sábado, 10 de agosto de 2013

A LENDA DE COMO APARECEU A NOITE


No principio não havia a noite, era somente o dia que existia A noite era encerrada nas profundezas das  águas e dormia profundamente. Não havia animais silvestres de espécie nenhuma e todas as coisas falavam. A filha da cobra grande,  assim contam casara com um moço. Esse moço tinha sob seus serviços três servos fiéis. Um dia chamou-os e disse-lhes: Podem ir passear porque eu tenho muito sono e quero dormir. Os servos se foram, então chamou sua esposa para dormir também. Mas a esposa disse que não iria por não ser ainda a noite, então o moço disse-lhe: Não existe noite; é somente o dia que temos! A jovem então falou: Só dormirei quando houver a noite. Agora se queres que eu durma mande busca-la na casa do meu pai. Ele possui e ela está encerrada numa semente de tucumã, com todos os seus encantos e belezas que não conhecemos. O moço chamou os três servos e a esposa mandando-os á casa do seu pai. Não voltassem sem a noite dentro do caroço de tucumã. Os servos se foram. Chegando na casa da cobra grande esta lhes entregou um caroço de Tucumã muito bem fechado, dizendo-lhes: Aqui está  a noite com todos os seus encantos e belezas. Levai-a. Mas, cuidado! Não abrais, senão todas as coisas se perderão. Os servos levaram o côco de tucumã e ouviam dentro dele muitos ruídos. Tem, tem, tem, tem. xiiii, xiiii, xiii e quac, quac, quac, quac. Eram barulhos dos sapinhos e dos grilos que cantavam na noite. Quando já estavam longe, um dos servos disse a seus companheiros: Vamos ver que barulho é esse? O piloto do barco disse: Não! Do contrário nos perderemos. Foram descendo rio abaixo remando e dizendo vamos embora que é melhor. Mas o barulho continuava dentro do coco de tucumã. Eles ouviam com muita curiosidade mas não sabiam o que era! Estando já bem longe ajuntaram no meio da canoa acenderam fogo, derreteram o breu que fechava o caroço, abrindo-o escureceu tudo de uma só vez. O piloto disse: Agora estamos perdidos a moça em sua casa, já sabe que abrimos o caroço de tucumã. Prosseguira a viagem assustado com as trevas, mas admirados com as suas belezas. Haviam libertado a noite com os seus encantos selvagens. A filha da cobra grande disse então a seu esposo: Eles soltaram a noite. Agora temos que esperar a manhã. Então todas as coisa que estavam espalhadas  pelo bosque se transformaram em patinhos e peixes. Do cesto gerou-se a onça, o pescador e sua canoa transformaram em patos. Assim surgiram muitas coisas que ainda não havia. A filha da cobra grande quando viu a estrela  d’Dalva, disse ao marido: A madrugada vem rompendo. Vou dividir a noite do dia. Então ela enrolou um fio de cabelo e disse-lhe: Tu serás cujubim. Assim ela fez cujubim, pintou a cabeça dele de branco com tabatinga e as pernas de vermelho com urucum, e então  disse-lhe:  Cantarás para todo o sempre quando a manhã vier raiando. Assim, a lembrança  de sua esposa e da primeira aurora será sempre lembradas. E o cujubim ensinou todos os outros pássaros  que o principio do dia deveria ser anunciado e festejado. Assim eles todos cantam ainda hoje de madrugada. Quando os três servos chegaram a filha da cobra grande disse-lhes: Não fostes fieis. Abristes o caroço de tucumã, soltastes a noite e todas as coisas se perderam. Irão viver pulando de galho em galho das arvores, serão macacos. Serão sempre buliçosos sem nunca terem sossego. É por isso que no Amazonas existem uns macacos  de boca preta  e riscado de amarelo nos braços  Dizem que são ainda o sinal do breu que fechava o caroço de tucumã que se escorreu sobre eles quando os derreteram. E inventando histórias bonitas e ingênuas com esta que os nossos índios  explicam o aparecimento de todas as coisas.

HISTÓRIAS DO NOSSO FOLCLORE- REPRODUZIDA POR: LUIZÃO-O-CHAVES!


ANASTÁCIO, MS  12/07/2013

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