sábado, 10 de agosto de 2013

A ONÇA E O LOBINHO QUE QUERIA SER BOM CAÇADOR



 Dia desses a onça encontrando com o lobinho, velho amigo de andanças pelo mato estranhou o colega, vendo-o tão magro e com os pelos arrepiados feio que dava dó, mas sempre alegre como fora nos velhos tempos. Muito curiosa, a onça fez como certas pessoas que se dizem amigos da gente fazem, quando nos encontram ao invés de olhar com prazer e satisfação no rosto da gente, ficam olhando você de cima abaixo como se querendo saber como tem passado esses tempos que a gente não se encontrava, se você está bem ou mal de situação. Se esta mais bem vestido ou não, está diferente da ultima vez que nos vimos. Uma verdadeira falta de educação, pelo menos eu acho. Então vamos lá. Amigo lobinho? O que há com você? Anda doente, desanimado, solitário, parece que está distante da realidade da vida, ou está em outro planeta, aéreo, biruta o que há? Afinal que há com você? Me conta vamos lá, estou louca para saber! O lobinho olhou aquele gatão pintado, gorda que só ela, passou a mão no queixo, parecia não querer falar nada, mas enfim resolveu se abrir para a velha amiga. Olha, disse ele! As coisas não andam muito bem para mim. Ando preocupado com a situação! Época de crises para os homens no mundo afetam também a gente, nem que seja indiretamente, até as caças do mato enfrentam dificuldades para sobrevivência, não é mesmo? Derrubam nosso habitat, secam nossas aguadas a bicharada fica sem o mínimo de defesa, passam venenos para tudo o que é lado os insetos morrem todos, matam as aves em caçadas, os bichos em esperas, caçam com os cães assustam todo mundo, carregam nossos filhotes e os criam em cativeiro para venderem, enfim a coisa está preta para os bichos. Olha amiga ás vezes nem bem acho o que comer direito e passo fome por isso que estou assim. Porque, você quer me ajudar? Sim, disse a onça? Vamos ver o que posso fazer pelo amigo. Vamos andar por aí! Chegaram num ponto na cabeceira de um córrego bem longe dali. Olharam para o horizonte e ela disse: Vou ensiná-lo a caçar, você quer aprender? Sim respondeu o lobinho! É meu sonho ser um hábil caçador, porque aí eu nunca mais passarei fome. Agora me acompanha disse a onça, e veja como faço! Primeiro você corta o vento, depois se esconde numa moita bem fechada, bem perto do carreiro do que você  pretende  pegar, por exemplo; está vendo aquele monte de bezerros que está vindo para cá beber água? Pois então! Eles vão passar por aqui, dou um salto de surpresa, caio em cima dele, derrubo-o e já meto os dentes no pescoço, está dominado, aperto-o no chão e num instante acabo de matá-lo e bom apetite para nós! Viu como é fácil? Vi! Disse o lobinho. Preste bem atenção como farei, vou pegar aquele bezerro que vem na frente, fique aí do outro lado para ver melhor, mas muito quieto, senão o bicho desconfia e nós perderemos o almoço de hoje. A onça ficou atenta e o bezerro entrou no carreiro que era mais ou menos fundo até chegar a beira da água, ali do alto ela tinha uma ótima visão para o salto, Dito e feito, deu um salto tão certeiro que o bezerro nem sequer moveu uma orelha. Já estava dominado e ela sangrou-o no pé do pescoço. Jorrou o sangue em abundancia. Este está no papo disse ela ao amigo. Vamos almoçar enquanto está quentinho. Ele lambeu o sangue do bezerro numa gulodice que dava medo ver. Era uma fome de lascar que o infeliz trazia naquela manhã, ainda iria fartar-se de tanta carne. A onça sentou-se de um lado e ficou espiando como o amigo se deliciava naquele banquete tão apetitoso e oportuno. Ele lambendo todo o sangue derramado, encheu tanto que nem tinha mais espaço no bucho para saborear a carne tão quentinha. Sentou-se também  de frente com a amiga e com a língua de fora e ansiado de tanto cheio. Olhava para a caça no chão. Que fartura! Pensava ele! Que facilidade minha amiga tem para caçar, pegou este bezerro num piscar de olhos. Acho isto incrível! É muita farinha para um pote só! Enquanto isso a onça cofiava seus bigodes numa boa, acabara de dar uma belíssima aula de sobrevivência para um dos seus melhores amigos o lobinho. O sol estava levantando devagarinho no horizonte e nascente e ela começava a sentir uma preguiça, mas era vontade de dormir lá na sua toca que era num oco de uma figueirona  dessa grossura, Disse ao amigo: Já vou indo preciso descansar um pouco agora de manhã. Ele sentindo que tinha faltado com as boas maneiras com a amiga, disse a ela: Desculpe-me amiga, nem te convidei para dividirmos o almoço! Nada disso respondeu ela! Não se incomode por mim! Estou de barriga cheia. Matei este só para ensiná-lo como caçar, este é só teu, aproveite-o bem! Tchau, até outra hora! O lobinho ficara maravilhado com a nova situação, aprendeu a caçar, estaria de pança cheia no mínimo por uns três dias ou mais até, Era só vigiar o petisco para outro não vir roubar. Estava no fim da crise, perspectivas muito animadoras, mais bem preparado para a luta, enfim tudo dava certo.  Quando aquele banquete acabou, esfregou as mãos uma na outra, pensando com seus botões: Agora sou um bom caçador! Mãos a obra. Andou por vários outros bebedouros de água do gado, carneiros, cabritos e tropas em geral. Escolheu um ponto estratégico e disse consigo: Daqui a pouco estarei beleza! Entrou na moita de lixeira bem na beiradinha do carreiro que os vitelos iriam passar. Não demorou muito, lá pelas nove horas, horário que os animais descem para a aguada, já estava ele de plantão,  avistou ao longe um grupo deles que vinham com uma preguiça danada em andar, aquela moleza que até parecia encomendada. Lá vem os bichos, numa coluna só, em fila á moda índios na mata, na frente quem ponteava a turma era um burro novo, gordo que só ele, pelos lisinhos que reluziam  a luz do sol, era ainda pequeno no tamanho, mas muito desenvolvido, ágil, atento, desconfiado como é a natureza dos muares, mais atrás dele vinham os bezerros e carneiros, lá bem atrás, no coice da tropa vinhas as vacas e bois, bem no finalzinho da fila é que vinha o touro, bicho perigoso; mas estava muito longe. O lobinho nem pensava em escolher qual seria a vitima. A amiga pegava qualquer um, tudo é carne. Os animais foram se aproximando e o nosso futuro predador com os olhos fisgados no burrinho, lambendo os beiços de tanta certeza de mais um churrasco dali a alguns minutos. Quando o petisco foi passando por ele, saltou sobre o mesmo com uma certeza inigualável. Cairia certinho em cima do burrinho, que muito mais ligeiro que o lobinho, deu uma rapada de lado lhe oferecendo a sua  traseira  juntamente com um par de coices certeiros no queixo e barriga do nosso inexperiente predador que saiu voando pelos ares caindo numa moita de espinhos de saranzeiro, aqueles de beira de rios. Este burro saiu numa desabalada carreira e assoprando até muito longe dali, assustou todos os demais que se foram sem beber agua naquele dia. E o nosso amigo como Ficou? Dava pena de vê-lo, o queixo quebrado, a ponta da costela machucada sem ter forças para sair da moita de espinhos, gemendo de dor, se lamentando da vida, até sair foi um custo! Arrastando-se deitou por ali mesmo esperando a morte que dessa vez ainda não veio. Ficou somente a lição de conhecimentos que ele nunca pensou que precisaria um dia.  Começou a meditar naquele acontecimento tão trágico para ele, não pensou que onça é felino; ele é canino, ela tem garras, ele tem apenas unhas curtas, a onça é grande, ele é pequeno, ela tem muita força, ele é fraco demais, a onça domina qualquer vaca, ele não domina nem uma cutia, concluiu dizendo: É uma verdade! Vou contentar em procurar alguns corós em algum oco de pau, cascas de cigarras, cabeças de coqueiros podres onde tem besouros e larvas, comer os restos dos outros que caçam como a minha amiga que só come uma vez, ficando para mim os seus restos.
MORAL: AS NOSSAS PRETENSÕES PODEM SER GRANDES, MAS PRECISAMOS MEDIR OS PRÓS E CONTRAS DO EMPREENDIMENTO ALMEJADO, SEM ESQUECER  NOSSAS LIMITAÇÕES.
CONTOS QUE O POVO CONTA, É PARTE DO NOSSO FOLCLORE TÃO VASTO.
REPRODUZIDO POR: LUIZÃO-O-CHAVES.......31/07/2013

ANASTÁCIO-MS
 

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