sábado, 10 de agosto de 2013

UM VELHO CAÇADOR QUE ENCONTROU COM O CAIPORA



Chamava-se Sebastião do Carmo, um velho caçador de bichos e caças diversas. Morava numa furna, para quem não sabe, furna é um lugar rodeado de serras ou morros com reentrâncias e saídas formando vales, ou só um vale com uma ou mais saídas. Geralmente são matas muito fechadas onde a vegetação é densa, há delas que são atravessadas por rios ou riachos, lagoas ou qualquer um desses cursos d’água são temporários. Isto é, quando chega a seca deles desaparecem a agua ou ficam muito pouquinha que mal dá para a bicharada da mata saciarem a sede. Toda espécie de caças e aves e animais vem ali. O Tião como era mais conhecido, morador ali alguns anos. Conhecia  toda a furna, apesar de ser muito grande, extensa mesmo! Lidava com lavoura plantações diversas, era a sua vida. Só ele e a esposa ali viviam. Nos dias de folga ou o dia que sentisse vontade de andar no mato, saia para caçar. Caça nunca faltava, e de toda espécie, dava até para escolher o que queria, fosse de dia ou  noite, ai no caso seria a falada “espera”. Onde o caçador faz um pequeno jirau em galhos, ou copa de arvores bem escondido dos olhares  dos bichos, porque a noite os animais enxergam  melhor que durante o dia. Tião conhecia toda a mania, costumes ou hábitos de todos os bichos. Era um homem entendido dessa arte, esperava em pés de frutas, carreiros, travessia e barreiros. Não gostava de caçar com os cachorros porque os demais  bichos se espantavam com a barulheira das caçadas. Um dia desses era por sinal uma sexta feira, lá vai o Tião com a espingarda a tira colo uma capanga de cartuchos e as munições que pudesse precisar. Levava na cintura um facão, e sua traia de pitar. Aproveitou e levava uma garrafa de pinga da boa, daquela que ele mais gostava. Sabedor que um dia é da caça e outro dia é do caçador. Sabia também que na mata existe o protetor dos bichos que se chama caipora. É um índio preto, baixinho, forte fisicamente, cabeludo, olhos vermelhos, boca grande, dentes salteados e verdes,  braços e mãos grandes, os cabelos são amarelos e usa uma tanga de folhas de figueira ou pateiro. Monta um porco deste tamanho, usa um cajado de cipó de Imbé ou vara de marmeleiro. Fuma um cachimbo e o fumo dele é bosta de porco quando está seca, para que o fogo possa queimar, carrega dois pedaços de pedra pequenos. Batendo um no outro dá centelhas de fogo, assim ele acende o seu cachimbo! Este personagem das matas vigia constantemente toda a bicharada! Se aparecer uma caça ferida por algum caçador ruim de pontaria, que machucou o animal deixando-o ir embora assim ele pega o bicho e cura. Mas costuma ficar furioso! Se pegar o tal caçador, está enrolado o fulano, dá-lhe lições duras que ele enquanto lembrar, não caça mais! Um verdadeiro defensor dos seus. Quem caça terá que tomar cuidado! Como todas as pessoas e animais e coisas desta natureza tem também seu lado bom, com o caipora não é diferente! Ela gosta que deem a ele fumo para o seu pito ou até mesmo cachaça, o que ele retribui com prazer, oferecendo-lhes uma caça bonita e gorda para o fulano abate-la e aproveitar bem. Então o Tião dirigiu para a mata, entrou furna adentro, ao sair em uma clareira que antecedia o carreiro que o levaria ate um dos barreiros, eis que surgiu na sua frente um veado da cor de algodão: Tião tomou um susto! Nunca tinha visto deste animal com esta cor! Tinha ouvido falara que existia, o que ele achava uma grande mentira. O bicho está olhando para ele sem piscar! Acreditou porque via! E agora? Vou matá-lo, ora essa! Estou caçando e porque não? Sacou da espingarda e lascou fogo no tal! Tibuuuummmm ! A fumaça cobriu tudo! Quando essa dissipou, olhou , olhou não viu nada nem o tal veado branco! Sumira de sua frente. Uai disse! Cadê o bicho? Só viu uma arvorezinha pequena branca parecia ter uma pequena galhada de chifres igualzinho do veado. Assustou com aquilo e resolveu correr, levou um tombo na saída, ao levantar, teve uma surpresa! No lugar da arvorezinha saiu um tareco parecendo o caipora, pitando o cachimbo e vindo na sua direção: Ficou paralisado de tanto susto: O bicho lhe perguntou: Tião, porque você está caçando hoje? Você não sabe que hoje é sexta feira, o dia das caças? Tião espantou de ver o bicho falar! Mas meio sem graça respondeu:  Me desculpa, eu esqueci que hoje é sexta! Não aceito, replicou o bicho! Você sabe que dia foi ontem? Foi quinta disse o Tião. Como é que queres me enganar, sabendo que ontem foi quinta? Você tem calendário em sua casa? Tenho sim? Porque não o consulta antes de sair? Mas eu não sei ler, disse o Tião! A sua mulher não sabe? Sabe sim? Você não me engana, viu rapaz? Além de desrespeitar a lei da caça, é um mentiroso querendo me passar para trás. Onde já se viu isso? Eu não sou trouxa, está bem? Sim disse o Tião! Mas o senhor não vai me desculpar mesmo? Não vou! Disse o caipora! Como castigo eu vou furar um dos teus olhos com o chifre do veado! Mas o veado foi embora disse o Tião! Eu dou um assobio e ele volta ligeirinho, disse o caipora! O Tião era mais velhaco do que o caipora pensava e argumentou sabendo das suas fraquezas. Por sorte eu tenho aqui no meu bornal um remédio muito bom para olho furado. Minha mulher me deu para trazer caso acontecesse qualquer tipo de machucadura com corte e sangue. Assim o senhor pode furar meu olho, no instante vai sarar, passarei cachaça no furo, tenho aqui um litro cheinho sem abrir! Tenho  um palmo de fumo de corda do melhor, masco e passo o melado para aliviar a dor. O caipora de um salto tão grande de alegria que o Tião deu risada já saboreando a vitória sobre ele. Disse o caipora: Você tem pinga aí? Me da logo este  litro de pinga, que estou com a garganta seca? Dar não? Disse o Tião! Podemos negociar se caso você se interessar!  Dou toda pinga e o fumo, mas você me deixa ir embora em paz. Está bem, esta bem até demais disse o caipora. Mas vou fazer uma exigência a você? Não cace mais na sexta, combinado? Não caçarei, te prometo disse o Tião! Tudo acertado o caipora tomou a pinga de duas goladas, estalou a língua de satisfação, pegou o fumo rasgou no dente pôs no cachimbo acendeu sorrindo despediu do Tião, chamou um porco do mato deste tamanho, quebrou um galhinho de japecanga açoitou o porco e sumiu no mato. O Tião veio embora contente mesmo sem ter trazido nada da caçada.kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

CONTOS FOLCLÓRICOS:  PARTE  DA NOSSA CULTURA SERTANEJA.

REPRODUZIDO POR: LUIZÃO-O-CHAVES.... 08/07/2013
ANASTÁCIO MS.


Nenhum comentário:

Postar um comentário