Há alguns anos já passados
nós conhecemos uma chácara que situava bem na curva de uma estrada em forma de
"S" num vilarejozinho muito falado e conhecido por quase todos os
povos daquela grande região, o lugarejo se chamava Morrinho. Sabe aqueles
lugares que parecem ter sido fundados na lua minguante? Não crescem, não
desenvolvem, não vai para a frente, até que alguém diz que ali naquele lugar
tem uma cabeça de burro enterrado naquele chão, ou que em certa época bateram
num padre e o mataram enterrando-o vivo? Bem assim era este lugar. Muito
difícil numa festança onde os povos se reuniam para comemorarem um dia Santo de
guarda ou outra data como por exemplo: Festividades juninas, festa do padroeiro
do lugar, festa de São Sebastião, final da quaresma que é sábado de Aleluia,
final de ano e que dificilmente não amanheciam mortos duas ou três pessoas no
baile que davam fim nestes festejos. É
bem verdade que durante muitos anos, mais de cinquenta, o Morrinho era o lugar
da população mais violenta de toda a região, muito raro um final de semana que
tivesse bailes e Carreiradas que não amanhecesse dois ou três mortos nestas
diversões, parecia um castigo mesmo. Também pudera, vinha gente de todos os
arredores, e de lugares mais longínquos também. Estas duas modalidades de
diversões atraem pessoas encrenqueiras, de mau gênio, por envolver disputas
acirradas, nos bailes era por uma Dama quando estas davam ou dão a famosa
"Tabua" nos cavalheiros, nas Canchas as "Carreiradas" por
incitar deboches e desaforos aos perdedores. O cemitério local era o maior e
mais movimentado do que o da comarca ao seu lado. Lugarzinho pequeno de um alto
índice de mortandade. Outros diziam que naquele lugar deu-se em tempos de
outrora, grandes combates numa guerra que existiu há mais de cento e cinquenta
anos, onde os derrotados enterraram grandes quantidades de ouro e pedras
preciosas. Grandes áreas de terras ou fazendas onde seus donos eram muito maus
com os indígenas, e com os escravos africanos, onde se deram chacinas,
carnificinas de famílias inteiras e que quando estes patrões morreram não
conseguiram descansar em paz a sua alma, de tanto mal que fizeram aos seus
semelhantes enquanto viveram. Reclamam até hoje os seus bens terrenos, mesmo
que não mais pertencem a este mundo dos vivos, mundo material, sendo já de
outro mundo, de outra dimensão espiritual, as suas casas ou o lugar delas ficaram
assombrados, lugar sinistro em certas horas da noite onde aparecem visões noturnas,
mulheres vestidas de branco e arrastando o manto no chão, vultos de pessoas
sentadas fumando cachimbos numa pedra, crianças chorando no berço, vozes
pedindo socorro, gritos de pessoas morrendo angustiadas, enforcadas, casas que
a gente entra dentro e logo sentimos que
tem algo a nos espiar, sussurros de vozes, atiram areias, besouros ou pedrinhas
na gente, não deixam ninguém dormir em paz ali. Outros veem lá mais distantes
da casa, luzes acendendo e apagando, tochas de fogo no quintal á noite, alguém
escarrando, dando risadas, ouve-se barulhos de pancadas e gritos, tiros ,
assovios, alguém gritando gado no mangueiro, tangendo tropas de animais, gritos
de boiadeiros tocando boiadas e nas beiras dos córregos alguém bateando ouro,
mexendo cascalho numa bateia, murmúrios que a gente não consegue entender as
palavras que estão dizendo, nem de que direção está vindo aquelas
manifestações, fenômenos sobrenaturais que a gente fica com medo daquilo tudo.
Ninguém sai fora de casa á noite, e se sair não se vê nada. Está tudo calmo.
Neste lugarejo tinha um pouco de cada coisa que mencionamos aqui. Transitamos
muito por este lugar que era cortado por uma estrada muito antiga que dava
acesso da cidade maior a uma Aldeia e a outra corrotela, lugar de garimpo há
uns setenta quilômetros dali. Mais para o lado do poente, além desta outra
cidade, uma grande fazenda que foi palco de muita maldade com os povos antigos.
A gente notava até pela vegetação que era um lugar muito antigo, parecia estas
fazendas velhas abandonadas que para todo canto se via sinais de taperas, cada
tijolo deste tamanho ou adobes de barro das casas demolidas há quase um século
ou mais, ninguém sabe ao certo, porque os antigos dali já morreram todos e
ninguém deixou nada escrito ou marcado em alguma pedra ou piso, tudo a esmo.
Neste lugar a estrada fazia um "Ésse", duas curvas em sentidos
diferentes, opostos, de um lado e de outro tinham dois pés de Ingás deste
tamanhos entrelaçando em cima as suas copas que ao meio dia dava uma sombra
numa das curvas, passava as conduções embaixo por ser alto lugar e onde a gente
sombreava quando vinha de viagem naquela hora do dia. No lado direito na era
atual era uma chacrinha de umas quatro hectares de terra, bem na beirada da
estrada uma casinha de duas peças e uma cozinha fora, estas eram de madeiras
roliças e barreadas. Casinhas de barrotes, coberta de sapés, depois puseram
telhas comuns, daquelas "Casca de tatus" lá mais no fundo no sopé do
morro tinha a sede onde seu proprietário morava, ali naquela casinha era o
lugar de moradia dos zeladores da chacrinha, o caseiro roçava as pastagens,
cuidava do aramado que a circundava, olhava as reses, alguns cabritos ou
cordeiros davam água para os animais pois ali tinha só um poço, lugar limpo,
dando gosto a visão de quem passava a pé na estrada, os viajantes tomavam água
ali também, mas tinha um destes mistérios no casebre. Morador nenhum ficava ali
por muito tempo, não aguentava a barulheira de noite, ninguém dormia em paz,
crianças viam coisas que nós adultos não vemos, estas choravam, queriam ir
embora dali aquela hora da noite. Os pais não sabiam o que fazer. O Caseiro sem
família ficava um mês ou mais, outros medrosos caiam fora logo. Quinze dias,
semanas, dias e era assim. Ninguém parava ali. Certo dia apareceu por lá um
senhor com família, tinha uns seis filhos pequenos, a esposa e a mãe dela a sua
sogra já velhinha. Eram de outro estado, ficaram ali por mais de um mês, cuidou
da chacrinha, quando foi um dia a casa amanheceu fechada, o patrão de lá de sua
casa que avistava o caseiro no longo pátio, não vendo o seu serviçal nas
atividades diárias estranhou e foi até na casa no meio da tarde, pensou que ele
estivesse doente. Qual nada amigo! Sabe o que ele encontrou? Um baita buraco
escavado bem no meio da sala que não tinha piso, era a terra vermelha bem
batida, e o sinal de um pote de barro que continha moedas, libras esterlinas,
ouro e pedras preciosas. Olhou bem na terra removida e lá estava três moedas
por cima. Ele o seu caseiro, deixou-as
ali. Era a prova de um grande "Enterro" que ali esteve guardado por
muito tempo, assombrando a turma e que ninguém sabia de sua existência. O
caboclinho e sua família desapareceram num piscar de olhos com certeza no meio
da noite. Com um tesouro destes? Pernas? Pra que te quero? Foi aliviar a sua
situação de pobre e cheio de filhos bem longe dali. Bem que mereceu, não é?
kkkkkkkkkkkkkkkkk.
CONTO VERDADEIRO SEM
DÚVIDAS PARA A NOSSA CULTURA SERTANISTA.
ANASTACIO MS 06/06/2016
"COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"
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