sábado, 10 de agosto de 2013

VAMOS CAÇAR UM TATÙ COMO NOS VELHOS TEMPOS, COMPADRE?



Por longos anos, dois compadres se avizinharam, queriam se bem como ninguém podia imaginar. Cada um tinha seu pedaço de terra, eram lindeiros por apenas uma cerca de arame, cada um tinha um filho batizado pelo outro e assim levavam a vida, como diz o caboclo: Cada um cuidando da sua! Tocavam a roça, cuidavam das criações, se caso um precisasse do outro, sem importar a circunstancia do momento. Estamos aí, compadre! Para o que der e vier! Se der lucro nos divide, caso dê prejuízo, nos reparte! Quem mora em sítios ou fazendas longe da cidade dificilmente tem diversões á disposição, a não ser quando as famílias ao redor,  é em grande numero, eles se reúnem num final de semana para jogarem maia, bocha, corridas de cavalos, corridas a pé e futebol. Fazem bailinhos para os filhos rapazes e moças se divertirem, outros fazem novenas, terços e brincadeiras de rodas e outros. Nisso os homens casados inventam, contar causos, jogarem truco enquanto a moçada namora ajeitam até mesmo casamentos. Chega a ser muito divertido, mas o que esses dois compadres gostavam mesmo era de caçar tatus. Não gostavam muito dos bailes e nem de vigiarem a moçada. Deixavam para as comadres esta tarefa. Compadre, amanhã as crianças vão dançar até lá pela meia noite, como é sábado mesmo, enquanto eles se divertem vamos caçar uns tatus? É isso mesmo compadre, vamos lá. Levavam os cachorros, uma pá de ponta, um enxadão, a velha Pica pau e o lampiãozinho de querosene, alguns sacos de estopas para trazer os tatus ou pegá-los vivos quando saíssem da toca. O bicho saia de dentro feito uma bala, vestiam o saco na boca da toca e o animal caia dentro do saco. Este está no papo; dizia um dos compadres! A caçada seguia bem, quando os acordes da gaita de foles silenciavam eram o sinal que o baile terminara, isso porque de longe e ainda mais a noite o barulho de qualquer coisa vai muito longe. Eram tempos de ouro como diziam os mais antigos. Hoje as leis proíbem a caça. São leis e a gente respeita. Viveram muito assim. Um dia um dos compadres resolveu vender as terras e mudar para a cidade, com o dinheiro apurado, tocaria um comércio que sempre fora seu sonho. Deu tudo muito certo. Deu tão certo que o negócio da venda do sitio, o compadre ofereceu primeiro ao amigo! O outro topou e realizaram tudo sem problemas. Fizeram até uma festa de tanto contentamento entre as partes. Daí alguns dias o compadre rumou para a cidade com a mudança. Estabeleceu, comprou uma casa com jeito para o tão sonhado comércio. O compadre não cabia em si de tão feliz. Apesar de ter ficado rico com o empreendimento novo, nunca  esquecia do velho vizinho compadre e das caçadas de tatus, sempre lembrava. Mas era muito ocupado, ser comerciante dá uma trabalheira danada. Os tempos  passaram e um dia o comerciante disse á esposa: Estou querendo ir visitar nosso compadre, faz tempos  que a gente não se vê. Se a gente não ir vê-lo, o que pensará de nós? Que ficamos ricos e nem se lembra dele mais! Vamos lá? Antes mandou um recado para o amigo, que final de semana vindouro, estaria em sua casa igual um feixe de lenha! Para a gente comer um frango e caçar uns tatus. O compadre ajeitou tudo e esperou o outro. Chegando o visitante todo pomposo. De carro, de gravata com um monte de coisas para comerem, aproveitando para mostrar ao outro como estava bem de vida, atualizado com tudo da cidade as novidades e noticias do mundo inteiro. O outro ficou de boca aberta com tudo que ouvira do compadre. Mas estava muito feliz com o visitante. As brincadeiras deles não mudaram em nada. Compadre você está ficando buchudo? Que história é essa? Antes era a comadre que ficava gordinha, agora o disco virou! Caiu na risada! Foi um ká ká ká, quase sem fim. Foram até tarde da noite batendo papo. No dia seguinte lembraram cedo das caçadas de tatus, combinaram para logo mais a noite irem. Só que os apetrechos eram diferentes dos antigos. Levaram apenas  uma lanterna, um botijão de gás daqueles pequenos, os cachorros e os sacos de estopas, nada mais. O visitante achou esquisito não levarem mais nada, mas ficou quieto pensando consigo! Das duas uma: Meu compadre está mais atrasado do que antes, ou anda esquecido! Mas vamos ver no que dará isso. O compadre não se conteve, não aguentou de curiosidade e perguntou: Compadre? Me explica uma coisa? Cadê as outras ferramentas? O senhor esqueceu? Como pegaremos os tatus sem elas? Pera aí, compadre? Dissera o outro! Aqui também as coisas evoluíram! Hoje só caço com gás? Mas como, disse o outro! É muito simples! Pego o bico da mangueirinha do botijão enfio no buraco, ele não aguenta o cheiro  e sai feito um louco, pego todos, não me escapa nem um, saem do buraco tontos, vivinhos da” Silva”, não mato mais nenhum aqui!  Quer ver? Pegaram o primeiro. O compadre ficou de queixo caído vendo a arte do outro. Chegaram para pegar o segundo, primeiro ele arredou os cães para um lado, e disse: Este é seu, viu compadre? Segure o saco na boca do buraco, que o bicho vai sair, não deixa ele escapulir. Agora preste bem atenção! Veja como ainda estou evoluindo, aqui no meu sertãozinho querido! Afastou o botijão para bem longe da toca. O outro ficou mais intrigado ainda porque nem a mangueirinha  ele colocou no buraco como dissera antes. Que diabo será que o compadre vai fazer só com as mãos limpas? Pensava o ricaço! O velho roceiro aproximou da boca da toca e deu um grito: Lá vai o gás! O tatu não esperou o segundo aviso. Cuspiu do buraco caindo certinho dentro do saco! Enquanto o outro nem cria no que estava vendo, nosso compadre caboclo rolava no chão, até doía-lhe a barriga de tanto rir do outro. Uma boa peça este caboclo sertanejo pregou no sabichão. Esta mania todo capiau tem, e dá muito certo! Basta esperar um pouco que, sempre tem um fulano de tal que estudou bastante, o que é muito bom, mas ele se exibe mais do que aprendeu, vem se mostrando tanto, raspando todos os érres que conhece, e sibilando os ésses que existem, querer vir dar lições nos mais simples, as tais lições, nem ele aprendeu durante a vida!.

MORAL: HÁ DENTRE MUITOS QUE ESTUDARAM TANTO, MAS QUE APRENDERAM POUCO!
CONHECEMOS O SÁBIO, PELA MANEIRA DE COMO QUE ELE TRATA OS DE MENOS CONHECIMENTOS.

UM POUCO COM HUMILDADE VALE MAIS DO QUE AQUELE QUE UFANA BARBARIDADE!
HISTÓRIAS QUE OS CABOCLOS GOSTAM DE CONTAR PARA DIVERTIR QUEM GOSTA DELES!

LUIZÃO-O-CHAVES.... 14/07/2013.............ANASTÁCIO -MS

                   

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