Cansado de tanto sofrer com as intempéries do ano todo,
assim: Em época das chuvaradas não tinha um lugar para se abrigar, nas altas
atividades solar dos meses quentes era uma situação insuportável, às vezes
poucas sombras, aguada longe o bode estava pensando como escapar dessa situação
constrangedora. Pensa e repensa chegou a uma conclusão: Vou construir uma casa
para mim, até mesmo um barraco de folhas de coqueiro, que além de fresquinho os
ventos não destroem ele com facilidade. É muito seguro, oras bolas até as aves
tem suas casas, vejamos: As pombas tem seus ninhos, os passarinhos pequenos se
abrigam embaixo da folhas grandes das arvores. O João de Barro tem uma casa
muito bem feita, ele mesmo a constrói! Os guachos, João congo, e outros tem uma
casa dependurada nos galhos, além de bonitas parece um bangalô! Tantos são os animais
que tem as suas moradas; uns em ocos de troncos, das arvores caídas ou em pé.
Será que só o bode, tem uma vida inteira sem casa? O meu velho pai não tem
tempo de fazer uma para mim. Assim não dá? Vou fazê-la! Planejou tudo direito, e agora mãos a obra!
Passou a mão numa foice de cabo curto, uma enxada e dirigiu para o lado do
capão de mato. Lá chegando olhou um lugar próximo ao ribeirão. Terra firme, bem
seco ate mesmo em época de chuvaradas,um monte que de longe alguém avistava,
pois o mato era ralo, bem ventilado enfim um lugar muito aprazível. Roçou,
capinou, limpou todo o mato arredou o cisco para fora. Esquadrejou o barraco,
furou os buracos com a foice, entrou mato adentro olhou alguns varotes que
serviriam de caibros, voltando em casa levou um machado, cortando os esteios em
numero de nove, as linhas eram três longas e três curtas, olhou um coqueiral
para depois tirar folhas para a cobertura,os barrotes seriam de madeira
rachada, baldrames, cipós para amarríos, enfim viu que tudo daria certo.
Descansou um pouco, resolveu ir embora e voltar só dali á dois dias. Neste
intervalo a onça vinha de longa caminhada em busca de lugares que tinham mais
caças e toda metida a sabichona passando por ali viu aquilo bem arquitetado,
resolveu invejar aquele serviço, se intrometeu na construção do bode querendo
ser meieira da casa, ajudaria construí-la, mas queria morar lá de qualquer
jeito, fosse por bem ou por mal; pensou assim: Este rastro aqui é do bode, isto
aqui é artes dele, dou uma de João-sem-braço, ajudá-lo-ei sem que perceba,
quando estiver pronta virei para morar, se ele achar ruim, resolveremos do meu
jeito. Num rápido serviço, arrastou toda madeira, fincou os esteios, colocou as
linhas todas deixou bem certinho, arranjou cipós colocou e amarrou os caibros e
as varas que seriam as ripas. Cortou um monte de folhas para a cobertura,
descansou e foi-se embora. Ficaria sondando o dia que o bode viria. Assim fez!
Vindo o bode estranhou todo, Nossa exclamou ele! Quem será que me ajudou tanto!
Ficou mais animado ainda! Cobriu tudo com as folhas, aparou as pontas, rachou madeiras
para cercar em volta, arrumou os baldrames, trouxe pedaços de cupins para o
piso, socou e deixou bem arrumadinho e liso, foi-se embora. Só voltaria dali a
três dias. A onça acompanhou tudo e retornou na ausência do bode. Ela terminaria
a casa para ter mais direito na hora de chegar e tentar um acordo, Ela sabia
que o bode iria armar a maior curuca, para não aceita-la como meieira. Terminou
a casa e foi-se embora. Sondaria a hora que ele viesse com a mudança, ela
também chegaria com a sua. Assim acabou a construção, e começaria uma confusão!
Dito e feito. Lá vem o bode com mochila a tiracolo um facão na cintura, uma
cabaça de agua, e um buzina daquelas que os caçadores usam para chamar os cães
em caçadas, uma rede e um cajado. Quando colocou os apetrechos no chão, olha
para trás, a onça chegando também com as suas coisas. O bode pergunta-lhe: O
que vieste fazer aqui na minha casa? Ela respondeu-lhe: Oras, vim morar aqui
também! Esta casa fui eu que a terminei? O bode replicou: Quem deu inicio nesta
casa foi eu, minha cara? Planos, projetos e execução são meus, você não tem
nadinha aqui? Outra, destes terrenos, sou herdeiro.Pode dar o fora! Aqui não
lhe cabe! Eu duvido muito de alguém me expulsar daqui! Sou adjutora desta casa,
tenho direitos também, disse a onça! Pode reclamar os teus! Iremos aonde você
quiser, das duas: Uma! Ou moramos os dois; ou nenhum? O bode disse: Morarei
sozinho! Você invejou minha obra! Não tens criatividade nenhuma! Só sabe querer
ao que é dos outros! Basta que você só vive perseguindo e matando os filhos alheios. Comigo será
diferente! Te enfrento qualquer hora, de igual para igual, não tenho medo de
você, está bom? Pera ai, mestre bode, o senhor já está querendo é brigar? Não
precisa disto, vamos combinar? A casa é grande, da para nos dois, vamos
dividi-la ao meio? Você fica num cômodo, eu ficarei no outro? Sem problemas. O
bode inconformado aceitou,mas de lombo duro, pensando, onça é bicho traiçoeiro,
ao menor descuido meu ela me pega; tem muita força e é dos piores felinos que
conheço, Basta que esta imundície foi quem me deixou órfão de pai e mãe. Antes
que ela me jante, vou dar um jeito de almoçar ela. A onça pensava, este bode anda meio magro,
vou dar um tempo e esperar ele engordar um pouquinho depois ele vai ver comigo,
acabarei ficando sozinha na casa. Como foi possível,cada um foi para o seu lugar.
De quando em quando trocavam um papo meio sem graça, só para quebrar a
monotonia gerada por aquela discussão.O bode pensou consigo, para a gente ter
sossego, não é muito fácil. Ah! já sei! Amiga onça, vamos combinar um negócio?
Eu pasto o dia inteiro enquanto isso, você dorme, a noite você sai para caçar eu
fico em casa dormindo. Haveremos de nos dar muito bem assim, não acha? Fica
ótimo, disse a onça. Assim a nossa casa nunca ficará a disposição de algum
folgado que passar por aqui pensando que não tem dono. E você amigo bode? Faz
quanto tempo que mora por aqui? Sim, Meu nome é Xito! Disse ele! Fui criado
aqui nesta região, conheço tudo aqui, desde os pássaros até o ultimo animal que
chegou para habitar nestas paragens. Um velho caçador me adotou como filho,
porque os meus pais foram comidos por animais ferozes desta região, só não
disse que foi por onças; aqui tinha de tudo o que não prestava, quando não era
tão habitado como é hoje,lobos, águias, onça parda,suçuarana, leões, tigres,
macacos, bugios, porcos selvagens, e outros. O meu velho pai acabou com toda
essa turma de malfeitores, atira bem pra chuchu. Apesar de nem todos serem
ruins, como parecem, mas precisam e tem direito viverem também. Nossa! Disse a
onça, então teu pai adotivo é um velho caçador? Ele ainda caça? Perguntou a
onça? Às vezes se precisar, responde o bode! Você sabe, as leis atuais impedem
a caça, são para a preservação dos animais, e o velho as obedece. Se for para
me livrar de algum perigo imprevisto, ele passa a mão na carabina e lasca fogo
seja em quem for. Hã! Disse ela. É por isso que você é tranquilo, mestre bode!
Quem tem um pai desses, nada teme! Pois é amiga! Assim é a vida, disse o bode.
Então é por isso que dissera enfrentar-me de igual para igual? Sim! E nem
preciso mover uma unha, meu pai e seus cães fazem tudo sozinhos, e ligeiro!
Responde o bode. Só que não gosto de encrencas com ninguém. Viver em paz é
melhor. Nesta oportunidade de papear com a onça ele aproveitara para assustar a
onça e deu certo. O felino ficou pensativo com seus botões,Que bobeira que dei!
Na chegada para morar, naquela hora que este fulano estava bravateando é que eu
devia ter dado fim nele! Agora ficou mais difícil. Planejava agora um jeito de
comer o bode sem que ele desconfiasse. E você amiga, tem muitos amigos? De onde
vieste? Pergunta o bode. Eu tenho poucos amigos de onde vim! É muito longe
daqui também. Devo dizer que sou forasteira neste lugar gostoso, que você mora,
mas pretendo ficar por aqui, depois de você fazer boas amizades. Ah sim, disse o
bode! Esqueci-me de dizer-lhe: O meu dono, ou melhor, meu pai adotivo, cria
também: cordeiros, porcos, tropas, bezerros, animais de montaria, até filhotes
de animais selvagens, anta, caititu, quatis, macacos aves em geral, mas tem também uma matilha de cães de dar medo a quantidade, são os nossos guarda-costas, ás vezes
ele viaja, mas volta logo também. Nunca deixa a gente muito só. Das coisas dele,
a mais querida sou eu! Faz tudo por mim! Até sacrifício se for preciso! Puxa,
disse a onça! Acho que seremos bons amigos, disse ela, mas pensando consigo,
aqui tem muita carne, mas as dificuldades são maiores! Tomara, disse o bode!
Ela fingia que seria sua amiga, ele fingia que acreditava. Logo, mais á noite,
a onça levantou, espreguiçou resmungou e por fim saiu, para caçar e conhecer o
reduto do bode. Andou bastante, sondou tudo auscultou o que precisava depois
retornou para o barraco com a ideia de surpreender o bode dormindo, chegou de
fininho, silenciosa como é, escutou o bode roncando, pensou consigo: É agora
seu pilantra! Rodeou a casa, mas a porta do bode estava fechada por dentro, bem
fechada mesmo! Ela deduziu, este sujeito não confia em ninguém, e agora? Passou
as unhas na porta tentando abri-la, o bode acordou com aquele barulho, indagou: Quem está aí? O que quer estas horas comigo? Como estava escuro ele nada pode
ver. Ficou na duvida de quem seria! Não dormiu o resto da noite! Vigiando! A
onça caiu fora dali, sem que ele ouvisse qualquer barulho! Amanheceu o dia, ele
esperou ela chegar para depois ele sair. Ela meio sem graça, mas fingindo muito
sono, disse-lhe bom dia e deitou-se bem no centro do cômodo, esticou-se a
vontade! O bode disse a ela: Esta noite tinha alguém rodeando o meu barraco! O
que queria? Eu não sei! Quem é? Também não sei! Acho esquisito um negócio
desses! Eu não tenho inimigos! Ninguém aqui procura ninguém fora de horas! Você
tinha saído pra andar e caçar, aqui não estava! Quem será este abelhudo? Vai dar-se
mal este intruso! Isto eu garanto! Ora se não vai? Vou agora mesmo chamar meu
pai com seus cães de caça, contarei a ele tudinho, vai rastrear este mato e
estas terras palmo a palmo, até encontrar esta peste que com certeza quer me
comer! Vai comer é chumbo do velho caçador, isso sim! Verá minha amiga, o que
te falei se não é verdade! A onça desapontada sem nada ter o que dizer olhava
para outro lado, sentindo que o bode estava ficando furioso. Ele fingiu ir abrir
a porta, a onça deu um salto lá no terreiro ficou esperando ele sair para pega-lo.
Mas o bode nunca foi bobo. Ficou quietinho dentro de casa. Ela perguntou-lhe:
Não vai sair? Amigo? Ele muito do velhaco disse: Não vou! Espere um pouquinho só. O que vai fazer com
este tareco aí nas mãos, indagou a onça? Isto é a senha entre eu e meu pai.
Espere ai, vou assoprar este negocio e você verá o resultado! Pegou a buzina de
caçador e tocando-a assim: TUUUUUU! TUUUUUU! TUUUUU! Num instante os cães ouviram os toques rumaram
para o bosque, era um monte deles. Chegaram cães de todos os lados. Deram com a
onça na casa do bode e foi aquele quebra-pau, um reboliço, uma estripulia,ganidos
e latidos de acuação daqueles cães, a onça esturrando de brava,se vendo
perdida correu trepando ligeiro numa árvore, sentou-se num galho e ficou espiando lá de cima. O bode
dava gargalhadas de doer a barriga. Em poucos instantes lá chegava o velho
caçador com a carabina em mãos, nem precisou ouvir nada do filho adotivo. O
bode aproveitou o momento para ir ver de perto, saiu da casa com toda
segurança. Lá chegando espiou para o alto da arvore e disse á onça: Não te falei?
Te avisei! Dissera ele, vou para casa agora! Acerte com meu pai. O velho caçador fez
pontaria e: Tibuuuummm! Nem bem dissipou
a fumaça do cartucho, ainda ecoando pelo sertão aquele estrondo. Caiu de
qualquer jeito lá de cima aquele pacote pintado e ensanguentado, brutamontes de
gatão macho de onça, chega deu um baque surdo no chão da queda, para nunca mais
levantar e nem fazer maldades a ninguém!
MORAL: QUEM FAZ O QUE QUER, VIVENDO COMO QUER; NÃO VIVERÀ O
TEMPO QUE QUIZER!
HISTÓRIAS DA IMAGINAÇÃO DOS CABOCLOS SERTANEJOS
LUIZÃO-O-CHAVES
ANASTÁCIO- MS............22/08/2013.
e-mail luizmoreirachaves@gmail.com
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