Conta-se que em uma época
remota existiu um senhor riquíssimo e de muita astúcia, esperteza mas de certa
forma muito mesquinho, para não dizermos avarento. Amava os seus bens com todas
as suas forças do entendimento que possuía. Tinha a sua crença, mas era apenas
para ser usada como símbolo de prosperidade. Para ele o que valia para uma
pessoa tinha que ser seus bens, riqueza, altas fortunas, nada mais o
interessava. Trabalhar, trabalhar e ajuntar tesouros, gozar a vida, ser
admirado por todos. Adorava os assuntos de como adquirir mais tesouros,
exemplos: Falar de garimpos, enterros, jazidas onde extraiam ouro, pedras preciosas,
comprava qualquer lugar onde se suspeitava ter tesouros escondidos e era
sortudo mesmo. Sua riqueza aumentava como ninguém imaginava. Sentia-se muito
feliz assim. Tinha serviçais a sua disposição, pagava-os com uma mesquinhez que
só vendo, não desculpava um centavo de ninguém, passe para cá o que é meu dizia
sempre assim. Se ele pudesse fazer os trabalhadores trabalharem de graça para
ele não hesitava um instante. Suas criações aumentavam, suas lavouras
rendiam-lhe muitos frutos enfim, parecia que era muito bem sucedido no que
fazia. Ardorosamente trabalhava noite e dia. Não admitia prejuízo nenhum.
Parecia um maluco, maluco mesmo, mas por dinheiro amigo! Num certo dia deu
serviços para um trabalhador que os prestava á quem precisasse, um braçal como
muitos, o serviço era de capina, preparação de uma palhada de roça para
plantio, daí uns dias este homem adoeceu, e parou o serviço. Todos os dias ele
ia até o galpão do seu serviçal ver se este já estava com saúde para continuar
o trabalho, pois precisava do terreno limpo para cultivar porque o tempo não
espera ninguém, não levou nem um comprimido para o seu camarada aliviar pelo
menos. Vivia lamentando por o serviço estar parado, o homem melhorou e foi lá
pedir uns trocados adiantado para comprar remédios, ele disse: Dinheiro amigo?
Só quando você terminar a tarefa, antes eu não dou um centavo sequer! Já lhe
dei uma parte para iniciar o serviço! O trabalhador voltou triste e sem
recursos para tratar da saúde, ficou pensativo sem saber o que fazer. Piorou
seu estado de saúde, dali mais uns dias como não tratou da saúde, acabou
morrendo, também não aparecendo no serviço desde aquele dia ele, o patrão
pensou que o seu camarada tivesse ido embora sem lhe avisar e sem terminar o
trabalho combinado. Foi cedinho lá no galpão e tomou um susto ao ver o seu
camarada morto na cama. Voltou aborrecido e lamentando, puxa vida, e agora?
Pensou consigo: Este peão além de não terminar o serviço ainda morre e me deixa
no prejuízo. Perdi o adiantamento que dei a ele, parece que morreu só para não
trabalhar para mim. Passou a noite sem dormir só pensando no ocorrido, não pela
morte do homem e sim, pelo seu dinheiro que ficou irrecuperável. O jeito é
perder mesmo. Consolou-se com estas palavras, sepultaram o individuo e ele
ficou se lamentando ainda. Dali a três dias o peão morto parece que ressurgiu,
apareceu ao seu patrão em sua forma física, visível, perfeita e com saúde,
apresentando-se disse: Vim terminar o serviço que combinamos e pagar-lhe o
adiantamento que me deste. Muito alegre ficou o patrão, mesmo sabendo que se
tratava de uma coisa nunca vista, sabia que ele era um morto, viu-o na cama
duro e moscas assentando sobre o cadáver, mas mesmo assim não se importou,
respondeu-lhe pode ir terminar a tarefa, na hora do almoço o senhor vem
almoçar, como você veio terminar a tarefa lhe darei comida, assim não perderá
tempo em cozinhar, ficou todo feliz, não cabia em si de contente, mas o peão
não veio almoçar, ficou por lá mesmo, e na hora de encerrar a jornada diária lá
pelas cinco e meia da tarde o patrão olhou lá para a roça e viu o camarada
subindo para o lado do cemitério isso durante uns três dias seguidos, sem vir
almoçar e só trazia a ferramenta a deixava no galpão ao lado da sede da fazenda
de tardezinha e no dia seguinte chegava cedinho e pegava-a e ia para o
trabalho, o patrão estranhou a atitude do seu peão, dizendo: Ele não vem
almoçar? Onde é que ele come? Aqui não tem pensão e nem ninguém que lhe dê o
almoço? Resolveu sondá-lo, viu-o trabalhando, sem que o mesmo lhe visse, voltou
e ao entardecer no fim da jornada, viu-o de novo subindo para o lado do
cemitério, desapareceu sem que ninguém visse por onde entrou. Desapareceu em
meio das catacumbas. O cemitério ficava lá no alto depois do pomar e algumas
arvores num descampado, mas nem ligou para isso. No outro dia cedinho viu-o
saindo do cemitério e lá vem o homem pegar a ferramenta e avisar que naquele
dia terminaria a tarefa, assim que findasse viria para acertar a contas. O
patrão já começou a refazer as contas e deixou tudo certinho só para ele
assinar o recibo e pronto. No tempo previsto o peão terminou, vindo entregar o
serviço ao patrão dizendo: Já terminei a tarefa! Vamos lá para o senhor receber
o serviço. Foram os dois, o patrão olhou, vistoriou tudo, e estando certinho e
dentro do combinado dirigiram para escritório para ver as contas e o patrão
disse: Agora o senhor vai receber seu ganho, sim respondeu o peão, daqui a
pouco chegarei lá, vou ali rapidinho, subiu para o lado do cemitério e
desapareceu entre os túmulos agora o patrão viu mesmo e constatou a veracidade
do que ainda tinha dúvidas. Ficou pensativo, será que este homem está vivo ou
morto? Desceu para casa esperou o camarada que nunca mais voltou. Ufa! Suspirou
o fazendeiro, se não veio receber? Melhor para mim! No dia seguinte apareceu na
fazenda um sujeito esquisito, diferente dos homens normais e com uma corrente
dourada reluzente que ofuscava os olhos, de arrasto, igual ás correntes de
maquinários diversos, caminhões, tratores etc. Deixou-a no terreiro e foi-se
embora. O patrão ficou maravilhado com aquela aparição, nunca tinha visto um
negocio daqueles. A corrente brilhava o tempo todo até de noite ela reluzia. No
outro dia logo pela manhã, ele levantou e viu a corrente no mesmo lugar. Ficou
contemplando aquela coisa bonita no seu terreiro, mas sem saber de onde saiu
aquilo, aquela belíssima aparição. Dai a pouco, do nada formou uma ventania com
redemoinhos e dentro deles saiu um espectro, uma “Coisa” parecendo humano
misturado com bicho com uma cara de raivoso, pegou o patrão de qualquer jeito e
amarrou a corrente em sua cintura, nisto aparece no meio do terreiro um buraco
na medida da corrente, o espectro colocou a outra ponta da corrente nele e
sumiu na ventania, esta acabou como havia surgido, num piscar de olhos. O homem
amarrado começou a debater-se, pelejando para sair daquela situação, entrou em
pânico, começou a gritar por socorro, todo o povo da fazenda correu para
acudi-lo. A cada pequeno espaço de tempo da corrente tilintava um elo no outro
e o buraco engolia um deles. De forma que a cada engolida de um elo, a corrente
diminuía e o homem se aproximava de ser engolido também pelo mesmo. O povo
assombrado com aquilo falava: Nossa! Meu Deus? O que é isso? Mas como aconteceu
isso? O que foi patrão? O homem nem respondia de tanto desespero. Gritava e clamava
para tudo o que era Santo que ele sabia o nome. O povo ao redor dele se
desesperando também por vê-lo assim e sem ter como fazerem nada. Resolveram
chamar um padre, foram na cidadezinha e trouxeram-no. O Pároco chegou, olhou
aquilo, meditou uns instantes fez uma avaliação daquela situação e concluiu em
silêncio. Só Deus pode salvar esta criatura! Fez preces de consolo para todos
dali e o homem gritando por socorro, e a cada elo da corrente que sumia maior
era o desespero de todos. O padre falou para todos: A última coisa que farei em
favor dele é confessá-lo. É uma ordem Divina que nós os padres fazemos ás
pessoas. Uma e única oportunidade que as pessoas tem para se arrependerem de
seus pecados e maldades para alcançar o
perdão e a misericórdia Divina, pode ser a última hora dele, ninguém sabe o que
é isso. Nunca em minha vida vi e nem ouvi falar de uma coisa dessas.
Confessou-o da maneira que pode, o homem parecia estar em outro mundo. O
pessoal foi saindo um a um para não verem o final daquela “Coisa” esquisita.
Coisa de outro mundo com certeza! Já chegando
nos derradeiros elos ficaram só padre e
umas poucas pessoas, até chegou ao último: O homem foi dobrado ao meio, puxado
para o centro daquele maldito e apertado buraco em esturros, e sumiu naquele
tormento de gritos, naquela agrura, angustia e dores, ninguém nunca mais viu,
coisa sinistra que parecia nunca ter fim. Ficaram aí todas as suas riquezas,
bens, ostentação, usura, apego ás coisas em demasia, avareza, presunção,
ganância, ambição, lamentações e perversidades com os seus semelhantes, suores
alheios, fama e tudo o que possuiu em vida. FICOU TUDO PARA A TERRA! Ele não levou nada! Ela é dona de tudo! Ela
nos apresenta quase de tudo, parece que nos dá, mas nunca deu nada, pois
simplesmente nos empresta e depois requer tudo de volta, até o nosso corpo
físico/matéria, um dia terá que ser devolvido á ela. Para os que creem que
temos um espírito plantado no corpo, devem ter um equilíbrio nas aquisições de
bens materiais e no usufruto deles, se em excesso tivermos um apego neles,
correremos o risco de nossa alma não levitar em direção ao nosso Divino Criador
que por direito dele nós o pertencemos. Sejamos desprendidos dos nossos bens.
Zelar daquilo que possuímos é uma coisa e se amarrar nelas já é outra. Ficou
uma lição de como viver e ser cuidadoso com aquilo que possuímos, deixamos de
ambições desmesuradas, cultivemos a moderação, desapego, contentamento com
aquilo que Deus nos der para viver.
UM CONTO TRISTE, MAS VERDADEIRO E REPRODUZIDO
POR NOSSO BLOGGER.
“COISAS DE CABOCLO DE
LUIZÃO-O-CHAVES”.
ANASTÁCIO MS,
08/08/2015.