Dia desses a onça encontrando com o lobinho,
velho amigo de andanças pelo mato estranhou o colega, vendo-o tão magro e com
os pelos arrepiados feio que dava dó, mas sempre alegre como fora nos velhos
tempos. Muito curiosa, a onça fez como certas pessoas que se dizem amigos da
gente fazem, quando nos encontram ao invés de olhar com prazer e satisfação no
rosto da gente, ficam olhando você de cima abaixo como se querendo saber como
tem passado esses tempos que a gente não se encontrava, se você está bem ou mal
de situação. Se esta mais bem vestido ou não, está diferente da ultima vez que
nos vimos. Uma verdadeira falta de educação, pelo menos eu acho. Então vamos lá.
Amigo lobinho? O que há com você? Anda doente, desanimado, solitário, parece
que está distante da realidade da vida, ou está em outro planeta, aéreo, biruta
o que há? Afinal que há com você? Me conta vamos lá, estou louca para saber! O
lobinho olhou aquele gatão pintado, gorda que só ela, passou a mão no queixo,
parecia não querer falar nada, mas enfim resolveu se abrir para a velha amiga.
Olha, disse ele! As coisas não andam muito bem para mim. Ando preocupado com a
situação! Época de crises para os homens no mundo afetam também a gente, nem
que seja indiretamente, até as caças do mato enfrentam dificuldades para
sobrevivência, não é mesmo? Derrubam nosso habitat, secam nossas aguadas a bicharada
fica sem o mínimo de defesa, passam venenos para tudo o que é lado os insetos
morrem todos, matam as aves em caçadas, os bichos em esperas, caçam com os cães
assustam todo mundo, carregam nossos filhotes e os criam em cativeiro para
venderem, enfim a coisa está preta para os bichos. Olha amiga ás vezes nem bem
acho o que comer direito e passo fome por isso que estou assim. Porque, você
quer me ajudar? Sim, disse a onça? Vamos ver o que posso fazer pelo amigo.
Vamos andar por aí! Chegaram num ponto na cabeceira de um córrego bem longe
dali. Olharam para o horizonte e ela disse: Vou ensiná-lo a caçar, você quer
aprender? Sim respondeu o lobinho! É meu sonho ser um hábil caçador, porque aí
eu nunca mais passarei fome. Agora me acompanha disse a onça, e veja como faço!
Primeiro você corta o vento, depois se esconde numa moita bem fechada, bem
perto do carreiro do que você pretende pegar, por exemplo; está vendo aquele monte de
bezerros que está vindo para cá beber água? Pois então! Eles vão passar por
aqui, dou um salto de surpresa, caio em cima dele, derrubo-o e já meto os
dentes no pescoço, está dominado, aperto-o no chão e num instante acabo de matá-lo
e bom apetite para nós! Viu como é fácil? Vi! Disse o lobinho. Preste bem
atenção como farei, vou pegar aquele bezerro que vem na frente, fique aí do
outro lado para ver melhor, mas muito quieto, senão o bicho desconfia e nós
perderemos o almoço de hoje. A onça ficou atenta e o bezerro entrou no carreiro
que era mais ou menos fundo até chegar a beira da água, ali do alto ela tinha
uma ótima visão para o salto, Dito e feito, deu um salto tão certeiro que o
bezerro nem sequer moveu uma orelha. Já estava dominado e ela sangrou-o no pé
do pescoço. Jorrou o sangue em abundancia. Este está no papo disse ela ao
amigo. Vamos almoçar enquanto está quentinho. Ele lambeu o sangue do bezerro
numa gulodice que dava medo ver. Era uma fome de lascar que o infeliz trazia
naquela manhã, ainda iria fartar-se de tanta carne. A onça sentou-se de um lado
e ficou espiando como o amigo se deliciava naquele banquete tão apetitoso e
oportuno. Ele lambendo todo o sangue derramado, encheu tanto que nem tinha mais
espaço no bucho para saborear a carne tão quentinha. Sentou-se também de frente com a amiga e com a língua de fora
e ansiado de tanto cheio. Olhava para a caça no chão. Que fartura! Pensava ele!
Que facilidade minha amiga tem para caçar, pegou este bezerro num piscar de
olhos. Acho isto incrível! É muita farinha para um pote só! Enquanto isso a
onça cofiava seus bigodes numa boa, acabara de dar uma belíssima aula de
sobrevivência para um dos seus melhores amigos o lobinho. O sol estava
levantando devagarinho no horizonte e nascente e ela começava a sentir uma
preguiça, mas era vontade de dormir lá na sua toca que era num oco de uma
figueirona dessa grossura, Disse ao
amigo: Já vou indo preciso descansar um pouco agora de manhã. Ele sentindo que
tinha faltado com as boas maneiras com a amiga, disse a ela: Desculpe-me amiga,
nem te convidei para dividirmos o almoço! Nada disso respondeu ela! Não se
incomode por mim! Estou de barriga cheia. Matei este só para ensiná-lo como
caçar, este é só teu, aproveite-o bem! Tchau, até outra hora! O lobinho ficara
maravilhado com a nova situação, aprendeu a caçar, estaria de pança cheia no
mínimo por uns três dias ou mais até, Era só vigiar o petisco para outro não
vir roubar. Estava no fim da crise, perspectivas muito animadoras, mais bem
preparado para a luta, enfim tudo dava certo.
Quando aquele banquete acabou, esfregou as mãos uma na outra, pensando
com seus botões: Agora sou um bom caçador! Mãos a obra. Andou por vários outros
bebedouros de água do gado, carneiros, cabritos e tropas em geral. Escolheu um
ponto estratégico e disse consigo: Daqui a pouco estarei beleza! Entrou na
moita de lixeira bem na beiradinha do carreiro que os vitelos iriam passar. Não
demorou muito, lá pelas nove horas, horário que os animais descem para a
aguada, já estava ele de plantão,
avistou ao longe um grupo deles que vinham com uma preguiça danada em
andar, aquela moleza que até parecia encomendada. Lá vem os bichos, numa coluna
só, em fila á moda índios na mata, na frente quem ponteava a turma era um burro
novo, gordo que só ele, pelos lisinhos que reluziam a luz do sol, era ainda pequeno no tamanho,
mas muito desenvolvido, ágil, atento, desconfiado como é a natureza dos muares,
mais atrás dele vinham os bezerros e carneiros, lá bem atrás, no coice da tropa
vinhas as vacas e bois, bem no finalzinho da fila é que vinha o touro, bicho
perigoso; mas estava muito longe. O lobinho nem pensava em escolher qual seria
a vitima. A amiga pegava qualquer um, tudo é carne. Os animais foram se
aproximando e o nosso futuro predador com os olhos fisgados no burrinho,
lambendo os beiços de tanta certeza de mais um churrasco dali a alguns minutos.
Quando o petisco foi passando por ele, saltou sobre o mesmo com uma certeza
inigualável. Cairia certinho em cima do burrinho, que muito mais ligeiro que o
lobinho, deu uma rapada de lado lhe oferecendo a sua traseira
juntamente com um par de coices certeiros no queixo e barriga do nosso
inexperiente predador que saiu voando pelos ares caindo numa moita de espinhos
de saranzeiro, aqueles de beira de rios. Este burro saiu numa desabalada carreira
e assoprando até muito longe dali, assustou todos os demais que se foram sem
beber agua naquele dia. E o nosso amigo como Ficou? Dava pena de vê-lo, o
queixo quebrado, a ponta da costela machucada sem ter forças para sair da moita
de espinhos, gemendo de dor, se lamentando da vida, até sair foi um custo!
Arrastando-se deitou por ali mesmo esperando a morte que dessa vez ainda não
veio. Ficou somente a lição de conhecimentos que ele nunca pensou que
precisaria um dia. Começou a meditar
naquele acontecimento tão trágico para ele, não pensou que onça é felino; ele é
canino, ela tem garras, ele tem apenas unhas curtas, a onça é grande, ele é
pequeno, ela tem muita força, ele é fraco demais, a onça domina qualquer vaca,
ele não domina nem uma cutia, concluiu dizendo: É uma verdade! Vou contentar em
procurar alguns corós em algum oco de pau, cascas de cigarras, cabeças de
coqueiros podres onde tem besouros e larvas, comer os restos dos outros que
caçam como a minha amiga que só come uma vez, ficando para mim os seus restos.
MORAL: AS NOSSAS PRETENSÕES PODEM
SER GRANDES, MAS PRECISAMOS MEDIR OS PRÓS E CONTRAS DO EMPREENDIMENTO ALMEJADO,
SEM ESQUECER NOSSAS LIMITAÇÕES.
CONTOS QUE O POVO CONTA, É PARTE
DO NOSSO FOLCLORE TÃO VASTO.
REPRODUZIDO POR:
LUIZÃO-O-CHAVES.......31/07/2013
ANASTÁCIO-MS
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