Em toda a história da
humanidade nas mais diferentes culturas, credos, hábitos e costumes os povos
sempre foram muito complexos. Há de se ver numa pequena comunidade a
diversidade das pessoas a começar pela fisionomia e cor da pele. Cumpre-se uma
ordem superior que ao criá-los estabeleceu: Nasçam, cresçam, multiplicai e
povoai toda a terra! E assim já se passaram milênios de anos, ninguém sabe ao
certo, nem exatos quantos anos já se passaram, calculam, estudam analisam de
tudo um pouco, mas até agora, é um segredo de Deus. Conta-se que numa época, lá
pelos anos 1935 numa turma de trabalhadores braçais, como é conhecido muito
pelos caboclos sertanejos, de turma de empreiteiros, onde envolvem peões,
camaradas e outros nomes que são dados ás pessoas, geralmente solteiros, que
vivem pelo mundo andando de um lado para outro trabalhando como diaristas a
outrem. Este cabeça da turma tem o nome de empreiteiro ou “Gato,” são chamados
assim pelos companheiros subordinados a ele. Numa turma destas no interior do
Estado de São Paulo, numa grande fazenda tinha um “Gato” com uma turma de uns
50 peões sob seu comando, fazendo roçadas e derrubadas na mata virgem.
Futuramente ali seriam plantações de café, algodão, amendoim, cana- de-açúcar,
soja, formavam as invernadas para criações de bovinos, muares, equinos,
caprinos e outras espécies. Era uma Semana Santa, naquela época os povos eram
muito católicos, não existiam outras denominações, organizações, seitas,
filosofias, crenças religiosas como nos dias atuais, que a gente até espanta de
ver a quantidade, multiplicidades de crenças e tudo que envolve a
espiritualidade dos povos, mas sempre que em meio ao povo há os que creem,
duvidam, escarnecem, desfazem, outros levam a sério. Outros no deboche e vai
por aí afora, cada um com seu jeito. Ninguém é igual mesmo. Antigamente quando
chegava os 40 dias que antecediam a Semana Santa, os religiosos Católicos praticantes,
recomendavam aos seus familiares respeito á este período que antecedia a
Sexta-feira Santa. Era e é chamado até hoje por “Quaresma”, tinha encerrado o
período carnavalesco, como era de costumes, ninguém mais falava ao menos alto,
procuravam não se desentenderem por nada, nem as crianças faziam gritaria e nem
bagunças deles, os instrumentos eram guardados em seus estojos, os violões,
violas, cavaquinhos e outros, eram afrouxado as cordas. As imagens dos santos
que tinham em suas casas eram cobertas. Ninguém portava armas, não caçavam eram
todas guardadas. Ninguém maltratava nem os animais. Não tomavam nem cachaça nos botecos, ninguém
jogava cartas, a abstinência era completa. Era respeito permanente até dia de
Sábado de aleluia. Numa época desta esta turma de um empreiteiro já na Semana
Santa plena quinta-feira, os peões trabalharam até o meio dia, retornaram para
o acampamento e guardaram as ferramentas embaixo das tarimbas, uns tomaram
banho e deitaram para descansarem, só voltariam a trabalhar no sábado de
aleluia. Outros foram na “Corrotela” alguns num boteco não muito distante dali,
compraram cachaça, vinhos, mortadela, pães, bolachas, cigarros, baralhos para
jogarem no sábado, mas sempre tem uns sem graças e que de tudo duvidam ou levam
na brincadeira as coisas sérias, não resistiu ficar só em silêncio no barraco
sem fazer nada, disse aos outros: Já é noite mesmo e após o jantar vamos jogar
um truco? Uns ficaram meio desapontados com a atitude do companheiro, disseram:
Eu não vou, hoje é Quinta-feira Santa e isso não fica bem, a gente desrespeitar
este dia é muito comprometedor, quase ninguém quis, uns dois ou três resolveram
jogar. Quá, isso não é nada! Todos os dias são iguais, o que é que tem? Vamos
lá, forraram um cobertor no chão bem limpinho, fizera uma roda, e foram jogar
cartas despreocupados, kkkkkkkkkkkkkk. Lá pelas tantas sentiram fome, comeram o
salame com pães, bolachas tomaram guaraná, vinho e cachaça e continuaram na
bagunça, só que gritavam em voz baixa, porque os demais foram dormir. Os
ranchos eram todos beira-chão coberto de folhas de coqueiro, em cada um dormiam
dois companheiros, um deles o mais assanhado para jogar, o que incitou, que foi
o mentor do jogo tinha ficado só, pois o seu companheiro tinha ido para a
cidade passar o fim de semana Santa lá, só viria no sábado cedinho. Jogaram até
lá pelas 2 horas da madrugada, uns estavam bêbados outros só de fogo e os
outros bons ainda, dentre eles um de nome Atílio estava em perfeito sentido,
não estava bêbado, resolveram parar o jogo e ir dormir, então vamos dormir
turma? Já passa das duas horas. Vamos! Então desfizeram a roda e cada um foi
para seu barraco. O Atílio como estava só, fechou a porta com umas varas
roliças, assim são na maioria dos barracos, deitou-se e cobriu a cabeça, não
conseguia dormir, nem pregou os olhos um minuto sequer. Rolou na tarimba e nada
de sono, de repente o barraco seu sem que ninguém mais estivesse lá com ele,
clareou, com uma luz amarela e feia, não se via de onde vinha aquela claridade.
O Atílio virou na cama para ver o que era aquilo, ficou espantado ao ver um
velho peão mal vestido, fedendo sujeira, com uma camisa velha toda rasgada, com
uma calça de couro cru, umas polainas sobre as botinas velhas e calçando um par
de esporas, como se tivesse vindo á cavalo até ali. O espectro estava sentado
na tarimba velha de seu companheiro do lado, balançando as pernas e roçando as
esporas no chão, estas faziam um barulhinho tradicional delas! Quiriiim
quiriiim quiriiim! Pral lá e pra cá de acordo com balanço das suas pernas
dependuradas. De quando em quando esboçava um sorriso para o Atílio como se
estivesse agradando-o com sua presença. O nosso amigo arregalou os olhos, de
espanto, tentou levantar a cabeça, tentou mover o corpo de todo o modo, seu
corpo não obedeceu nada: Estava gelado igual um sorvete. Estava paralisado ante
o olhar do “Negrão”. Um baita pretão de olhos vermelhos, barba rala e
cavanhaque igual bode, que lhe fitava com insistência sem ao menos desviar o
seu olhar fulminante. Atílio tentou até rezar uma oração, não conseguia lembrar
de nenhuma, até seu cérebro estava anestesiado. E agora? Sentia que seus
sentidos estavam sem ação, mas continuava a pensar numa prece, até que enfim
lembrou-se da Ave-Maria. No seu íntimo, na sua consciência que despertava
conseguiu rezar na mente umas duas ou três palavras da reza. Pronto: O Negro
deu um salto que caiu lá fora e saiu correndo no seu animal que estava no
terreiro. Deixou uma catinga de enxofre
na cama onde sentou que não havia nada que tirasse aquele fedor do barraco. Não
se sabe como ele atravessou a porta de vinda sem ao menos fazer barulho, nem de
volta ainda com um salto felino daqueles quando foi embora. O Atílio conseguiu
levantar, com o corpo dolorido, suado até os ossos, a camisa pregada no corpo
seu corpo de tanto que suou, parecia ter saído de uma fornalha. Respirou fundo
e catou seu cobertor e seu colchão de capim e foi para o barraco de outro
companheiro. Chegou assustado e gritando por socorro, todos acordaram com
aquele pampeiro, o que é Atílio? O que foi rapaz? O que lhe aconteceu? Atílio
tremia de tanto medo, jogou o colchão no chão limpo e deitou-se calado sem
dizer nada. Todos levantaram e o rodearam curiosos para saberem o que havia
acontecido. Depois com calma ele recobrou as forças, criou coragem e contou.
Todos se arrepiaram. Logo um dos que não tinha jogado nem bebido lhes falou:
Olhe no que deu a sua falta de respeito para com Deus. O Bicho veio para te
levar, ele te dominou o quanto pode, só não conseguiu levá-lo porque você ter
com muito custo conseguido lembrar esta reza de Nossa Senhora. Estão vendo o
que faz a falta de respeito com as coisas sagradas. O Bem existe, todos sabem;
mas o Mal também existe! Guardem esta lição!
CONTOS QUE NÓS IMAGINAMOS
E ESCREVEMOS PARA O NOSSO BLOGGER.
ANASTÁCIO, 16/05/2015 “Coisas de Caboclo de Luizão-O-Chaves”
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