Eu era um garoto de uns oito anos
de idade, naquela época as escolas não eram como as de hoje, que a garotada
pode sair de casa para a escola faltando uns quinze minutos para o inicio das
atividades escolares. Saem de carros próprios dos pais, outros ganham carona
dos vizinhos e aqueles de mais distancias tem os ônibus que os transportam até
seus colégios. Hoje é uma facilidade incrível para os tais. Isso sem falar que
tem a merenda escolar, material escolar, uniformes e livros didáticos tudo gratuito, um monte de professores
capacitado, um para cada matéria e horários
definidos. Enfim uma regalia para se estudar nos dias atuais. No nosso tempo
era tudo diferente. Muitos alunos andavam até oito quilômetros para estudar,
lugares difíceis, somente dois horários. Matutino ou vespertino, além de termos
que estudar nos sábados meio período. A gente só não comparecia as aulas nos
domingos, feriados e dias santos de guarda. O nosso Grupo escolar tinha somente agua encanada e
banheiro rustico, não havia ventiladores nem tinha as salas com forros no teto
muitos o piso era de madeira ou tacos, não havia aulas a noite, os professores
vinham de outras cidades e passavam o
tempo longe de seus familiares. Eles hospedavam em hotéis e pensão. Era ela ou ele, professor de todas
as matérias: História, Geografia, Ciências, Aritmética, Gramática e Educação
Moral Social e Cívica. Isso era o calendário da época: De fevereiro ao final de
Junho, de Agosto a quinze de Dezembro. Finalmente chegava as tão esperadas
férias. Aqueles que moravam nas cidades pequenas, lugarejos a vida eram mais
fácil como no meu caso morava em colônia tinham como disse antes as
dificuldades maiores. Depois mudamos para uma cidadezinha pequena, tudo foi tão
bom que a gente nem sequer lembrava das
lutas de antes para estudar. Pais lavradores que sobreviviam das coisas da
roça. Estudar um filho naquele tempo não era muito fácil só quem podia mesmo,
quem tinha recursos próprios. Imaginem um pai pobre! Olhem as despesas inerentes:
Calçados, uniformes, material escolar e lanche. Mas valia a pena! Nós os filhos
não tínhamos preguiça de ir a escola. Íamos com prazer, satisfação e amor pelo
esforço do nosso pai. Nunca esqueci os nomes dos livros que o papai comprou
para mim; o primeiro foi uma cartilha: Caminho Suave, no primeiro ano, Seleta
Escolar no segundo ano, Aventuras de Pedrinho no terceiro ano, Pedrinho e o
Mundo no quarto ano. Parei aí nunca mais sentei num banco de escola. Nesse
interim lá pelo meado do meu quarto ano, passei a morar com a minha avó do lado de
minha mãe, ela cozinhava num hotel onde os professores eram os hospedes durante
o ano letivo. Que riqueza! Que maravilha! Amava a minha professora que se
chamava: Lurdes Aleixo Figueiredo. Eu não tinha dificuldades nenhuma nas
lições, além de ser um aluno aplicado, muito estudioso e inteligente, ainda
contava com o carinho dos professores que me rodeavam o tempo todo. Também pudera! Eu era muito
prestativo servidor ajudava a vovó nas
tarefas mais leves do hotel, ajudava lavara louças, tirar agua de uma cacimba
enchendo a caixa d’agua que ficava num lugar elevado. Subia as escadarias como
se fosse brincar. Um dia este hotel firmou contrato com a segurança da cidade
para o fornecimento de alimentação dos presidiários. Fui designado marmiteiro
da cadeia; A distancia era mais ou menos
seis quadras em zig -e- zag, lembro-me quando a patroa da minha avó
disse: Meu filho, vou contar com você
para carregar comida para os presos? Você vai? Vou sim, senhora! Respondi-lhe,
o café da manhã era servido ás sete horas, mas as seis e meia eu já estava lá,
trazia de volta para o hotel as marmitas sujas e vazias do jantar de ontem, ás
dez horas levaria o almoço, traria de volta a garrafa de café e xícaras do café
da manhã, ás duas horas da tarde retornava com o lanche do meio da tarde. Era
café, leite, e pão com manteiga, não existia margarina. De novo e de volta com
as marmitas do almoço, ás dezoito horas lá vai o marmiteiro com o jantar para
os presos, eles eram assim: O mineiro com dois companheiros em uma cela e a
Jovelina com seu marido em outra cela, na ultima cela estavam mais dois
encarcerados. No inicio a gente ficava quieto, só entregava as coisas e voltava
em cima do rastro; primeiro porque, a vó não queria que eu demorasse e segundo
não tinha o que conversar com os presos, eram pessoas estranhas e nós os garotos da época tinha muito respeito
por quem quer que seja, em qualquer lugar que estivéssemos. Mas como o tempo
passa e a gente fala; logo os presos gostaram muito da gente, ademais eu era
muito alegre e simpático aos olhos de todos, comecei a gozar da confiança deles
já demorava mais tempo servia agua para todos
sobretudo porque o pote de agua era fora das celas, e não havia
geladeira para os preso, isso quando o carcereiro dava um saidinha no boteco da
esquina, me sentia a vontade com os
novos amigos muito embora sendo
presidiários. Um dos presos o mineiro
olhou para mim e disse: Meu filho você é um menino de ouro, és muito bom, te
conserve assim que serás muito feliz!
Faça tudo em sua vida para nunca vir parar num lugar desses em que estou com
estes companheiros. Isso não é lugar de gente! Isto aqui, é o lugar mais triste
que um cristão é obrigado viver! Isto aqui é um pedaço do inferno! Você aqui só
tem liberdade para fazer as necessidades fisiológicas e nada mais! Se ninguém
te der comida, morrerás de fome ou sede.! Diante deste relato do preso
aproveitei e perguntei: Porque o senhor está aqui? Não aborreça com minha
curiosidade! Ele pensou um pouco e me respondeu com duas lágrimas nos olhos!
Fiz uma loucura! Matei um japonês taxista! Mesmo com toda a razão que tinha,
nunca deveria ter feito uma desgraça daquelas! Hoje sou um homem derrotado por
uma fatalidade. Já chorei muito aqui dentro, mas duas coisas tenho certeza na vida! Nunca
esquecerei este fato que marcou minha
vida, jamais sairei daqui enquanto não pagar a pena. Sou estranho, não conheço
ninguém neste estado sou de outro, e muito longe daqui! Pormenorizou os fatos
dizendo: Eu estava num ponto chamado de Paturi, era um boteco de beira de
estrada, assim: Uma estrada que demandava de uma cidade chamada de Lucélia até Panorama
na barranca do rio Paraná. O Paturí era uma colônia de
japoneses que distava da estrada uns doze quilômetros. O dito japonês tinha um
automóvel da marca Mercury de cor preta que chegava reluzir aos raios do sol,
estava no ponto aguardando a passagem do ônibus que viria do lado de Panorama
cujas cidades eram: Tupy Paulista, Dracena, Junqueirópolis, Irapuru e Santa
Genoveva. Quem sabe saltaria do ônibus
algum passageiro das bandas do Paturi. Faria a corrida e tudo muito certo. Mas
parece que tem dias que a bruxa esta solta de canga e corda. Ali nas mediações do
boteco moravam algumas famílias que trabalhavam nas roças. Dentre elas havia
garotos já grandinhos lá pelos seus sete anos de idade, um desses moleques como
eram chamados naquele tempo passou por ali vendo o carro do japonês estacionado
no ponto. Vendo que estava empoeirado ele
passou o dedinho do farol até no rabo de peixe ficando o risco do seu dedo bem
distinto marcado pela poeira. O japonês sai do bar e vê aquilo no carro ficou
uma fera, como eu estava ali perto conversando com um amigo, ele me julgou o feitor
daquilo. Eu lhe disse: Não fiz isto, foi um moleque que passou o dedo ai. Não
fui eu! Mas apesar do amigo ter dito o mesmo, o japa retrucou: Você, nego sem vergonha! Está
com medo de Japão eu sabe lutar judô. Vai dar uma lição em gagin, corombo! Fechando
os punhos partiu para cima de mim. Tirei o corpo fora e disse: Arreda para lá
japonês; se vier de novo, lhe meto uma peixeirada, não venha? Ele se fez de
surdo e veio com tudo de novo, só sai para o outro lado, deixando a faca que
abriu a barriga do infeliz que caiu agonizante. Estava feita a desgraça, fuji dali, mas pouco tempo depois estava
encarcerado. Estou até hoje neste lugar horrível. Leve este meu conselho que servirá por toda a sua vida. A única coisa que
tenho para agradecer a você que traz comida para nós neste lugar de tormentos.
Vai meu filho, vai em paz! A liberdade é de Deus! A prisão é coisa que o
demônio criou!
ESTE É UM FATO VERDADEIRO! HISTORIA REAL!
CONTADO POR NÓS – LUIZÃO-O-CHAVES! 01/07/2013
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