformava em ser o terceiro colocado na terra, queria ser o segundo porque toda a selva lhe pertencia por direito, o homem se quisesse, que ficasse com a terceira colocação. Então ai surgiu o desencontro das opiniões. Nada mais certo do que tirarem a dúvida. Seria num duelo limpo sem trapaças. Mediriam as forças, cada um mostrando o seu poder de luta, domínio e inteligência para governar. O vencedor ficaria em segundo lugar. Todos os bichos ficaram cientes do que estava para acontecer entre os dois. Todos os felinos aconselharam o Leão a desistir daquela ideia. O homem era muito perigoso, cheio de truques, estratégia de guerra e lutas, portanto era invencível. Não valeria a pena o Leão se arriscar tanto, não lograria êxito na disputa. Convinha ficar quieto que seria melhor. Homem não é brincadeira, diziam os outros bichos que o conheciam por terem escapado de suas artimanhas, perseguições, balaços e armadilhas. Mas o Leão não cria em conversas, queria ver com os próprios olhos. Então vá! Disseram eles. Não queixe depois! Saiu mata afora andando e olhando tudo, via vestígios do homem nas matas, carreadores, picadas, clareiras, roçados, limpeza na beira dos rios, lagos, córregos matas derrubadas e estradas até. Resolveu esperar o bicho-homem em um lugar que por certo ele passaria, era na beira de uma carreteira meada por um caminho mais batido pelo meio. Sentou-se e esperou calmamente, de repente, surgiu uma velha que vinha para casa com  um embornal contendo vasilhas do almoço , ela vinha da roça. Isso era já de tardezinha, lá pelas quatro horas ou mais. Fitou aquela figura e pensou: Deve ser o bicho-homem! Deu um salto felino na frente da velha que quase desmaiou de susto, Indagou: É você o guerreiro, bicho-homem? Ela disse: Não sou guerreira! Sou a mãe de um e esposa do outro! Daqui a pouco ele passa. Daí a pouco vem um garoto de uns dez anos, o Leão rosnou e o moleque deu um grito que amoleceu as pernas de susto. Tu sois, o guerreiro  bicho-homem? Não, disse o moleque! Sou filho dele! Ele está vindo ai! O Leão aguardou mais um pouco, lá longe vinha um tipo diferente maior que a velha e o garoto, deve ser o tal, pensou o Leão. A figura chegou, o Leão deu um salto na frente dela, seguido de um esturro. Perguntou: É você o guerreiro, bicho-homem? O velho deu um salto de banda e disse: Não pense que sou filho de pai assombrado, puxou de um facão e o brandiu no ar. Disse ao Leão: Já fui bicho-homem, hoje estou muito velho, não guerreio mais, mas sou o pai dele. Ele vem aí, espere só mais um pouquinho e verás! O Leão sentou de novo e ficou espiando para o caminho ao longe, divisou um baita negão acompanhado por três enormes cães de caça, com uma espingarda a tiracolo, um facão balançando do outro lado, chapéu de palha deste tamanho, barba crescida, cabeludo e calçando uma alparcata, pitava um cigarro de fumo de corda, baforando para cima e olhando para todos os lados, desconfiado que só ele. Não foi surpreendido pelo leão, viu-o de longe, fingiu nada ter visto. O leão saltou na sua frente. O negão puxou do facão e escorou o felino, dizendo: Você está doido, bicho? Está querendo morrer? Não venha, porque te corto igual um salame! Os cães avançaram no Leão, mas o negão ralhou com eles, O leão perguntou-lhe: És tu, o guerreiro bicho-homem?  Estes aí,  que fazem?  Sim, sou eu!  Disse o bicho-homem. Estes são meus auxiliares, eles estraçalham tudo que eu mandar. Porque quer saber? Pergunta o negão! É porque te aguardo aqui para tirar uma dúvida, vamos para um duelo, quem vencer, dominará tudo abaixo de Deus. Você persegue os animais da mata, eu não gostei nada disso que você faz. Lá na mata quem manda, sou eu! Disse o leão! Você invadiu o meu território! Dois mandarem num espaço só, está errado. Um terá que sair, e de qualquer jeito! Por bem ou por mal! Está bem, falou o negão, vamos lá! Como faremos? Eu darei três esturros perto de você, se tremer estará derrotado. Farás o mesmo comigo, disse o Leão! O que fraquejar dará a coroa de rei para o outro. Se houver empate, decidiremos de outra forma. Combinado dissera o bicho-homem! Então o Leão abriu o par de queixos e esturrou forte. O negão nem se importou com o barulho que chegou a estremecer a terra, estrondando na mata, onde tudo silenciou, foi o segundo e o terceiro e nada do bicho-homem assustar. Agora é a sua vez disse o Leão: O Negão bicho-homem disse: Não vou fazer nada além de um espirro com este negócio aqui, apontando a espingarda para o lado do Leão que nem imaginava o que poderia acontecer. Nunca tinha visto aquele tareco e muito menos aquilo funcionar!  Apontando para a paleta do Leão, de propósito só para raspar o seu couro com uma camada de chumbo fino. Engatilhou a arma, segurou firme e lascou fogo no Leão. Foi um estrondo seguido de um tombo que o leão levou, que nem viu a hora que caiu, nem a que levantou. Saiu louco de dor e surdo com aquele estampido que quase lhe estoura os ouvidos, e abalou os miolos, entrou mata adentro correndo só com três patas. Uma delas pendurada, ferida e escorrendo sangue. E os três cães na culatra dele. Com essa o Leão não quis saber quem era bicho-homem e nem se guerreava. Guardou a cara na mata rasgando cipoal, espinhos de caraguatá, arranha-gato, urtigas, cansanção, japecanga, espinheira de tucum, rompe-gibão. Tudo o que tinha pela frente levava no peito. Só parou muito adiante já no pé da serra, cansado de correr, todo arranhado e sangrando, deitou-se embaixo de uma pateira de folhas largas e secas que forravam o chão, debatendo e urrando de dor. Passou a noite gemendo e lamentando o que lhe acontecera. Dali a três dias foi que a onça o encontrou magro, faminto e desolado da vida, deitado no mesmo lugar. A onça lhe perguntou o que havia acontecido com ele para estar num sofrimento desses! Respondeu muito sem graça: Encontrei o bicho-homem, este é o resultado da minha teimosia! Não te falei, disse a onça! O homem é terrível, ninguém o vence! E como ficou a disputa? Indagou a onça! Sei lá de disputa! Me deu um espirro, e eu cai cego e surdo no chão! Tive que sair de qualquer jeito da frente dele, senão me mataria! Nunca mais quero vê-lo. Nem me importo que ele seja o segundo depois de Deus. Avise os bichos que cada um se defenda como puder das garras dele. Estamos irremediavelmente perdidos, isso sim! Salve-se quem puder!
MORAL; QUEM NÃO OUVE CONSELHO, OUVE COITADO!
SE CONSELHO FOSSE VENDIDO, QUEM COMPRASSE VALORIZAVA!
CONTOS QUE CONTAMOS PARA DIVERTIR AS CRIANÇAS!
LUIZÃO-O-CHAVES.........ANASTACIO  MS.


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