Certa vez, um certo senhor e pai de família, deixou a sua
querência em busca de melhores condições de vida para si e para os seus. Onde
moravam as condições eram de imensas dificuldades. O ganho pouco, família numerosa,
ainda que a esposa lavasse e passasse roupas para terceiros, afim de ajudar na manutenção do lar, ambos
desejavam muito, conseguir um trabalho
melhor, rentável assim que desse para terem mais abastança na dispensa, roupas
melhores para as crianças e para eles também. A casinha que moravam era
modesta, estavam contentes com a mesma. Pensa e repensa de como agirem, até que
pareceu terem achado uma solução para o caso. Resolveram vender as criações que
tinham, eram da roça, com o dinheiro apurado comprou viveres para deixar para a
esposa e os filhos, enquanto ele viajaria para um lugar muito distante, e que
talvez não voltasse em menos de um ano. Tudo combinado, a esposa seria mãe e
pai enquanto ele não voltasse da viagem tão demorada. Assim sucedeu, viajou muitos dias ora aqui,
ora ali em busca de serviços não encontrando ali mais perto de sua querência
foi se distanciando cada vez mais, até que entrou em outro reino, muito longe
mesmo. Lugar estranho, pessoas e coisas todas diferentes do seu lugar que
ficara tão distante. Um dia ainda em viagem e já passando do meio dia sentiu
fome, estava sem matula resolveu chegar numa casa próxima da estrada, era uma
pequena chácara pra pedir algo para comer. Chegando foi atendido, mas a mulher
lhe disse: Como já e fora de horário do almoço não tenho nem sobra do mesmo, a
única coisa que tenho é ovos, se o senhor quiser, posso cozinhá-los ou faço-lhe
uma farofa como o senhor quiser. Está bem disse o homem pode cozinhá-los,
aceito só que no momento não tenho como pagá-la estou em viagem buscando um
meio de ganhar algum dinheiro, outro dia que passar de volta te pagarei. Está
bem disse a mulher. Selecionou uma dúzia deles e assim fez. Anotou e guardou. O
viajante se foi, passando um ano ele retornou a saldar a conta. Levou um susto
com a soma da despesa. Era um absurdo o valor da conta. A mulher contabilizara
da seguinte forma: Dez ovos que sairiam dez frangas, estas em um ano dariam xis
de produção, desta produção muitas vezes mais reprodução; com os dois frangos
também a mesma coisa, no final deu no que deu, seria na matemática uma coisa
muito complicada. E agora pagar como? A mulher só receberia conforme suas
contas. Não havendo acordo foram parar na justiça, a mesma enviou para o rei de
seu País Era um monarca muito rigoroso quando se tratava de questões. O rei
determinou que ele pagasse sem reclamar. Caso não o fizesse iria para a forca.
As leis de seu reinado eram assim: Descumpriu a lei vai para a forca. E agora,
pensou o pobre homem? Um ano fora de casa, o dinheiro para a família, uma conta
deste tamanho para pagar, sem ter condições e preso por não poder quitar a mesma, lugar
desconhecido. Parece que até o destino conspirava contra ele. Pediu ao rei que
lhe concedesse um mínimo de misericórdia! Queria ao menos ver a sua família
antes de morrer. Depois de muito relutar o rei consentiu antes porem, reuniu o
seu conselho, o juiz e os advogados de acusação, porque não havia um sequer de
defesa. Concordaram em liberá-lo. Foi algemado, era o sinal dos condenados em
transito que não deveria nem tocar nas algemas, se viesse com um risco nelas
seria pior sua situação. Foi e ,visitou sua família ficou uns dias e vinha
retornando quando encontrou um senhor forasteiro também, indagou o porque
daquilo. O pobre homem contou sua história, o desconhecido pensou, refletiu no
caso e disse: Serei teu advogado. Vamos vencer esta armadilha, esta causa,
tenho um plano! Chegando lá avise o rei que você tem um advogado de defesa.
Comparecerei nesta data sem falta para ler e ver o processo. Tem direito á
defesa sim, a lei de qualquer país lhe dá este direito. Nada feito enquanto eu
não chegar. Leve meu nome, apresente-o a eles, depois irei lá. Fez tudo
conforme o desconhecido lhe dissera. Foi aceito, já havia marcado a data da execução.
O advogado compareceu tomou ciência da situação lendo e relendo o processo,
pediu três dias de prazo. A corte aceitou com uma condição; se atrasar quinze
minutos do prazo, nem precisaria vir, pois palavra de rei nunca volta atrás, já
o encontraria o réu enforcado sem apelação, Ai a culpa seria sua por atrasar.
Tudo muito bem explicado com o carimbo e selos reais no contrato. O advogado
desconhecido voltaria no prazo. Chegado o dia e horas marcadas, lá estão todos
á espera do advogado desconhecido que começa a demorar, e olham para a estrada,
passavam cinco minutos do horário, dez minutos, o rei estava perdendo a
paciência juntamente com o juiz e advogados de acusação e o povo que estava
presente para assistir a execução estavam apreensivos, uns queriam ver logo a
execução outros torciam pela demora esperando um pouquinho de compaixão dos
jurados em favor do infeliz condenado, o rei esbravejou e pediu que colocassem
a corda no pescoço do rapaz, a maioria do povo achava uma grande injustiça, uma
coisa daquelas, por uma dúzia de ovos sacrificar um homem? A mulher que
levantou a questão não tinha um pingo de remorso pelo que estava fazendo, ela
era criadora de aves em geral, não podia ter prejuízo na sua profissão. O
coitado do réu estava em prantos, mas fazer o que? Seu advogado não chegava! A
única pessoa que tinha forças contra aquele rei impiedoso era a sua única filha.
A moça levantou e disse: Este rapaz, disse a moça, não merece ser sacrificado
assim sem uma defesa ainda que seu advogado nada consiga ou que nem compareça!
Foi lá tirou a corda do pescoço do réu, colocou no seu e disse: Esperarei mais
quinze minutos no lugar dele. Puxem a corda se estiverem com pressa. Houve um
silencio estarrecedor! O rei baixou a cabeça e nada disse. Olharam para a
estrada e lá viram uma poeira longe, um cavaleiro vinha a galope, deduziram: É
ele! É o advogado do rapaz! Quando ele chegou, amarrou o animal no palanque com
toda paciência, tirou o chapéu cortesmente e reverenciou sua majestade,
cumprimentou a todos, pediu licença foi até ao réu, disse-lhe: Não te impaciente meu rapaz, quem lhe atou, irá desatá-lo daqui a pouco, isto eu te garanto! Foi e se apresentou, só que havia passado dezoito minutos do
tempo que rezava no contrato. O rei levantou irado com o moço. Isso é hora de
chegar? Que autoridade você é, que não respeita o horário de uma audiência?
Minha filha perdeu a paciência! Está como refém do condenado! Quem vai para o
lugar do réu é você agora? Não tens direito de dizer mais nada! Ordenou ao
carrasco que o pegasse a força. Está bem disse o advogado! Não precisa usar de
violência, ficarei no lugar dele, pagarei por ele! É um pai de família, precisa
de misericórdia, coisa que aqui só vi em sua filha a princesa. Além disto, eu
sou sozinho no mundo, nem precisam ter pena de mim. Isso se eu for enforcado! Nada
se perderá! Amei esta moça de coração! Pelo seu gesto de amor para com este
infeliz pai de família. Sei que nunca a merecerei! Fizeste a tua parte
princesa! Dirigindo as palavras á moça. Agora
farei a minha se o rei meu senhor me conceder uma licença. Peço-te, ó majestade! Use de um mínimo do seu bom
senso, me dê uma chance de falar, de contar, ao menos justificar, porque
atrasei no horário. Dou sim, disse o rei! Diga logo porque, temos pressa para a
execução. O advogado relatou: Para os que não me conhecem, não sou advogado! Vim aqui só para livrar este rapaz da forca. Eu
sou camponês, vivo do trabalho de roças, tive que esperar um pouco até cozinhar
dois quilos de feijão para eu poder plantá-lo amanhã á tarde. E demorou um
pouco, peço desculpas pelo atraso. Eis os meus documentos: Um registro civil, e
os outros que qualquer um porta, ainda espalmando as mãos, mostrou-as cheia de
calos. Todo o povo que viu e ouviu o
relato, mais os advogados o juiz o rei e sua família, menos a princesa.
Desdobraram-se em risadas, o rei aproveitou e debochou do que ele falou e das
mãos que mostrara. Acrescentou ainda, mãos cheias de calos não salva ninguém da
forca, se não tens argumentos pode dar o fora, não lhe cabe mais aqui. Eu sabia
que tu não eras advogado coisa nenhuma, logo vi, só que não podia negar a
defesa do réu; mesmo que nada represente
em termos de defesa, sois um maluco, um doido varrido. É o que veremos, majestade disse o rapaz!Ainda para envergonhar
mais o rapaz, perguntou apontando para o povo: Algum de vocês já viu feijão
cozido nascer? Só na ideia deste advogado! O povo dissera em coro: Feijão
cozido não nasce doutor! Aonde o senhor arranjou essa? Ele calmamente, disse: Dos ovos cozidos que este rapaz comeu ha um ano atrás mesmo deitando uma galinha
sobre eles, nunca sairiam pintos também! Voltou para a mulher da questão: A
senhora não os cozinhou? Mesmo a contra gosto a mulher assentiu com a cabeça
afirmativamente, e confirmou, sim; os cozinhei! Então nunca sairiam pintos, replicou ele pela
segunda vez! Gostaria muito que todos os presentes soubessem de uma coisa: O
peixe morre é pela boca! Como sertanejo que sou, só mato porco gordo! Tenho
pena de matar os magros! Foi um silêncio geral! Todo o corpo de jurados quase
morre de tanta vergonha. Apontando para o rei disse: Vossa majestade se tiver
coragem agora, como está com pressa e ainda achar contra argumentos, puxe a
corda, enforque o rapaz em cima desta minha tese! Duas lágrimas desceram dos
olhos da princesa, que veio e abraçando o camponês, beijou repetidas vezes o
rosto do verdadeiro advogado. Tirando a
coroa, as suas joias, braceletes e tudo que a enfeitava colocando sobre a mesa
disse ao rei: Sei que sou a herdeira deste trono, sou tua filha única, renuncio
tudo se for o caso. Quero te pedir duas coisas, meu pai: A primeira é o vosso
consentimento para desposar este roceiro. A segunda: Que seja desfeito de imediato esse conselho
que te assessora e o corpo de jurados também. Vi muitas injustiças,
e não pretendo ver mais nenhuma! O réu após ser liberto veio e beijou os pés da
princesa e também as mãos do seu futuro esposo. Ninguém sequer tinha assistido
uma cena daquela em toda a vida. Uma cena até comovente para muitos que no
peito tem um coração generoso. Um simples roceiro que se fez passar por advogado,
mas que só sabia ler e escrever, nada mais.
MORAL DA HISTÓRIA: AS
LETRAS, O CONHECIMENTO É MUITO BOM, ADQUIRIMOS NA TERRA, MAS SE SOMADOS
Á ALTIVEZ DO ESPIRITO, MATAM SEM PIEDADE!
ENQUANTO QUE A SABEDORIA
DIMANA DO ALTO, VEM NA MEDIDA E HORA
CERTA PARA SALVAR SEM DISTINÇÃO!
COISAS QUE OS CABOCLOS GOSTAM DE CONTAR...
LUIZÃO-O-CHAVES... ANASTÁCIO. MS 20/07/2013