segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O BODE XITO E A ONÇA PINTADA


Cansado de tanto sofrer com as intempéries do ano todo, assim: Em época das chuvaradas não tinha um lugar para se abrigar, nas altas atividades solar dos meses quentes era uma situação insuportável, às vezes poucas sombras, aguada longe o bode estava pensando como escapar dessa situação constrangedora. Pensa e repensa chegou a uma conclusão: Vou construir uma casa para mim, até mesmo um barraco de folhas de coqueiro, que além de fresquinho os ventos não destroem ele com facilidade. É muito seguro, oras bolas até as aves tem suas casas, vejamos: As pombas tem seus ninhos, os passarinhos pequenos se abrigam embaixo da folhas grandes das arvores. O João de Barro tem uma casa muito bem feita, ele mesmo a constrói! Os guachos, João congo, e outros tem uma casa dependurada nos galhos, além de bonitas parece um bangalô! Tantos são os animais que tem as suas moradas; uns em ocos de troncos, das arvores caídas ou em pé. Será que só o bode, tem uma vida inteira sem casa? O meu velho pai não tem tempo de fazer uma para mim. Assim não dá? Vou fazê-la!  Planejou tudo direito, e agora mãos a obra! Passou a mão numa foice de cabo curto, uma enxada e dirigiu para o lado do capão de mato. Lá chegando olhou um lugar próximo ao ribeirão. Terra firme, bem seco ate mesmo em época de chuvaradas,um monte que de longe alguém avistava, pois o mato era ralo, bem ventilado enfim um lugar muito aprazível. Roçou, capinou, limpou todo o mato arredou o cisco para fora. Esquadrejou o barraco, furou os buracos com a foice, entrou mato adentro olhou alguns varotes que serviriam de caibros, voltando em casa levou um machado, cortando os esteios em numero de nove, as linhas eram três longas e três curtas, olhou um coqueiral para depois tirar folhas para a cobertura,os barrotes seriam de madeira rachada, baldrames, cipós para amarríos, enfim viu que tudo daria certo. Descansou um pouco, resolveu ir embora e voltar só dali á dois dias. Neste intervalo a onça vinha de longa caminhada em busca de lugares que tinham mais caças e toda metida a sabichona passando por ali viu aquilo bem arquitetado, resolveu invejar aquele serviço, se intrometeu na construção do bode querendo ser meieira da casa, ajudaria construí-la, mas queria morar lá de qualquer jeito, fosse por bem ou por mal; pensou assim: Este rastro aqui é do bode, isto aqui é artes dele, dou uma de João-sem-braço, ajudá-lo-ei sem que perceba, quando estiver pronta virei para morar, se ele achar ruim, resolveremos do meu jeito. Num rápido serviço, arrastou toda madeira, fincou os esteios, colocou as linhas todas deixou bem certinho, arranjou cipós colocou e amarrou os caibros e as varas que seriam as ripas. Cortou um monte de folhas para a cobertura, descansou e foi-se embora. Ficaria sondando o dia que o bode viria. Assim fez! Vindo o bode estranhou todo, Nossa exclamou ele! Quem será que me ajudou tanto! Ficou mais animado ainda! Cobriu tudo com as folhas, aparou as pontas, rachou madeiras para cercar em volta, arrumou os baldrames, trouxe pedaços de cupins para o piso, socou e deixou bem arrumadinho e liso, foi-se embora. Só voltaria dali a três dias. A onça acompanhou tudo e retornou na ausência do bode. Ela terminaria a casa para ter mais direito na hora de chegar e tentar um acordo, Ela sabia que o bode iria armar a maior curuca, para não aceita-la como meieira. Terminou a casa e foi-se embora. Sondaria a hora que ele viesse com a mudança, ela também chegaria com a sua. Assim acabou a construção, e começaria uma confusão! Dito e feito. Lá vem o bode com mochila a tiracolo um facão na cintura, uma cabaça de agua, e um buzina daquelas que os caçadores usam para chamar os cães em caçadas, uma rede e um cajado. Quando colocou os apetrechos no chão, olha para trás, a onça chegando também com as suas coisas. O bode pergunta-lhe: O que vieste fazer aqui na minha casa? Ela respondeu-lhe: Oras, vim morar aqui também! Esta casa fui eu que a terminei? O bode replicou: Quem deu inicio nesta casa foi eu, minha cara? Planos, projetos e execução são meus, você não tem nadinha aqui? Outra, destes terrenos, sou herdeiro.Pode dar o fora! Aqui não lhe cabe! Eu duvido muito de alguém me expulsar daqui! Sou adjutora desta casa, tenho direitos também, disse a onça! Pode reclamar os teus! Iremos aonde você quiser, das duas: Uma! Ou moramos os dois; ou nenhum? O bode disse: Morarei sozinho! Você invejou minha obra! Não tens criatividade nenhuma! Só sabe querer ao que é dos outros! Basta que você só vive perseguindo e  matando os filhos alheios. Comigo será diferente! Te enfrento qualquer hora, de igual para igual, não tenho medo de você, está bom? Pera ai, mestre bode, o senhor já está querendo é brigar? Não precisa disto, vamos combinar? A casa é grande, da para nos dois, vamos dividi-la ao meio? Você fica num cômodo, eu ficarei no outro? Sem problemas. O bode inconformado aceitou,mas de lombo duro, pensando, onça é bicho traiçoeiro, ao menor descuido meu ela me pega; tem muita força e é dos piores felinos que conheço, Basta que esta imundície foi quem me deixou órfão de pai e mãe. Antes que ela me jante, vou dar um jeito de almoçar ela.  A onça pensava, este bode anda meio magro, vou dar um tempo e esperar ele engordar um pouquinho depois ele vai ver comigo, acabarei ficando sozinha na casa. Como foi possível,cada um foi para o seu lugar. De quando em quando trocavam um papo meio sem graça, só para quebrar a monotonia gerada por aquela discussão.O bode pensou consigo, para a gente ter sossego, não é muito fácil. Ah! já sei! Amiga onça, vamos combinar um negócio? Eu pasto o dia inteiro enquanto isso, você dorme, a noite você sai para caçar eu fico em casa dormindo. Haveremos de nos dar muito bem assim, não acha? Fica ótimo, disse a onça. Assim a nossa casa nunca ficará a disposição de algum folgado que passar por aqui pensando que não tem dono. E você amigo bode? Faz quanto tempo que mora por aqui? Sim, Meu nome é Xito! Disse ele! Fui criado aqui nesta região, conheço tudo aqui, desde os pássaros até o ultimo animal que chegou para habitar nestas paragens. Um velho caçador me adotou como filho, porque os meus pais foram comidos por animais ferozes desta região, só não disse que foi por onças; aqui tinha de tudo o que não prestava, quando não era tão habitado como é hoje,lobos, águias, onça parda,suçuarana, leões, tigres, macacos, bugios, porcos selvagens, e outros. O meu velho pai acabou com toda essa turma de malfeitores, atira bem pra chuchu. Apesar de nem todos serem ruins, como parecem, mas precisam e tem direito viverem também. Nossa! Disse a onça, então teu pai adotivo é um velho caçador? Ele ainda caça? Perguntou a onça? Às vezes se precisar, responde o bode! Você sabe, as leis atuais impedem a caça, são para a preservação dos animais, e o velho as obedece. Se for para me livrar de algum perigo imprevisto, ele passa a mão na carabina e lasca fogo seja em quem for. Hã! Disse ela. É por isso que você é tranquilo, mestre bode! Quem tem um pai desses, nada teme! Pois é amiga! Assim é a vida, disse o bode. Então é por isso que dissera enfrentar-me de igual para igual? Sim! E nem preciso mover uma unha, meu pai e seus cães fazem tudo sozinhos, e ligeiro! Responde o bode. Só que não gosto de encrencas com ninguém. Viver em paz é melhor. Nesta oportunidade de papear com a onça ele aproveitara para assustar a onça e deu certo. O felino ficou pensativo com seus botões,Que bobeira que dei! Na chegada para morar, naquela hora que este fulano estava bravateando é que eu devia ter dado fim nele! Agora ficou mais difícil. Planejava agora um jeito de comer o bode sem que ele desconfiasse. E você amiga, tem muitos amigos? De onde vieste? Pergunta o bode. Eu tenho poucos amigos de onde vim! É muito longe daqui também. Devo dizer que sou forasteira neste lugar gostoso, que você mora, mas pretendo ficar por aqui, depois de você fazer boas amizades. Ah sim, disse o bode! Esqueci-me de dizer-lhe: O meu dono, ou melhor, meu pai adotivo, cria também: cordeiros, porcos, tropas, bezerros, animais de montaria, até filhotes de animais selvagens, anta, caititu, quatis, macacos aves em geral, mas tem também uma matilha de cães de dar medo a quantidade, são os nossos guarda-costas, ás vezes ele viaja, mas volta logo também. Nunca deixa a gente muito só. Das coisas dele, a mais querida sou eu! Faz tudo por mim! Até sacrifício se for preciso! Puxa, disse a onça! Acho que seremos bons amigos, disse ela, mas pensando consigo, aqui tem muita carne, mas as dificuldades são maiores! Tomara, disse o bode! Ela fingia que seria sua amiga, ele fingia que acreditava. Logo, mais á noite, a onça levantou, espreguiçou resmungou e por fim saiu, para caçar e conhecer o reduto do bode. Andou bastante, sondou tudo auscultou o que precisava depois retornou para o barraco com a ideia de surpreender o bode dormindo, chegou de fininho, silenciosa como é, escutou o bode roncando, pensou consigo: É agora seu pilantra! Rodeou a casa, mas a porta do bode estava fechada por dentro, bem fechada mesmo! Ela deduziu, este sujeito não confia em ninguém, e agora? Passou as unhas na porta tentando abri-la, o bode acordou com aquele barulho, indagou: Quem está aí? O que quer estas horas comigo? Como estava escuro ele nada pode ver. Ficou na duvida de quem seria! Não dormiu o resto da noite! Vigiando! A onça caiu fora dali, sem que ele ouvisse qualquer barulho! Amanheceu o dia, ele esperou ela chegar para depois ele sair. Ela meio sem graça, mas fingindo muito sono, disse-lhe bom dia e deitou-se bem no centro do cômodo, esticou-se a vontade! O bode disse a ela: Esta noite tinha alguém rodeando o meu barraco! O que queria? Eu não sei! Quem é? Também não sei! Acho esquisito um negócio desses! Eu não tenho inimigos! Ninguém aqui procura ninguém fora de horas! Você tinha saído pra andar e caçar, aqui não estava! Quem será este abelhudo? Vai dar-se mal este intruso! Isto eu garanto! Ora se não vai? Vou agora mesmo chamar meu pai com seus cães de caça, contarei a ele tudinho, vai rastrear este mato e estas terras palmo a palmo, até encontrar esta peste que com certeza quer me comer! Vai comer é chumbo do velho caçador, isso sim! Verá minha amiga, o que te falei se não é verdade! A onça desapontada sem nada ter o que dizer olhava para outro lado, sentindo que o bode estava ficando furioso. Ele fingiu ir abrir a porta, a onça deu um salto lá no terreiro ficou esperando ele sair para pega-lo. Mas o bode nunca foi bobo. Ficou quietinho dentro de casa. Ela perguntou-lhe: Não vai sair? Amigo? Ele muito do velhaco disse: Não vou!  Espere um pouquinho só. O que vai fazer com este tareco aí nas mãos, indagou a onça? Isto é a senha entre eu e meu pai. Espere ai, vou assoprar este negocio e você verá o resultado! Pegou a buzina de caçador e tocando-a assim: TUUUUUU! TUUUUUU! TUUUUU!  Num instante os cães ouviram os toques rumaram para o bosque, era um monte deles.  Chegaram cães de todos os lados. Deram com a onça na casa do bode e foi aquele quebra-pau, um reboliço, uma estripulia,ganidos e latidos de acuação daqueles cães, a onça esturrando de brava,se vendo perdida correu trepando ligeiro numa árvore, sentou-se num galho e ficou espiando lá de cima. O bode dava gargalhadas de doer a barriga. Em poucos instantes lá chegava o velho caçador com a carabina em mãos, nem precisou ouvir nada do filho adotivo. O bode aproveitou o momento para ir ver de perto, saiu da casa com toda segurança. Lá chegando espiou para o alto da arvore e disse á onça: Não te falei? Te avisei! Dissera ele, vou para casa agora! Acerte com meu pai. O velho caçador fez pontaria e: Tibuuuummm!  Nem bem dissipou a fumaça do cartucho, ainda ecoando pelo sertão aquele estrondo. Caiu de qualquer jeito lá de cima aquele pacote pintado e ensanguentado, brutamontes de gatão macho de onça, chega deu um baque surdo no chão da queda, para nunca mais levantar e nem fazer maldades a ninguém!

MORAL: QUEM FAZ O QUE QUER, VIVENDO COMO QUER; NÃO VIVERÀ O TEMPO QUE QUIZER!
HISTÓRIAS DA IMAGINAÇÃO DOS CABOCLOS SERTANEJOS
LUIZÃO-O-CHAVES     ANASTÁCIO- MS............22/08/2013.
e-mail luizmoreirachaves@gmail.com
(67) 9278 9481/9655 0483/8481 2231.



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