Por longos anos, dois compadres se avizinharam, queriam se
bem como ninguém podia imaginar. Cada um tinha seu pedaço de terra, eram
lindeiros por apenas uma cerca de arame, cada um tinha um filho batizado pelo
outro e assim levavam a vida, como diz o caboclo: Cada um cuidando da sua!
Tocavam a roça, cuidavam das criações, se caso um precisasse do outro, sem
importar a circunstancia do momento. Estamos aí, compadre! Para o que der e
vier! Se der lucro nos divide, caso dê prejuízo, nos reparte! Quem mora em
sítios ou fazendas longe da cidade dificilmente tem diversões á disposição, a
não ser quando as famílias ao redor, é
em grande numero, eles se reúnem num final de semana para jogarem maia, bocha,
corridas de cavalos, corridas a pé e futebol. Fazem bailinhos para os filhos
rapazes e moças se divertirem, outros fazem novenas, terços e brincadeiras de
rodas e outros. Nisso os homens casados inventam, contar causos, jogarem truco
enquanto a moçada namora ajeitam até mesmo casamentos. Chega a ser muito
divertido, mas o que esses dois compadres gostavam mesmo era de caçar tatus.
Não gostavam muito dos bailes e nem de vigiarem a moçada. Deixavam para as
comadres esta tarefa. Compadre, amanhã as crianças vão dançar até lá pela meia
noite, como é sábado mesmo, enquanto eles se divertem vamos caçar uns tatus? É
isso mesmo compadre, vamos lá. Levavam os cachorros, uma pá de ponta, um
enxadão, a velha Pica pau e o lampiãozinho de querosene, alguns sacos de
estopas para trazer os tatus ou pegá-los vivos quando saíssem da toca. O bicho
saia de dentro feito uma bala, vestiam o saco na boca da toca e o animal caia
dentro do saco. Este está no papo; dizia um dos compadres! A caçada seguia bem,
quando os acordes da gaita de foles silenciavam eram o sinal que o baile
terminara, isso porque de longe e ainda mais a noite o barulho de qualquer
coisa vai muito longe. Eram tempos de ouro como diziam os mais antigos. Hoje as
leis proíbem a caça. São leis e a gente respeita. Viveram muito assim. Um dia
um dos compadres resolveu vender as terras e mudar para a cidade, com o
dinheiro apurado, tocaria um comércio que sempre fora seu sonho. Deu tudo muito
certo. Deu tão certo que o negócio da venda do sitio, o compadre ofereceu
primeiro ao amigo! O outro topou e realizaram tudo sem problemas. Fizeram até
uma festa de tanto contentamento entre as partes. Daí alguns dias o compadre
rumou para a cidade com a mudança. Estabeleceu, comprou uma casa com jeito para
o tão sonhado comércio. O compadre não cabia em si de tão feliz. Apesar de ter
ficado rico com o empreendimento novo, nunca esquecia do velho vizinho compadre e das
caçadas de tatus, sempre lembrava. Mas era muito ocupado, ser comerciante dá
uma trabalheira danada. Os tempos passaram e um dia o comerciante disse á
esposa: Estou querendo ir visitar nosso compadre, faz tempos que a gente não se vê. Se a gente não ir
vê-lo, o que pensará de nós? Que ficamos ricos e nem se lembra dele mais! Vamos
lá? Antes mandou um recado para o amigo, que final de semana vindouro, estaria
em sua casa igual um feixe de lenha! Para a gente comer um frango e caçar uns
tatus. O compadre ajeitou tudo e esperou o outro. Chegando o visitante todo
pomposo. De carro, de gravata com um monte de coisas para comerem, aproveitando
para mostrar ao outro como estava bem de vida, atualizado com tudo da cidade as
novidades e noticias do mundo inteiro. O outro ficou de boca aberta com tudo
que ouvira do compadre. Mas estava muito feliz com o visitante. As brincadeiras
deles não mudaram em nada. Compadre você está ficando buchudo? Que história é
essa? Antes era a comadre que ficava gordinha, agora o disco virou! Caiu na
risada! Foi um ká ká ká, quase sem fim. Foram até tarde da noite batendo papo. No
dia seguinte lembraram cedo das caçadas de tatus, combinaram para logo mais a
noite irem. Só que os apetrechos eram diferentes dos antigos. Levaram apenas uma lanterna, um botijão de gás daqueles
pequenos, os cachorros e os sacos de estopas, nada mais. O visitante achou
esquisito não levarem mais nada, mas ficou quieto pensando consigo! Das duas
uma: Meu compadre está mais atrasado do que antes, ou anda esquecido! Mas vamos
ver no que dará isso. O compadre não se conteve, não aguentou de curiosidade e
perguntou: Compadre? Me explica uma coisa? Cadê as outras ferramentas? O senhor
esqueceu? Como pegaremos os tatus sem elas? Pera aí, compadre? Dissera o outro!
Aqui também as coisas evoluíram! Hoje só caço com gás? Mas como, disse o outro!
É muito simples! Pego o bico da mangueirinha do botijão enfio no buraco, ele
não aguenta o cheiro e sai feito um
louco, pego todos, não me escapa nem um, saem do buraco tontos, vivinhos da”
Silva”, não mato mais nenhum aqui! Quer
ver? Pegaram o primeiro. O compadre ficou de queixo caído vendo a arte do
outro. Chegaram para pegar o segundo, primeiro ele arredou os cães para um
lado, e disse: Este é seu, viu compadre? Segure o saco na boca do buraco, que o
bicho vai sair, não deixa ele escapulir. Agora preste bem atenção! Veja como
ainda estou evoluindo, aqui no meu sertãozinho querido! Afastou o botijão para
bem longe da toca. O outro ficou mais intrigado ainda porque nem a
mangueirinha ele colocou no buraco como
dissera antes. Que diabo será que o compadre vai fazer só com as mãos limpas? Pensava
o ricaço! O velho roceiro aproximou da boca da toca e deu um grito: Lá vai o
gás! O tatu não esperou o segundo aviso. Cuspiu do buraco caindo certinho
dentro do saco! Enquanto o outro nem cria no que estava vendo, nosso compadre
caboclo rolava no chão, até doía-lhe a barriga de tanto rir do outro. Uma boa
peça este caboclo sertanejo pregou no sabichão. Esta mania todo capiau tem, e
dá muito certo! Basta esperar um pouco que, sempre tem um fulano de tal que
estudou bastante, o que é muito bom, mas ele se exibe mais do que aprendeu, vem
se mostrando tanto, raspando todos os érres que conhece, e sibilando os ésses
que existem, querer vir dar lições nos mais simples, as tais lições, nem ele
aprendeu durante a vida!.
MORAL: HÁ DENTRE MUITOS QUE ESTUDARAM TANTO, MAS QUE APRENDERAM
POUCO!
CONHECEMOS O SÁBIO,
PELA MANEIRA DE COMO QUE ELE TRATA OS DE MENOS CONHECIMENTOS.
UM POUCO COM HUMILDADE VALE MAIS DO QUE AQUELE QUE UFANA
BARBARIDADE!
HISTÓRIAS QUE OS CABOCLOS GOSTAM DE CONTAR PARA DIVERTIR
QUEM GOSTA DELES!
LUIZÃO-O-CHAVES.... 14/07/2013.............ANASTÁCIO -MS
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