Viajando por uma estrada que dava acesso da comarca de Aquidauana á de um distrito, o do Cipó, um lugar de garimpo muito falado no
Brasil inteiro, eram lá pelas onze e quarenta da noite, lugar ermo sem um
morador nas mediações, nada menos de uns oito quilômetros distante do ultimo
boteco que por obrigação todo viajante fazia parada para tomar alguma coisa ou
até mesmo comprar ou reforçar a matula para o resto do trecho que teria pela
frente até o final da viagem. Como já era altas horas da noite por certo o
boteco já havia fechado e o nosso viajante passara de largo, o final da viagem
não estava tanto a ponto de precisar de matula. Montava um cavalo bom de sela,
acostumado a viajar longe. Só nunca haviam visto qualquer aparição nas viagens
noturnas. Animal manso, ele o cavaleiro um modesto e pacato homem pai de
família trabalhador e os tempos também eram de outrora, lá pelos anos 1950 e
alguma coisa mais ou menos. Nesta estrada tinha duas referencias muito
conhecidas dos andarilhos e viajantes, duas arvores nativas da região, uma era
um pé de “Sucupira Preta” e mais em cima um pé de “Gonçalo” distante uma da
outra uns 500 metros. Ambas estavam localizadas numa extensão da estrada onde a
mesma começava uma subida longa. Pois é, nesta noite sem luar, céu estrelado,
um silêncio profundo onde se ouvia somente o canto das aves noturnas e dos
grilos do mato, de um lado e outro da estrada de terra batida e muita areia
antes da subida, um cerrado meio mata era o que se via. Fora disto era o
barulho natural da montaria pisando e os apetrechos ringindo as amarras, a sela
de couro, as cinchas, argolas e freios no seu barulho natural chocalhando. Eis
que de repente surge um vulto estranho na sua frente e toma as rédeas do animal
segurando-o pelos freios, era um homem de estatura boa, como a noite todo gato
é pardo, não se via a cor, nem o rosto do assaltante, o nosso viajante ouviu
apenas uma ordem: Me da o dinheiro, ou fica sem sua vida! O animal ficou sem ação,
seguro pelos queixos, escapar como? Correr de que jeito? O cavaleiro ouviu de
novo a mesma ordem! Mil e um pensamentos perturbam a sua cabeça naquele instante, num
relance e como um raio sacou da cintura uma arma e abriu fogo na altura do
peito daquele assaltante mão armada, pois não sabia se o individuo portava arma
de fogo ou outra. Não titubeou, fez o que deu na mente. Só ouviu o estampido de
sua arma e um ligeiro tombo, levantou e saiu numa carreira louca em direção ao
cerrado pela esquerda do cavaleiro e do cavalo. Não esperou mais nada, chegou
as esporas no animal, que saiu dali a
galope até o cume da subida. Chegando lá em cima o pobre do animal resfolegava
não mais aguentar aquela disparada louca e repentina. Puxa vida, e agora? Será
que matei ou não? Quem será? É conhecido ou estranho? Será que alguém viu, ou
ouviu? Meu Deus e agora, que farei? Ficou aquele turbilhão de perguntas na
cabeça, sem nenhuma resposta. Seguiu a sua viagem até o seu final. Chegando em
casa já na madrugada, desencilhou o animal, soltou-o no piquete, deu-lhe de
comer e beber, Tomou banho, comeu alguma coisa, mas com aquela apreensão que só
ele sabia. Acomodou-se para descansar da viagem. Acordou cedo para as
atividades do seu dia-a-dia ainda meio pensativo no ocorrido da noite anterior.
Finalmente tirou da cabeça aquilo e a vida continuou. Sempre em fazendas chegam
pessoas estranhas com as mais variadas noticias, depois de uns quatro dias,
correu uma, tinham achado um homem morto lá subida do “Gonçalo”. Quem o achou,
foi por causa de urubus sobrevoando o local, e da catinga de carniça que vinha
do mato ate na beira da estrada. Um curioso foi ver o que era, deparou com um
cadáver humano, já em estado de decomposição elevado, as rapinas carniceiras tinham
comido os olhos e língua daquele corpo, quase todo o rosto. Ninguém reconheceu,
até as roupas estavam rasgadas pelos bichos carniceiros. Só puderam ver na
camisa que trajava um furo de bala na altura do peito e uma costela quebrada.
Ninguém seria capaz de saber quem o matara, nem como saber quem era o morto.
Ficou por isso mesmo. Naquela época era assim, morreu? Enterra e pronto! Nem
sequer deixaram uma cruz para a marca quando morre alguém desconhecido na beira
de estradas conforme é o costume. Ficou o viajante com este segredo até 1964,
quando o conheci. Um dia resolveu contar este fato. Por eu ser amigo e de sua
confiança, fui escolhido para saber disto. Porque me disse que tinha que contar
a alguém, não suportava mais ficar com o segredo sozinho há tantos anos. Guardei
o seu segredo! Em respeito e consideração, e enquanto fomos amigos até o fim de
sua vida, que se deu em 1999. Já com 86 nos de idade e muito enfermo,
despediu-se de nós e desta terra terrível, imprevisível, traiçoeira, perversa e
muito má. Onde muitos caem no laço das forças malignas. Durante muito tempo,
naquele lugar aparecia sempre vindo lá de cima da subida, uma luz com se fosse
de uma pequena lanterna, mas de longo alcance o seu facho luminoso, clareava a
gente no peito. Vi muitas vezes isto, porque passei muito nesta estrada que até
hoje é importante para o município e adjacências. Por isso relato com convicção
este fato. Desaparecia como aparecia, era um encanto num piscar de olhos. Todos
que conheci daquela época, se foram. O nome dele é J.R.G. descanse amigo! Ao
menos deste mundo! Oxalá tenha
conseguido o perdão de Deus para aquele crime imprevisto, penso nisso e desta
forma porque a última hora de uma pessoa, só Deus ouve o seu lamento. Ir para o
Céu? Quem não quer? Deus sabe quem ele
arrebata para lá!
ESTE NÃO É CONTO, COMO SÃO OS OUTROS QUE ESCREVO.
É FATO VERDADEIRO! (Será mera coincidência se alguém contar
igual)
LUIZÃO-O-CHAVES........16/10/2013
ANASTACIO MS.
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