Era uma vez um senhor que
durante muitos anos fora boiadeiro, viajava conduzindo boiadas pelo estradão,
agora já de bastante idade e que só possuiu três filhos ao longo da vida, quase
nem viu os filhos crescerem de tanto que viajava, quem os instruiu nas
profissões que deveriam exercer quando crescessem foi a mamãe, mas como
qualquer um eles tinham nomes bonitos, eles também tinham lá seus gracejos, mas
eram mais conhecidos e chamados por apelidos até certo ponto debochados. Era de
acordo com as características de cada um, “Fininho” porque era alto e magricelo,
franzino mesmo, mais do que seus dois irmãos, a sua profissão era a de
carpinteiro. “Corote” era o segundo, este era baixo e rechonchudo, tinha por
profissão a de moleiro. ”Urutau” o derradeiro porque era do tipo calado,
parecia desligado do mundo atual, não estava nem aí para coisa alguma. Parecia
um trouxa de férias, ou um “Urutau”, aquela ave que é tida com a mais tola de
todas porque vive de bico aberto o tempo todo na ponta de um galho seco ou
tronco sem os mesmos. Exercia a profissão de roceiro. Um dia desses o Fininho
enjoado de viver no lugarejo onde não tinha nada de novo, resolveu ir embora
daquele lugar monótono em busca de melhores condições de vida e até mesmo
divertido. Arrumou as ferramentas de seu oficio numa sacola e algumas moedas no
bolso para suas despesas de viagem até conseguir um serviço bom e rendoso.
Chamou no pé depois de despedir dos pais e seus irmãos os quais lhe desejaram
muita sorte no empreendimento. Viajou feliz, ia para toda parte sempre
confiante em adquirir o que sempre sonhara, embora a tarefa não era tão fácil
como parecia . Um dia observou que já
não tinha mais nenhum trocado no bolso, ficou imaginando como faria para comer
no dia seguinte. Estava sentado na beira do caminho pensando, nisto surgiu um
velhote que vinha da sua casa não muito longe dali, perguntou o motivo da sua
tristeza, o que ele respondeu: Estou longe de casa e não tenho nenhum tostão
para comer alguma coisa, não conheço ninguém e estou com fome! Como posso estar
feliz e sorrindo numa situação dessas, meu senhor? Isso não é nada disse o
velhinho! Venha comigo, moro aqui perto com minha velha num bosque lindo, nos
fundos dele tem um regato bom para se tomar banho, dar-te-ei o que comer e um
lugar para você descansar da viagem. Lá chegando estava a mesa posta para o
almoço, a bondosa velha acrescentou mais um prato. Almoçaram e o velho
perguntou: O que sabe fazer? Sou carpinteiro, respondeu o jovem! Vou dar
serviços a você, conserte todos os meus móveis e lhe darei uma recompensa que
te fará muito feliz. O Fininho se sentia muito a vontade naquela casa, o
velhote era muito alegre e a sua esposa muito boa cozinheira e preparava pratos
deliciosos, além de seus serviços não serem pesados, o velhote era muito
divertido. Ficou ali quase um ano, fabricando cochos, bancos, cabides,
utensílios de madeira para a cozinha mochos e cadeiras de balanços para os
velhinhos e muitas outras coisas, depois o serviço acabou. Então o velhote lhe
disse: Meu filho, já não tenho mais serviços, agora tenho que despedi-lo, como não tenho dinheiro
para lhe pagar dar-te-ei de presente esta mesinha mágica que vale mais que
dinheiro. Recomendou dizendo: Ela é mágica, quando tiver fome diga: Mesinha? Eu
tenho fome! Imediatamente ela se cobrirá de alimentos. Não perca ela, não venda
a ninguém e nem se esqueça de mim, está bem? O Fininho sentiu muito em ter que
ir embora, deixar aquela casinha agradável, no meio do bosque, uma delicia de
lugar, mas como não havia outro jeito, agradeceu o presente despediu dos
velhinhos e partiu. Não andou muito tempo, lá próximo das onze horas teve fome,
tirou a mesa das costas e colocou-a no chão e disse: Mesinha, eu tenho fome?
Imediatamente sobre ela surgiu uma toalha cor de rosa bordada, pão saído do
forno, assados e guisados, em travessas de prata, frutas de todas as estações e
até uma ânfora cheinha de um vinho de qualidade, agua fresquinha. O Fininho
comeu, bebeu, descansou e depois colocou a mesinha nas costas continuando
alegremente o seu caminho de volta para a sua casa. Durante a viagem o Fininho pode
comer e beber a vontade de tudo o que lhe apetecia sem se preocupar com
dinheiro. Depois de muitos dias de viagem chegou num lugarejo bem próximo ao
seu. Parou numa hospedaria, pediu acomodação para descansar, pediu ao
hospedeiro que guardasse com cuidado a sua mesinha. Foi para o seu quarto e
descansou bastante, chegando a hora do jantar ele não quis pedir comida nenhuma
ao hospedeiro, o que este achou esquisito não pedir o que comer, pediu a
mesinha; o hoteleiro deu-lhe a mesa, mas ficou curioso quando o Fininho fechou
a porta e sussurrando lá dentro sozinho, para quem seria? O hospedeiro ficou sem
saber com quem ele estava conversando, aproximou e ouviu: Mesinha eu tenho
fome! A mesinha logo cobriu de comidas e bebidas finas. O hospedeiro viu tudo
pelo buraco da fechadura e disse consigo: Vou ficar com esta mesa de qualquer
jeito, ela me fará rico e minha hospedaria será a melhor do mundo. Terminado o
jantar o Fininho deu-a para que ele guardasse
de novo. O velhaco do hoteleiro deu um jeito e trocou a mesinha por uma de
igual tamanho e forma, era igualzinha que só vendo! No outro dia o Fininho sem
desconfiar de nada pôs a mesinha nas costas e partiu. Quando chegou em casa
contou aos pais e irmãos que tinha tido uma grande sorte mostrou a mesinha que
tinha ganhado de presente e lhes pediu que convidassem parentes e amigos para
um almoço. Mas um almoço para todo este povo custa muito caro, objetou o seu
pai. O almoço pode deixar por minha conta, basta que façam os convites, disse o
Fininho. Quando estavam todos reunidos, o Fininho colocou a mesinha bem no meio
da sala e explicou: Esta mesinha é mágica, peçam o que quiserem de comer que
logo ela se cobrirá de toda espécie de alimentos. O povo que fora convidado
olharam incrédulos, para o rapaz, mas escolheram os pratos que queriam. Então o
Fininho ordenou: Mesinha, eu tenho fome! Parecia, no entanto que a mesinha
mágica tinha perdido os seus poderes, pois manteve surda e insensível, O rapaz
repetiu a frase mágica em todos os tons e nada de nada! Enfim todos foram embora rindo-se muito e o Fininho além da
vergonha que passou teve que ir se virar com o seu oficio de carpinteiro
trabalhando muito. Algum tempo depois o segundo filho do velho, o Corote
resolveu também sair de casa aventurando a sua sorte, quem sabe faria fortuna
com o seu oficio de moleiro, pôs suas ferramentas numa sacola e partiu no mundo.
Andou, e andou por muitos dias sem nada conseguir, por fim chegou no bosque e
de lá veio o velhote saber o que ele queria. Eu quero trabalho meu senhor,
disse o Corote. Venha comigo disse o velhote hospede-se na minha casa, lá só é
eu e minha velha. Ficou trabalhando por alguns meses como moleiro até que um
dia o seu bom patrão disse: Não posso mais ficar contigo aqui, porque o serviço
acabou e tenho que despedi-lo. Como não tenho dinheiro para paga-lo te darei
uma coisa melhor que dinheiro. Dou-lhe este jumento. Ele parece igual a todos
os demais mas quando você disser: Jumento espirre? Verás a diferença, porque só
espirrará moedas de ouro. Moedas de ouro? Gritou o Corote cheio de alegria.
Viva! Depois de agradecer ao velho e sua mulher, partiu. Mas antes de sair do
bosque fez o jumento espirrar um saquinho de moedas. Naturalmente, o Corote fez
uma viagem de rei, pois com aquele dinheiro podia comprar tudo o que desejasse
e comer como um príncipe. Já tinha esvaziado a sacola quando chegou ao hotel
onde se hospedara o Fininho. Decidiu passar a noite naquele lugar, pediu que o
jumento ficasse na estrebaria e bem cuidado, quando foi a hora de pagar, disse
ao hoteleiro: Vou apanhar o dinheiro, e dirigiu para a estrebaria. O hoteleiro
ficou curioso pois o dinheiro a gente guarda nos bolsos ou no quarto e não na
estrebaria. Por isso seguiu o rapaz e espiou. O Corote estendera uma toalha no
chão e agora ordenava: Jumento espirre! Atchim! Fez o asno, espirrando uma
porção de moedas de ouro. O hospedeiro muito safado maquinou um jeito de
roubar-lhe o asno, a noite quando todos dormiam levou o asno do Corote para
outro lado do seu quintal fingindo dar-lhe agua no poço e de lá trouxe outro jumento
da mesma cor e tamanho. Deixou na estrebaria porque bem cedinho o Corote ia
embora. De nada desconfiando o rapaz
pegou o asno e foi-se embora. Viajou por algumas horas logo chegou em sua casa.
Foi uma festa na sua chegada. Feliz da vida anunciou aos pais e seus irmãos que
tivera uma grande sorte. Ganhei um jumento mágico. Logo pediu ao seu pai que
convidasse os seus amigos compadres e vizinhos para um jantar festivo. O velho
pai disse: Qua! Não vou fazer isto não! Além de muito caro um jantar para esse
povo, não temos dinheiro. Mesmo contrariado o velho pai fez o que o corote
pediu. Não se preocupe papai. Deixe por minha conta as despesas! Pagarei
sozinho Basta convidá-los e pronto! Foi feito o convite e o povo compareceu. As
iguarias para o requintado jantar vieram todas, saiu caro mesmo, mas o gordo
disse: Deixe comigo que pago tudo! Depois que todo o povo tinha jantado e
bebido o que queriam, o Corote trouxe para a sala o seu jumento, estendeu uma
toalha no chão e explicou ao povo: Este jumento é muito especial. Faço ele
espirrar moedas de ouro para pagar as despesas e cada um de vocês levar algumas
de lembrança. Porque este jumento é diferente dos demais, ele é mágico, querem
ver? Deu a ordem para o jumento espirrar, dizendo: Jumento espirre! Que nada! O
asno nem se importou com a ordem, o rapaz repetiu por umas vezes e o animal
continuava sem dar-lhe bolas. Suplicou tanto que até perdeu a paciência,
deu-lhe umas bordoadas que o pobre bicho zurrava de dor, era o mesmo que nunca
lhe tivessem falado nada. O pessoal que estavam presente riam de doer a barriga
e o pobre do Corote com a cara no chão teve que suportar aquela humilhação. Foi
trabalhar dia e noite para pagar as despesas. O Urutau vendo o que acontecera
com seus dois irmãos, começou a imaginar o que havia de errado com os seus
irmãos, tinham sorte mas alguém mais esperto atravessava na frente, certamente
seria por onde tinham passado. Resolveu averiguar de perto, não é possível um
negócio deste repetir-se por duas vezes consecutivas, vou descobrir! Inventou
de sair de casa também como fizera os manos. Pôs na sacola uma lima, algumas
cunhas para a ferramenta, uma marreta pequena, e no ombro uma enxada encabada.
Era as ferramentas de roceiro. Despediu dos familiares saiu atento a tudo e a
todos. Finalmente chegou no bosque onde morava o velhinho que ajudara os seus
irmãos e pediu serviços de roças é o que ele sabia fazer. O velhote gostou
muito dele e aceitou em casa, olhava o rapaz, a fisionomia era muito parecida
com os rapazes que o antecedera, pensou: São irmãos com certeza. Mas ficou
calado. O rapaz limpou toda a roça do velhote, quintal e pomares, deixou tudo
uma beleza. O serviço acabou e o velhote disse: Filho, sinto muito em dizer-lhe
que não posso mais tê-lo como ajudante nos serviços que preciso, está tudo
limpo, nada mais resta a não ser despedi-lo. Você é irmão de dois rapazes que
por aqui passaram? Sim! Disse o Urutau! Que pena! Disse o ancião, os melhores
presentes que tinha, dei a teus irmãos. Só restou este saco com um bastão
dentro. É o mais simples dos presentes. Te darei com muito prazer! Você aceita como
recompensa pelos serviços prestados? Aceito sim senhor! Disse o rapaz! Ademais fui muito bem tratado
pelo senhor e sua esposa, me resta agradecer-lhe de coração o que fizeram por
mim. O velhinho acrescentou dizendo: Sempre que disser: Cacete sai do saco! Ele
te defenderá de todo o malfeitor e animais ferozes. É um companheirão e tanto.
Vale mais que cem homens valentes na sua defesa. Só vai parar de fazer artes,
quero dizer, parar de bater quando você disser: Cacete entra no saco! Quem sabe
fará fortuna com este modesto presente. Não o perca, viu? Sim senhor disse o
Urutau. Abraçou os velhinhos e viajou para casa. Ao longo do caminho usou-o
para afugentar uns cães que queriam mordê-lo, e nada mais. Chegando mais
adiante avistou a hospedaria onde seus irmãos tinha pousado, desconfiando que
era ali que eles tinham sido logrado pelo hospedeiro, ficou mais atento ainda.
Pediu para descansar e foi prontamente atendido pelo fulano. O hospedeiro não
saia de perto dele disfarçando sempre, mas vigiando-o. Ah! é você o maroto!
Descobriu o Urutau! Espere aí que acharás o que está procurando! Fingiu nada
saber e pediu para ele guardar o saco com o bastão dentro, dizendo: Tenha muito
cuidado com ele, nunca diga: Cacete sai do saco! Pois tu há arrepender amargamente se assim o fizer! O hoteleiro
pegou o saco e se afastou. Muito enxerido inventou de dizer: Cacete sai do
saco! O bastão não esperou a segunda ordem, ali mesmo já lhe deu uma cacetada
na cabeça, foi o primeiro tombo, não parou, continuou dando nele em tudo o que
era lugar, nas costas, nos bumbuns, nas pernas, nos peitos e onde acertasse. O
hoteleiro estava já deitado de tanto apanhar, gritava por socorro e por tudo o
que era santo, aprontou uma gritaria e o cacete não queria nem saber se estava
doendo ou não, espancava-o sem dó nem piedade. O Urutau ouvindo aquela
barulheira foi ver do que se tratava. Ah! seu malandro! Bem que desconfiei de
você! Reforçou o serviço do bastão dizendo: Cacete, pode bater a vontade nesse
vagabundo até ele contar o que fez dos presentes dos meus irmãos! Não fiz nada,
dizia o hospedeiro! Então vai apanhar mais ainda! Cacete, dá nele até confessar
tudo! Chega-lhe o couro! O velho hospedeiro rolava no chão, já mole de tanto
apanhar, não teve outra saída senão devolver os presentes, a mesinha, o jumento
e as moedas que fizera o jegue espirrar. Ai o Urutau deu ordem para o bastão
parar: O infeliz estava todo roxo da surra que tomou, ainda deitado no chão e
mole. O rapaz perguntou ao hospedeiro depois que tudo acabou: Quanto eu te devo
do pernoite, amigo? O hoteleiro, mal balbuciou: Nâ, Nâ, Não é nada não meu
senhor. Está tudo certo! Vai com Deus. O Urutau foi embora rindo atoa com os presentes
feliz da vida. Ao chegar em casa, relatou toda a sua aventura e o que aconteceu
na hospedaria com seus irmãos e com ele, por isso pediu que os parentes e
amigos fossem convidados para uma ceia, sendo a terceira vez que isto se dava,
vieram todos preparados para debocharem do Urutau. Mas ficaram boquiabertos
quando viram a mesinha cobrir-se de manjares requintados e vinhos da melhor
qualidade e quantidade, viram o jumento espirrar moedas de ouro e o cacete
saltar do saco e ameaçar as costas daqueles que riram das outras duas vezes. O
Urutau, porém era um bom rapaz e só permitiu que o bastão fizesse algumas
piruetas no ar o que assustou os debochadores. Depois todos comeram e beberam
até não quererem mais, voltaram para suas casas com algumas moedas de
lembrança. Daquele dia em diante ninguém ousou chamar de Urutau aquele inteligente
rapaz.
MORAL: O CAVALO BOM É O QUE AJUDA DERRUBAR O BOI NA HORA CERTA.
CONTO MUITO ANTIGO
REPRODUZIDO POR LUIZÃO-O-CHAVES
HISTÓRIA QUE CONTAMOS PARA DIVERTIR A CRIANÇADA.
ANASTÁCIO MS. 09/11/2013