Dentre muitas histórias do nosso
folclore ainda há histórias que apesar de todas terem um cunho de mistérios que
as envolvem, sempre há umas mais complexas que outras. Por exemplo: O rasga
mortalha, ou Matinta Pereira; como
queiram, os nomes em destaque é devido as regiões do nosso País e seus
costumes, sotaques, culturas, hábitos e conhecimentos diferentes das outras. Na
Amazônia, toda a região norte, no Nordeste, no Centro-oeste, no Sul e vai por
aí afora. Como é que este personagem do folclore se apresenta? Até onde eu já
li ouvi contar e descreverem é muito incerto, há muitas interpretações e cada
uma diferente das outras, Por exemplo: Vou descrevê-la conforme eu vi numa
noite dessas. Primeiro vamos explicar o que significa: Rasga-mortalha. Rasga:
Do verbo rasgar ou ato de rasgar, papeis, panos outras coisas como, rasgar o
verbo, quer dizer abrir um assunto ou coisa similar. Agora mortalha é uma
vestimenta que se usa para cobrir o corpo de um ente humano já falecido e em
cima de uma mesa, já pronto para ser velado conforme o costume tradicional.
Normalmente é de cor preta simbolizando o luto, que significa tristezas. Dizem
os mais antigos que este ente que sobrevoa á noite e por sinal muito tarde, em
forma de uma ave agourenta, quer dizer que traz azar, infortúnio. Mau agouro,
desgraças por onde passa ou sobrevoam a residência, bairro, vilas ou sítios,
chácaras fazendas, enfim por onde for. Nós tínhamos por vizinhos onde morávamos
numa vila de uma cidade pequena, dois sujeitos que gostavam de tomar muita cachaça
nos finais de semana, cair e ficar dando um trabalho danado para suas mães e
demais familiares. Eram eles Jorginho e o Nego. Gente boa pra chuchu.
Trabalhavam a semana inteira, prestativos e servidores que só vendo vocês. Bom
para todos, menos para eles, é claro! Acontece que o vicio do álcool mata as
pessoas lentamente, assim foi com o Nego. Um dia adoeceu, ficando de cama por
vários dias, corre daqui e dali, nada de melhora apesar dos cuidados dos
familiares e recursos disponíveis. Finalmente o médico disse: Tá muito difícil.
Leve ele para a capital. Levaram o Nego. Cá ficamos, amigos e vizinhos com
certa apreensão. Será que ele escapa dessa? Fui um dos que mais pensava no
caso. Ficou por lá alguns dias. Noticia dele, continua mal no hospital. E numa
noite dessas, lá pelas tantas, calculo passando das onze e meia ou mais. Ouvi:
nos ares lá fora, eu ainda acordado um: RRRRRRRRRRRAAAAAAPPPPPP,
RRRRRRRRAAAAAAAA. Era como se alguém rasgasse um pedaço de pano novo, porque o
barulho é mais nítido. Saí de imediato para fora de casa, olhei para o alto,
pude ver uma ave de cor rajada mais para claro, isso por baixo das asas e da
barriga, devido o reflexo das luzes dos postes da rua, ela batia as asas com muita
lentidão. Voo característico das aves noturnas, silencioso devido sua plumagem
parecer pelos de animal. Vim para dentro de casa pensando naquilo que vi, já
tinha ouvido falar que é um sinal de morte em família, quando ela passa voando
sobre uma casa. Lembrei-me do Nego de imediato. Se bem que nossas casas, uma é
ao lado da outra. Dormi um sono intranquilo. Logo que amanheceu o dia, o seu
parente me chama: Vizinho? O Nego morreu! Recebi a noticia nesta madrugada! Não
quis lhe incomodar. Daqui algumas horas chegará o corpo para ser velado. Diante deste acontecido fiquei acreditando na
aparição da ave agourenta. O tão falado
Rasga-mortalha! Os tempos passaram muito, um dia o velho amigo o Jorginho que
ficara órfão de mãe, achou mais uma desculpa para continuar bebendo, lembro que
após a morte do Nego nosso vizinho, ele tinha dado uma trégua nas bebedeiras.
Mas como o tatu nunca esquece do buraco, voltou com tudo. Ajudei-o muito nas
lutas para deixar o vicio, mas tudo em vão. Há! Cada um sabe o que faz! Algum
tempo depois foi a vez de Jorginho. O tal Rasga-mortalha parece não ter
esquecido daquela rua. Passou de novo sobre nossas casas. Desta vez não saí
para vê-lo, deixe isto para lá pensei! No outro dia morre Jorginho. Confirmando
a crendice de novo, a respeito do bicho agourento. Passaram muitos anos mais de
dez, de novo escuto o canto dele sobre nossa rua. Um velhinho de seus noventa
para lá. Morre no dia seguinte á sua aparição. Agora dizem os mais entendidos
no assunto que, se acontecer dele aparecer com seu canto tenebroso, corra para
fora e diz-lhe em voz alta: Venha buscar fumo? No outro dia cedo ou mais tarde,
fique atento com a aparição de um índio bem velhinho, até maltrapilho para ser
disfarçar. É ele! É o Rasga-mortalha! Que veio na forma humana em busca do fumo
que você prometeu. Então como recompensa pelo brinde, ele afasta aquele mau
agouro de sua casa. Quer entender? Ele tanto dá, como tira o azar. Se quiser chamá-lo
de Matinta Pereira não terá problema nenhum.
MORAL: A TUA CRENÇA É VOCÊ QUEM
FAZ, EU RESPEITO VOCÊ E ELA!
HISTÓRIAS QUE O NOSSO POVO CONTA,
COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES.
ESTA É MAIS UMA DO FOLCLORE
BRASILEIRO.
ANASTÁCIO MS. 15/07/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário