Era uma vez dois
compadres, um deles era bem situado na vida, tinha uma bonita família, uma
fazendinha, muitas criações nela, um carro bom, algum dinheiro na conta
bancaria, com saúde e bem quisto na sociedade enfim; bem equilibrado na vida
que levava. Compadre rico. Naqueles tempos antigos quem possuía coisas assim
era considerado rico, daí o nome que adotamos para a nossa história ser:
Compadre rico e compadre pobre. Em suas terras morava o seu compadre que a
única coisa que possuía de valor era a sua mulher, um monte de filhos, um cão e
um gato das crianças, e nada mais além da coragem de tocar a sua roça, ali ele plantava
de tudo, colhia e pagava a renda em mantimentos ao seu compadre rico, como
aluguel de suas terras que ocupava, o compadre além de rico era invejoso
prá "chuchu", porque o
compadre pobre era peitudo mesmo para trabalhar na roça, colhia muito, as suas
plantações eram uma maravilha, produziam bem e ele vendia no final da safra, apurava
um dinheirinho e contava para o outro, este ficava se roendo de inveja. Mas
este não era rico? Sim, era rico! Mas não contentava com o que possuía, só
tinha olho para as coisas alheias, em especial as de seu compadre pobre. A bem
da verdade o que lhe causava inveja era a disposição do outro em trabalhar
tanto assim, enquanto ele precisava pagar camaradas para trabalhar em sua roça
e não colhia como o seu compadre pobre, que fazia tudo com a esposa sem mais
ninguém. As despesas do compadre rico com os camaradas era muito grande e o
lucro no final da safra não era compatível com elas, então já cobiçava o espaço de terra que produziu tanta fartura
naquele ano para o seu compadre. Tanto é que o compadre pobre só podia tocar a
sua roça por um ano, no seguinte ele tinha que derrubar matos e formar nova
roça o que era uma trabalheira danada, mas ele era disposto mesmo, sabia das
artimanhas de seu compadre rico. Puxa vida, quando as terras iam lhe dar mais
lucros por serem no segundo ano que sempre é melhor do que no primeiro ano de
trabalho. La vinha o compadre com as suas choradeiras, vou precisar destas
terras neste ano vindouro compadre, vou ter que plantar nelas, mas era pura
vontade de colher tanto quanto seu compadre havia colhido, e ainda mais, não
tinha a garra para derrubar a mata, porque é pesado mesmo o esforço. Além do
mais sabia que o ano seguinte as terras produziriam muito mais, pensava que
eram as terras que fazia o seu compadre bem sucedido assim. Mas os invejosos
nem sempre se lembram que o Divino Criador é quem abençoa o seu trabalho e faz
as pessoas felizes. Além de não ser feliz ainda quebram a cara sempre, querem
ver? Além de nada conseguir como planejava num desses anos as suas terras de
mata virgem acabaram, pois o pobre compadre já havia derrubado todas, só restava uma beirada lá no pé do
morro, mas eram terras secas impróprias para plantar o que o compadre mais
cultivava, arroz, feijão e milho etc. Levando o caso na brincadeira,
resolveu dar mais um logro no seu velho
compadre dizendo: Compadre, este ano o senhor vai ter que derrubar a mata do
tabocal lá no pé do morro, lá as terras são boas também e o senhor vai lucrar
muito no final da colheita, mas o compadre não era trouxa, conhecia terras de
sobra, sabia que as terras só serviam para formar pastagens e mais nada. Está
bem compadre, respondeu o pobre, depois vou lá olhar o capão de mato, ficou
pensativo com a proposta do safado do compadre, ele quer que eu faça só para
ele, e no final de tudo nem sei se colho alguma coisa, as terras lá são fracas
e ainda terei que pagar a renda e jogar sementes de capim para ele, formo a sua
invernada e ficarei chupando os dedos, ele não pagará nada a mim pelo tempo
perdido e pelo prejuízo, quer mesmo me deixar na lona, um caso complicado, vou gastar as minhas
economias com as despesas da roça sem ter o lucro que sempre tive nas roças que
tocamos até aqui. Mas está bom, eu dependo dele para cuidar de minha família
labutando nas roças, eu não tenho terras mesmo! Chamou a esposa e foram lá ver
as terras no pé do morro, um lugar cheios de pedras, seco, um cipoal danado,
espinhos de arranha-gato espinhos agulha, coqueiro de espinhos, aqueles
chamados de tucum, tabocal fechado que nem cobras ensebadas conseguiam passar
por ali, só madeiras duras, anjicos, aroeiras, quebra-foice e jatobás-mirins,
deu o que fazer para adentrarem e olharem as terras todas, apesar de estar
munidos da espingarda, uma foice e um bom facão na cintura, abriam passagem a
custa do facão. Olhou tudo e concluiu: O compadre me pregou uma peça daquelas!
Se eu disser que vou embora para outro lugar, por não querer as suas terras,
ele ficará mal servido comigo, apesar de nunca ter me ajudado em nada, só com
as terras brutas mesmo. Mas a comadre é muito boa, sempre dá algumas roupinhas
que não servem mais em seus filhos para os nossos. Eu considero isso. Ele é um
pata-de-vaca da primeira classe. Mas deixa pra lá! Vamos embora para casa
Maria? Chega de rasgar este espinheiral por hoje. Desacorçoado da maldade de
seu compadre, procurou se conformar dizendo. Deus ajuda quem cedo madruga! Ele
ajuda quem trabalha, nunca deixou faltar o pão para nossa mesa! Estamos com
saúde, vou enfrentar assim mesmo, quem sabe Deus nos dará um ano bem chuvoso
para nós e colheremos nem que seja o suficiente para a despesa da casa, porque
para vender acho que não vai produzir e nem sobrar, e ainda terei que pagar o
arrendamento para o compadre. Ah! deixa isso para lá, não vou lamentar. Deus é
Maior! Iam saindo, quando abaixou para passar embaixo de um emaranhado e moita
de cipós, viu algo reluzindo á luz do sol, viu mas ficou quieto, olhou para a
Maria, esta perguntou-lhe o que é? Viste alguma assombração? Não, dissera ele.
Veja aquilo Maria! Nossa, a mulher arregalou os olhos! O que será? Vamos lá
perto ver? Quando chegaram pertinho nem acreditaram no que estavam vendo. Era
uma pedra de diamante em cima de um ninho de cancãozinho. Lembrou que no ninho
desta ave tem diamante. Porque o seu ninho ninguém consegue encontrar, mas eles
encontraram! Vou dizer ao compadre o que achamos. Não diga nada, disse sua
mulher, ele nem precisa saber disto. Se foi nós que encontramos isso, não é
para ele nem saber, pode crer que é nossa sorte nos bafejando. Mas foram embora
e o compadre rico quando os viu chegar veio recebê-los com aquela cara lambida,
cínica, sorrindo por dentro. E daí compadre, o que achou das terras pergunta-lhe?
Muito boa, responde o compadre! É tão boa que nem vou precisar plantar para
colher. Amanhã mesmo já farei a colheita. kkkkkkkkkkk. Mas como compadre, fará
uma coisa dessas? Eu nunca vi isso? Pois é, mas eu vou colher, pode crer
responde o pobre! Explique melhor, até agora não entendi nada compadre, do que
está dizendo. É simples amigo, encontrei em suas terras um diamante num ninho
de uma ave misteriosa. lá bem nos fundos, numa moita de espinhos de
arranha-gato. O compadre rico quase caiu para trás, verdade compadre? Sim, a
Maria está de prova. Ficarei rico desta vez amigo. Vou comprar muitas terras,
até as suas se o senhor quiser me vender. O compadre entrou para dentro de sua
casa, de fininho sem dizer mais nada. Saiu pelos fundos da casa, encilhou um
cavalo e foi lá buscar o diamante escondido do outro que fora para sua casa e
que no outro dia iria buscá-lo. A Maria parecia adivinhar as intenções de seu
compadre e disse. O compadre vai aprontar outra com você seu bobo! Não sabe ver
as coisas e ficar quieto! O assunto morreu por ali mesmo. O compadre era
ambicioso mesmo e foi lá, mas o que encontrou foi uma casa de marimbondos
graúdos e ferozes, nada de diamante, ficou uma fera, pensou consigo: O compadre
me paga, há de haver comigo, pensa que sou brinquedo? Mais tarde lá vem o
compadre com um saco de estopa nas costas com alguma coisa zunindo dentro, foi
chegando e viu a porta da frente da casa do compadre fechada e só a janela
aberta disse: Tome aí seu mentiroso, o seu diamante! Tinha no saco a casa de
marimbondos deste tamanho e as vespas estavam furiosas lá dentro, lançou-a pela janela pensando consigo: Só
tenho pena das crianças que vão levar tantas ferroadas, mas o compadre merece
mais ainda para deixar de ser mentiroso. Saiu correndo com o saco vazio até sua
casa. Enquanto isso a casa das vespas misteriosamente, miraculosamente voltou a
ser a pedra do diamante e o compadre ficou muito feliz. Lembrou á sua esposa:
Não te disse que Deus é maior? As leis
da natureza compensam tudo o que fazemos de bom nesta terra, ainda mais se
fizermos com amor. Fica aí uma bela lição de vida!
É NOSSA CULTURA
SERTANISTA QUE NOSSO BLOGGER DEFENDE.
"COISAS DE CABOCLO DE
LUIZÃO-O-CHAVES". 11/06/2016
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