sábado, 30 de novembro de 2013

O AMIGO DO SACI PERERÊ



Durante muitos anos, trabalhou de peão do trecho, transportando boiada, cortando o estradão. Conheceu muitos lugares, muitas pessoas, trabalhou de diversos serviços. Quando enjoava de um mudava para outro, e de lugares também. Era viageiro de profissão e de gosto por rodar o mundo, um aventureiro de natureza. Como todas as coisas tem seu tempo e duração, um dia resolveu fixar em uma fazenda e trabalhar como domador de animais, burros e cavalos. O que é mais comum da profissão. Campeava também quando o patrão precisava dos seus serviços, pois sendo muito conhecedor do ramo e esperto, prestativo e servidor, amigo de confiança, o sujeito quando é andado, normalmente é assim mesmo. Era conhecedor de muita coisa da profissão de homem que lida com gado e outros animais, as baldas e treitas de burros, manhas de cavalos sabia como tirá-las. Enfim um campeiro completo. Em todo este tempo nosso amigo fizera amizades com meio mundo, era uma pessoa formidável Imagine o que ele contou; até com o saci arranjou amizade, quem diria! Mas foi mesmo, um dia viu um companheiro velho deixar numa tronqueira uma cuia de cachaça. Ficou vendo sem nada dizer por uma educação e fino trato, um dia o companheiro percebendo a curiosidade dele e rindo-se muito disse: Está curioso meu rapaz? Sim! Disse ele. Pois é, disse o velho: A gente tem que agradar o companheiro. O saci é meu amigo de muitos anos. Ele gosta de cachaça e fumo. Sempre dou a ele estas coisas. Já me ajudou muito, é recompensa isto que dou a ele. Contou toda a sua historia e o rapaz gostou, faça para ver se não é verdade? O rapaz convidou o Negrinho de uma perna só para serem amigos, ele topou. Sempre ouvia aquela risadinha, qui, qui, qui mas não via ninguém, era o saci contente em ter mais um amigo. Assim foram por muito tempo. O saci ajudava-o amansar os animais, pegar a tropa de madrugadinha, viajava com ele onde quer que fosse. Sempre estava por perto, assoviando fininho ou mais grosso, dava um aviso quando uma coisa parecia estranho ao amigo, já se entendiam bem, um conhecia a linguagem do outro. Um dia este moço resolveu casar e adquirindo um lugar seu, um pedacinho de terra para viver com a esposa. Deu tudo muito certo, tinha a casa, um pomar alguns animais, aves que criavam, não viajava mais como antes, só lá de vez em quando. A sua esposa sofria de síncope ou desmaio, então era difícil deixa-la só. Mas um dia precisou fazer uma viagem de uns dois dias, preparou tudo e na madrugada seguinte sairia a cavalo. Naquela noite o saci assoviou muito mesmo, mas como era muito natural seus assovios o rapaz nem se importou com aquilo. Quando ele viajava o saci ia junto sem falta, nas encruzilhadas da um assovio fininho, dizia que tudo estava certo, sem perigo nenhum, se assoviasse mais grosso anunciava perigo, podia ser cobra na estrada ou sinal de onças nas mediações, a gente não enxerga de noite, só a montaria e ele saci. Por isso avisava. Ora ele ia, lá na frente do cavaleiro, ora atrás dele, sempre cuidando do companheiro. Nessa madrugada da viagem aconteceu diferente, saíra no horário previsto deixando a esposa dormindo, viajou uma meia hora e o saci assoviava insistentemente próximo a ele e o cavalo. Ele não estava entendendo o recado do negrinho. Parece que dizia que algo não ia bem, apeou, olhou as coisas que ia levando, não faltava nada. Seguiu mais cauteloso, ouvindo o companheiro assoviar, em um dado momento parece que alguém segurou as rédeas do animal fazendo-o voltar para trás. Era mesmo, o animal obedeceu não quis seguir, não havia meio de ir, nem a peso de esporadas. O cavaleiro ouviu um assovio bem pertinho do ouvido, entendeu que não deveria seguir, mas que voltasse; obedecendo, retornou do caminho que seguiam agora o saci só seguia na frente dele assoviando alegre. Ele conheceu a linguagem, chegando em casa tal não foi o seu espanto: A sua esposa fora acometida de um desmaio e estava caída no chão desacordada. Ninguém sabia que horas ele voltaria a si. Ás vezes aquele desmaio demorava horas, ela sem sentidos, sabe Deus quanto tempo ficaria naquela situação. Levanto-a deu-lhe remédio assistiu ela ate ficar boa, o dia amanheceu ele desistiu da viagem, foi lá e agradeceu o negrinho de uma perna só, e de borrete vermelho com gratidão, deu-lhe uma cuia daquelas de pescoço de cabaça cheinha de cachaça e um pedaço de fumo. Deixando no fundo de seu quintal na cabeça de um poste da cerca. Ele, o saci só fazia: Qui Qui Qui, e Qui Qui Qui!  Reconheceu que o amigo era do peito mesmo.
HISTÓRIAS DO NOSSO FOLCLORE.
LUIZÃO-O-CHAVES.......17/10/2013

ANASTÁCIO  MS        

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