1ª - Seu nome era Francisco, mas atendia por
Chicão ou Sabuco, todo Francisco é chamado de Chico mas como era avolumado de
corpo, então, Chicão. Sabuco, e não Sabugo era o apelido dado pelos colegas de acampamento
e trecho, é muito difícil um peão não ter apelidos. Sabem desses personagens
que vivem ao léu, não tem parentes e nem aderentes, sem morada certa, parecem
jacutínga que onde deu noite ali pousa, e em qualquer galho ou zamboeira no
cume do jatobá e angico na mata. Chicão era um desses, trabalhava como peão de
empreiteiros que tinha muitos em épocas passadas, nos desbravamentos dos
sertões para fundação de lugarejos, assentamentos ou formações de fazendas para
plantios de cafezais e outras plantações da época. O que tinha de peões gira
mundos naqueles tempos parecia brincadeiras. Muito trabalho para todos os tipos
de atividades, tempos de ouro, ninguém ficava á toa, tinha vilarejos encravados
nos sertões que durante a semana só ficava os vendeiros com suas famílias,
assim mesmo cuidavam das roça nos fundos da propriedade. O comércio era parado
a semana inteira, as ruelas eram desertas, nem cães latiam á noite, mas nos
fins de semana, era tanta gente que só vendo para crerem, era mesmo um despejo
do povo nas corrotelas, ou arraiais como queiram, vinham todos de uma só vez e
de todo canto. Pareciam formigas saúvas quando descobrem uma roseira, vem todo
o formigueiro para limpar a derradeira folha que tiver. Bares, farmácias,
bazares, quitandas, lojinhas e outros comércios só viam movimentos nos dias de
sábado do meio dia para a tarde e no
domingo, se tivesse na semana algum dia santo de guarda aí a coisa movimentava
mesmo, chegava a ser um reboliço de tanta gente chegando, andando, passeando e
comprando de tudo que precisavam. A grana era farta no bolso da turma. Ninguém
queixava de falta de serviços e nem de dinheiro. Até nos prostíbulos não tinha
movimento nenhum durante a semana. Os homens solteiros trabalhavam o tempo todo
para terem dinheiro para gastarem lá com as pessoas de vida fácil. Eram
localizadas, não haviam as piranhas como é nos dias de hoje, que você sai e
depara com um monte delas em tudo o que é lugar atacando a gente. Tempos de
vergonha, respeito e muito caráter entre todos sem distinção deles ou delas. As
mulheres eram as coisas mais belas que existiam, casadas eram casadas, moças
solteiras eram um tesouro encantado a serem descobertos, bem cuidadas pelos
pais, respeitadas e respeitosas, difícil era ver uma mãe solteira, separações?
Nem em sonhos! As crianças então, eram muito obedientes aos pais e a todos
respeitavam, não tinham escolas, mas tinham muita educação. Nós vivenciamos uma
parte deste tempo. Era um mundo maravilhoso mais ou menos assim: Quem era torto
ficava arredado para lá! E quem era direito, era com muita honra e dignidade.
Não havia esta misturada, bagunça ou entrevero, nada parecia com os dias
atuais. Que se você não tem bom faro e conhecimentos, por mais honesto e
sincero que for, se não tomar cuidado cai na primeira esparrela, armadilhas tem
para todos os lados que você pender. Batedores de carteiras, assaltantes
baratos, arrombadores de casas, disfarçados de pedintes durante o dia. Não
havia isto, era todo mundo no trabalho, no batente, todos tinham dinheiro e
nunca precisavam de andarem mendigando ou roubando o que não é seu. Não se via
mendigos e nem índios vadios e bêbados pedindo comida ás bocas das noites nas
casas, nem roubando o que achavam do lado de fora, nem muros as casas possuíam.
A Policia só vivia dormindo de dia igual coelho na macega., não tinha trabalho,
nem o que fazer como é hoje que só vivem como loucos atrás de tudo que é
maloqueiros. Nem tem tempo de coçar o sovaco. Arriscam a vida por nada que vale
a pena. Naqueles tempos salvo um ou outro crime que acontecia lá de vez em
quando, porque os humanos nunca se esqueceram de matar o seu próximo até mesmo
por bobagens que não valem a pena. Então, como iniciamos falando do Sabuco
vamos aos fatos, e ver o que ele aprontou desta vez. Este camarada era o
perfeito vida torta conforme dizem o povo, aquele fulano que vive do jeito que
acha que está bom sem se importar com os outros, nem com as opiniões de
terceiros. Faço o que quero e pronto, assim era seu lema. Mas no mundo não é
bem assim, quem vive do jeito que quer, não viverá o tempo que quiser. É um
ditado certo! Chicão chegava no prostíbulo e batia palmas dizendo aos homens que
lá se encontravam: Caem fora cambada de frouxos, Chicão chegou! Vão caindo fora
senão caem no cacete agora mesmo, era brigador, parecia um "Galo índio"
na defesa do seu terreiro, e ainda por desaforo cantava mais alto no terreiro
alheio, era bom no braço mesmo e o povo já sabia, as mulheres avisavam os seus
homens: Se o Sabuco chegar vão embora logo, depois voltem. Chicão não é
brincadeira, só anda armado! Os medrosos limpavam a área ligeirinho. O Sabuco
fechava as portas para ninguém mais entrar! Ficava nu com a mulherada e quando resolvia, batia numa por uma, dizia:
Isso é para me respeitarem. Gritava a toda altura: Arre, Putada! Cambada de
vadias, estão pensando o quê? Cadê seus homens? Aqui nesta espelunca quem manda
sou eu. Caladas hem! Nem um pio! Era silêncio total. kkkkkkkkkkkkkk. As vezes a policia era chamada, mas esta não
vinha mesmo. Chicão era perigoso e atirava seguro, policia comigo é no estanho,
se forem poucos eu enfrento, e se forem muitos? Tchau!. Debochava ele. De repente
ele sumia e ficava até dois meses sem aparecer. Era um alívio para a turma e as
mulheres. A chefe da casa era só dele, esta lhe obedecia por medo. Apanhava
menos do que as outras. Mas apanhava também. kkkkkkkkkkkk. Num dia destes e num fim de semana lá entrou
um rapazola de uns dezesseis anos, sabe estes filhos criados sem pais igual
filhote de perdiz? Era um deles que perambulava pelo mundo, um trabalhador
braçal como os outros peões, boa gente até, estava aprendendo a viver no mundo,
porque o mundo é um professor, nem documentos possuía, parecia caixa d'água só
tinha um registro de nascimento que um peão idoso e companheiro seu tirou,
por ele ser bonzinho e muito educado com
o velho, pois não sabia ler nem escrever. Segue........
domingo, 22 de outubro de 2017
ESTA É A HISTÓRIA DE UM SABUCO - 2ª Parte
2ª - Agora com este documento em mãos, tornou-se meu filho, um dia poderá precisar de mim como a um pai, fiz esta caridade para você menino,
dissera o ancião. Então o garotão estava lá dentro do prostíbulo despreocupado
e com as mulheres lhe cortejando, sentia-se a vontade. Nisto entra o Sabuco de
supetão, pois gostava de surpreender a turma, foi aquele reboliço, ninguém esperava! O garotão nunca tinha visto
aquilo, ficou atônito vendo aquela correria e gritos da mulherada, parecia que
elas estavam vendo alguma assombração. E era a primeira vez que ele foi naquele
lugar, mocinho novo, mancebo e sem experiência da vida, ainda não conhecia os
percalços daquele ambiente infeliz, pecador e amaldiçoado. Nem sabia quem era o
Chicão. Este lhe observou diretamente e o intimou: Cai fora daqui moleque, não vê
que eu cheguei? O que faz aqui? Isto é lugar para homem, não para frangotes
como você! Saia logo! O que está esperando? O rapazola nem sequer se incomodou com
a ordem! Não se intimidou. Pediu a mulher que estava do seu lado tremendo de
medo: Traga alguma bebida para vocês. Ignorando a ordem do Sabuco mas sem tirar
os olhos dele, por precaução. Este ficou uma fera. Ninguém nunca lhe desobedecera,
ora essa? Esta que é a tua? Logo você seu bosta? Reprimiu o Sabuco, foi na
direção do rapaz e perguntou-lhe: Psiu? És surdo? Não senhor! Não sou surdo, pois ouço até heresias. Responde o moço.
É que aqui é lugar público amigo! Ninguém manda em mim, e em nada daqui! Nem o
senhor, sabia? É lugar de homens, e eu não sou diferente dos outros. Ademais não
recebo ordens de qualquer um. Sou dono do meu nariz, assim como o senhor é dono
do seu! Arreda-te daqui, não lhe conheço, deixe-nos em paz! Vou dar-lhe uma
lição seu moleque desaforado, retrucara o Sabuco, atrevido igual abelha
mamangava preta, já pegou o rapaz pela abertura da camisa, ali no pé do gogó, como ele era de
corpo franzino suspendeu-o da cadeira, não deu trabalho para derrubá-lo, sentou
na barriga do moço no meio do salão e começou assoviar a "Saudade de Matão."
Chicão era pesado e o rapaz se debatia sem lograr êxito de escapar. Já estava passando mal, faltando-lhe o fôlego apertado no chão,
nisto uma meretriz com instinto defensivo de mãe por filho, única que não quis correr, vendo aquela injustiça,
partiu pra cima do Chicão saindo na
defesa do rapaz, pegou-o pelo braço na tentativa de arrancá-lo de cima do
menino dizendo: Deixe o menino Chicão, não faça isso homem? Chicão empurrando-a ela
caiu, levantou e avançou de novo enfrentando-o sem medo, fez uma força descomunal na luta , até que conseguiu meter-lhe um murro na cara. Que mulherzinha
valente! Sabuco foi se defender dela titubeou, nisto alivia o peso de cima do
moço, este aproveitou, tirando de trás na sua cintura uma pequena faca pontiaguda
e afiada. Fincou-a de baixo para cima bem embaixo da costela mindinha do Sabuco,
acertou num dos rins, enterrou até o cabo. Foi aquele jato de sangue que espirrou
longe, o Chicão deu um grito e um salto felino, rodopiou e caiu na sala rolando
de dor. Já era a dor da morte. Moleque desgraçado, você me matou, seu infeliz!
Nem se lembrou da arma que trazia na cintura embaixo da camisa. Mulherada
fizeram uma gritaria e correram para todos os lados, não sabiam se acudiam o
Sabuco ou se corriam dele, ficaram doidas quando viram sangue para todo lado.
Até o rapaz assustou do que fizera, acho que nem imaginava que fora ele autor
daquilo. Levantou e saiu correndo porta afora sem rumo e sem direção, todo
lambuzado de sangue. Desnorteado sai rua acima até no pé de uma pequena serra
que circundava a pequenina cidade, deu no aparado dela, não tendo saída
ficou lá escondido atrás de umas pedras e moitas até a poeira baixar. Sabuco
morreu, e nas mãos de um fraco! Mais um valentão que teve este destino! Capa de
valentes é caixão! Sua casa é a sepultura! Vila é o cemitério! E a cidade deles
é a dos pés-juntos! Em lugar que aparece raposa, galo não canta na madrugada! A
policia foi acionada e meia desconfiada desta vez compareceu, levantou o cadáver e depois foi
atrás do moço no pé da Serrinha. Trouxeram-no, mas era de menor, não podia ser
preso os menores de idade naquela época. Além disso a mulherada saiu na defesa
dele, que para elas aquilo foi um alívio. Ufa..... Agora teremos paz, disseram. Um velho
cabo da polícia, muito sábio observando o mocinho todo sujo de sangue e assustado.
Disse-lhe: Vá embora meu filho, e nunca mais pise os pés por aqui, você
estragou a sua vida menino. A pior coisa desta vida é tirar a vida do outro. Você perde tudo, a começar pela paz
interior! É um desassossego sem fim! Nada está bom! Há pessoas que veem sempre aquela imagem sinistra do morto por
onde andam. Ainda mais se ficam sozinhas. O morto parece vir ao seu encontro, quando dormem e sonham com ele, se assustam e acordam angustiados e não conseguem mais
dormir aquela noite. Sentem-se vigiadas! Veem sombras, vultos, sussurros, gemidos e resfolegar de alguém quando está sufocado. É um tormento, muitos choram lágrimas sentidas de dor e arrependimento, dariam tudo e mais um pouco se pudessem não ter feito o que fizeram. Matar o seu próximo! Por isso que Deus deu uma vida para cada um, para ninguém roubar ou tirar a do outro. Mas pelo relato dos presentes não tivestes outra
alternativa, senão matá-lo. Sabia que na mata que macacos dançam, quando aparece
onça, ela acaba com o baile? Fim do baile pessoal, arrematou o cabo velho! A
mulher que intervira na briga em defesa do mocinho vindo abraçou-o com lágrimas nos olhos dizendo: Lastimo, lamento muito minha
participação mesmo sendo indireta na morte deste homem! Nunca imaginei que isso fosse dar
no que deu, mas já que aconteceu! Vamos embora daqui, juntos reconstruiremos nossas
vidas, e um dia alcançaremos o perdão Divino. E a situação do mocinho acabou
prevalecendo como a lei do velho oeste nos filmes de faroeste ou bang e bang:
Quando o Xerife ouve as testemunhas julga a causa e diz: Coveiro, tome dois
dólares, sepulte o morto! Não houve assassinato! Foi em legítima defesa! FIM.....
"COISAS DE
CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"
Anastácio MS 16/10/2017
domingo, 15 de outubro de 2017
OS MALUCOS TAMBÉM SÃO INTELIGENTES, VEJAM SÓ!
Como em todo lugar existem pessoas de todos os
jeitos, nacionalidades, credos religiosos, com tradições diferentes da nossa,
mais evoluídos, menos sábios, mais alegres e sisudos também, de todos os tipos
e jeitos em resumo. Sem esquecer que também tem aqueles que por motivos
desconhecidos de nós vivem ao léu, não se sabe se tem um teto para morar ou
não, ainda por cima são dementes, malucos, birutas da cabeça, doentes mentais
que por vários motivos chegaram aquela situação, não se sabe se foi culpa do
destino, dos pais, de alguma desilusão, enfermidades, expedicionários de
guerras, pragas, macumbados e outras coisas alheias ao nosso conhecimento. Tem
também em todo o lugar aqueles que parecem se divertir com os infelizes que
estão nessa situação onde os encontram, nós achamos que deveriam dar respeito
aos tais. Caçoístas, zombeteiros, debochadores, zuadores com tudo o que vê. São
os gaiatos, nós assim os denominamos. Mas como toda ousadia tem seu custo, é
bom deixar as barbas de molho os que assim procedem. Sempre em toda a história
existe um velho ditado: Toda carta tem
resposta! Nunca cutuque o diabo na costela! Com cobra não se brinca!
Homem covarde é o mais perigoso! Quem vai dar, leve um saco para trazer, poderá
ganhar! Bairro dos valentões é só um: Cemitério! Neste conto nós abordamos um
fato inédito! Numa corrotela do interior existia um rapaz ainda bem novo, mas
era biruta da cabeça, um dia estava calado, noutro rindo atôa, em outra ocasião
estava bravo e assim vivia o pobre e infeliz vivente entregue a própria sorte.
Mas o povo que o conhecia davam-lhe o que comer o que vestir por onde
perambulava. Em tempos frios ganhava cobertores e casacos da população só que
ninguém se preocupava tanto como deveríamos fazer pelo nosso próximo como manda
as regras Divinas amando o próximo. Um dia ele estava sentado na calçada
quietinho e passou um cidadão e lhe deu um relógio de pulso destes de brinquedos
de criança, mas o relógio funcionava, era a pilhas. Colocou no braço do moço
doido e saiu, o moço ficou contente com o presente e espiava atentamente os
ponteiros se moverem, para ele era novidade. Feliz da vida não tirava os olhos
do mostrador do presente. Nisso passa um gaiato vindo nem sei de onde e para
tirar uma onda de importante, querendo rir as custas do inocente lhe pergunta:
Que horas são moço? Me diga aí! Ficou vendo o embaraço do maluco que até
assustou dele, pois estava muito encabulado no relógio. Nisto aparece na
esquina uma matilha de cães rosnando e brigando entre si, ninguém olhava para
aquela bagunça dos cachorros. O moço biruta respondeu ao gaiato apontando para
os cães e com o dedo indicador no relógio. Neste gesto ele informou as horas ao
atrevido gaiato que ficou sem saída e sem
entender a resposta do moço que foi
muito exata. Um pequeno ponto de partida para você leitor, se nortear: Já
passava do meio dia. Se vire amigo. kkkkkkkkkkkkkkkk. Você sabe dizer que horas
o relógio indicava? Ajude o gaiato saber as horas e sair dessa.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
"COISAS DE CABOCLO DE
LUIZÃO-O-CHAVES"
Anastácio MS, 13/10/2017
UMA ILUSÃO, UMA PAIXÃO, UMA TRAIÇÃO E O CRIME!
Conta-se que em épocas
passadas existiu um casal muito bem sucedido na vida, eram felizes, dotados de
uma sorte incrível para muitos, não para todos é claro. Possuíam muitos bens,
um casal de filhos lindos, casas na cidade e até uma fazenda muito bem montada,
muito gado, animais diversos, tropas e muitos empregados enfim, nada mais
poderiam almejar ou exigir da vida melhor situação. Tudo iam as mil maravilhas
naquelas vidas tão bem sucedidas. Uma
família de distinção na sociedade, magníficos exemplos de bondosas pessoas, um
homem de honra, um pai de família dedicado, um bom patrão, e ela um exemplo de
esposa e mãe. Espelhados por todas as pessoas sensatas. Mas quando as coisas
estão muito bem é preciso ficar em alerta com os sinais agourentos que sempre
rodeiam as pessoas felizes. Nem sempre
isto é para todos, mas sempre atingem os mais símplices de coração. Naqueles
tempos antigos havia vaquejadas, cantorias e festas diversas em várias regiões
deste País. O Patrão desejou dar uma festa, teria vaquejadas, montarias,
cantorias e festa culminando com um baile na fazenda para encerrar as
festividades com chave de ouro. Foram convidados toda a vizinhança, e
fazendeiros desta região, seria uma festa daquelas de deixar saudades. Violeiros,
sanfoneiros, repentistas, desafios, pelejas de cantores de todas regiões e modalidades
lá estariam sem falta. Haveria rodeios, montarias em animais xucros, bois,
burros, carreira ou raias, malabaristas em animais e diversos outros
divertimentos. Seria três dias de festas, churrasco e muita animosidade,
rapazes e moças viriam de todos os lados da região, tempos bons e de paz entre
os povos, dificilmente surgia algum
atrito entre eles, tudo bem planejado e executado com sucesso, a festa
começou e foi exatamente como o esperado. Transcorreram muito bem todas as
atividades, a vaquejada, as montarias, as cantorias e os repentistas,
premiações e condecorações aos vencedores, a peonada dos confins que vieram
participar dos festejos não cabiam em si de contentes, dentre todos houve três
deles que se destacaram no laço e na doma dos animais, eram de fora bem
distante dali. Chegando ao final das festividades e nos últimos bailes, olha a
complicação que surgiu na família do patrão. Ele a esposa, duas empregadas mais
a governanta e as crianças já grandinhos felizes da vida. Num dos bailes a
noite uma das empregadas disse ao patrão: O senhor já observou o comportamento
de sua esposa no baile? Parece mocinha procurando namorado. Arranjou um e já estão
de caso, tenho certeza porque dancei com ele e descobri tudo. Me cortou o
coração em saber disso, porque o senhor não merece isto que ela está fazendo.
Como a empregada era de confiança de ambos e tinha cuidado com suas crianças e
sempre atenta percebeu a situação da patroa com um peão de fora, exatamente um
dos três que mencionamos acima. Mulher conhece a outra, e peão é peão, inda
mais sendo solteiro. Namoro tinha para todos os lados, moças e rapazes estavam
á vontade para namorarem. O Patrão observou e viu com grande amargura e
decepção a amizade dela com o peão. Olhem a ilusão dela! E agora? O que fazer?
Saiu da festa por um pouco de tempo, alguns minutos, sentou num canto escuro pôs
a mão no queixo e imaginou a vida inteirinha que desde seu casamento até ali
era uma coisa inimaginável de tão bela. Nada lhes faltava, em especial para a
esposa e esta fazer um papel deste? Era inconcebível uma coisa daquelas. Jamais
pensou que um dia lhe acontecesse tal infortúnio. Mas a formiga quando quer se
perder, dizem que cria asas e voa, em seguida cai num terreiro que tem galinha
choca. Já entenderam? Armou um plano, avisou a esposa que teria que ir com
certa necessidade até a cidade e que ela e as empregadas vigiassem a festa.
Ausentou com o carro, voltaria no dia seguinte lá pela nove horas. Foi até a
estrada que ficava a um quilometro da sede e deixou o carro camuflado na entrada
de outra fazenda. Voltou a pé e entrou num dos quartos de visita que dava para
os fundos da casa, eram dois ligados e fora do corpo da casa, meio isolados
portanto, no quarto das visitas tinha de tudo, um conforto sem igual, até um
frigobar. De posse das duas chaves de um, ficou de tocaia nele e ver o que
poderia acontecer, não se enganou. Dali algum tempo lá vem a esposa de mãos
dadas com o peão e abrindo a porta do outro adentraram, ela lhe disse: Espere
aqui que já volto, vou pedir a governanta que faça as crianças dormirem. Já é
tarde e deixe o povo que sambem a vontade, enquanto isso nós vamos gozar nosso
amor, meu marido foi á cidade e só volta amanhã. A empregada não perdeu um só
movimento da falsa esposa, fingia não saber de nada, estava vendo: O que o
maligno não faz, gente? Tudo certo, ela disse a empregada, vou me recolher mais
cedo hoje. Fiquem a vontade. Saiu e foi no quarto, lá estava o peão a sua
espera, o marido no outro quarto assistindo tudo. Parede e meia e de madeira
com alguns furinhos nas tábuas via tudo. com o coração em pedaços. Ela chegou
toda assanhada, despiram, tomaram vinho a beça se amaram, rolaram na cama e
aprontaram a rigor, juras de amor, promessas de ir com ele para onde ele
quisesse. Dizia em sussurro sou só tua de hoje em diante. Meu marido é um homem
morto para mim. Por tí deixo tudo o que possuo nesta vida. Se a morte vier me
buscar irei com prazer. O que eu queria de ti, eu já consegui. não dormiremos
esta noite nem um minuto. Estou em chamas, meu corpo está quentinho como nunca
esteve, me mate de amor, senão enlouqueço. Olhem o tamanho desta paixão! Jogar
fora toda a vida feliz de casada por uma simples aventura! Traiu o marido sem a
mínima compaixão do infeliz, nem seus filhos nesta altura dos acontecimentos os
amava mais. Ficou louca a mulher. Sabiam que a paixão não é de Deus? É de
origem satânica. Enlouquece mesmo. Aí está a prova. Já no finzinho da madrugada
adormeceram, justamente para que o marido saísse de fininho e voltasse para o
carro lá na estrada. Como se nada tivesse acontecido levantaram depois, ele foi
para o galpão onde se encontravam seus dois companheiros. Estes disseram: Onde
estava que não te vimos mais? Em lugar nenhum responde. Companheiro, não somos
trouxa, vimos seu namoro com a patroa! Nós o reprovamos! Você ficou louco?
Perdeste o juízo? Porque fizeste isso? Não respeitou a festa do homem nem a sua
esposa? Em meio á tantas moças bonitas, você foi dar em cima de mulher casada?
Cutucaste o diabo com a vara curta! Isto vai dar um fim de festa dos piores que
nós já vimos, pode ter certeza. E se este homem descobre? Previne-te! Nem
queremos estar perto quando esta bomba estourar em tuas mãos. Ela como se nada
tivesse feito estava do mesmo jeitinho. O marido chegou, ela o recebe com
beijos e abraços. Terminou a festa todos foram embora, o peão não quis ir, vou
depois dissera aos dois amigos. Estes foram embora desolados, preocupados com a
situação do amigo que ficara. Em tempos de homens sérios e mulheres de muita honra
ver um negocio deste? Era fim de mundo, pensavam. No domingo a tarde ele e a esposa foram com
as crianças e a empregada para a cidade, pois na segunda feira era dia de aulas
e atividades de trabalho na fazenda e cada um nos seus afazeres. Deixou-os na
cidade e na volta com a esposa para a fazenda num lugar ermo, isolado, com um
silêncio macabro, parecendo adivinhar uma coisa sinistra, com matas de ambos os
lados, nem uma ave sequer gorjeava naquela hora, ele parou o carro e desceram,
entraram no mato alguns metros e ele sentou no chão e disse: Porque fizeste
aquilo comigo mulher? Melhor se tivesse me matado! Vi tudo! Estava no quarto ao
seu lado! E agora, o que tens a me dizer? A esposa gelou, ficou muda, estava
petrificada, dura como uma pedra ante aquela revelação dura e inesperada. Vai
morrer sabia? Tirou de uma arma e disparou em sua cabeça. Abriu o seu peito e
dele tirou o coração dela e levou consigo. Lá ficou o corpo estendido sem vida.
Olhem o lucro de uma traição! Seguiu para a fazenda, tratou aquele coração como
se fosse o coração de uma rês. Preparando-o para ser almoçado na segunda feira.
O homem estava vivo por fora e morto por dentro. Era um corpo ambulante sem
vida, sem noção do tempo! Navegava em outra galáxia, num mundo obscuro e
desconhecido. O peão ficando na companhia dos demais da fazenda estava todo
feliz, entre aspas, preocupado por não ver a patroa na casa e nem em lugar
nenhum. Era muito dada com todos, servira as refeições para todos depois da
festa. Cadê ela perguntava de si para consigo. Não havia respostas! Na segunda
feira antes do almoço o patrão disse aos demais empregados, estou sozinho hoje
e sem cozinheira, vão para a pensão todos, ali ao lado dos galpões. Pediu
gentilmente ao peão que de nada desconfiava que fosse seu hospede e que
almoçasse com ele, fazendo-lhe companhia. O peão aceitou, era isso que ele
queria, assim estaria ao menos vendo seu amor. Servindo o almoço sentaram á
mesa e começaram comer, o patrão diz-lhe, este é o coração de uma vitela que
preparei para nós, está uma delicia, sirva á vontade amigo. O peão serviu com
gosto, de fato estava bem feito a iguaria. Olhava para os lados e nada de seu
amor aparecer, não aguentou por muito tempo, e indagou: Cadê a sua esposa que
não a vejo desde ontem a tarde? O patrão deu um sorriso amarelo, trespassado de
amargura, de dor e ódio daquele verme imundo que destruíra sua vida e estava á
sua frente comendo o coração de sua tão amada esposa. Respondeu ao peão: Ela
não volta mais aqui! Você roubou o coração dela! Naquela noite de seus amores eu
estava escondido no quarto ao lado, vi e ouvi tudo o que fizeram e disseram
sobre mim. Vocês dois destruíram o meu lar, a minha vida e meu tudo que adquiri
com tanto sacrifício! Não resisti a dor! Eu a matei! Este coração que acabaste
de comer é o dela! Fiz você comê-lo sem saber! Agora vais morrer também, disse-lhe
com a maior frieza. Tirou da gaveta da mesa a mesma arma que ceifou a vida dela
lá na mata e disparou na testa do peão que estava gelado, duro, enrijecido,
estático, paralisado, parecendo uma pedra, uma estátua, estarrecido, morreu nas
roupas ouvindo aquela triste e aterradora revelação de seu temível e terrível
adversário! O espírito da negra morte o dominou porque ele devia! Não esboçou
nenhum gesto em defesa da vida! Tombou com a cabeça em cima do prato que comera
o coração dela, o coração daquele maldito amor que não era seu. Cabeças que não
tiveram juízo, os corpos pagaram a conta!
"COISAS DE CABOCLO DE
LUIZÃO-O-CHAVES"
Anastácio MS 14/10/2017
O JAPONÊS CACHACEIRO E O ALAMBIQUE.
Nem sempre encontramos os
japoneses pau d'água como são os outros povos, mas existem, e muitos sim, raro
um andar caindo pelas sarjetas. Do que vamos falar e contar neste conto de
peões do trecho é um deles. Morava numa ponta de rua do povoado, e nos
arredores deste tinha duas hectares de terra na beira do córrego, que era de
sua propriedade onde cultivava sua
horta, lá plantava de tudo, todas as hortaliças que existiam se encontrava lá.
Vendia apurava um dinheirinho e com ele ia vivendo, era solitário, não tinha
familia. Todos os dias pela manhãzinha atravessava a corrotela com seu
caldeirãozinho do almoço e ia para a horta, passava o dia por lá, já no
crepúsculo retornava para casa, sempre levava algumas verduras e oferecia para
os vizinhos e amigos. Era muito conhecido e querido por todos, passava num dos
últimos botecos para tomar um trago e seguir para casa. De quando em quando
dava um maço de verduras para a dono do boteco, este lhe dava um gole e com
isso ia todo feliz para casa. Quando saia mais cedo ficava mais tempo
conversando com os outros fregueses do mesmo ramo" beberrões" da
tarde. Todos lhe admiravam por ter um paladar apurado como nunca visto em lugar
nenhum. Conhecia as cachaças pelo nome uma por uma pelo seu sabor. Podiam dar a pinga sem que ele
visse a garrafa ou o rótulo que ele estalava a língua e dizia: Esta é a
Teimosa! porque naqueles tempos existiam varias marcas de pingas ex: Del Nero,
Caprichosa, Tatuzinho, Quatizinho, Oncinha, Teimosa, Atrás do Saco, 1921, 1931,
1951, Cangebrina, Amarelinha,
Praianinha, Ypioca, e outras de finissima qualidade que eram empalhadas
com requinte. O Japa era um Às no conhecimento das cachaças. Com isso todos se
divertiam com ele. De longe avistavam o japonês quando vinha vindo, um deles
mandava, põe uma pinga aí para o japa, eu vou pagar, vamos ver se ele adivinha
qual é. Ele chegava era aquela festa de cachaceiros. Ô Japa, se você adivinhar
que pinga é, te dou uma garrafa para levar, combinado? O Japonês piscava
aqueles olhos apertados e sorria dizendo. Japão nunca engana! Tomava, estalava
a língua e dizia: E Campineira garantido, é ou não é? kkkkkkkkkkkkk. Era mesmo!
Não errava uma! Mas um dia o dono do boteco resolveu pregar-lhe uma
peça, a turma ficou sabendo do truque e aguardavam ansiosos a presença do japa.
O que ele fez? Mandou sua mulher mijar num copo e misturou com a pinga que o
japonês mais gostava , claro que a urina não foi muita, senão ele desconfiaria
pelo cheiro e sabor salgado do produto adulterado. Ficaram na expectativa
olhando para o fim da ruazinha deserta. Lá vinha ele com as verduras em mãos
para dar a alguém. Todos quietos sem esboçar um pio sequer. Disse boa tarde e
puxou um mochinho que tinham reservado para ele e sentou-se. Ufa que calor foi
hoje? Viram como foi quente a tarde? Japão quase não aguenta o sol de hoje, mas
agora uma pinga gelada resolve tudo nom? Os presentes se entreolhavam! O
vendeiro disse: Japa temos aqui uma
pinga nova e pelo jeito você vai gostar!
Prove e veja como é? Ele pegou o copo levou na boca e tomou um pequeno gole já desconfiando de ser algum truque da turma, chegou engolir e estalando a língua disse: Muito boa mesmo, japão anda carente
desta qualidade: Não quer emprestar o alambique para mim levar hoje á noite?
Japão devolve amanhã cedinho. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
"COISAS DE CABOCLO DE
LUIZÃO-O-CHAVES"
Anastácio MS, 13/10/2017.
NÃO BRINQUE NEM DUVIDE DOS CACHACEIROS!
Quase em todo vilarejo ou
cidadezinha pequenas existe um pau d'água alegre, divertido, muito conhecido e
cheios de presepadas. Tem deles que não aguentam dois goles já caem, ficam
rolando na sarjeta, resmungando, uns bravos, outros rindo de tudo que vê, até
mexendo com quem passa na calçada onde estão sentados. Certa feita tinha um que
era só o vendeiro da esquina abrir o comércio lá estava ele, era o primeiro que
entrava, sondava os fregueses e lhes pedia: Paga uma pinga aí meu irmão, estou
com a goela seca desde ontem, preciso curar a ressaca. Para o veneno da cobra,
o remédio é de outra cobra: Outro veneno diferente. kkkkkkkkkkk. Quando é assim tinha dormido bêbado e na sarjeta.
Estava como se espera, mal cheirando, um
azedume daqueles, com um bafo de jiboia que Deus me livre! As vezes até todo
mijado! E o povo nem ligavam para estes tipos,
se bem que há outros tipos de cachaceiros que são mais alinhados. Bebem
mas não enchem o saco de ninguém, bebe e já vai saindo, cai aqui, levanta ali e some de vista,
peões de fazenda, corredores de trecho, aqueles dos fins de semana e vai por aí
a fora. Este do qual falaremos era dos que passavam o dia roçando o umbigo na
balcão, quando ganhavam um copo de pinga, levava um ano para acabar,
economizando até chegar outro freguês para tentar ganhar outro e assim passava
o dia, outros amigos mais camaradas, pagavam-lhe um sanduíche que era o seu
almoço em lugar da pinga. Ele aceitava sim de bom grado, mas depois pedia. Só
mais um trago amigo, para rebater o almoço, o amigo acabava lhe dando e com
isso o vendeiro até se divertia. Era um dia de sábado a tarde o empório estava
lotado de gente, neste dia o bêbado resolveu chegar lá pelo meio da tarde, estava limpo e são, nem parecia aquele
que tanto importunava o povo e o vendeiro. Os que o conhecia ficaram admirados,
todo cheio de razões já pediu uma "Cipoada". O dono do
estabelecimento aproveitando ele são, quis dar-lhe uma lição de moral e ver se
conseguia desvencilhar daquela "Coisa chata" da semana inteira. O
povo ali se entreolhavam como querendo adivinhar o que aconteceria. Como o dono
do boteco ainda não tinha lhe atendido, então repetiu o pedido, espere um pouco
amigo, retrucou o vendeiro. Foi lá na sala de sua casa que era só passar a
cortina na porta. Veio de lá com uma fita métrica destas de costureira em volta
do pescoço e disse-lhe: Amigo, desde ontem a gente modificou o sistema de
vender cachaça: Só vendemos a garrafa cheia ou se for picado, retalho, no copo,
agora é por metro. Dez, vinte, cinquenta centímetros e até dois metros que é a
medida de nosso balcão. Fora isso não podemos lhe atender. Dava a certeza que
queria fazê-lo lamber o balcão para humilhá-lo na frente do povo. O pedinte
passou a mão no queixo pensando: E agora o que faço? Percebeu que o amigo do
outro lado do balcão fazia aquilo para expulsá-lo dali. Completando a proposta
o vendeiro disse: Se resolver é só pedir aqui está a fita para medir o tanto
que o senhor quiser. kkkkkkkkkkkkkk. Enquanto
isso atendia os outros fregueses, mas ninguém pediu pinga por copos. Só a
garrafa cheia e ele não tinha a grana para levar uma garrafa, ficou embaraçado
por alguns instantes. Pensou e repensou acabou tendo uma ideia dizendo: Me de
aí um metro e meio de cachaça. Acho que dá uma boa "lapada". Assim
não incomodo mais o senhor! Já vou indo também. O vendeiro mais que depressa
mediu e destampou a garrafa, despejando o liquido no comprimento medido. Escorria
no balcão, e o bêbado são, espiando tudo. O povo então nem se fala, seguravam o
riso que por certo dariam ás custas do infeliz pau d'água. kkkkkkkkkkkkk.
Terminando todo garboso e estufado para debochar também, por certo seria um
sucesso os deboches disse-lhe: Pronto amigo pode servir, tome á vontade, este
seu primeiro pedido é por conta da casa, se precisar temos mais. O bêbado vendo
aquela pequena lagoa de pinga sobre o balcão bem nivelado, tirou umas moedas do bolso pagando deu um limpa na garganta e retrucou: Não vou
tomar aqui amigo, faça-me o favor de embrulhar num jornal bem embrulhadinho
para não vazar nem uma gota durante o caminho que vou fazer, pois pretendo
tomar em casa quando eu chegar. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Debochou o pinguço. A Plateia ficou muda e o
vendeiro puto da vida! Cachaceiro FDP resmungou. Me fez pagar um mico deste
tamanho! Os fregueses: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Furioso entrou lá para a sala da casa e não
voltou mais, a sua esposa foi quem atendeu o povo naquele resto do dia.
"COISAS DE CABOCLO DE
LUIZÃO-O-CHAVES"
Anastácio MS 13/10/2017.
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