Durante muitos anos, trabalhou de peão do trecho,
transportando boiada, cortando o estradão. Conheceu muitos lugares, muitas
pessoas, trabalhou de diversos serviços. Quando enjoava de um mudava para
outro, e de lugares também. Era viageiro de profissão e de gosto por rodar o
mundo, um aventureiro de natureza. Como todas as coisas tem seu tempo e
duração, um dia resolveu fixar em uma fazenda e trabalhar como domador de animais,
burros e cavalos. O que é mais comum da profissão. Campeava também quando o
patrão precisava dos seus serviços, pois sendo muito conhecedor do ramo e
esperto, prestativo e servidor, amigo de confiança, o sujeito quando é andado,
normalmente é assim mesmo. Era conhecedor de muita coisa da profissão de homem
que lida com gado e outros animais, as baldas e treitas de burros, manhas de
cavalos sabia como tirá-las. Enfim um campeiro completo. Em todo este tempo
nosso amigo fizera amizades com meio mundo, era uma pessoa formidável Imagine o
que ele contou; até com o saci arranjou amizade, quem diria! Mas foi mesmo, um
dia viu um companheiro velho deixar numa tronqueira uma cuia de cachaça. Ficou
vendo sem nada dizer por uma educação e fino trato, um dia o companheiro
percebendo a curiosidade dele e rindo-se muito disse: Está curioso meu rapaz?
Sim! Disse ele. Pois é, disse o velho: A gente tem que agradar o companheiro. O
saci é meu amigo de muitos anos. Ele gosta de cachaça e fumo. Sempre dou a ele
estas coisas. Já me ajudou muito, é recompensa isto que dou a ele. Contou toda
a sua historia e o rapaz gostou, faça para ver se não é verdade? O rapaz
convidou o Negrinho de uma perna só para serem amigos, ele topou. Sempre ouvia
aquela risadinha, qui, qui, qui mas não via ninguém, era o saci contente em ter
mais um amigo. Assim foram por muito tempo. O saci ajudava-o amansar os
animais, pegar a tropa de madrugadinha, viajava com ele onde quer que fosse.
Sempre estava por perto, assoviando fininho ou mais grosso, dava um aviso
quando uma coisa parecia estranho ao amigo, já se entendiam bem, um conhecia a
linguagem do outro. Um dia este moço resolveu casar e adquirindo um lugar seu,
um pedacinho de terra para viver com a esposa. Deu tudo muito certo, tinha a
casa, um pomar alguns animais, aves que criavam, não viajava mais como antes,
só lá de vez em quando. A sua esposa sofria de síncope ou desmaio, então era
difícil deixa-la só. Mas um dia precisou fazer uma viagem de uns dois dias,
preparou tudo e na madrugada seguinte sairia a cavalo. Naquela noite o saci
assoviou muito mesmo, mas como era muito natural seus assovios o rapaz nem se
importou com aquilo. Quando ele viajava o saci ia junto sem falta, nas
encruzilhadas da um assovio fininho, dizia que tudo estava certo, sem perigo
nenhum, se assoviasse mais grosso anunciava perigo, podia ser cobra na estrada
ou sinal de onças nas mediações, a gente não enxerga de noite, só a montaria e
ele saci. Por isso avisava. Ora ele ia, lá na frente do cavaleiro, ora atrás
dele, sempre cuidando do companheiro. Nessa madrugada da viagem aconteceu
diferente, saíra no horário previsto deixando a esposa dormindo, viajou uma
meia hora e o saci assoviava insistentemente próximo a ele e o cavalo. Ele não
estava entendendo o recado do negrinho. Parece que dizia que algo não ia bem,
apeou, olhou as coisas que ia levando, não faltava nada. Seguiu mais cauteloso,
ouvindo o companheiro assoviar, em um dado momento parece que alguém segurou as
rédeas do animal fazendo-o voltar para trás. Era mesmo, o animal obedeceu não
quis seguir, não havia meio de ir, nem a peso de esporadas. O cavaleiro ouviu
um assovio bem pertinho do ouvido, entendeu que não deveria seguir, mas que
voltasse; obedecendo, retornou do caminho que seguiam agora o saci só seguia na
frente dele assoviando alegre. Ele conheceu a linguagem, chegando em casa tal
não foi o seu espanto: A sua esposa fora acometida de um desmaio e estava caída
no chão desacordada. Ninguém sabia que horas ele voltaria a si. Ás vezes aquele
desmaio demorava horas, ela sem sentidos, sabe Deus quanto tempo ficaria
naquela situação. Levanto-a deu-lhe remédio assistiu ela ate ficar boa, o dia
amanheceu ele desistiu da viagem, foi lá e agradeceu o negrinho de uma perna só,
e de borrete vermelho com gratidão, deu-lhe uma cuia daquelas de pescoço de
cabaça cheinha de cachaça e um pedaço de fumo. Deixando no fundo de seu quintal
na cabeça de um poste da cerca. Ele, o saci só fazia: Qui Qui Qui, e Qui Qui
Qui! Reconheceu que o amigo era do peito
mesmo.
HISTÓRIAS DO NOSSO FOLCLORE.
LUIZÃO-O-CHAVES.......17/10/2013
ANASTÁCIO MS
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