sábado, 30 de novembro de 2013

A ONÇA, A RAPOSA E O MACACO

                         

Durante muito tempo a onça planejou pegar o macaco, estava difícil por que o símio sempre fora muito velhaco, vigilante em tudo o que fazia e por onde andava com o bando. Fosse caçando frutas no mato, pulando de galho em galho, ou simplesmente passeando, era esperto demais pelo seu tamanho. Na hora de se recolherem para o pernoite, escolhiam um lugar mais impossível para não dar o acesso aos predadores seus, que no caso aqui é a onça, bicho traiçoeiro  para tudo que é bicho. Basta dizer que a espécie felina não tem amigos, a não ser em historias e contos. Nas aguadas então ele vigiava o dobro, tinha mil e um cuidados quando o bando ia descer para beberem agua, ainda que fosse, no rio, no córrego, ou alguma poça d’agua na mata, quando chovia muito e as poças custavam secar. O chefe ou líder do grupo seguiria na frente sozinho para a aguada, assim poderia ver quem chegava para sorver o precioso líquido, era um plantão eficaz até que passassem quase todos pela fonte. Vinha o veado, a anta, o porco do mato, quatis, lobos, pacas, cutia, tatus, airara, lobinhos, as aves em geral. Nenhum felino! Então dava a senha para o bando vir, não havia perigo á vista. FÓÓÓ, FÓÓÓ, FÓÓÓ! Todos chegavam seguros. Enquanto uns bebiam, outros vigiavam, até que todos saciassem a sede. Depois caiam fora dali, cuidar da vida por que a morte poderia sobrevir a qualquer momento. Nas matas que tem onças, macacos não fazem bailes, nem festejam nos galhos baixos!  Nesta situação não tinha como a onça concluir o seu plano, Pensou muito até que parece ter achado uma solução para o impasse. Ah! já sei? Comadre raposa é muito esperta, talvez mais que o próprio macaco. Vou procurá-la! Dará certo, ora se não dará! Desta vez duvido daquele safado me escapar! Está no papo! Deu uns murros no chão de tanta certeza que este plano daria certo! Afiou as garras num tronco de angiqueiro com as cascas bem velhas, bastante ásperas. Arrancou lascas com as unhas, de tanta convicção. Porque os felinos quando vão pegar uma caça antes  porém,  afiam as garras, é o sinal de banquete. Churrasco á vista! Lambeu os beiços, temperando a boca! Agora sim! Onde estará a minha amiga raposa?   Foi lá para a beira do córrego, esperançosa que a raposa apareceria por lá para beber agua, então conversaria com ela, apesar de não serem amigas chegadas, tentar não custa nada! Pensou com seus botões! Esperou por um bom tempo, até que enfim lá vem ela de pança cheia, louca para matar a sede, ao chegar pressentiu a onça pelo faro. Deu uma parada, escutou, farejou mais; teve certeza, era mesmo a onça, pensou consigo deve estar por aqui deitada na sombra. Chegou e logo bebeu agua á vontade, quando ia saindo para ir embora a onça veio em sua direção, dizendo: Olá amiga raposa, tudo bem com você? Há quanto tempo a gente não se encontra? Não é? Pois é? Respondeu a raposa, meio surpresa com aquela saudação tão amistosa. E você amiga onça, como vai? Disse assim a ela, desconfiada que atrás daquela alegria continha algo, ela precisava saber. Fingiu confiança na onça, para ela se abrir de uma vez deixando de rodeios.  Sabedora que onça não tem esse papo! Deu certo! A onça disse-lhe: Estava te esperando aqui, para pedir-lhe uma ajuda! O que é? Indagou a raposa! Olha! Disse a onça: Você é um animal muito inteligente, esperto de natureza, se dá com meio mundo. Por isso escolhi-a par me ajudar num intento, é o seguinte: Pretendo pegar o macaco, se você me ajudar como penso. A raposa pensou e disse: Desde que não me traga problemas, será um prazer te dar uma demão, conte comigo, discorra o que tem em mente: A onça se abriu toda. Vou fingir de doente a beira da morte, lá na minha toca de pedra. Morro de repente, inventa o que você achar melhor. Ou você sai avisando que levei um tombo me quebrei toda. Avisa a bicharada que morri. Que todos venham no velório, deixando um banco na entrada da porta do lado de dentro, mande o macaco sentar ali, de cá da mesa, o defunto dará um salto certeiro nele. Não escapará desta vez. E claro que ninguém espera isso do defunto. Todos sairão correndo, inclusive você, saindo a mil, deixe o resto comigo. Não ficará comprometida no assunto. O problema é que o defunto reviveu, levantou doido e grudou no macaco. Ninguém saberá como isso aconteceu e fim de papo. Topa? A raposa disse: Sim! Plano bem arquitetado! Admirou a raposa. Deixe comigo, vá logo para a sua toca, sei onde ela fica. Deu um tempo a onça chegar lá e saiu avisando os bichos, logo deu a noite. Tinha tanto bicho no velório que dava até nojo. Em cima de uma pedra grande lá dentro estava a onça deitada de bruços, e de frente para o banco que o macaco iria sentar. De vez em quando abria um olho bem devagarinho para ninguém perceber. Estava coberta de flores ramos verdes. Num galho da árvore que fazia sombra na porta da toca em dias de sol lá estava o macaco-chefe, sentado e espiando aquele espetáculo macabro. Os bichos todos admirados  e desconfiados por saberem da morte da onça, tão repentina se deu. O macaco estava mais cismado ainda, não quis descer, veio a raposa e disse-lhe: Amigo, desça daí e chega para cá, tem um banco vazio aqui, sente-se e fique a vontade! Vou te oferecer umas bananas, chama  também os demais companheiros? A macacada estava na maior farra, aprontaram uma gritaria! Em coro diziam: É mentira, é mentira, é mentira! Se é que morreu mesmo, já foi tarde! Um deles falou ao chefe: Conversa mole; cuidado cunhado! Não marque bobeira! Ela quer é te pegar, seu tolo! A raposa é mentirosa, vive só de enganar os outros, pensa que a gente é trouxa! Cai fora daqui chefe! Mas este resolveu perguntar a raposa: Nossa! Como se deu o acidente? Ela caiu de um galho seco que quebrou no alto. Eu não vi. Mas escutei o barulho do tombo, corri para ver o que era, achei-a nas ultimas, dissera a raposa. Trouxemos á toca e morreu instantes após. Hã-rãã!  Disse o macaco!  Acho esquisito, a morte dela! Não vejo o marido dela, nem filhos e ninguém chorando? Quá! Será? Mas! Tornou o macaco! Ela já rosnou depois de estar na mesa sendo velada? Não! Disse a raposa! Ainda não! Então está viva? Replicou o macaco! É certeza, que ela só está desacordada! Está viva mesmo, sem dúvida? Mas morto não rosna, afirmou a raposa! Rosna sim? Já vi muito isso acontecer? Garantiu o macaco!   Nessas alturas a onça para confirmar que de fato estava morta, soltou um baita rosnado que a bicharada saiu tudo doido do recinto do velório, uns passando por cima dos outros e ganharam a mata para nunca mais acreditarem na raposa. O símio com é safado deu uma baita gargalhada dizendo: Deixe de ser besta, amiga raposa. Onça morta, não rosna! Ká, ká,  ká !  FÓÓÓ, FÓÓÓ, FÓÓÓ!  Sumiram na mata! Nem a raposa ficou ali!

MORAL: PARA A ESPERTEZA, USA-SE ESPERTEZA E MEIA.

FÁBULAS E CONTOS ESCRITOS / REPRODUZIDOS  POR: LUIZÃO-O-CHAVES

ANASTÁCIO. MS 25/10/2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário