Num dia desses a Rainha da selva com seu esposo, o mestre
leão, descobrem no calendário, o
aniversário do peru e do pavão. Resolveram dar uma festança, com muita dança na
comemoração. A festa seria na mata, na beira da cascata num improvisado
barracão, coberto com um encerado, aberto dos quatro lados, e uma divisão; um
lado para servir o jantar e o outro para arrumar as bebidas para o povão.
Depois de tudo bem calculado e dentro do planejado, deram inicio á execução. A
anta, o cavalo, o boi e o macaco com as ferramentas fizeram os buracos no chão.
Foi uma canseira carregando as madeiras pros esteios do barracão. Fincaram tudo
bem aprumado e muito alinhado e ainda bateram a terra do chão. Trouxeram a lona
limpinha deixando ela bem esticadinha amarrada com cordão, limparam bem ao seu
redor e para ficar melhor, até a margem do ribeirão. A leoa gostou da limpeza
aproveitou e pediu mais destreza na instalação. Arrumaram todos os
banheiros até que saiu ligeiro dentro da
programação. Era banco pra todo lado pra todo mundo ficar sentado e bicho
nenhum sentar no chão, foram três banheiros na parte externa com uma grande cisterna só água era num
latão. Fizeram ainda um grande jirau com varapau amarrado com cipó além da mesa
improvisada atada com timbó. Também para todos os lados cipós esticados pra
segurar a instalação, os vaga-lumes trouxeram as lâmpadas e acenderam que se via
de longe o clarão. Depois de tudo perfeito solicitaram ao prefeito alvará de
licença registrando o barracão. Assim com maior brevidade exercer a atividade
como seria a função. Depois de regularizado sem que ficasse nada atrasado
anunciaram no pregão. A raposa chegou já dando palpite, dizendo que os convites
ela espalharia pelo sertão. Agora prevenir estoque de comilanças para não ter
decepção. O burro se gabava de ser o maior transportador de toda região, aproveitando
o embalo falou logo com o cavalo, Você me ajuda irmão? Só que deu uma
trabalheira danada a bebida para a bicharada chegou foi chegando de montão. Vinhos
secos e suave, cerveja de lata, cidra e cachaça aos garrafão, refrigerantes,
corotinho, Ypioca, dreher e conhaque de alcatrão. Presidente, canelinha, três
fazendas, praianinha, contrey, teimosa e
jamelão. Chica boa, atrás do saco, tatuzinho, katira, quati, el do nero e coco
bom. Isso sem contar barril de chopp, ferro quina, fernet, quinado, cinzano e bituzão. Era a maior barbaridade,
tamanha a quantidade e ainda um fardo de açúcar e um saco de limão. A leoa como
sempre ótima patroa admirada na cabeça colocou as mãos. Quase entra em desespero
achando aquilo um exagero a ordem do seu leão. Mas o velho rei dissera, quero
que toda essa galera beba sem que haja distinção. Deixe que a turma beba desde
o rato até a peba eu lá que me importe se rolarem no chão. Vejamos a lista de
convidados e as suas profissões: O macaco era um grande agricultor e um dos
maiores lavrador, cultivava amendoim, milho, arroz, soja, mandioca, batata, abóbora, melancia, gergelim
e algodão. O coelho tinha uma horta deste tamanho as margens do ribeirão, lá
ele semeava de tudo alface, repolho,
couve, cenoura, rabanete, tomate, berinjela, cebola, salsinha, coentro,
abobrinha, nabo, pimenta e açafrão. Pimenta do reino, cravo e canela, louro
espinafre, erva doce e pimentão. O lobo plantava cana e coco da baia lá no alto do chapadão. O cateto plantava
mais era mandioca batatinha e alguns pés de mamão, a raposa criava galinhas, patos marrecos angolas e tinha um empregado para vigiar os gaviões.
Os gambás saruês lobinhos tinham um alambique de fabricarem cachaça e produtos
para destilação. De tudo que dali saia ia para as redondezas e outras região. O porco tinha uma olaria na
beira do banhado vendia telhas e tijolos para todo o povoado. A onça parda
comprava e vendia couro de cabrito e carneiro, curtidos e só esfolado. O mestre
tatu plantava só mandioca fazia
farinha e entregava em todos os
mercados. O coiote tinha só um canavial
e um engenho e dois animais para moerem
fazendo rapadura e também açúcar e melado. A lontra e ariranha moravam na
confluência dos rios ,na companhia de um
velho tio vivendo só de pescado. A anta colhia frutas pequis mangaba e outras trazendo lá do alto da serra já num
saquinho amarrado. A capivara morava
pertinho de uma lagoa atravessava ela de canoa quando indo ao mercado. A jiboia
vendia pasta de dente por que ela tem um bafo quente de um fedor lascado. Quem
não falhava um só dia era dona cutia descascando mandioca para ser por milho
trocado. O rato desde muito novo tinha um desejo de fabricar e vender queijo
para um dos seus cunhados. O lagarto tinha um apiário bem no meio do serrado
tirava mel de caçulunga saindo com rabo erguido e de mel todo lambuzado. Os
porcos do mato os queixadas com toda sua manada mais de trezentos mais ou menos
contados. O veado com sua esposa eram muito perseguidos por isso que andam meio
desconfiados, O tamanduá bandeira com a sua companheira eram pedicure e
manicure num belo salão. O carneiro para ganhar algum dinheiro lavavam suas lãs
no ribeirão. O jacaré sendo dentista faz serviços somente a vista porque seus
dentes são muito bons. A preguiça que só anda dependurada e sem coragem para
nada, nem de pregar um botão sua máquina
de costura e por isso que dura com os pés enterrados no chão, O bugio nas
manhãs ronca no eixo da serra seu eco escutam
em todo o sertão, O irara, cachorro do mato, os preás, e um monte de gato vivem
sem muita ocupação. Só aquele gato
marisco que trabalha num frigorifico na área da inspeção. Jaguatirica, o
gorila, o leopardo, a onça, jaratataca, o canastra e o furão, aquela espécie de
porco, aquele que chamam de monteiro; vive fuçando as beiras de lagoas as vezes meio
atoa só reclamando que : Tá ruim, tá
ruim mas tá bom. Disseram o curupira e o pai da mata, se isso não for cascata:
E o fumo para o nosso charutão? Jacu, jacutinga, tucanos e aracuan, emas e
seriemas, jacucaca e peruzão. Pintassilgo, coleirinha, canário e sabiás,
curiós, as pombas juritis e rolinhas, perdizes jaó nhambu aquela grandona o
iguassu codorniz codorninha; falar de um modo geral as aves serranas e do
pantanal, patos marrecos anhumas gansos saracuras mariazinhas e águia real gaviões de toda espécie acauan papagaios araras periquito e tuiuiú o símbolo do pantanal. As
aves noturnas: corujão mocho caburé coruja
e o joão corta pau gavião da noite você fala perna longa curiango e
bacurau. Calangos e lagartixas, tetéus, rasga mortalhas, carcarás, urubu,
condor e urutau. Enfim chegou o dia tão esperado para a comemoração, era
foguetes para todo lado, nos ares subiam rojão, que estrondavam na mata inteira ecoando pelo sertão. Bicharada
tudo em festa as comilanças tinha aos
montão. Os bichos começaram chegando só você vendo as palmas. Para não perderem
tempo deram inicio a apresentação, quem tinha instrumentos e os trouxe foram
adentrando ao salão. Jacaré era o gaiteiro, o caititu trouxe o bordão, o
queixada no contrabaixo o guaiaca no
bombardão. Tamanduá tocava a sanfona
somente com um dedão, tatu canastra muito exibido ponteando um violão. O
lobo trouxe seu teclado com pinta de folgazão, de bombacha bota e espora e seu
pala arrastando no chão. Dando viva aos festeiros: O peru e o pavão. Ah! O meu
tempo de rapaz, hoje vou lembrar o tanto que já fui bom de nada eu tinha pena e
machucava os corações, mas estou velho e cansado e com pouca disposição. A jiboia
assoprava uma flauta de causar admiração, falava no meio da sala viram como eu
sou sadia do pulmão? Só toco musica de primeira geração! O papa-me chegou
alegre afrouxando o cinturão, hoje eu beber de todas vou até rolar no chão lá
na furna que eu moro só alimento com mamão pinga é lá de vez em quando isto se
sobra algum tostão, se eu estiver muito ruim me deixem na saída do portão. O
bode olhava para o cachorro do mato admirado! Nossa! Quanta esganação. O gavião
com a esposa e o filhote tomava pinga
com açúcar e limão. O que não presta também
estava presente, o jaratataca chegou tonto deu um peido bem no meio do
salão, foi aquele reboliço com aquela podridão, até passar a catinga do peido saíram
todos do salão credo em cruz quem é que aguenta ficar perto deste porcalhão. O peru só sabia glugluzar de tanta satisfação.
O canguru chega com a esposa e pendura no oitão um saco com dois filhos dentro
e dois pedaços de pão. O gorila chegou alegre requebrando no salão com o chapéu
de três estrelas imitando o lampião, com um colete e a calça de couro, com o
fuzil na mão, nas costas a pé-de-bode desamarrou-a de um cordão e cantou mulher
rendeira fazendo sua saudação. O bugio
trouxe dois presentes, um em cada mão, tinha um chapéu de palha e calçava um
sapatão, trinta e dois na cintura do outro lado um facão, sempre muito
respeitador de todos apertava a mão. Deu um viva para o peru outro viva para o pavão. Viu o macaco de
terno baforando um charutão, bateu nas costas dele, dizendo: E daí companheirão!
O gato estava muito esperto com medo do Ricardão. A gata fazendo manha abrindo as pernas e rolando no chão, se ela
me cornear eu vou morrer do coração. A paca e a cutia estavam mamadas nem
ficaram no salão. O lobinho dava cada grito que balançava o barracão, o irara
só dançava se fosse com o pavão. O papagaio deu gaitadas com um copo de vinho e
só molhando o dedão. A capivara veio gestante assim mesmo arrastando o bucho no
chão, o porco estava enfezado riscando a faca no chão as damas não queriam
dançar, nele deram carão. O Jumento começou zurrar com um cacete na mão. Era
ele o chefe da guarda inspetor de quarteirão. Leopardo tinha na platina as
divisas de capitão. O cachorro era um dos policiais. Seu cassetete era um
pedaço de cansanção. O carneiro estava tão limpinho alvo como algodão. A lontra
com a ariranha são primas mas, de terceira geração saíram lá do rio negro
atravessando o sertão trouxeram de
presente dois casacos de peles, um para o peru e outro para o pavão. Os sabiás
com a passarada orquestraram uma canção, a perdiz veio sozinha lá do capoeirão
não quis cantar porque estava sem inspiração. Um bando de patos e marrecos trouxeram um monte de cartão no meio tinha um
bem velhinho escorado num bastão. Colocou seu óculo escuro por causa do clarão.
O porco chegou de charrete e estaciona na contra mão com a sua esposa e um
monte de leitão as crianças descem de qualquer jeito no meio da multidão, um
dos leitõezinhos chorou o porco pegou o facão queria saber o que foi já armou
uma confusão. A turma do deixa disso entrou logo em ação: Você está errado
companheiro e ainda quer ter razão? O leão com a leoa subiram numa cadeira bem
no meio da sala para dar uma explicação:
Quero que todos brinquem e bebam a vontade, não quero nenhuma alteração. Não
dar desgosto nesta festa nem ao peru nem ao pavão. Vamos todos comemorar na
mais perfeita ordem e união. Aqui não queremos arruaceiros e nem valentão.
Darei ordem ao leopardo para que o meta na prisão além de um couro merecido sai
daqui de camburão. O mestre da sala que era um chipanzé aplaudiu dando uma
salva de palmas á leoa e ao patrão. Após esta palestra foi servido a refeição.
Tomem porre bicharada que o negócio hoje tá bom. Serviram tanta bebida que ninguém tinha visto coisa igual quem
ficou de boca aberta foi nosso amigo o chacal que veio lá da Africa para
conhecer os bichos do nosso pantanal. A raposa, anta, lobinho, cachorro do
mato, um bando de macacos os gambás, a irara, eram responsáveis pela
distribuição das bebidas até o canguru encheu sua bolsa de latas de cervejas e
levou para a turma da guarnição. Agora os que quiserem podem dançar a vontade até o dia mostrar o
seu clarão. Podem ficar armados só não quero confusão. Deixem o som cortar
direto nem que estronda o salão. O saruê nas musicas de discos é quem fazia a
seleção. Enquanto os músicos descansavam um pouco esvaziando o garrafão. O
caipora não quis uma garrafa pediu logo um garrafão empurrou a rolha com a
ponta do dedo abrindo o bocão depois de uma cipoada boa estalou a língua, deu
um grito de alegria: Esta coisa é um tareco muito bom! O jumento estava de
namoro com uma potranca que só vendo o carinho e afagos, chamando de todos a atenção. Esta moça que eu namoro é a filha
do meu patrão, o cavalo é um fazendeiro ele precisa e vou ser dele mais um
peão. Nunca falta um espírito de porco, que não arruma confusão. Desta vez é o
caipora e o curupira um dos dois bem de fogo vomitando igual um cachorro, inda
queria beber mais, o macaco disse: Dá um tempo cunhado! Mas ele não quis saber.
Pegou na ponta da lona do barraco e disse: Eu puxo desta ponta e doutro lado pega
meu irmão, esse paliçado não aguenta a
gente! Senão me der pinga? Vou mandar isto tudo no chão! O reboliço foi levado
ao conhecimento do leão que disse assim: Quem passar sobre minhas ordens
arrumando confusão, já disse que será
preso, tem bebidas a beça, ninguém passa vontade, beba até rachar o bucho,
ninguém passa precisão! Falar as coisas sem saber é muita falta de educação.
Com uma atitude dessas aborrece o pavão!
O peru bateu palmas com o gesto do leão, vamos dançar ó bicharada, não demora o
dia mostra o clarão. Tudo se acalmou
continuaram na função. Mas durou pouco a paz, logo esqueceram da recomendação. Lá vem o porco de novo desta vez
com um porrete na mão, furioso e lambuzado de lama onde rolou no ribeirão.
Queria sacudir as orelhas e o corpo bem no meio do salão. Sujando a roupa de
quem estava limpo só para arrumar outra confusão. Desta vez quem interviu foi a
esposa do leão, Isto é muito desaforo, aqui não quero ninguém atrevido, cai
fora do barracão? Vou chamar meu buldogue de confiança para você ver o que é
bom! É o mais forte de todos e ele se chama, amansa valentão! O porco saiu murchinho
foi se lavar no grotão, depois voltou alegre e sorrindo bebeu mais um bocado,
deu um abraço no peru outro no pavão. A onça estava sentada num dos cantos do salão. Lambendo seu
bigodes, pensando com seus botão, esta
macaco parece gordinho me da uma ótima refeição, a qualquer horinha dessas vou
jantá-lo na beira do grotão. O macaco estava desconfiado, não tirava os olhos
do bichão, embaixo da camisa seguro no cabo da pistola chegava coçar o dedão,
Se essa peste se meter a besta lasco fogo neste gato. Eu não me importo de sair
preso, pago fiança pra todos deixo um abração. O bugio que via tudo aquilo, já
deu uma de bicão, se o cunhado precisa de uma força posso te dar uma mão, o meu
berro está aqui na cintura tenho farta
munição, O cachorro que também via tudo falou com o leopardo, estou as suas
ordens capitão. Onça é bicho nojento vamos tirar ela de circulação, este bicho
é arruaceiro, e aqui é só diversão, daremos um sumiço neste felino e acaba com
a confusão. O gambá estava perdido no meio da multidão. Bêbado e foi dar uma
mijada acertando num garrafão. Já tomou
um puxão de orelhas e no traseiro uma bicuda. Vai urinar no
banheiro relaxado, porcalhão! A raposa quando viu seu sobrinho estendido no
chão, ficou cheia de revolta, na maior indignação, Quem bate num pobre bêbado
não tem nenhuma consideração. Festejaram
a noite inteira apesar de algum inconveniente prevaleceu a união. As horas passam ligeiro quando estamos na
diversão. Dai a pouco o dia veio clareando e dispersou a multidão. Só vendo a
alegria dos bichos abraçando o peru e desejando-lhe
boa sorte e saúde extensivo ao pavão. Até em outra data dizia em coro a
multidão, todos se despediram apertando suas mãos, cada um seguiu seu rumo uns
caminhando firme outros caindo pelo caminho. Mas festa é assim mesmo, valeu o
grande festejo nesta comemoração, saíram todos felizes ficando vazio o velho
barracão.
FIM
LUIZÃO-O-CHAVES! 30/06/2013
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