domingo, 24 de maio de 2015

LIÇÃO PARA BAGUNCEIROS TEREM RESPEITO

                           
          .
Em toda a história da humanidade nas mais diferentes culturas, credos, hábitos e costumes os povos sempre foram muito complexos. Há de se ver numa pequena comunidade a diversidade das pessoas a começar pela fisionomia e cor da pele. Cumpre-se uma ordem superior que ao criá-los estabeleceu: Nasçam, cresçam, multiplicai e povoai toda a terra! E assim já se passaram milênios de anos, ninguém sabe ao certo, nem exatos quantos anos já se passaram, calculam, estudam analisam de tudo um pouco, mas até agora, é um segredo de Deus. Conta-se que numa época, lá pelos anos 1935 numa turma de trabalhadores braçais, como é conhecido muito pelos caboclos sertanejos, de turma de empreiteiros, onde envolvem peões, camaradas e outros nomes que são dados ás pessoas, geralmente solteiros, que vivem pelo mundo andando de um lado para outro trabalhando como diaristas a outrem. Este cabeça da turma tem o nome de empreiteiro ou “Gato,” são chamados assim pelos companheiros subordinados a ele. Numa turma destas no interior do Estado de São Paulo, numa grande fazenda tinha um “Gato” com uma turma de uns 50 peões sob seu comando, fazendo roçadas e derrubadas na mata virgem. Futuramente ali seriam plantações de café, algodão, amendoim, cana- de-açúcar, soja, formavam as invernadas para criações de bovinos, muares, equinos, caprinos e outras espécies. Era uma Semana Santa, naquela época os povos eram muito católicos, não existiam outras denominações, organizações, seitas, filosofias, crenças religiosas como nos dias atuais, que a gente até espanta de ver a quantidade, multiplicidades de crenças e tudo que envolve a espiritualidade dos povos, mas sempre que em meio ao povo há os que creem, duvidam, escarnecem, desfazem, outros levam a sério. Outros no deboche e vai por aí afora, cada um com seu jeito. Ninguém é igual mesmo. Antigamente quando chegava os 40 dias que antecediam a Semana Santa, os religiosos Católicos praticantes, recomendavam aos seus familiares respeito á este período que antecedia a Sexta-feira Santa. Era e é chamado até hoje por “Quaresma”, tinha encerrado o período carnavalesco, como era de costumes, ninguém mais falava ao menos alto, procuravam não se desentenderem por nada, nem as crianças faziam gritaria e nem bagunças deles, os instrumentos eram guardados em seus estojos, os violões, violas, cavaquinhos e outros, eram afrouxado as cordas. As imagens dos santos que tinham em suas casas eram cobertas. Ninguém portava armas, não caçavam eram todas guardadas. Ninguém maltratava nem os animais.  Não tomavam nem cachaça nos botecos, ninguém jogava cartas, a abstinência era completa. Era respeito permanente até dia de Sábado de aleluia. Numa época desta esta turma de um empreiteiro já na Semana Santa plena quinta-feira, os peões trabalharam até o meio dia, retornaram para o acampamento e guardaram as ferramentas embaixo das tarimbas, uns tomaram banho e deitaram para descansarem, só voltariam a trabalhar no sábado de aleluia. Outros foram na “Corrotela” alguns num boteco não muito distante dali, compraram cachaça, vinhos, mortadela, pães, bolachas, cigarros, baralhos para jogarem no sábado, mas sempre tem uns sem graças e que de tudo duvidam ou levam na brincadeira as coisas sérias, não resistiu ficar só em silêncio no barraco sem fazer nada, disse aos outros: Já é noite mesmo e após o jantar vamos jogar um truco? Uns ficaram meio desapontados com a atitude do companheiro, disseram: Eu não vou, hoje é Quinta-feira Santa e isso não fica bem, a gente desrespeitar este dia é muito comprometedor, quase ninguém quis, uns dois ou três resolveram jogar. Quá, isso não é nada! Todos os dias são iguais, o que é que tem? Vamos lá, forraram um cobertor no chão bem limpinho, fizera uma roda, e foram jogar cartas despreocupados, kkkkkkkkkkkkkk. Lá pelas tantas sentiram fome, comeram o salame com pães, bolachas tomaram guaraná, vinho e cachaça e continuaram na bagunça, só que gritavam em voz baixa, porque os demais foram dormir. Os ranchos eram todos beira-chão coberto de folhas de coqueiro, em cada um dormiam dois companheiros, um deles o mais assanhado para jogar, o que incitou, que foi o mentor do jogo tinha ficado só, pois o seu companheiro tinha ido para a cidade passar o fim de semana Santa lá, só viria no sábado cedinho. Jogaram até lá pelas 2 horas da madrugada, uns estavam bêbados outros só de fogo e os outros bons ainda, dentre eles um de nome Atílio estava em perfeito sentido, não estava bêbado, resolveram parar o jogo e ir dormir, então vamos dormir turma? Já passa das duas horas. Vamos! Então desfizeram a roda e cada um foi para seu barraco. O Atílio como estava só, fechou a porta com umas varas roliças, assim são na maioria dos barracos, deitou-se e cobriu a cabeça, não conseguia dormir, nem pregou os olhos um minuto sequer. Rolou na tarimba e nada de sono, de repente o barraco seu sem que ninguém mais estivesse lá com ele, clareou, com uma luz amarela e feia, não se via de onde vinha aquela claridade. O Atílio virou na cama para ver o que era aquilo, ficou espantado ao ver um velho peão mal vestido, fedendo sujeira, com uma camisa velha toda rasgada, com uma calça de couro cru, umas polainas sobre as botinas velhas e calçando um par de esporas, como se tivesse vindo á cavalo até ali. O espectro estava sentado na tarimba velha de seu companheiro do lado, balançando as pernas e roçando as esporas no chão, estas faziam um barulhinho tradicional delas! Quiriiim quiriiim quiriiim! Pral lá e pra cá de acordo com balanço das suas pernas dependuradas. De quando em quando esboçava um sorriso para o Atílio como se estivesse agradando-o com sua presença. O nosso amigo arregalou os olhos, de espanto, tentou levantar a cabeça, tentou mover o corpo de todo o modo, seu corpo não obedeceu nada: Estava gelado igual um sorvete. Estava paralisado ante o olhar do “Negrão”. Um baita pretão de olhos vermelhos, barba rala e cavanhaque igual bode, que lhe fitava com insistência sem ao menos desviar o seu olhar fulminante. Atílio tentou até rezar uma oração, não conseguia lembrar de nenhuma, até seu cérebro estava anestesiado. E agora? Sentia que seus sentidos estavam sem ação, mas continuava a pensar numa prece, até que enfim lembrou-se da Ave-Maria. No seu íntimo, na sua consciência que despertava conseguiu rezar na mente umas duas ou três palavras da reza. Pronto: O Negro deu um salto que caiu lá fora e saiu correndo no seu animal que estava no terreiro.  Deixou uma catinga de enxofre na cama onde sentou que não havia nada que tirasse aquele fedor do barraco. Não se sabe como ele atravessou a porta de vinda sem ao menos fazer barulho, nem de volta ainda com um salto felino daqueles quando foi embora. O Atílio conseguiu levantar, com o corpo dolorido, suado até os ossos, a camisa pregada no corpo seu corpo de tanto que suou, parecia ter saído de uma fornalha. Respirou fundo e catou seu cobertor e seu colchão de capim e foi para o barraco de outro companheiro. Chegou assustado e gritando por socorro, todos acordaram com aquele pampeiro, o que é Atílio? O que foi rapaz? O que lhe aconteceu? Atílio tremia de tanto medo, jogou o colchão no chão limpo e deitou-se calado sem dizer nada. Todos levantaram e o rodearam curiosos para saberem o que havia acontecido. Depois com calma ele recobrou as forças, criou coragem e contou. Todos se arrepiaram. Logo um dos que não tinha jogado nem bebido lhes falou: Olhe no que deu a sua falta de respeito para com Deus. O Bicho veio para te levar, ele te dominou o quanto pode, só não conseguiu levá-lo porque você ter com muito custo conseguido lembrar esta reza de Nossa Senhora. Estão vendo o que faz a falta de respeito com as coisas sagradas. O Bem existe, todos sabem; mas o Mal também existe! Guardem esta lição!

CONTOS QUE NÓS IMAGINAMOS E ESCREVEMOS PARA O NOSSO BLOGGER.
ANASTÁCIO, 16/05/2015  “Coisas de Caboclo de Luizão-O-Chaves”




Nenhum comentário:

Postar um comentário