Chamava-se Sebastião do Carmo, um velho caçador de bichos e
caças diversas. Morava numa furna, para quem não sabe, furna é um lugar rodeado
de serras ou morros com reentrâncias e saídas formando vales, ou só um vale com
uma ou mais saídas. Geralmente são matas muito fechadas onde a vegetação é
densa, há delas que são atravessadas por rios ou riachos, lagoas ou qualquer um
desses cursos d’água são temporários. Isto é, quando chega a seca deles
desaparecem a agua ou ficam muito pouquinha que mal dá para a bicharada da mata
saciarem a sede. Toda espécie de caças e aves e animais vem ali. O Tião como
era mais conhecido, morador ali alguns anos. Conhecia toda a furna, apesar de ser muito grande,
extensa mesmo! Lidava com lavoura plantações diversas, era a sua vida. Só ele e
a esposa ali viviam. Nos dias de folga ou o dia que sentisse vontade de andar
no mato, saia para caçar. Caça nunca faltava, e de toda espécie, dava até para
escolher o que queria, fosse de dia ou noite, ai no caso seria a falada “espera”.
Onde o caçador faz um pequeno jirau em galhos, ou copa de arvores bem escondido
dos olhares dos bichos, porque a noite
os animais enxergam melhor que durante o
dia. Tião conhecia toda a mania, costumes ou hábitos de todos os bichos. Era um
homem entendido dessa arte, esperava em pés de frutas, carreiros, travessia e
barreiros. Não gostava de caçar com os cachorros porque os demais bichos se espantavam com a barulheira das
caçadas. Um dia desses era por sinal uma sexta feira, lá vai o Tião com a
espingarda a tira colo uma capanga de cartuchos e as munições que pudesse
precisar. Levava na cintura um facão, e sua traia de pitar. Aproveitou e levava
uma garrafa de pinga da boa, daquela que ele mais gostava. Sabedor que um dia é
da caça e outro dia é do caçador. Sabia também que na mata existe o protetor
dos bichos que se chama caipora. É um índio preto, baixinho, forte fisicamente,
cabeludo, olhos vermelhos, boca grande, dentes salteados e verdes, braços e mãos grandes, os cabelos são amarelos
e usa uma tanga de folhas de figueira ou pateiro. Monta um porco deste tamanho,
usa um cajado de cipó de Imbé ou vara de marmeleiro. Fuma um cachimbo e o fumo
dele é bosta de porco quando está seca, para que o fogo possa queimar, carrega
dois pedaços de pedra pequenos. Batendo um no outro dá centelhas de fogo, assim
ele acende o seu cachimbo! Este personagem das matas vigia constantemente toda
a bicharada! Se aparecer uma caça ferida por algum caçador ruim de pontaria,
que machucou o animal deixando-o ir embora assim ele pega o bicho e cura. Mas
costuma ficar furioso! Se pegar o tal caçador, está enrolado o fulano, dá-lhe
lições duras que ele enquanto lembrar, não caça mais! Um verdadeiro defensor
dos seus. Quem caça terá que tomar cuidado! Como todas as pessoas e animais e
coisas desta natureza tem também seu lado bom, com o caipora não é diferente!
Ela gosta que deem a ele fumo para o seu pito ou até mesmo cachaça, o que ele
retribui com prazer, oferecendo-lhes uma caça bonita e gorda para o fulano
abate-la e aproveitar bem. Então o Tião dirigiu para a mata, entrou furna
adentro, ao sair em uma clareira que antecedia o carreiro que o levaria ate um
dos barreiros, eis que surgiu na sua frente um veado da cor de algodão: Tião
tomou um susto! Nunca tinha visto deste animal com esta cor! Tinha ouvido
falara que existia, o que ele achava uma grande mentira. O bicho está olhando
para ele sem piscar! Acreditou porque via! E agora? Vou matá-lo, ora essa!
Estou caçando e porque não? Sacou da espingarda e lascou fogo no tal!
Tibuuuummmm ! A fumaça cobriu tudo! Quando essa dissipou, olhou , olhou não viu
nada nem o tal veado branco! Sumira de sua frente. Uai disse! Cadê o bicho? Só
viu uma arvorezinha pequena branca parecia ter uma pequena galhada de chifres
igualzinho do veado. Assustou com aquilo e resolveu correr, levou um tombo na
saída, ao levantar, teve uma surpresa! No lugar da arvorezinha saiu um tareco
parecendo o caipora, pitando o cachimbo e vindo na sua direção: Ficou
paralisado de tanto susto: O bicho lhe perguntou: Tião, porque você está
caçando hoje? Você não sabe que hoje é sexta feira, o dia das caças? Tião espantou
de ver o bicho falar! Mas meio sem graça respondeu: Me desculpa, eu esqueci que hoje é sexta! Não
aceito, replicou o bicho! Você sabe que dia foi ontem? Foi quinta disse o Tião.
Como é que queres me enganar, sabendo que ontem foi quinta? Você tem calendário
em sua casa? Tenho sim? Porque não o consulta antes de sair? Mas eu não sei
ler, disse o Tião! A sua mulher não sabe? Sabe sim? Você não me engana, viu
rapaz? Além de desrespeitar a lei da caça, é um mentiroso querendo me passar
para trás. Onde já se viu isso? Eu não sou trouxa, está bem? Sim disse o Tião! Mas
o senhor não vai me desculpar mesmo? Não vou! Disse o caipora! Como castigo eu
vou furar um dos teus olhos com o chifre do veado! Mas o veado foi embora disse
o Tião! Eu dou um assobio e ele volta ligeirinho, disse o caipora! O Tião era
mais velhaco do que o caipora pensava e argumentou sabendo das suas fraquezas.
Por sorte eu tenho aqui no meu bornal um remédio muito bom para olho furado.
Minha mulher me deu para trazer caso acontecesse qualquer tipo de machucadura
com corte e sangue. Assim o senhor pode furar meu olho, no instante vai sarar,
passarei cachaça no furo, tenho aqui um litro cheinho sem abrir! Tenho um palmo de fumo de corda do melhor, masco e
passo o melado para aliviar a dor. O caipora de um salto tão grande de alegria
que o Tião deu risada já saboreando a vitória sobre ele. Disse o caipora: Você
tem pinga aí? Me da logo este litro de
pinga, que estou com a garganta seca? Dar não? Disse o Tião! Podemos negociar
se caso você se interessar! Dou toda
pinga e o fumo, mas você me deixa ir embora em paz. Está bem, esta bem até
demais disse o caipora. Mas vou fazer uma exigência a você? Não cace mais na
sexta, combinado? Não caçarei, te prometo disse o Tião! Tudo acertado o caipora
tomou a pinga de duas goladas, estalou a língua de satisfação, pegou o fumo
rasgou no dente pôs no cachimbo acendeu sorrindo despediu do Tião, chamou um
porco do mato deste tamanho, quebrou um galhinho de japecanga açoitou o porco e
sumiu no mato. O Tião veio embora contente mesmo sem ter trazido nada da
caçada.kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
CONTOS FOLCLÓRICOS:
PARTE DA NOSSA CULTURA SERTANEJA.
REPRODUZIDO POR: LUIZÃO-O-CHAVES.... 08/07/2013
ANASTÁCIO MS.
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