sexta-feira, 17 de junho de 2016

DONA MORTE E SEU COMPADRE.




Era uma vez um homem que possuía uma família muito bonita, era numerosa em quantidade de filhos, já passava de dezoito só os filhos, ele e a esposa eram ainda bem jovens, bem conservados de saúde, viviam felizes com aquela criançada, era escadinha mesmo, a casa do homem parecia uma creche. Todos admiravam como proliferavam tanto assim. De fato era mesmo de admirar, apesar de sua despesa de casa ser muito alta, o custo de vida já começava a dar sinais de dificuldades, ele era trabalhador braçal, lidava na sua roça e fazia outros serviços para terceiros nas horas que lhe sobrava dos seus. Como em toda a história da humanidade sempre houve pessoas boas de coração, algumas lhes alcançavam alguma coisa, roupinhas para as crianças, víveres, agasalhos nos tempos frios, e com isso iam vivendo bem, muito embora estes são esporádicos, temporãos, vez por outra isso além dos padrinhos que nunca se esquecem de seus afilhados em tempo nenhum, sempre dão presentinhos úteis a vida inteira, mas não sabemos como, surgiu a ideia do que fariam para arranjar um casal de padrinhos para o futuro bebê que já estava a caminho, dali algum tempo chegaria. Porque toda a sua vizinhança e nos arredores eram seus compadres e comadres, e agora a quem dariam o recém chegado para ser batizado? Se bem que ainda havia tempo para pensar nisso, mas é bom agilizar logo e encontrar os novos compadres, assim não ficariam preocupados com o assunto na última hora. Fizeram as contas, por aqui não há nenhum vizinho que não seja nossos compadres, kkkkkkkkkk... Todos já são! Sabem do que é que lembraram? De dona Morte, quem sabe ela daria uma boa comadre, e o compadre? Ela não tem marido, e se tem ninguém nunca ouviu falar dele! kkkkkkkkkkk. Mas deixa pra lá, basta ela está bom! Levaram o caso na brincadeira e ficou por isso mesmo, A morte seria a sua nova comadre, esta que sabe de tudo, sem a gente saber como, logo apareceu não na sua forma física e horrenda, magricela,com seu manto preto, asas de morcego, feições cadavéricas, órbitas fundas, faces encovadas, sem dentes, unhas grandes, dedos secos, a mulher-morte parece um palito dentro de um saco, é terrível na feiura, se aparecesse assim, assombraria seus novos compadres e todos que a vissem. Mas foi até bonitona, com outro perfil e conversou longamente com os novos compadres. kkkkkkkkkkkkk. Ficou tudo acertado! Seria mesmo a madrinha da criança que dentro em breve nasceria. A comadre se despediu e foi-se embora pois sempre tem muito o que fazer, quase não tem tempo disponível para os bate-papos com quem quer que seja, com a sua foice doida nos ombros não quieta. Anda o dia inteiro para tudo que é lado, nas brigas, nas contendas, nas guerras, nos bate-bocas entre maus vizinhos, em hospitais,a atrás da policia, nas divisas de territórios, fazendas, nos garimpos, nas encrencas de índios e fazendeiros, onde se aglomeram gentes de todas as espécies, nas rodas de jogos de azar, nas bebedeiras ou cachaceadas, rodas de peões, de mulheres fofoqueiras e aonde tiver bagunças, o negocio dela é meter a foice na turma e levá-los ao cemitério. Com ela não se brinca. Num dia desses ela foi até nas mediações onde o compadre morava buscar um. Aproveitando a passada na região do compadre, foi até sua casa e rapidinho conversou um bocadinho com ele. Achou-o um tanto desanimado sem até ele mesmo saber porque. Perguntou-lhe: Compadre, o que foi contigo? Parece desanimado? Este disse: É comadre as coisas não andam tão fáceis como a gente pensa, meninada crescendo uns já estão na escola e as despesas só aumentando, e isso tira o sono da gente. A roça custa a dar lucro, dinheiro a gente só vê na colheita, se trabalho para fora, o mato come minhas plantas. Tá difícil conciliar as coisas assim. Pera aí compadre, atalhou a comadre. Vamos fazer o seguinte, vou te dar uma demão. Mas como comadre? Espere aí compadre, vou ali levar um fulano e você me aguarda um pouco. Volto logo. A comadre sumiu, só voltou no outro dia a tarde. Chegando disse: De hoje em diante você não será mais roceiro, mas sim um benzedor de confiança meu, sei que você não sabe "Penicilina" nenhuma de rezas. kkkkkkkkkkk Faça de conta que sabe muito, está bem? Verdade comadre eu não sei de nada mesmo, só sei rezar o Pai-nosso e Ave-Maria. Está bom demais pelo que vai fazer de hoje em diante disse a comadre. Preste atenção: Tu sabes que eu sou a Morte, quando eu vou visitar um doente,  ninguém me vê, se vim para levá-lo, eu levo mesmo, pode ser quem for. Mas agora será diferente, so você me verá aonde eu estiver, ouçabem, só você e ninguém mais, a casa pode estar cheia de gente. Um exemplo: Quando te chamarem para benzer algum doente, que lá eu estiver sentada na cabeceira da cama dele ou dela, faça um chá de qualquer coisa, alecrim, cidreira, erva-doce, cravo, guaco, canela, até mesmo um copo de água morna e dê para o doente, antes porém reze baixinho um Pai-Nosso e uma  Ave Maria, fazendo gestos de quem tira algo com a mão na cabeça dele ou dela. Dê para beberem, logo estará bom! Se te perguntarem quanto é, pode cobrar sim, veja lá quanto precisa e não desculpe não. Pegue a grana e mate sua precisão e com isso ficará famoso logo, logo! kkkkkkkkkkkk. Vá ajuntando um dinheirinho, não gaste atoa viu? Sim senhora comadre, concordou o compadre. O Compadre ficou animado que até riu. Mas pera aí compadre, ainda não terminei o sermão disse a velha. Se um dia  você for chamado para atender alguém e eu estiver sentado nos pés da cama, fique quietinho no seu lugar e diga para os parentes dele, que o caso dele é sério. Diga logo eu não posso fazer nada. Ele vai morrer mesmo! Ainda que te peçam o impossível, não faça nada por ele, não se meta a gato-mestre. Vou levar o fulano mesmo! Combinado? Sim comadre, combinado! Com isso as coisas melhoraram muito para o compadre que andava na região a cavalo atendendo os doentes, quase não tinha descanso, era procurado por todos, sua fama foi longe dentro de pouco tempo, além de famoso, comprou até um carro para ir mais longe atender o povo que lhe chamava. Estava tudo as mil maravilhas! Falado, comentado os trabalhos do compadre. kkkkkkkkkk. Tinha a fama de ser melhor do que muitos médicos! Estava bem de vida, casa bem arrumada, filhos estudando, comprou uma casa na cidade onde os filhos moravam para estudarem, fins de semana com a família nas diversões. Ninguém mais lembrava daquele simples roceiro pobre com a casa lotada de crianças pequenas. Frequentava os clubes da alta sociedade, nas rodas dos ricaços. O compadre nem se lembrava se um dia fora pobre! kkkkkkkkkkkkkk. Começou atender só as famílias ricas, quando tinha um doente, buscavam-no para benzer os fulanos. A grana que cobrava era alta, saia com os bolsos abarrotados, estava quase rico, faltava pouco! Como todos sabem, o dinheiro provoca a ganância em muitos corações, e com o compadre não foi diferente. Certo dia apareceu em sua casa uma senhora ricaça, estava com o marido nas últimas, desenganado de todos os médicos, tinha ido para tudo que era lugar, médicos famosos não lhe dava esperanças nenhuma, ia morrer mesmo. Soube do compadre por informações, e já dirigiu para lá, foi buscá-lo para dar um jeito na situação de seu marido que estava desenganado da medicina. Lhe disse a mulher: Se o senhor salvar-lhe a vida, eu nem quero saber quanto o senhor vai cobrar de mim, dinheiro não é problema para nossa família. Pagar-lhe-emos bem! O olho do compadre cresceu além da órbita, pensou consigo, desta vez vou tomar banho de dinheiro na bolsa desta mulher. kkkkkkkkkkkkk. Adiantou-lhe, só vou por "xis" valor. Combinado amigo, aqui está o dinheiro, já lhe pagou ali mesmo. Mas o compadre resolveu dar um logro na sua comadre, veja se isso não é uma palhaçada dele! Bem de vida, famoso, ganhava dinheiro como poucos ganham. Mas como dizem um provérbio popular dos antigos. "A formiga quando quer se perder, cria asas" Voa alto, mas logo cai num terreiro onde tem galinha choca e já encontra o que não queria. kkkkkkkkkkkk. O compadre chegando na casa do doente, lá estava a comadre sentada nos pés da cama. Lembrou do que dissera a sua comadre, mas se fez de bobo, fingiu não vê-la, pegou o doente e virou-o com a cabeça para os pés da cama. A comadre virou também, tornou a fazê-lo de volta, a comadre fez também! Ficando tudo na mesma. kkkkkkkkkkk. Ela o levaria mesmo. Mas o compadre não desistiu, ficou virando o doente pra cima e pra baixo, a comadre também o acompanhava nos movimentos, até que esta se aborreceu e foi-se embora. Dali a pouco o doente ficou bom e se levantou com saúde, nossa que alegria para os seus familiares. Agradeceram muito ao compadre pelo serviço prestado. Diziam uns: O homem é bom mesmo, nunca vimos igual. Deram-lhe muito dinheiro como gratificação além do pagamento já feito. Levaram-no de volta á sua casa. Chegou todo feliz, só vendo o tanto de dinheiro que recebera, mostrou á esposa. A comadre sumiu, passou muitos dias e quando ele ia de carro para atender outro caso, encontra com a comadre no meio da estrada. Esta o fez parar. Já perguntou-lhe: Porque fizeste aquilo comigo compadre? Que brincadeira besta, de mau gosto? Ninguém me faz de trouxa, compadre! Esqueceu de nosso trato? Não sou de brincadeiras! E agora o que me dizes? O compadre todo assustado com a bronca da comadre, pediu-lhe muitas desculpas pelo ocorrido. A comadre estava uma fera de brava com ele. Você sabia compadre que aquele fulano ia naquela data? Você me impediu de levá-lo, agora vais no lugar dele. Não comadre pelo amor de Deus, não faça isso comigo, ainda tenho crianças pequenas para criar, elas vão ficar sem o pai. Não quero saber, deixe de prosa comigo disse ela, suas crianças e a comadre eu cuidarei. Sapecou a foice na cabeça do compadre e este ficou estendido lá no meio da estrada. Foi um reboliço quando acharam o benzedor morto. Ninguém soube quem o matou! Só diziam lamentando, que pena que o nosso benzedor morreu! Apesar disso ser um conto que o povo conta, em especial os caboclos sertanejos, fica aí uma bela lição de vida! Nós os humanos somos frágeis, volúveis e susceptíveis! Provérbio popular: Todo homem ou mulher tem seu preço! A maioria se entregam ao ver um bom maço de dinheiro! Basta que este apareça na hora certa! Hora certa nada! Hora negativa. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!

CONTO DA NOSSA CULTURA SERTANISTA PARA NOSSO BLOGGER:

" COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES" 31/05/2016.   

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