O sujeito gostava muito de caçar bichos numa mata que havia próximo
á tua casa, próximo é o modo de dizer, daria uns dois quilômetros de distância
de sua casa até lá onde iria ver se matava alguma caça. Andou, andou pela mata
adentro sai numa clareira entra em outro capão atravessa córregos e nada de
encontrar nada. Por fim sentou em tronco já mais podre que são, fumou um
cigarro pensou consigo; vou até nos barreiros
ver como está, se estiver bem comido e lambido vou arranjar um jeito de
espera, quem sabe mato algum bicho, chegando lá observou que estava como ele
pensou. Agora sim! Vou arranjar um jirau no capricho, e volto depois de amanhã,
daí até lá o meu cheiro de suor dissipa e as caças não estranharão a minha
passagem por aqui. Fez tudo direitinho conforme planejado, olhou como se fosse
de noite os pontos de tiro seguro, simulou um facho de lanterna convenceu que
tudo daria certo. Desceu e foi-se embora
todo feliz alimentando a esperança de no mínimo matar uma anta gorda ou um
veado mateiro, que são as caças que mais gostam de comer barro a noite. Os
outros bichos passam de dia comem um pouco logo vão embora, as vezes as aves
como, Jacutinga, mutuns. Jacus , aracuãns dão uma passadinha nos barreiros
também, mas o fazem durante o dia, as vezes por outras os queixadas e caititus
quatis e outros também vão aos barreiros. Chegado o dia, munido da espingarda,
o sapicuá de cartuchos, o facão, um travesseiro pequeno de penas para sentar e não fazer barulho algum, lá no
alto, porque senão as caças apesar de não verem quem as espera, elas ficam
velhacas e saem correndo. Ou por outra nem sequer chegam no barreiro. O bicho
noturno é muito desconfiado, essa é a natureza deles, ainda contam com os seus
sentidos muito aguçados como por exemplo, o faro, sentem qualquer cheiro estranho na
mata porque o cheiro da mata lhes é muito familiar, é o seu habitat e conhecem
tudo dele, um estalido de um galho quebrado eles sabem que não é como um que
cai. O barulho é muito perceptível, muito diferente um do outro. Então o nosso
amigo se acomoda no jirau ali pelas quatro da tarde, assiste o entardecer no
maior silencio da sua parte, ouve os cânticos de todas as aves, saudando a
chegada da noite ao longe as vezes ouve o cantar de um galo muito longe dali, as
gaitadas do jacu, o estralar das asas da jacutinga, o gemer do mutum, o uivo de
algum lobo, o bagunçar dos macacos se acomodando no alto das perobas ou jatobás
emaranhados de cipós, onde se escondem do seu predador pior, a onça pintada
ouve o miado da suçuarana em busca de caças também. Quando os macacos descobrem
o amigo no jirau, está perdido o tempo do coitado! Na maioria das vezes terá
que descer e vir embora, porque os símios dão alarme na mata, de um jeito que
toda caça desaparece das imediações e não sai nada naquela noite. Se o amigo
tiver mais sorte, quem sabe! No caso deste esperador, veja só o que lhe
esperava! Ainda com um pedacinho do dia, ele ouviu vindo do lado de suas costas
um barulho esquisito, diferente de andar dos bichos. Qual não foi a surpresa
que teve! Passando debaixo do seu jirau um baita dum bugre preto e peludo,
desta altura, cada braço com músculos dessa grossura, as mãos só vendo o
tamanho, os pés todo espalhado os dedos, as unhas dava medo ver, uma catinga
selvagem, com um cajado na mão, parou bem debaixo dele, espiou para cima, tinha
só um olho bem no meio da testa, deste tamanho, bem preto com um anel
amarelinho no meio, igual olho de corujão murucututu á luz de lanterna parecia
um facho de tão límpido, brilhava como
tal, bateu o cajado no pau que sustentava o jirau e disse: Desça daí e vem cá!
Ande logo! Intimou aquela coisa esquisita! O rapaz desceu com um medo que suas
pernas mal sustentando o peso do corpo. O bicho lhe perguntou: Cadê o fumo? De
cá um taco? Meu pito tá seco! O pobre rapaz sem jeito disse: Fumo eu não trouxe
hoje! O bicho replicou já querendo zangar, o que você faz, que não tem nem
fumo? Mas o rapaz teve um instante de lucidez, respondendo: Quer dizer, no
bolso eu não tenho! Mas o meu cachimbo está lotado, apontando para a espingarda
calibre doze. Quer experimentar ponha a boca aí na ponta do meu pito que já
risco o fogo? Já pensando em arrebentar a cabeça daquele tareco importuno, que
veio estragar sua esperada. O bicho não contou conversa, arreganhou um bocão
segurando o cano com uma das mãos, e este rapaz engatilhou a espingarda,
arrastou o dedo disparando de uma só vez os dois canos.
Tibooooooooommmmmmm. Pensou consigo o
rapaz, toma seu sem graça! Quando a fumaça dissipou, o bicho cuspiu todo o
chumbo por um dos cantos da bocarra, e disse: É meio fraco o seu fumo, mas
valeu! Se vier outra vez aqui, não te esqueça, traga do outro que é mais forte!
Com essa o nosso amigo achou ligeirinho o caminho de casa e nunca mais voltou
naquele lugar.
MORAL: QUEM CAÇA SEMPRE ACHA, FOI ESPERAR MAS JÁ
ESTAVA SENDO ESPERADO!
CONTOS QUE O POVO CONTA:
COISAS DE CABOCLO PARA O NOSSO FOLCLORE.
ANASTÁCIO MS- LUIZÃO-O- CHAVES... 26-07-2013
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