sábado, 10 de agosto de 2013

A CASA DO MEU AMIGO ERA ASSOMBRADA, EU NÃO SABIA!


 Nós morávamos numa cidadezinha relativamente pequena, dessas que todos conhecem quase todos, basta  passar na rua qualquer pessoa, um diz: Eu conheço este fulano; mora lá na rua tal em frente ao boteco de cicrano. Passa uma mulher, outro diz: Essa dona cria perus ou galinhas e mora numa chacrinha no fim de rua tal. De repente passa um garoto, outra diz: É filho de fulano com beltrana desde pequeno eu o conheço. Conheci os avós desta moça que vai passando ali e assim por diante. Sabem todos quem são todos em suas atividades, ademais porque nós os homens sempre que ajuntamos para o bate-papo, o assunto predominante é sobre serviços raras vezes os mais antigos lembram quando vieram para este lugar. Como era o lugarejo alguns anos atrás que ajudou a levantar a cidade, quem se mudou para outras paragens, os que já morreram os herdeiros que ficaram os que ainda estão vivos e vai por ai a fora, imensidade de assuntos que se preciso for conversarão o dia todo e o assunto não se esgota. Pelo lado das mulheres não é muito diferente falam de tudo e de todos principalmente quando dentre elas, as mais bem informadas para não dizer fofoqueiras ou enredeiras porque estas nunca faltam em lugar nenhum. Sempre há sobrando. Sabem de tudo e da vida alheia ainda mais. Querem ver é quando era tempos de festividades diversas como as festas mais tradicionais dentre os povos, exemplo: Santo Antônio, São João, São Pedro e os dias santos de guarda, época de missões na igreja católica quermesses, muito assistida; festas familiares quando havia casamentos, batizados, aniversários visitas de familiares que moravam em outros lugares. Vinham de muito longe. Então os visitados convidavam os vizinhos para que conhecesse os seus parentes. Era muito divertido, sempre havia trovadores, repentistas com seus instrumentos e contadores de histórias que muito divertia as crianças e os convidados. Era um tempo de fazerem amizades novas e conservar as outras feitas. Era raro uma inimizade ou malquerenças. As criaturas desses  tempos eram amigáveis, solidárias bondosas, raras vezes você via um rem, rem,  rem! Algum bate-boca ou um tirar isso a limpo. Tempos de muita paz. A felicidade parece que visitava as criaturas diariamente. Então, dos antigos do lugarejo morreu um deles alguns anos atrás. Ficaram os filhos da família, juntamente com o cônjuge que ficara viúvo. Mas não durou muito tempo o viúvo com os filhos. Os idosos enfrentam uma dura verdade que poucas pessoas sabem. Quando já estão em idades muito avançadas se um morre; não demora muito, o outro amarra as botas  também. Não suportam a solidão. Assim aconteceu, o outro partiu também. Ficaram os filhos não por muito tempo. Uns casaram indo para outro lugar, outro também, e os demais que nem sei quantos eram ao todo resolveram partir nem sei para onde, só sei que disseram que a casa estava muito grande, sentia a ausência dos demais, ficara muito chato estarem solitários o tempo todo. Ficando somente um dos filhos morando no casarão, este era o mais sossegado de todos. Não estava nem ai para nada. Trabalhava fora, ele mesmo cozinhava e lavava e passava a sua roupa. Quando se sentia cansado a vizinha do lado fazia os serviços. Limpava casa conservando a mobília antiga de seus pais. Saia de tempos em tempos visitar os irmãos que mudaram para longe. Os demais não ligavam para herança coisa nenhuma. Está com o mano, está tudo muito bem! Não quero nada não. Diziam os demais! Chegou o final do ano, tinha planos de ir passar em outro lugar na companhia dos seus irmãos. Precisava de alguém que desse uma olhada na sua casa enquanto não viesse da viagem, isso no ano que vem, e claro! Este amigo me procurou: Amigo você pode da uma olhada na minha casa enquanto não volto da viagem? Claro que posso? Afinal de contas o amigo ou vizinho que considera o outro é para servi-lo quando este precisa! Então estamos combinados! Aqui está a chave da casa, você dorme nela e no quarto que quiser, está tudo limpinho, bem arrumado e daqui a pouco eu viajo. Chegada a hora de viajar nos despedimos e ele se foi. Fiquei tranquilo, chegando a noite eu fui lá acendi as luzes da frente e do fundo simulando que na casa tinha alguém, isso quem passasse na rua teria esta ideia. Eu morava numa sobre esquina do outro lado da mesma rua, de forma que durante o dia de cá eu via quem chegava ou batia palmas lá, porque na época era muito difícil alguém ter campainha na entrada do portão ou no muro. Voltando para casa esperei até lá pelas quase onze da noite. Fui pousar na casa escolhi um quarto que não ficava muito distante da copa e esta dava para a varanda dos fundos. A casa era assim: Varanda da frente. Sala de visitas. Corredor, com cinco quartos, dois de um lado e três do outro, copa e depois a varanda dos fundos finalmente o quintal com muitas plantas frutíferas. Então como ia dizendo, deixei a luz do fundo acesa, a da frente também. Acendi uma do corredor e me acomodei numa cama de solteiro muito confortável. A gente sempre estranha a casa dos outros antes de dormir, não fazia frio, mesmo assim peguei o cobertor leve, me embrulhei cobrindo a cabeça, porque só durmo assim e com a luz apagada. Pelo umbral da porta do quarto que tinha vidros antigamente eu via só o clarão da luz do corredor, não era luz direta no quarto se assim fora o quarto não ficaria no escuro como eu gosto. Tudo silêncio, para todo lado e tarde da noite só se ouvia de quando em quando os latidos dos cães, uns em suas casas outros na rua. De repente ouço passos no corredor para lá e para cá, gente caminhando vindo da sala para os fundos  e vice-versa, movimento de pessoas mesmo. A luz do corredor apagou-se! Oras! Quem seria pensei! Girou a maçaneta da porta do quarto e entrou! Fiquei perplexo com um negocio desses! Senti que pegou na ponta do cobertor, deu um puxão e largou no piso e sumiu! Levantei acendi a luz, o cobertor no chão! O pior é que a porta estava fechada? Abri-a fui ao corredor novamente acendi a luz. Voltei e deitando, me cobri do mesmo jeito, ficando atento porque apagou de novo a luz e as andanças pelo corredor continuavam. Pensei comigo! Será o Benedito? Ou é o capote dele? Olha o que fiz? Levantei a cabeça do travesseiro para escutar melhor! De novo abrem a porta do quarto, ela rangiu nas dobradiças, não tive dúvidas, alguém abriu a porta. Ganhei outro puxão e o cobertor fica no chão! Foi um sopapo que balançou até a cama.  Levantei fiz tudo de novo. Porta fechada,  não vi ninguém acendi outra vez a luz do corredor. Voltei e deitei de novo! Fiquei alerta mais ainda! Desta vez embrulhei e mordi o cobertor, segurei firme embaixo do queixo e esperei. Lá vem o estrupisso com suas arrumações! Aconteceu tudo de novo. Só não me levou o cobertor porque eu segurei-o firme, desta vez só me balançou e sumiu! Inconformado com tudo, apesar do acontecido eu não tive medo hora nenhuma daquelas presepadas. Deixei a luz do corredor apagada, sai pé- ante- pé nele e na direção da porta que dava para a varanda dos fundos: Curiosamente olhei pelo buraco da fechadura da porta fechada. Olhem só o que eu vi! Um casal de velhos na varanda! Ela torcendo umas roupas no tanque e estendendo no varal. Ele sentado numa cadeira destas preguiçosas, fumando seu charuto numa boa, baforava e olhava para a fumaça que subia. Fiquei imaginando, como pode uma coisa dessas. Abri a porta sai na varanda. Não tinha ninguém! Mas ninguém mesmo! Olhei ao redor. Estava o maior silencio do mundo, nem cães latiam naquelas horas. Voltando, me agasalhei e dormi como criança. Nada mais me importunou pelo resto da noite. Amanheceu o dia e  todas as coisas no seu devido lugar, não tinha roupa nenhuma no varal nem cadeira preguiçosa na varanda. Nas noites seguintes aconteciam só movimentos de pessoas andando, varrendo a casa, espanando moveis escarrando as vezes, abrindo e fechando as portas. Mas eu nem me importei com nada. Parece que brincaram comigo vendo se eu era medroso. São coisas do outro mundo, o mundo sobrenatural. De certo amaram muito as suas coisas durante a sua existência e retornaram após morte para cuidarem daquilo que lhes pertenceu quando pela sua passagem material ou terrena.
MORAL: ONDE ESTIVER O VOSSO TESOURO ALI TAMBÉM ESTARÁ O VOSSO CORAÇÃO!
ESTA HISTÓRIA NÃO É CONTO, É UM FATO ACONTECIDO!
ELA É UMA PEQUENINA FAGULHA DA IMENSIDÃO CLARA DO NOSSO FOLCLORE.
LUIZÃO-O-CHAVES........07/07/2013.

ANASTÁCIO MS            

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