sexta-feira, 17 de junho de 2016

BEM NA SEGUNDA CURVA DO "ÉSSE"

                                     


Há alguns anos já passados nós conhecemos uma chácara que situava bem na curva de uma estrada em forma de "S" num vilarejozinho muito falado e conhecido por quase todos os povos daquela grande região, o lugarejo se chamava Morrinho. Sabe aqueles lugares que parecem ter sido fundados na lua minguante? Não crescem, não desenvolvem, não vai para a frente, até que alguém diz que ali naquele lugar tem uma cabeça de burro enterrado naquele chão, ou que em certa época bateram num padre e o mataram enterrando-o vivo? Bem assim era este lugar. Muito difícil numa festança onde os povos se reuniam para comemorarem um dia Santo de guarda ou outra data como por exemplo: Festividades juninas, festa do padroeiro do lugar, festa de São Sebastião, final da quaresma que é sábado de Aleluia, final de ano e que dificilmente não amanheciam mortos duas ou três pessoas no baile que davam fim nestes festejos.  É bem verdade que durante muitos anos, mais de cinquenta, o Morrinho era o lugar da população mais violenta de toda a região, muito raro um final de semana que tivesse bailes e Carreiradas que não amanhecesse dois ou três mortos nestas diversões, parecia um castigo mesmo. Também pudera, vinha gente de todos os arredores, e de lugares mais longínquos também. Estas duas modalidades de diversões atraem pessoas encrenqueiras, de mau gênio, por envolver disputas acirradas, nos bailes era por uma Dama quando estas davam ou dão a famosa "Tabua" nos cavalheiros, nas Canchas as "Carreiradas" por incitar deboches e desaforos aos perdedores. O cemitério local era o maior e mais movimentado do que o da comarca ao seu lado. Lugarzinho pequeno de um alto índice de mortandade. Outros diziam que naquele lugar deu-se em tempos de outrora, grandes combates numa guerra que existiu há mais de cento e cinquenta anos, onde os derrotados enterraram grandes quantidades de ouro e pedras preciosas. Grandes áreas de terras ou fazendas onde seus donos eram muito maus com os indígenas, e com os escravos africanos, onde se deram chacinas, carnificinas de famílias inteiras e que quando estes patrões morreram não conseguiram descansar em paz a sua alma, de tanto mal que fizeram aos seus semelhantes enquanto viveram. Reclamam até hoje os seus bens terrenos, mesmo que não mais pertencem a este mundo dos vivos, mundo material, sendo já de outro mundo, de outra dimensão espiritual, as suas casas ou o lugar delas ficaram assombrados, lugar sinistro em certas horas da noite onde aparecem visões noturnas, mulheres vestidas de branco e arrastando o manto no chão, vultos de pessoas sentadas fumando cachimbos numa pedra, crianças chorando no berço, vozes pedindo socorro, gritos de pessoas morrendo angustiadas, enforcadas, casas que a gente entra dentro  e logo sentimos que tem algo a nos espiar, sussurros de vozes, atiram areias, besouros ou pedrinhas na gente, não deixam ninguém dormir em paz ali. Outros veem lá mais distantes da casa, luzes acendendo e apagando, tochas de fogo no quintal á noite, alguém escarrando, dando risadas, ouve-se barulhos de pancadas e gritos, tiros , assovios, alguém gritando gado no mangueiro, tangendo tropas de animais, gritos de boiadeiros tocando boiadas e nas beiras dos córregos alguém bateando ouro, mexendo cascalho numa bateia, murmúrios que a gente não consegue entender as palavras que estão dizendo, nem de que direção está vindo aquelas manifestações, fenômenos sobrenaturais que a gente fica com medo daquilo tudo. Ninguém sai fora de casa á noite, e se sair não se vê nada. Está tudo calmo. Neste lugarejo tinha um pouco de cada coisa que mencionamos aqui. Transitamos muito por este lugar que era cortado por uma estrada muito antiga que dava acesso da cidade maior a uma Aldeia e a outra corrotela, lugar de garimpo há uns setenta quilômetros dali. Mais para o lado do poente, além desta outra cidade, uma grande fazenda que foi palco de muita maldade com os povos antigos. A gente notava até pela vegetação que era um lugar muito antigo, parecia estas fazendas velhas abandonadas que para todo canto se via sinais de taperas, cada tijolo deste tamanho ou adobes de barro das casas demolidas há quase um século ou mais, ninguém sabe ao certo, porque os antigos dali já morreram todos e ninguém deixou nada escrito ou marcado em alguma pedra ou piso, tudo a esmo. Neste lugar a estrada fazia um "Ésse", duas curvas em sentidos diferentes, opostos, de um lado e de outro tinham dois pés de Ingás deste tamanhos entrelaçando em cima as suas copas que ao meio dia dava uma sombra numa das curvas, passava as conduções embaixo por ser alto lugar e onde a gente sombreava quando vinha de viagem naquela hora do dia. No lado direito na era atual era uma chacrinha de umas quatro hectares de terra, bem na beirada da estrada uma casinha de duas peças e uma cozinha fora, estas eram de madeiras roliças e barreadas. Casinhas de barrotes, coberta de sapés, depois puseram telhas comuns, daquelas "Casca de tatus" lá mais no fundo no sopé do morro tinha a sede onde seu proprietário morava, ali naquela casinha era o lugar de moradia dos zeladores da chacrinha, o caseiro roçava as pastagens, cuidava do aramado que a circundava, olhava as reses, alguns cabritos ou cordeiros davam água para os animais pois ali tinha só um poço, lugar limpo, dando gosto a visão de quem passava a pé na estrada, os viajantes tomavam água ali também, mas tinha um destes mistérios no casebre. Morador nenhum ficava ali por muito tempo, não aguentava a barulheira de noite, ninguém dormia em paz, crianças viam coisas que nós adultos não vemos, estas choravam, queriam ir embora dali aquela hora da noite. Os pais não sabiam o que fazer. O Caseiro sem família ficava um mês ou mais, outros medrosos caiam fora logo. Quinze dias, semanas, dias e era assim. Ninguém parava ali. Certo dia apareceu por lá um senhor com família, tinha uns seis filhos pequenos, a esposa e a mãe dela a sua sogra já velhinha. Eram de outro estado, ficaram ali por mais de um mês, cuidou da chacrinha, quando foi um dia a casa amanheceu fechada, o patrão de lá de sua casa que avistava o caseiro no longo pátio, não vendo o seu serviçal nas atividades diárias estranhou e foi até na casa no meio da tarde, pensou que ele estivesse doente. Qual nada amigo! Sabe o que ele encontrou? Um baita buraco escavado bem no meio da sala que não tinha piso, era a terra vermelha bem batida, e o sinal de um pote de barro que continha moedas, libras esterlinas, ouro e pedras preciosas. Olhou bem na terra removida e lá estava três moedas por cima. Ele  o seu caseiro, deixou-as ali. Era a prova de um grande "Enterro" que ali esteve guardado por muito tempo, assombrando a turma e que ninguém sabia de sua existência. O caboclinho e sua família desapareceram num piscar de olhos com certeza no meio da noite. Com um tesouro destes? Pernas? Pra que te quero? Foi aliviar a sua situação de pobre e cheio de filhos bem longe dali. Bem que mereceu, não é? kkkkkkkkkkkkkkkkk.

CONTO VERDADEIRO SEM DÚVIDAS PARA A NOSSA CULTURA SERTANISTA.
ANASTACIO MS 06/06/2016 "COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"


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