sábado, 8 de agosto de 2015

A CORRENTE DE OURO QUE SUMIU NO TERREIRO.

                               
   
Conta-se que em uma época remota existiu um senhor riquíssimo e de muita astúcia, esperteza mas de certa forma muito mesquinho, para não dizermos avarento. Amava os seus bens com todas as suas forças do entendimento que possuía. Tinha a sua crença, mas era apenas para ser usada como símbolo de prosperidade. Para ele o que valia para uma pessoa tinha que ser seus bens, riqueza, altas fortunas, nada mais o interessava. Trabalhar, trabalhar e ajuntar tesouros, gozar a vida, ser admirado por todos. Adorava os assuntos de como adquirir mais tesouros, exemplos: Falar de garimpos, enterros, jazidas onde extraiam ouro, pedras preciosas, comprava qualquer lugar onde se suspeitava ter tesouros escondidos e era sortudo mesmo. Sua riqueza aumentava como ninguém imaginava. Sentia-se muito feliz assim. Tinha serviçais a sua disposição, pagava-os com uma mesquinhez que só vendo, não desculpava um centavo de ninguém, passe para cá o que é meu dizia sempre assim. Se ele pudesse fazer os trabalhadores trabalharem de graça para ele não hesitava um instante. Suas criações aumentavam, suas lavouras rendiam-lhe muitos frutos enfim, parecia que era muito bem sucedido no que fazia. Ardorosamente trabalhava noite e dia. Não admitia prejuízo nenhum. Parecia um maluco, maluco mesmo, mas por dinheiro amigo! Num certo dia deu serviços para um trabalhador que os prestava á quem precisasse, um braçal como muitos, o serviço era de capina, preparação de uma palhada de roça para plantio, daí uns dias este homem adoeceu, e parou o serviço. Todos os dias ele ia até o galpão do seu serviçal ver se este já estava com saúde para continuar o trabalho, pois precisava do terreno limpo para cultivar porque o tempo não espera ninguém, não levou nem um comprimido para o seu camarada aliviar pelo menos. Vivia lamentando por o serviço estar parado, o homem melhorou e foi lá pedir uns trocados adiantado para comprar remédios, ele disse: Dinheiro amigo? Só quando você terminar a tarefa, antes eu não dou um centavo sequer! Já lhe dei uma parte para iniciar o serviço! O trabalhador voltou triste e sem recursos para tratar da saúde, ficou pensativo sem saber o que fazer. Piorou seu estado de saúde, dali mais uns dias como não tratou da saúde, acabou morrendo, também não aparecendo no serviço desde aquele dia ele, o patrão pensou que o seu camarada tivesse ido embora sem lhe avisar e sem terminar o trabalho combinado. Foi cedinho lá no galpão e tomou um susto ao ver o seu camarada morto na cama. Voltou aborrecido e lamentando, puxa vida, e agora? Pensou consigo: Este peão além de não terminar o serviço ainda morre e me deixa no prejuízo. Perdi o adiantamento que dei a ele, parece que morreu só para não trabalhar para mim. Passou a noite sem dormir só pensando no ocorrido, não pela morte do homem e sim, pelo seu dinheiro que ficou irrecuperável. O jeito é perder mesmo. Consolou-se com estas palavras, sepultaram o individuo e ele ficou se lamentando ainda. Dali a três dias o peão morto parece que ressurgiu, apareceu ao seu patrão em sua forma física, visível, perfeita e com saúde, apresentando-se disse: Vim terminar o serviço que combinamos e pagar-lhe o adiantamento que me deste. Muito alegre ficou o patrão, mesmo sabendo que se tratava de uma coisa nunca vista, sabia que ele era um morto, viu-o na cama duro e moscas assentando sobre o cadáver, mas mesmo assim não se importou, respondeu-lhe pode ir terminar a tarefa, na hora do almoço o senhor vem almoçar, como você veio terminar a tarefa lhe darei comida, assim não perderá tempo em cozinhar, ficou todo feliz, não cabia em si de contente, mas o peão não veio almoçar, ficou por lá mesmo, e na hora de encerrar a jornada diária lá pelas cinco e meia da tarde o patrão olhou lá para a roça e viu o camarada subindo para o lado do cemitério isso durante uns três dias seguidos, sem vir almoçar e só trazia a ferramenta a deixava no galpão ao lado da sede da fazenda de tardezinha e no dia seguinte chegava cedinho e pegava-a e ia para o trabalho, o patrão estranhou a atitude do seu peão, dizendo: Ele não vem almoçar? Onde é que ele come? Aqui não tem pensão e nem ninguém que lhe dê o almoço? Resolveu sondá-lo, viu-o trabalhando, sem que o mesmo lhe visse, voltou e ao entardecer no fim da jornada, viu-o de novo subindo para o lado do cemitério, desapareceu sem que ninguém visse por onde entrou. Desapareceu em meio das catacumbas. O cemitério ficava lá no alto depois do pomar e algumas arvores num descampado, mas nem ligou para isso. No outro dia cedinho viu-o saindo do cemitério e lá vem o homem pegar a ferramenta e avisar que naquele dia terminaria a tarefa, assim que findasse viria para acertar a contas. O patrão já começou a refazer as contas e deixou tudo certinho só para ele assinar o recibo e pronto. No tempo previsto o peão terminou, vindo entregar o serviço ao patrão dizendo: Já terminei a tarefa! Vamos lá para o senhor receber o serviço. Foram os dois, o patrão olhou, vistoriou tudo, e estando certinho e dentro do combinado dirigiram para escritório para ver as contas e o patrão disse: Agora o senhor vai receber seu ganho, sim respondeu o peão, daqui a pouco chegarei lá, vou ali rapidinho, subiu para o lado do cemitério e desapareceu entre os túmulos agora o patrão viu mesmo e constatou a veracidade do que ainda tinha dúvidas. Ficou pensativo, será que este homem está vivo ou morto? Desceu para casa esperou o camarada que nunca mais voltou. Ufa! Suspirou o fazendeiro, se não veio receber? Melhor para mim! No dia seguinte apareceu na fazenda um sujeito esquisito, diferente dos homens normais e com uma corrente dourada reluzente que ofuscava os olhos, de arrasto, igual ás correntes de maquinários diversos, caminhões, tratores etc. Deixou-a no terreiro e foi-se embora. O patrão ficou maravilhado com aquela aparição, nunca tinha visto um negocio daqueles. A corrente brilhava o tempo todo até de noite ela reluzia. No outro dia logo pela manhã, ele levantou e viu a corrente no mesmo lugar. Ficou contemplando aquela coisa bonita no seu terreiro, mas sem saber de onde saiu aquilo, aquela belíssima aparição. Dai a pouco, do nada formou uma ventania com redemoinhos e dentro deles saiu um espectro, uma “Coisa” parecendo humano misturado com bicho com uma cara de raivoso, pegou o patrão de qualquer jeito e amarrou a corrente em sua cintura, nisto aparece no meio do terreiro um buraco na medida da corrente, o espectro colocou a outra ponta da corrente nele e sumiu na ventania, esta acabou como havia surgido, num piscar de olhos. O homem amarrado começou a debater-se, pelejando para sair daquela situação, entrou em pânico, começou a gritar por socorro, todo o povo da fazenda correu para acudi-lo. A cada pequeno espaço de tempo da corrente tilintava um elo no outro e o buraco engolia um deles. De forma que a cada engolida de um elo, a corrente diminuía e o homem se aproximava de ser engolido também pelo mesmo. O povo assombrado com aquilo falava: Nossa! Meu Deus? O que é isso? Mas como aconteceu isso? O que foi patrão? O homem nem respondia de tanto desespero. Gritava e clamava para tudo o que era Santo que ele sabia o nome. O povo ao redor dele se desesperando também por vê-lo assim e sem ter como fazerem nada. Resolveram chamar um padre, foram na cidadezinha e trouxeram-no. O Pároco chegou, olhou aquilo, meditou uns instantes fez uma avaliação daquela situação e concluiu em silêncio. Só Deus pode salvar esta criatura! Fez preces de consolo para todos dali e o homem gritando por socorro, e a cada elo da corrente que sumia maior era o desespero de todos. O padre falou para todos: A última coisa que farei em favor dele é confessá-lo. É uma ordem Divina que nós os padres fazemos ás pessoas. Uma e única oportunidade que as pessoas tem para se arrependerem de seus pecados e maldades para  alcançar o perdão e a misericórdia Divina, pode ser a última hora dele, ninguém sabe o que é isso. Nunca em minha vida vi e nem ouvi falar de uma coisa dessas. Confessou-o da maneira que pode, o homem parecia estar em outro mundo. O pessoal foi saindo um a um para não verem o final daquela “Coisa” esquisita. Coisa de outro mundo com certeza!  Já chegando nos derradeiros  elos ficaram só padre e umas poucas pessoas, até chegou ao último: O homem foi dobrado ao meio, puxado para o centro daquele maldito e apertado buraco em esturros, e sumiu naquele tormento de gritos, naquela agrura, angustia e dores, ninguém nunca mais viu, coisa sinistra que parecia nunca ter fim. Ficaram aí todas as suas riquezas, bens, ostentação, usura, apego ás coisas em demasia, avareza, presunção, ganância, ambição, lamentações e perversidades com os seus semelhantes, suores alheios, fama e tudo o que possuiu em vida. FICOU TUDO PARA A TERRA!  Ele não levou nada! Ela é dona de tudo! Ela nos apresenta quase de tudo, parece que nos dá, mas nunca deu nada, pois simplesmente nos empresta e depois requer tudo de volta, até o nosso corpo físico/matéria, um dia terá que ser devolvido á ela. Para os que creem que temos um espírito plantado no corpo, devem ter um equilíbrio nas aquisições de bens materiais e no usufruto deles, se em excesso tivermos um apego neles, correremos o risco de nossa alma não levitar em direção ao nosso Divino Criador que por direito dele nós o pertencemos. Sejamos desprendidos dos nossos bens. Zelar daquilo que possuímos é uma coisa e se amarrar nelas já é outra. Ficou uma lição de como viver e ser cuidadoso com aquilo que possuímos, deixamos de ambições desmesuradas, cultivemos a moderação, desapego, contentamento com aquilo que Deus nos der para viver.

 UM CONTO TRISTE, MAS VERDADEIRO E REPRODUZIDO POR NOSSO BLOGGER.

“COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES”.
ANASTÁCIO MS, 08/08/2015.  


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