Durante muito tempo a onça planejou pegar o macaco, estava
difícil por que o símio sempre fora muito velhaco, vigilante em tudo o que
fazia e por onde andava com o bando. Fosse caçando frutas no mato, pulando de
galho em galho, ou simplesmente passeando, era esperto demais pelo seu tamanho.
Na hora de se recolherem para o pernoite, escolhiam um lugar mais impossível
para não dar o acesso aos predadores seus, que no caso aqui é a onça, bicho traiçoeiro
para tudo que é bicho. Basta dizer que a
espécie felina não tem amigos, a não ser em historias e contos. Nas aguadas
então ele vigiava o dobro, tinha mil e um cuidados quando o bando ia descer para
beberem agua, ainda que fosse, no rio, no córrego, ou alguma poça d’agua na
mata, quando chovia muito e as poças custavam secar. O chefe ou líder do grupo
seguiria na frente sozinho para a aguada, assim poderia ver quem chegava para
sorver o precioso líquido, era um plantão eficaz até que passassem quase todos
pela fonte. Vinha o veado, a anta, o porco do mato, quatis, lobos, pacas,
cutia, tatus, airara, lobinhos, as aves em geral. Nenhum felino! Então dava a
senha para o bando vir, não havia perigo á vista. FÓÓÓ, FÓÓÓ, FÓÓÓ! Todos
chegavam seguros. Enquanto uns bebiam, outros vigiavam, até que todos saciassem
a sede. Depois caiam fora dali, cuidar da vida por que a morte poderia sobrevir
a qualquer momento. Nas matas que tem onças, macacos não fazem bailes, nem
festejam nos galhos baixos! Nesta
situação não tinha como a onça concluir o seu plano, Pensou muito até que
parece ter achado uma solução para o impasse. Ah! já sei? Comadre raposa é
muito esperta, talvez mais que o próprio macaco. Vou procurá-la! Dará certo,
ora se não dará! Desta vez duvido daquele safado me escapar! Está no papo! Deu
uns murros no chão de tanta certeza que este plano daria certo! Afiou as garras
num tronco de angiqueiro com as cascas bem velhas, bastante ásperas. Arrancou
lascas com as unhas, de tanta convicção. Porque os felinos quando vão pegar uma
caça antes porém, afiam as garras, é o sinal de banquete.
Churrasco á vista! Lambeu os beiços, temperando a boca! Agora sim! Onde estará
a minha amiga raposa? Foi lá para a beira do córrego, esperançosa
que a raposa apareceria por lá para beber agua, então conversaria com ela,
apesar de não serem amigas chegadas, tentar não custa nada! Pensou com seus
botões! Esperou por um bom tempo, até que enfim lá vem ela de pança cheia,
louca para matar a sede, ao chegar pressentiu a onça pelo faro. Deu uma parada,
escutou, farejou mais; teve certeza, era mesmo a onça, pensou consigo deve
estar por aqui deitada na sombra. Chegou e logo bebeu agua á vontade, quando ia
saindo para ir embora a onça veio em sua direção, dizendo: Olá amiga raposa,
tudo bem com você? Há quanto tempo a gente não se encontra? Não é? Pois é?
Respondeu a raposa, meio surpresa com aquela saudação tão amistosa. E você
amiga onça, como vai? Disse assim a ela, desconfiada que atrás daquela alegria continha
algo, ela precisava saber. Fingiu confiança na onça, para ela se abrir de uma
vez deixando de rodeios. Sabedora que onça
não tem esse papo! Deu certo! A onça disse-lhe: Estava te esperando aqui, para
pedir-lhe uma ajuda! O que é? Indagou a raposa! Olha! Disse a onça: Você é um
animal muito inteligente, esperto de natureza, se dá com meio mundo. Por isso
escolhi-a par me ajudar num intento, é o seguinte: Pretendo pegar o macaco, se
você me ajudar como penso. A raposa pensou e disse: Desde que não me traga
problemas, será um prazer te dar uma demão, conte comigo, discorra o que tem em
mente: A onça se abriu toda. Vou fingir de doente a beira da morte, lá na minha
toca de pedra. Morro de repente, inventa o que você achar melhor. Ou você sai
avisando que levei um tombo me quebrei toda. Avisa a bicharada que morri. Que
todos venham no velório, deixando um banco na entrada da porta do lado de
dentro, mande o macaco sentar ali, de cá da mesa, o defunto dará um salto
certeiro nele. Não escapará desta vez. E claro que ninguém espera isso do
defunto. Todos sairão correndo, inclusive você, saindo a mil, deixe o resto
comigo. Não ficará comprometida no assunto. O problema é que o defunto reviveu,
levantou doido e grudou no macaco. Ninguém saberá como isso aconteceu e fim de
papo. Topa? A raposa disse: Sim! Plano bem arquitetado! Admirou a raposa. Deixe
comigo, vá logo para a sua toca, sei onde ela fica. Deu um tempo a onça chegar
lá e saiu avisando os bichos, logo deu a noite. Tinha tanto bicho no velório
que dava até nojo. Em cima de uma pedra grande lá dentro estava a onça deitada
de bruços, e de frente para o banco que o macaco iria sentar. De vez em quando
abria um olho bem devagarinho para ninguém perceber. Estava coberta de flores
ramos verdes. Num galho da árvore que fazia sombra na porta da toca em dias de
sol lá estava o macaco-chefe, sentado e espiando aquele espetáculo macabro. Os
bichos todos admirados e desconfiados por
saberem da morte da onça, tão repentina se deu. O macaco estava mais cismado
ainda, não quis descer, veio a raposa e disse-lhe: Amigo, desça daí e chega
para cá, tem um banco vazio aqui, sente-se e fique a vontade! Vou te oferecer
umas bananas, chama também os demais
companheiros? A macacada estava na maior farra, aprontaram uma gritaria! Em
coro diziam: É mentira, é mentira, é mentira! Se é que morreu mesmo, já foi
tarde! Um deles falou ao chefe: Conversa mole; cuidado cunhado! Não marque
bobeira! Ela quer é te pegar, seu tolo! A raposa é mentirosa, vive só de
enganar os outros, pensa que a gente é trouxa! Cai fora daqui chefe! Mas este
resolveu perguntar a raposa: Nossa! Como se deu o acidente? Ela caiu de um
galho seco que quebrou no alto. Eu não vi. Mas escutei o barulho do tombo,
corri para ver o que era, achei-a nas ultimas, dissera a raposa. Trouxemos á toca
e morreu instantes após. Hã-rãã! Disse o
macaco! Acho esquisito, a morte dela!
Não vejo o marido dela, nem filhos e ninguém chorando? Quá! Será? Mas! Tornou o
macaco! Ela já rosnou depois de estar na mesa sendo velada? Não! Disse a
raposa! Ainda não! Então está viva? Replicou o macaco! É certeza, que ela só
está desacordada! Está viva mesmo, sem dúvida? Mas morto não rosna, afirmou a raposa!
Rosna sim? Já vi muito isso acontecer? Garantiu o macaco! Nessas
alturas a onça para confirmar que de fato estava morta, soltou um baita rosnado
que a bicharada saiu tudo doido do recinto do velório, uns passando por cima
dos outros e ganharam a mata para nunca mais acreditarem na raposa. O símio com
é safado deu uma baita gargalhada dizendo: Deixe de ser besta, amiga raposa.
Onça morta, não rosna! Ká, ká, ká ! FÓÓÓ, FÓÓÓ, FÓÓÓ! Sumiram na mata! Nem a raposa ficou ali!
MORAL: PARA A ESPERTEZA, USA-SE ESPERTEZA E MEIA.
FÁBULAS E CONTOS ESCRITOS / REPRODUZIDOS POR: LUIZÃO-O-CHAVES
ANASTÁCIO. MS 25/10/2013
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