sábado, 30 de novembro de 2013

UM AMOR SÁBIO VENCEU A MESQUINHEZ


Tempos antigos que se foram para nunca mais voltar, juntamente com os bons costumes e honradez, pessoas de pouca cultura, pouco saber e conhecimentos parcos, mas de pessoas que em muitos casos tinham muita sabedoria. Os modernos chamam aqueles tempos de: “Tempos do Êpa”. Seja lá com for, dá saudades para quem alcançou mesmo pouquinho, destas riquezas que hoje não existe mais. Sem exagero em comentar, homens e mulheres com muita dignidade e honradez, respeito e vergonha com abundancia, crianças educadas, jovens felizes, longevidade, casais com prole de dar admiração se o povo de hoje vissem. Fartura nas mesas, serviços para todos, desde crianças já trabalhavam com os pais, tempos de muita saúde no mundo. Salvo uma ou outra vez surgiam guerras, no mais era muita paz entre os povos, as nações e no mundo. As moças eram caipiras, tinham vergonha de olhar um moço de perto, eles também tolos de dar dó. Os casamentos eram na sua maioria, arranjados pelos pais, tios,  avós,  compadres, padrinhos e madrinhas. Dava muito certo mesmo, e quando casavam, viviam até quando um dos cônjuges morresse. Separação? Não era assunto para ninguém. As famílias eram numerosas, os filhos só saiam de casa  casados, do contrario não! Então conta-se um caso de uma moça que estava lá pelos seus quase trinta anos de idade. Seus irmãos todos casaram e ficando ela por derradeira, o seu pai fazia de tudo para que nunca se casasse, fazia-lhe todos os gostos. Se surgia algum rapaz para namorá-la com intenção de casamento, os seus pais, ou se arranjado por alguns da família, porque achavam que já era hora de se casar. O velho pai dava sempre uma desculpa, não dá filha! Não dava certo e pronto! Ele a queria somente porque era muito serviçal, tanto em casa quanto na roça, era um peão e tanto para ele, então estava difícil para ela se casar. Depois de muitas tentativas ela se acomodou, mas o destino é caprichoso e o cupido vem na hora certa. Surgiu um moço muito distinto, delicado que se tornou o sonho dela. Pensou consigo! Agora ou nunca! Muito a contragosto o pai aceitou o pedido da mão dela em casamento. Ficou muito feliz! Ele também! Depois de tudo acertado nos mínimos detalhes para o casamento, no mês de Junho estava um frio de dar medo. Faltava um mês e pouco para realizar o casório, o rapaz veio fazer uma visita aos futuros sogros e aproveitar as festas Juninas; o velho armou um quengo para despistar e desencorajar o moço fazendo-o desistir do intento. A noite estava muito fria, apesar de estarem na beira da fogueira. Dissera ao rapaz: Você terá que suportar a friagem desta noite ali em cima daquele galpão, sentado na cumieira, só com este casaco. Nada mais! Se aguentar o frio da noite, casarás com minha filha. Se não aguentar e descer, pode ir embora, acabou-se o casamento! A pobre moça ficou em prantos lá no quarto, ante a atitude do pai para com o rapaz. A pobre mãe então, perdera toda a alegria, olhou para o velho que estava sisudo, o pobre rapaz gelou antes de sentir o frio esperado. Pensou a vida, refletiu na proposta maléfica do velho, concluiu com uma tristeza? Estou perdido! Resolveu aceitar, puxa vida! Já vim até aqui, irei até o final! Seja o que Deus quiser! Jantaram, esquentaram um pouco na fogueira até mais tarde. Lá pela meia noite, o velho deu a ordem: Pode subir lá! O rapaz subiu, pensando no que poderia acontecer, parece que cairia geada naquela noite de tão fria estava. A fogueira ficava uns dez metros do galpão. O velho não dormiria, ficaria de guarda sentado na beira do fogo enrolado num cobertor e tomando café o resto da noite. A moça, coitada nem dormiu! Pensando no sofrimento do seu amado! Aquilo era uma perversidade do pai, um negócio deste! Mas que fazer? Nada! Esperou o dia amanhecer! Lá pelas tantas o rapaz esfregava uma mão na outra e depois no rosto. Vendo o fogo de longe, teve uma ideia! Abria as mãos, espalmando-as, estendia os braços na direção dele, com se o calor alcançasse as palmas das mãos, em seguida passava-as no rosto. Assim passou o resto da madrugada. Amanheceu o dia. Duro de frio, que foi preciso ajudá-lo a descer do galpão. Triste, mas sentindo-se vitorioso. A moça levantou-se também, banharam o rosto, tomaram café, comeram. Depois foram para a sala conversar sobre o casamento. Ela, a mãe, o rapaz e o velho! Então meu rapaz, como se sente? Disse o velho! Acho que venci o frio, senhor? Respondeu ele animado! E o que o senhor tem a dizer? Replicou o moço! Nada! Apenas que o senhor, perdeu, disse o velho! De cá eu vi esquentando as mãos no fogo! Não foi?  Assim não vale! Foi mesmo que matar o rapaz, com uma punhalada no coração! A moça então, nem chorou mais, de tamanho susto! A velha disse: Tem dó deles, meu velho!  Sacrificou tanto? Para nada? Já falei! Disse o velho! Todos se calaram, estava tudo perdido! Nada feito! O velho acendeu um cigarro, soltou uma baforada e disse á filha: Va na dispensa e pegue um pedaço de carne seca, bem boa e asse para o moço levar de matula, porque daqui a pouco ele viajará de volta para sua casa. Ela obedeceu, com o instinto de uma guerreira que não esmorece na primeira batalha e nem na última. Arranjou um espeto, enfiou na carne, espalhou as brasas da fogueira e depois colocou o espeto de ponta no chão, com uns dois metros de distancia das brasas. Foi lá para dentro conversarem mais um pouco, só que eles estranharam a atitude dela, parecia tão feliz, ao passo que o moço sofria que dava dó. A mãe sofria com o rapaz, mas calada. Mãe é mãe, e naquela hora era duas vezes mãe! Estava demorando assar, o velho perguntou: Já assou? A moça disse: Não ainda, espere mais um pouco! Demorou outro tanto. O velho perdeu a paciência, e gritou: Anda logo, menina! Espera aí pai? Ainda não assou! Replicou ela de novo. O velho levantou-se bravo, foi até ao fogo, quando viu a distancia da carne até ao fogo, gritou: Isso nunca vai assar! Sua maluca! Olhe a distancia das brasas! Nem esquentou a carne! Quanto mais assar? Pegue para você ver? A moça, educadamente e com calma disse: O espeto de carne eu deixei a dois metros do fogo de propósito, só para o senhor ver que nunca ia assar. Agora na distância do galpão até a fogueira as mãos do meu amor, será que esquentaram? As mãos dele estavam a mais de dez metros da fogueira. O que é que o senhor quer agora, meu pai? Sabia que o peixe morre pela boca? Sois  um derrotado meu estimado pai, não por mim sua filha, mas pelas suas próprias conclusões. Não teve outro remédio para o velho, a não ser realizar o casamento a contento dos noivos felizes. A mãe então, rejubilando de alegria, e o velho teve que engolir a sua mesquinhez. Foram muito felizes! Viveram longe dali, só vinham visitá-los em época de festas, Dezembro e Janeiro!   E Junho? Nunca mais!
MORAL: O AMOE É IGUAL O SOL, UMA NUVEM LHE OFUSCA, MAS NUNCA O APAGA.
OS MATUTOS SERTANEJOS GOSTAM DE CONTAR HISTÓRIAS ASSIM.

LUIZÃO-O-CHAVES....  23/10/2013   ANASTÁCIO  MS

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