sábado, 6 de julho de 2013

O MARMITEIRO DE UMA CADEIA


Eu era um garoto de uns oito anos de idade, naquela época as escolas não eram como as de hoje, que a garotada pode sair de casa para a escola faltando uns quinze minutos para o inicio das atividades escolares. Saem de carros próprios dos pais, outros ganham carona dos vizinhos e aqueles de mais distancias tem os ônibus que os transportam até seus colégios. Hoje é uma facilidade incrível para os tais. Isso sem falar que tem a merenda escolar, material escolar, uniformes e  livros didáticos  tudo gratuito, um monte de professores capacitado, um para cada matéria e  horários definidos. Enfim uma regalia para se estudar nos dias atuais. No nosso tempo era tudo diferente. Muitos alunos andavam até oito quilômetros para estudar, lugares difíceis, somente dois horários. Matutino ou vespertino, além de termos que estudar nos sábados meio período. A gente só não comparecia as aulas nos domingos, feriados e dias santos de guarda. O nosso  Grupo escolar tinha somente agua encanada e banheiro rustico, não havia ventiladores nem tinha as salas com forros no teto muitos o piso era de madeira ou tacos, não havia aulas a noite, os professores vinham de outras cidades e passavam  o tempo longe de seus familiares. Eles hospedavam em hotéis  e pensão. Era ela ou ele, professor de todas as matérias: História, Geografia, Ciências, Aritmética, Gramática e Educação Moral Social e Cívica. Isso era o calendário da época: De fevereiro ao final de Junho, de Agosto a quinze de Dezembro. Finalmente chegava as tão esperadas férias. Aqueles que moravam nas cidades pequenas, lugarejos a vida eram mais fácil como no meu caso morava em colônia tinham como disse antes as dificuldades maiores. Depois mudamos para uma cidadezinha pequena, tudo foi tão bom que a gente  nem sequer lembrava das lutas de antes para estudar. Pais lavradores que sobreviviam das coisas da roça. Estudar um filho naquele tempo não era muito fácil só quem podia mesmo, quem tinha recursos próprios. Imaginem um pai pobre! Olhem as despesas inerentes: Calçados, uniformes, material escolar e lanche. Mas valia a pena! Nós os filhos não tínhamos preguiça de ir a escola. Íamos com prazer, satisfação e amor pelo esforço do nosso pai. Nunca esqueci os nomes dos livros que o papai comprou para mim; o primeiro foi uma cartilha: Caminho Suave, no primeiro ano, Seleta Escolar no segundo ano, Aventuras de Pedrinho no terceiro ano, Pedrinho e o Mundo no quarto ano. Parei aí nunca mais sentei num banco de escola. Nesse interim lá pelo meado do meu quarto ano,  passei a morar com a minha avó do lado de minha mãe, ela cozinhava num hotel onde os professores eram os hospedes durante o ano letivo. Que riqueza! Que maravilha! Amava a minha professora que se chamava: Lurdes Aleixo Figueiredo. Eu não tinha dificuldades nenhuma nas lições, além de ser um aluno aplicado, muito estudioso e inteligente, ainda contava com o carinho dos professores que me rodeavam  o tempo todo. Também pudera! Eu era muito prestativo servidor  ajudava a vovó nas tarefas mais leves do hotel, ajudava lavara louças, tirar agua de uma cacimba enchendo a caixa d’agua que ficava num lugar elevado. Subia as escadarias como se fosse brincar. Um dia este hotel firmou contrato com a segurança da cidade para o fornecimento de alimentação dos presidiários. Fui designado marmiteiro da cadeia; A distancia era mais ou menos  seis quadras em zig -e- zag, lembro-me quando a patroa da minha avó disse:  Meu filho, vou contar com você para carregar comida para os presos? Você vai? Vou sim, senhora! Respondi-lhe, o café da manhã era servido ás sete horas, mas as seis e meia eu já estava lá, trazia de volta para o hotel as marmitas sujas e vazias do jantar de ontem, ás dez horas levaria o almoço, traria de volta a garrafa de café e xícaras do café da manhã, ás duas horas da tarde retornava com o lanche do meio da tarde. Era café, leite, e pão com manteiga, não existia margarina. De novo e de volta com as marmitas do almoço, ás dezoito horas lá vai o marmiteiro com o jantar para os presos, eles eram assim: O mineiro com dois companheiros em uma cela e a Jovelina com seu marido em outra cela, na ultima cela estavam mais dois encarcerados. No inicio a gente ficava quieto, só entregava as coisas e voltava em cima do rastro; primeiro porque, a vó não queria que eu demorasse e segundo não tinha o que conversar com os presos, eram pessoas  estranhas  e nós os garotos da época tinha muito respeito por quem quer que seja, em qualquer lugar que estivéssemos. Mas como o tempo passa e a gente fala; logo os presos gostaram muito da gente, ademais eu era muito alegre e simpático aos olhos de todos, comecei a gozar da confiança deles já demorava mais tempo servia agua para todos  sobretudo porque o pote de agua era fora das celas, e não havia geladeira para os preso, isso quando o carcereiro dava um saidinha no boteco da esquina,  me sentia a vontade com os novos amigos muito embora  sendo presidiários. Um dos presos  o mineiro olhou para mim e disse: Meu filho você é um menino de ouro, és muito bom, te conserve assim que  serás muito feliz! Faça tudo em sua vida para nunca vir parar num lugar desses em que estou com estes companheiros. Isso não é lugar de gente! Isto aqui, é o lugar mais triste que um cristão é obrigado viver! Isto aqui é um pedaço do inferno! Você aqui só tem liberdade para fazer as necessidades fisiológicas e nada mais! Se ninguém te der comida, morrerás de fome ou sede.! Diante deste relato do preso aproveitei e perguntei: Porque o senhor está aqui? Não aborreça com minha curiosidade! Ele pensou um pouco e me respondeu com duas lágrimas nos olhos! Fiz uma loucura! Matei um japonês taxista! Mesmo com toda a razão que tinha, nunca deveria ter feito uma desgraça daquelas! Hoje sou um homem derrotado por uma fatalidade. Já chorei muito aqui dentro,  mas duas coisas tenho certeza na vida! Nunca esquecerei  este fato que marcou minha vida, jamais sairei daqui enquanto não pagar a pena. Sou estranho, não conheço ninguém neste estado sou de outro, e muito longe daqui! Pormenorizou os fatos dizendo: Eu estava num ponto chamado de Paturi, era um boteco de beira de estrada, assim: Uma estrada que demandava  de uma cidade chamada de Lucélia até Panorama na barranca do rio Paraná. O Paturí era uma colônia de japoneses que distava da estrada uns doze quilômetros. O dito japonês tinha um automóvel da marca Mercury de cor preta que chegava reluzir aos raios do sol, estava no ponto aguardando a passagem do ônibus que viria do lado de Panorama cujas cidades eram: Tupy Paulista, Dracena, Junqueirópolis, Irapuru e Santa Genoveva.  Quem sabe saltaria do ônibus algum passageiro das bandas do Paturi. Faria a corrida e tudo muito certo. Mas parece que tem dias que a bruxa esta solta de canga e corda. Ali nas mediações do boteco moravam algumas famílias que trabalhavam nas roças. Dentre elas havia garotos já grandinhos lá pelos seus sete anos de idade, um desses moleques como eram chamados naquele tempo passou por ali vendo o carro do japonês estacionado no ponto. Vendo que  estava empoeirado ele passou o dedinho do farol até no rabo de peixe ficando o risco do seu dedo bem distinto marcado pela poeira. O japonês sai do bar e vê aquilo no carro ficou uma fera, como eu estava ali perto conversando com um amigo, ele me julgou o feitor daquilo. Eu lhe disse: Não fiz isto, foi um moleque que passou o dedo ai. Não fui eu! Mas apesar do amigo ter dito o mesmo,  o japa retrucou: Você, nego sem vergonha! Está com medo de Japão eu sabe lutar judô. Vai dar uma lição em gagin, corombo! Fechando os punhos partiu para cima de mim. Tirei o corpo fora e disse: Arreda para lá japonês; se vier de novo, lhe meto uma peixeirada, não venha? Ele se fez de surdo e veio com tudo de novo, só sai para o outro lado, deixando a faca que abriu a barriga do infeliz que caiu agonizante. Estava feita a desgraça,  fuji dali, mas pouco tempo depois estava encarcerado. Estou até hoje neste lugar horrível. Leve este meu conselho que  servirá por toda a sua vida. A única coisa que tenho para agradecer a você que traz comida para nós neste lugar de tormentos. Vai meu filho, vai em paz! A liberdade é de Deus! A prisão é coisa que o demônio criou!

ESTE É UM FATO VERDADEIRO!  HISTORIA REAL!


CONTADO POR NÓS – LUIZÃO-O-CHAVES!                                                                 01/07/2013                                                                     

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