domingo, 26 de junho de 2016

O INDIO, O POTE DE OURO E O TUCANO.

                       



Em toda a história da humanidade sempre existiu pessoas que a primeira vista a gente não dá nada por elas, mas no seu íntimo são pessoas de coração bondoso, amigo fiel que se pode confiar. As vezes encontramos essas pessoas que vemos pela primeira vez, mas parece que já somos velhos amigos. A gente gosta delas, como nunca imaginávamos ter uma amizade assim. Sentimos uma afinidade que nem sabemos de onde vem. Por outro lado a gente encontra outras que parecem um purgante de sal-amargo ou pior. Parece que nossos anjos da guarda não se topam muito, até no olhar da criatura sentimos náuseas, vontade de vomitar, elas nos olham como se estivéssemos respingados de lama podre, de tanto nojo que a criatura sente da gente, um contraste de naturezas amarradas. As vezes nós fazemos um pequeno favor para alguém e esta pessoa se torna quase que um criado nosso, por tamanha gratidão e reconhecimento de seu coração aos nossos préstimos. Há outros que são soberbos e mal agradecidos igual porcos que após comer no cocho, vira-o de fundo para cima. kkkkkkkkkkkk  Já foi servido mesmo! Dá-se a impressão que somos obrigados a fazer o que eles querem sem ao menos dizer-nos muito obrigado! O humano é assim mesmo, até para seu criador ele virou as costas! Imagine para seu próximo! Sempre foi assim e parece que isso nunca dará conserto, querem ver também como as pessoas mudam? Principalmente quando deparam com grandes somas de dinheiro. O dinheiro é amaldiçoado, poucas pessoas sabem disto. Dizem os mais ávidos por ele que não é! Mas é sim! vejam esta história, ela é real! Nós conhecemos duas criaturas de nosso convívio, um senhor de boa aparência, elegante, de presença amigável e dono de um bar. Tocava-o com muita amizade a todos os seus fregueses, servia-os com carinho, tempos antigos, uns cinqüenta e poucos anos passados, tinha fregueses de todas as etnias, espécies e raças, de todos os lados também. Tinha o apelido de "Tucano" por causa de seu nariz adunco. Para completar porque gostava do seu apelido, colocou na placa de seu bar o desenho de um tucano. Com isto ficou ainda mais, muito mais conhecido, todos gostavam do tucano. Era daqueles solteirões! Certo dia chegou em seu comércio um indígena para tomar algo, kumaã apé, foi bem servido bem tratado mas logo ficou bêbado, o botequeiro viu-o assim, caído na sargeta levantou-o e arrastou para os fundos de seu boteco, lá tinha um quartinho de guardar trecos, tinha também uma cama de solteiro, colocou-o lá estirado até que acabasse o seu "porre", este só acordou no outro dia cedo, muito sem graça foi pedir desculpas e agradecer ao tucano pela acolhida. Este disse: Sem problemas, amigo! Fique de boa, estamos sempre as ordens se o senhor precisar. O índio agradeceu muito, ficou por ali mais uns dias e depois iria embora para a fazenda, este voltou mais vezes e acabou ficando freguês assíduo, seu ponto de tomar sua cachacinha era ali e pronto. Num dia desses que veio da fazenda e antes de ir embora, prometeu ao comerciante que lhe daria uma surpresa, traria para ele um pote de libras que só ele, o índio sabia onde se encontrava na fazenda que trabalhava, mas como já estava meio bêbado o amigo tucano ficou duvidando, "Quá?", isto é conversa de quem é bêbado mesmo pensou. Nem ligou para o assunto, acabou por alí mesmo. Passaram-se dois meses, quando menos se espera lá vem o índio numa tarde dessas, chegou feliz, chamou o amigo lá no quartinho dos fundos e mostrou-lhe o que tinha dentro do pote num saco. O tucano levou um susto que quase caiu para trás. Você está louco índio? Onde arranjou isto? Quem lhe deu? Você roubou isto de alguém? Não senhor, índio não rouba nada de ninguém, índio é honesto afirmou o silvícola! Cavuquei na fazenda e trouxe para o senhor, tome, é seu! Em troca disto, índio agradece o senhor por ter cuidado dele, e peço que se puder me dê um parelho de roupas, uma botina, um chapéu de palha, e alguns  tragos quando índio estiver com sede. kkkkkkkkkkk . Quando índio tiver tonto e com fome, dê um prato de comida e este cantinho aqui para índio descansar como fizeste naquele dia, lembra-se? Sim, responde o tucano. Dou sim com prazer. Fique descansado, estamos combinados. O Índio acrescentou: Este tesouro é para o senhor, o senhor está riquíssimo agora. É tudo libras de ouro puro. O rapaz nem cria no que estava vendo, mas era verdade ficou rico mesmo, comprou tanta coisa, casas, um carro que nesta época era difícil adquirir um, de terrenos comprou a quadra inteira onde morava bem na esquina. Naqueles tempos ninguém dava por fé se alguém de repente ficasse rico, sua riqueza não incomodava ninguém, cada um com sua vida e pronto.   Além dos tempos urgirem, as pessoas mudam também a mentalidade, vão evoluindo, vem novas gerações, novos ideais, e assim marcha a humanidade. O índio sumiu para a fazenda, foi trabalhar e por lá ficou muito tempo, um dia deu certo e veio até a cidade, sempre vinha quando o seu patrão o liberava por motivos de seus serviços darem uma trégua. Chegou alegre e como estava tudo certo com seu amigo tucano nem preocupou com nada tomou umas pingas deu umas voltas na praça e quando ficou tonto, voltou e pediu para descansar um pouco. Precisam ver a reação de seu amigo, o tucano estava completamente mudado. Torceu o nariz quando viu o índio bêbado. Disse-lhe aqui não é aldeia para acomodar índio cachaceiro! Suma daqui! Não tem lugar para você coisa nenhuma! o índio tomou um susto daqueles, mesmo desajeitado ainda relutou: Patrão, o senhor esqueceu de nosso trato? Não combinamos e o senhor     prometeu que me daria abrigo e um prato de comida? Não me trates assim? Não acredito no que dizes! O tucano retrucou: Cai fora bugre atoa! Senão chamo a policia, e você  vai curar tua cachaça atrás das grades. Só vendo como o pobre índio ficou, mas antes de ir, olhou bem o tucano, balançando a cabeça com a decepção sofrida disse: Você não vai aproveitar nada desta riqueza que lhe dei! Saiu caladinho e sumiu para sempre dali. O tucano ficou despreocupado, um a menos para não me encher o "Saco"! Os dias se passaram e o tucano começou a sentir algo estranho no seu corpo, era sadio mas de repente ficou assim. O que será? Foi ao médico fez consulta e exames, mas nada acusou, não tinha doença nenhuma. Foi definhando, amarelando, ficando barrigudo, ficou barbudo e emagrecendo cada vez mais, ficou apurado correu para tudo que era médico  da região, dinheiro não era problemas, tinha de sobra. Nada adiantava, o homem não tinha doença nenhuma. Um dia alguém lhe disse: Acho que você está "Macumbado" tucano! Vá em algum lugar que cuida dessas coisas e veja se não é verdade? Ele foi e constatou a veracidade deste triste fato. Era macumba mesmo, mas quem lhe ia lhe tratar viu nele um caso sem solução. Aqui não temos força para tirar esta "Carga" de tí. Procure outro, ele já desesperado foi para todo canto que tratava dessas coisas. A resposta era sempre a mesma. Já passou da hora de você se cuidar, seu estado está muito avançado, não lhe damos cura! O derradeiro a que foi procurar lhe avisou: Foi um índio quem te preparou. Aqui ninguém desmancha macumba de índio! Só outro índio que pode fazer isto. Lá se foi o tucano em mais uma tentativa. Nada feito amigo disse-lhe o outro índio, já passou da hora. O que você fez para o índio que te deu um pote de ouro?  Ingratidão não foi? A quem lhe queria tanto bem? Olha no que deu? Ele não conseguiu te perdoar da sua maldade, está te custando caro o que fizeste ao pobre índio que foi tão amigo seu. Ele calou-se ante a revelação do curandor. Chorou muito pelo que tinha feito, mas já era tarde demais! Volte para sua casa para morrer ao menos em paz tucano. A esta altura dos acontecimentos já não tinha mais riqueza nenhuma, havia vendido tudo que possuiu e gastou tudo com médicos, remédios e consultas dos benzedores, despesas com acompanhantes, não andava mais sózinho, despesas nas  viagens para todos os cantos do seu estado. Tinha somente a casa de moradia e nem o bar existia mais. Estava acamado e com os vizinhos a lhe dar ajuda, nem comia mais, a barriga parecia estar cheia. Moribundo só esperando a morte chegar. Um dia ela veio! Morreu mesmo, e na mais triste agrura, dor, sofrimentos e atormentado de remorso. No seu velório, os amigos de todos os lados presenciaram o corpo coberto com um lençol branco e por baixo se via "bichos" pretos e peludos saindo de seu corpo e caindo no piso, aqueles corós que comem carniças estavam comendo o seu corpo por dentro antes mesmo de ser enterrado. Assim é quem não teve juízo, não pensou no que falou e a quem foi obrigado a lhe ouvir! O ser humano é perigoso e capaz de tudo! Menos ter facilidades de perdoar o seu próximo! Odiar é mais fácil! Se vingar também. Ainda mais quando as palavras machucam a pessoa por dentro, e as lágrimas brotam nos olhos ao sentir tamanha ingratidão. Ela só vem de pessoas queridas. Língua e dinheiro: Dois elementos muito perigosos, que quando mal usados, só trazem consequências desastrosas. Uma destrói o corpo e o outro pode condenar a alma.. Os antigos diziam: A língua é o castigo do corpo. FIM.


CONTO MUITO TRISTE MAS REAL! 19/06/2016 

sexta-feira, 17 de junho de 2016

DOIS COMPADRES: UM RICO E O OUTRO POBRE.

                         


Era uma vez dois compadres, um deles era bem situado na vida, tinha uma bonita família, uma fazendinha, muitas criações nela, um carro bom, algum dinheiro na conta bancaria, com saúde e bem quisto na sociedade enfim; bem equilibrado na vida que levava. Compadre rico. Naqueles tempos antigos quem possuía coisas assim era considerado rico, daí o nome que adotamos para a nossa história ser: Compadre rico e compadre pobre. Em suas terras morava o seu compadre que a única coisa que possuía de valor era a sua mulher, um monte de filhos, um cão e um gato das crianças, e nada mais além da coragem de tocar a sua roça, ali ele plantava de tudo, colhia e pagava a renda em mantimentos ao seu compadre rico, como aluguel de suas terras que ocupava, o compadre além de rico era invejoso prá  "chuchu", porque o compadre pobre era peitudo mesmo para trabalhar na roça, colhia muito, as suas plantações eram uma maravilha, produziam bem e ele vendia no final da safra, apurava um dinheirinho e contava para o outro, este ficava se roendo de inveja. Mas este não era rico? Sim, era rico! Mas não contentava com o que possuía, só tinha olho para as coisas alheias, em especial as de seu compadre pobre. A bem da verdade o que lhe causava inveja era a disposição do outro em trabalhar tanto assim, enquanto ele precisava pagar camaradas para trabalhar em sua roça e não colhia como o seu compadre pobre, que fazia tudo com a esposa sem mais ninguém. As despesas do compadre rico com os camaradas era muito grande e o lucro no final da safra não era compatível com elas, então já cobiçava  o espaço de terra que produziu tanta fartura naquele ano para o seu compadre. Tanto é que o compadre pobre só podia tocar a sua roça por um ano, no seguinte ele tinha que derrubar matos e formar nova roça o que era uma trabalheira danada, mas ele era disposto mesmo, sabia das artimanhas de seu compadre rico. Puxa vida, quando as terras iam lhe dar mais lucros por serem no segundo ano que sempre é melhor do que no primeiro ano de trabalho. La vinha o compadre com as suas choradeiras, vou precisar destas terras neste ano vindouro compadre, vou ter que plantar nelas, mas era pura vontade de colher tanto quanto seu compadre havia colhido, e ainda mais, não tinha a garra para derrubar a mata, porque é pesado mesmo o esforço. Além do mais sabia que o ano seguinte as terras produziriam muito mais, pensava que eram as terras que fazia o seu compadre bem sucedido assim. Mas os invejosos nem sempre se lembram que o Divino Criador é quem abençoa o seu trabalho e faz as pessoas felizes. Além de não ser feliz ainda quebram a cara sempre, querem ver? Além de nada conseguir como planejava num desses anos as suas terras de mata virgem acabaram, pois o pobre compadre já havia derrubado  todas, só restava uma beirada lá no pé do morro, mas eram terras secas impróprias para plantar o que o compadre mais cultivava, arroz, feijão e milho etc. Levando o caso na brincadeira, resolveu  dar mais um logro no seu velho compadre dizendo: Compadre, este ano o senhor vai ter que derrubar a mata do tabocal lá no pé do morro, lá as terras são boas também e o senhor vai lucrar muito no final da colheita, mas o compadre não era trouxa, conhecia terras de sobra, sabia que as terras só serviam para formar pastagens e mais nada. Está bem compadre, respondeu o pobre, depois vou lá olhar o capão de mato, ficou pensativo com a proposta do safado do compadre, ele quer que eu faça só para ele, e no final de tudo nem sei se colho alguma coisa, as terras lá são fracas e ainda terei que pagar a renda e jogar sementes de capim para ele, formo a sua invernada e ficarei chupando os dedos, ele não pagará nada a mim pelo tempo perdido e pelo prejuízo, quer mesmo me deixar na lona, um  caso complicado, vou gastar as minhas economias com as despesas da roça sem ter o lucro que sempre tive nas roças que tocamos até aqui. Mas está bom, eu dependo dele para cuidar de minha família labutando nas roças, eu não tenho terras mesmo! Chamou a esposa e foram lá ver as terras no pé do morro, um lugar cheios de pedras, seco, um cipoal danado, espinhos de arranha-gato espinhos agulha, coqueiro de espinhos, aqueles chamados de tucum, tabocal fechado que nem cobras ensebadas conseguiam passar por ali, só madeiras duras, anjicos, aroeiras, quebra-foice e jatobás-mirins, deu o que fazer para adentrarem e olharem as terras todas, apesar de estar munidos da espingarda, uma foice e um bom facão na cintura, abriam passagem a custa do facão. Olhou tudo e concluiu: O compadre me pregou uma peça daquelas! Se eu disser que vou embora para outro lugar, por não querer as suas terras, ele ficará mal servido comigo, apesar de nunca ter me ajudado em nada, só com as terras brutas mesmo. Mas a comadre é muito boa, sempre dá algumas roupinhas que não servem mais em seus filhos para os nossos. Eu considero isso. Ele é um pata-de-vaca da primeira classe. Mas deixa pra lá! Vamos embora para casa Maria? Chega de rasgar este espinheiral por hoje. Desacorçoado da maldade de seu compadre, procurou se conformar dizendo. Deus ajuda quem cedo madruga! Ele ajuda quem trabalha, nunca deixou faltar o pão para nossa mesa! Estamos com saúde, vou enfrentar assim mesmo, quem sabe Deus nos dará um ano bem chuvoso para nós e colheremos nem que seja o suficiente para a despesa da casa, porque para vender acho que não vai produzir e nem sobrar, e ainda terei que pagar o arrendamento para o compadre. Ah! deixa isso para lá, não vou lamentar. Deus é Maior! Iam saindo, quando abaixou para passar embaixo de um emaranhado e moita de cipós, viu algo reluzindo á luz do sol, viu mas ficou quieto, olhou para a Maria, esta perguntou-lhe o que é? Viste alguma assombração? Não, dissera ele. Veja aquilo Maria! Nossa, a mulher arregalou os olhos! O que será? Vamos lá perto ver? Quando chegaram pertinho nem acreditaram no que estavam vendo. Era uma pedra de diamante em cima de um ninho de cancãozinho. Lembrou que no ninho desta ave tem diamante. Porque o seu ninho ninguém consegue encontrar, mas eles encontraram! Vou dizer ao compadre o que achamos. Não diga nada, disse sua mulher, ele nem precisa saber disto. Se foi nós que encontramos isso, não é para ele nem saber, pode crer que é nossa sorte nos bafejando. Mas foram embora e o compadre rico quando os viu chegar veio recebê-los com aquela cara lambida, cínica, sorrindo por dentro. E daí compadre, o que achou das terras pergunta-lhe? Muito boa, responde o compadre! É tão boa que nem vou precisar plantar para colher. Amanhã mesmo já farei a colheita. kkkkkkkkkkk. Mas como compadre, fará uma coisa dessas? Eu nunca vi isso? Pois é, mas eu vou colher, pode crer responde o pobre! Explique melhor, até agora não entendi nada compadre, do que está dizendo. É simples amigo, encontrei em suas terras um diamante num ninho de uma ave misteriosa. lá bem nos fundos, numa moita de espinhos de arranha-gato. O compadre rico quase caiu para trás, verdade compadre? Sim, a Maria está de prova. Ficarei rico desta vez amigo. Vou comprar muitas terras, até as suas se o senhor quiser me vender. O compadre entrou para dentro de sua casa, de fininho sem dizer mais nada. Saiu pelos fundos da casa, encilhou um cavalo e foi lá buscar o diamante escondido do outro que fora para sua casa e que no outro dia iria buscá-lo. A Maria parecia adivinhar as intenções de seu compadre e disse. O compadre vai aprontar outra com você seu bobo! Não sabe ver as coisas e ficar quieto! O assunto morreu por ali mesmo. O compadre era ambicioso mesmo e foi lá, mas o que encontrou foi uma casa de marimbondos graúdos e ferozes, nada de diamante, ficou uma fera, pensou consigo: O compadre me paga, há de haver comigo, pensa que sou brinquedo? Mais tarde lá vem o compadre com um saco de estopa nas costas com alguma coisa zunindo dentro, foi chegando e viu a porta da frente da casa do compadre fechada e só a janela aberta disse: Tome aí seu mentiroso, o seu diamante! Tinha no saco a casa de marimbondos deste tamanho e as vespas estavam furiosas lá dentro,  lançou-a pela janela pensando consigo: Só tenho pena das crianças que vão levar tantas ferroadas, mas o compadre merece mais ainda para deixar de ser mentiroso. Saiu correndo com o saco vazio até sua casa. Enquanto isso a casa das vespas misteriosamente, miraculosamente voltou a ser a pedra do diamante e o compadre ficou muito feliz. Lembrou á sua esposa: Não te disse que Deus é maior?  As leis da natureza compensam tudo o que fazemos de bom nesta terra, ainda mais se fizermos com amor. Fica aí uma bela lição de vida!

É NOSSA CULTURA SERTANISTA QUE NOSSO BLOGGER DEFENDE.

"COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES". 11/06/2016

A HISTÓRIA DOS TRÊS AMIGOS.

                                   

               
Era uma vez um rei muito mesquinho, impiedoso que julgava ser muito justo mesmo sabendo o que fazia de mal com estas qualidades que possuía. Com ele era unha por unha e dente por dente. A lei de Talião era a sua diretriz. Quem devia teria que pagar de qualquer maneira. Fosse a quem fosse, como naquele tempo as coisas o comércio era de barganha por ainda não haver moedas em circulação. Quem tinha cabras, ovelhas, bezerros e outros animais trocavam por outras coisas que precisavam, roupas, calçados casas outros animais etc. Havia um sujeito que lhe devia muito e sem condições de lhe restituir a dívida, então decretou a sentença em seu favor: Se não me pagar morrerá ou ficará preso perpetuamente, já tenho alguns na cela. A ordem dada teria que ser executada. Não havia apelo, clamor por misericórdia, solicitação alguma, choro, pedido de familiares, amigos, nem intercessão de ninguém. Nem penhor de bens de outrem. Teria que ser do seu suor a paga. Era mesmo para aprender a não fazer dívidas sem ter com o que pagar. Dura lição de vida! Um rei impiedoso, carrasco, tirano, déspota. Ninguém o fazia mudar de opinião. Mas o mundo é um velho professor que ensina, corrige e mostra o quanto alguém está errado. Sempre existiu pessoas assim, mas do outro lado também, pessoas bondosas, caridosas que cumprem o que Deus determinou em favor de seu próximo. Amá-lo! O pobre homem não encontrava solução para o seu problema, resolveu fazer a última tentativa de implorar ao rei sua compaixão. Morrer ou ser prisioneiro a vida inteira para ele daria na mesma. Quero ir, debandar para outras regiões do planeta, outros reinos, outras terras, conhecer outros tipos de trabalhos e pessoas e ver se consigo o recurso para quitar a minha dívida convosco majestade. Este resolveu dar-lhe a oportunidade que nunca dera á ninguém. Foi aceito com uma condição teria que ter um penhor. Você arruma uma pessoa de sua plena confiança, pessoa séria e de responsabilidades com aquilo que irá ouvir e receber de mim; ou seja as minhas ordens. Este será a sua pessoa viva perante a minha autoridade, o que eu ia fazer contigo farei com ele sem apelação caso você ou ele falhe. Palavra de rei nunca volta atrás e espero que a sua e a dele também não volte, dissera o Rei na ocasião! Teria um prazo para a sua volta e reassumir o seu compromisso da dívida. Tudo combinado e acertado nos mínimos detalhes do contrato, redigido, lido, corrigido, assinado pelas três partes e selado com o selo real. Não ficou uma aresta sequer, falhas nenhuma. O moço viajou e seu penhor ficou a disposição do Rei. O rapaz amigo dissera ao monarca: Enquanto o meu amigo não retorna, presto-lhe meus serviços, executo qualquer tarefa de serviços braçais, eu trabalho na roça, não quero um centavo, anote aí como parte do pagamento da dívida do meu amigo. Ficará mais amena a sua dívida, ajudá-lo-ei a quitá-la. Será bom para nós três. O Rei olhou aquele homem simples, matuto, camponês com aquela ideia de solidariedade, ajuda mutua de companheirismo sem a mínima preocupação de sua situação de além de penhorado, correndo o risco de ser enforcado no lugar de outro sem a menor chance de defesa. O tempo passou rapidamente, e a data dele se apresentar havia chegado e nada do homem. E agora? Fazer o que? Nada! Pensou o Rei! Está tudo acertado, no dia seguinte enforcariam o penhorado, mas este não esboçava nenhum gesto de preocupação com o caso. Estava tranquilo e o Rei apreensivo com a situação, foi ter com ele: O senhor está sabendo que amanhã te enforcaremos? Sim, dissera o rapaz, mas isto se o meu amigo não vier, não é? Verdade disse o Rei, mas ele virá sem falta acrescentou o rapaz. Quem deveria estar preocupado sou eu e não o senhor meu Rei! Acaso não confia em nenhum de nós dois? Pois nós confiamos em ti meu senhor! Vá descansar sua mente, todas as coisas tem sua hora exata. Logo ele estará aí de volta. Não te impacientes. Já estava se esgotando o tempo real e nada do amigo, o penhorado estava para terminar uma tarefa. Levaria ainda algumas horas além do prazo para a execução dele ou do amigo. O rei mandou parar o serviço, mas o rapaz argumentou: Nunca deixei minhas responsabilidades no meio da estrada majestade, assumo todas sem meio termo. Nada disso, não vou parar, terminarei a tarefa, depois me apresentarei á vossa majestade, ao senhor. Se findar a vida, terei a honra de dizer antes de morrer: Cumpri o meu dever perante Deus e os homens. Mais uma vez o Rei voltou sem graça. Passaram-se duas horas além do previsto e contratado, o rei mandou pegá-lo a força caso não quisesse vir. Pegaram-no e trouxeram amarrado e iam conduzindo para a forca, quando puseram a corda no teu pescoço, este sem esboçar nenhum gesto de defesa, sossegado, calmo, estava suave as suas feições, parece que ele navegava em outra dimensão sem se importar como que estava acontecendo em sua volta. Toda a multidão á sua volta estava muda ao ver aquilo, nunca viram um homem daquela natureza. Pois todos que sabendo que vai morrer apronta um reboliço de lamentações, choros, pedidos de clemência, arrogo e mais coisas, este não! Todos entretidos ali, de repente um da multidão gritou: Lá vem o amigo dele! Nossa, quase não acreditaram, mas era verdade! O homem chegou mesmo! Pararam a execução! Ficaram espantados com a presença dele, tinham por certo que ele jamais viria! Este chegando reverenciou sua majestade, cumprimentou os presentes, foi até a forca e retirou seu amigo, dizendo ao carrasco: Este lugar seria meu! Não será de nenhum de nós dois, deu-lhe um abraço apertado e disse-lhe: Obrigado amigo pelo que tu fez por mim, jamais te enganaria! Abrindo uma sacola que trazia a tiracolo retirou dela uma pepita de ouro de 630 gramas, entregou-a ao rei dizendo: Isto quitará a minha dívida para convosco. Obrigado meu senhor! Agora sim, dormirei em Paz. Ma o Rei além de arregalar os olhos por nunca ter visto um gesto, uma ação de tamanha nobreza de um ser humano assim, replicou: Não vou aceitar! Além de quitar a sua conta por mais de dez vezes se eu quisesse! Vocês dois me surpreenderam!  Você e sua dívida estão perdoados amigo! Enquanto o Rei lhe dava o perdão, o moço tirou outra pepita um pouco menor deu-a ao seu amigo dizendo: Isto é uma recompensa de minha parte por sua Confiança! Amor não tem preço! Mas peço que receba! O outro recebeu e disse: Provei á nossa majestade que ainda existe no coração humano:  Amor ao próximo! O Rei não acreditava no que estava vendo não se conteve e completou: Também provo á vocês dois e ao povo presente que no coração humano pode ainda existir ou ressurgir dele também:  Bondade e Perdão! Até aqui vocês são dois amigos! De hoje em diante seremos Três! Imediatamente mandou soltar todos os prisioneiros que cumpriam pena por dívidas, e reinou até o fim de sua vida com: Perdão, Justiça, Amor e Sabedoria! Seu reino prosperou muito, pois onde tem: Estas virtudes, os Céus iluminam as mentes e os povos são felizes.

CONTO DA CULTURA SERTANISTA PARA O BLOGGER DE HISTÓRIA.

"COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES.  05/06/2016

BEM NA SEGUNDA CURVA DO "ÉSSE"

                                     


Há alguns anos já passados nós conhecemos uma chácara que situava bem na curva de uma estrada em forma de "S" num vilarejozinho muito falado e conhecido por quase todos os povos daquela grande região, o lugarejo se chamava Morrinho. Sabe aqueles lugares que parecem ter sido fundados na lua minguante? Não crescem, não desenvolvem, não vai para a frente, até que alguém diz que ali naquele lugar tem uma cabeça de burro enterrado naquele chão, ou que em certa época bateram num padre e o mataram enterrando-o vivo? Bem assim era este lugar. Muito difícil numa festança onde os povos se reuniam para comemorarem um dia Santo de guarda ou outra data como por exemplo: Festividades juninas, festa do padroeiro do lugar, festa de São Sebastião, final da quaresma que é sábado de Aleluia, final de ano e que dificilmente não amanheciam mortos duas ou três pessoas no baile que davam fim nestes festejos.  É bem verdade que durante muitos anos, mais de cinquenta, o Morrinho era o lugar da população mais violenta de toda a região, muito raro um final de semana que tivesse bailes e Carreiradas que não amanhecesse dois ou três mortos nestas diversões, parecia um castigo mesmo. Também pudera, vinha gente de todos os arredores, e de lugares mais longínquos também. Estas duas modalidades de diversões atraem pessoas encrenqueiras, de mau gênio, por envolver disputas acirradas, nos bailes era por uma Dama quando estas davam ou dão a famosa "Tabua" nos cavalheiros, nas Canchas as "Carreiradas" por incitar deboches e desaforos aos perdedores. O cemitério local era o maior e mais movimentado do que o da comarca ao seu lado. Lugarzinho pequeno de um alto índice de mortandade. Outros diziam que naquele lugar deu-se em tempos de outrora, grandes combates numa guerra que existiu há mais de cento e cinquenta anos, onde os derrotados enterraram grandes quantidades de ouro e pedras preciosas. Grandes áreas de terras ou fazendas onde seus donos eram muito maus com os indígenas, e com os escravos africanos, onde se deram chacinas, carnificinas de famílias inteiras e que quando estes patrões morreram não conseguiram descansar em paz a sua alma, de tanto mal que fizeram aos seus semelhantes enquanto viveram. Reclamam até hoje os seus bens terrenos, mesmo que não mais pertencem a este mundo dos vivos, mundo material, sendo já de outro mundo, de outra dimensão espiritual, as suas casas ou o lugar delas ficaram assombrados, lugar sinistro em certas horas da noite onde aparecem visões noturnas, mulheres vestidas de branco e arrastando o manto no chão, vultos de pessoas sentadas fumando cachimbos numa pedra, crianças chorando no berço, vozes pedindo socorro, gritos de pessoas morrendo angustiadas, enforcadas, casas que a gente entra dentro  e logo sentimos que tem algo a nos espiar, sussurros de vozes, atiram areias, besouros ou pedrinhas na gente, não deixam ninguém dormir em paz ali. Outros veem lá mais distantes da casa, luzes acendendo e apagando, tochas de fogo no quintal á noite, alguém escarrando, dando risadas, ouve-se barulhos de pancadas e gritos, tiros , assovios, alguém gritando gado no mangueiro, tangendo tropas de animais, gritos de boiadeiros tocando boiadas e nas beiras dos córregos alguém bateando ouro, mexendo cascalho numa bateia, murmúrios que a gente não consegue entender as palavras que estão dizendo, nem de que direção está vindo aquelas manifestações, fenômenos sobrenaturais que a gente fica com medo daquilo tudo. Ninguém sai fora de casa á noite, e se sair não se vê nada. Está tudo calmo. Neste lugarejo tinha um pouco de cada coisa que mencionamos aqui. Transitamos muito por este lugar que era cortado por uma estrada muito antiga que dava acesso da cidade maior a uma Aldeia e a outra corrotela, lugar de garimpo há uns setenta quilômetros dali. Mais para o lado do poente, além desta outra cidade, uma grande fazenda que foi palco de muita maldade com os povos antigos. A gente notava até pela vegetação que era um lugar muito antigo, parecia estas fazendas velhas abandonadas que para todo canto se via sinais de taperas, cada tijolo deste tamanho ou adobes de barro das casas demolidas há quase um século ou mais, ninguém sabe ao certo, porque os antigos dali já morreram todos e ninguém deixou nada escrito ou marcado em alguma pedra ou piso, tudo a esmo. Neste lugar a estrada fazia um "Ésse", duas curvas em sentidos diferentes, opostos, de um lado e de outro tinham dois pés de Ingás deste tamanhos entrelaçando em cima as suas copas que ao meio dia dava uma sombra numa das curvas, passava as conduções embaixo por ser alto lugar e onde a gente sombreava quando vinha de viagem naquela hora do dia. No lado direito na era atual era uma chacrinha de umas quatro hectares de terra, bem na beirada da estrada uma casinha de duas peças e uma cozinha fora, estas eram de madeiras roliças e barreadas. Casinhas de barrotes, coberta de sapés, depois puseram telhas comuns, daquelas "Casca de tatus" lá mais no fundo no sopé do morro tinha a sede onde seu proprietário morava, ali naquela casinha era o lugar de moradia dos zeladores da chacrinha, o caseiro roçava as pastagens, cuidava do aramado que a circundava, olhava as reses, alguns cabritos ou cordeiros davam água para os animais pois ali tinha só um poço, lugar limpo, dando gosto a visão de quem passava a pé na estrada, os viajantes tomavam água ali também, mas tinha um destes mistérios no casebre. Morador nenhum ficava ali por muito tempo, não aguentava a barulheira de noite, ninguém dormia em paz, crianças viam coisas que nós adultos não vemos, estas choravam, queriam ir embora dali aquela hora da noite. Os pais não sabiam o que fazer. O Caseiro sem família ficava um mês ou mais, outros medrosos caiam fora logo. Quinze dias, semanas, dias e era assim. Ninguém parava ali. Certo dia apareceu por lá um senhor com família, tinha uns seis filhos pequenos, a esposa e a mãe dela a sua sogra já velhinha. Eram de outro estado, ficaram ali por mais de um mês, cuidou da chacrinha, quando foi um dia a casa amanheceu fechada, o patrão de lá de sua casa que avistava o caseiro no longo pátio, não vendo o seu serviçal nas atividades diárias estranhou e foi até na casa no meio da tarde, pensou que ele estivesse doente. Qual nada amigo! Sabe o que ele encontrou? Um baita buraco escavado bem no meio da sala que não tinha piso, era a terra vermelha bem batida, e o sinal de um pote de barro que continha moedas, libras esterlinas, ouro e pedras preciosas. Olhou bem na terra removida e lá estava três moedas por cima. Ele  o seu caseiro, deixou-as ali. Era a prova de um grande "Enterro" que ali esteve guardado por muito tempo, assombrando a turma e que ninguém sabia de sua existência. O caboclinho e sua família desapareceram num piscar de olhos com certeza no meio da noite. Com um tesouro destes? Pernas? Pra que te quero? Foi aliviar a sua situação de pobre e cheio de filhos bem longe dali. Bem que mereceu, não é? kkkkkkkkkkkkkkkkk.

CONTO VERDADEIRO SEM DÚVIDAS PARA A NOSSA CULTURA SERTANISTA.
ANASTACIO MS 06/06/2016 "COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"


DONA MORTE E SEU COMPADRE.




Era uma vez um homem que possuía uma família muito bonita, era numerosa em quantidade de filhos, já passava de dezoito só os filhos, ele e a esposa eram ainda bem jovens, bem conservados de saúde, viviam felizes com aquela criançada, era escadinha mesmo, a casa do homem parecia uma creche. Todos admiravam como proliferavam tanto assim. De fato era mesmo de admirar, apesar de sua despesa de casa ser muito alta, o custo de vida já começava a dar sinais de dificuldades, ele era trabalhador braçal, lidava na sua roça e fazia outros serviços para terceiros nas horas que lhe sobrava dos seus. Como em toda a história da humanidade sempre houve pessoas boas de coração, algumas lhes alcançavam alguma coisa, roupinhas para as crianças, víveres, agasalhos nos tempos frios, e com isso iam vivendo bem, muito embora estes são esporádicos, temporãos, vez por outra isso além dos padrinhos que nunca se esquecem de seus afilhados em tempo nenhum, sempre dão presentinhos úteis a vida inteira, mas não sabemos como, surgiu a ideia do que fariam para arranjar um casal de padrinhos para o futuro bebê que já estava a caminho, dali algum tempo chegaria. Porque toda a sua vizinhança e nos arredores eram seus compadres e comadres, e agora a quem dariam o recém chegado para ser batizado? Se bem que ainda havia tempo para pensar nisso, mas é bom agilizar logo e encontrar os novos compadres, assim não ficariam preocupados com o assunto na última hora. Fizeram as contas, por aqui não há nenhum vizinho que não seja nossos compadres, kkkkkkkkkk... Todos já são! Sabem do que é que lembraram? De dona Morte, quem sabe ela daria uma boa comadre, e o compadre? Ela não tem marido, e se tem ninguém nunca ouviu falar dele! kkkkkkkkkkk. Mas deixa pra lá, basta ela está bom! Levaram o caso na brincadeira e ficou por isso mesmo, A morte seria a sua nova comadre, esta que sabe de tudo, sem a gente saber como, logo apareceu não na sua forma física e horrenda, magricela,com seu manto preto, asas de morcego, feições cadavéricas, órbitas fundas, faces encovadas, sem dentes, unhas grandes, dedos secos, a mulher-morte parece um palito dentro de um saco, é terrível na feiura, se aparecesse assim, assombraria seus novos compadres e todos que a vissem. Mas foi até bonitona, com outro perfil e conversou longamente com os novos compadres. kkkkkkkkkkkkk. Ficou tudo acertado! Seria mesmo a madrinha da criança que dentro em breve nasceria. A comadre se despediu e foi-se embora pois sempre tem muito o que fazer, quase não tem tempo disponível para os bate-papos com quem quer que seja, com a sua foice doida nos ombros não quieta. Anda o dia inteiro para tudo que é lado, nas brigas, nas contendas, nas guerras, nos bate-bocas entre maus vizinhos, em hospitais,a atrás da policia, nas divisas de territórios, fazendas, nos garimpos, nas encrencas de índios e fazendeiros, onde se aglomeram gentes de todas as espécies, nas rodas de jogos de azar, nas bebedeiras ou cachaceadas, rodas de peões, de mulheres fofoqueiras e aonde tiver bagunças, o negocio dela é meter a foice na turma e levá-los ao cemitério. Com ela não se brinca. Num dia desses ela foi até nas mediações onde o compadre morava buscar um. Aproveitando a passada na região do compadre, foi até sua casa e rapidinho conversou um bocadinho com ele. Achou-o um tanto desanimado sem até ele mesmo saber porque. Perguntou-lhe: Compadre, o que foi contigo? Parece desanimado? Este disse: É comadre as coisas não andam tão fáceis como a gente pensa, meninada crescendo uns já estão na escola e as despesas só aumentando, e isso tira o sono da gente. A roça custa a dar lucro, dinheiro a gente só vê na colheita, se trabalho para fora, o mato come minhas plantas. Tá difícil conciliar as coisas assim. Pera aí compadre, atalhou a comadre. Vamos fazer o seguinte, vou te dar uma demão. Mas como comadre? Espere aí compadre, vou ali levar um fulano e você me aguarda um pouco. Volto logo. A comadre sumiu, só voltou no outro dia a tarde. Chegando disse: De hoje em diante você não será mais roceiro, mas sim um benzedor de confiança meu, sei que você não sabe "Penicilina" nenhuma de rezas. kkkkkkkkkkk Faça de conta que sabe muito, está bem? Verdade comadre eu não sei de nada mesmo, só sei rezar o Pai-nosso e Ave-Maria. Está bom demais pelo que vai fazer de hoje em diante disse a comadre. Preste atenção: Tu sabes que eu sou a Morte, quando eu vou visitar um doente,  ninguém me vê, se vim para levá-lo, eu levo mesmo, pode ser quem for. Mas agora será diferente, so você me verá aonde eu estiver, ouçabem, só você e ninguém mais, a casa pode estar cheia de gente. Um exemplo: Quando te chamarem para benzer algum doente, que lá eu estiver sentada na cabeceira da cama dele ou dela, faça um chá de qualquer coisa, alecrim, cidreira, erva-doce, cravo, guaco, canela, até mesmo um copo de água morna e dê para o doente, antes porém reze baixinho um Pai-Nosso e uma  Ave Maria, fazendo gestos de quem tira algo com a mão na cabeça dele ou dela. Dê para beberem, logo estará bom! Se te perguntarem quanto é, pode cobrar sim, veja lá quanto precisa e não desculpe não. Pegue a grana e mate sua precisão e com isso ficará famoso logo, logo! kkkkkkkkkkkk. Vá ajuntando um dinheirinho, não gaste atoa viu? Sim senhora comadre, concordou o compadre. O Compadre ficou animado que até riu. Mas pera aí compadre, ainda não terminei o sermão disse a velha. Se um dia  você for chamado para atender alguém e eu estiver sentado nos pés da cama, fique quietinho no seu lugar e diga para os parentes dele, que o caso dele é sério. Diga logo eu não posso fazer nada. Ele vai morrer mesmo! Ainda que te peçam o impossível, não faça nada por ele, não se meta a gato-mestre. Vou levar o fulano mesmo! Combinado? Sim comadre, combinado! Com isso as coisas melhoraram muito para o compadre que andava na região a cavalo atendendo os doentes, quase não tinha descanso, era procurado por todos, sua fama foi longe dentro de pouco tempo, além de famoso, comprou até um carro para ir mais longe atender o povo que lhe chamava. Estava tudo as mil maravilhas! Falado, comentado os trabalhos do compadre. kkkkkkkkkk. Tinha a fama de ser melhor do que muitos médicos! Estava bem de vida, casa bem arrumada, filhos estudando, comprou uma casa na cidade onde os filhos moravam para estudarem, fins de semana com a família nas diversões. Ninguém mais lembrava daquele simples roceiro pobre com a casa lotada de crianças pequenas. Frequentava os clubes da alta sociedade, nas rodas dos ricaços. O compadre nem se lembrava se um dia fora pobre! kkkkkkkkkkkkkk. Começou atender só as famílias ricas, quando tinha um doente, buscavam-no para benzer os fulanos. A grana que cobrava era alta, saia com os bolsos abarrotados, estava quase rico, faltava pouco! Como todos sabem, o dinheiro provoca a ganância em muitos corações, e com o compadre não foi diferente. Certo dia apareceu em sua casa uma senhora ricaça, estava com o marido nas últimas, desenganado de todos os médicos, tinha ido para tudo que era lugar, médicos famosos não lhe dava esperanças nenhuma, ia morrer mesmo. Soube do compadre por informações, e já dirigiu para lá, foi buscá-lo para dar um jeito na situação de seu marido que estava desenganado da medicina. Lhe disse a mulher: Se o senhor salvar-lhe a vida, eu nem quero saber quanto o senhor vai cobrar de mim, dinheiro não é problema para nossa família. Pagar-lhe-emos bem! O olho do compadre cresceu além da órbita, pensou consigo, desta vez vou tomar banho de dinheiro na bolsa desta mulher. kkkkkkkkkkkkk. Adiantou-lhe, só vou por "xis" valor. Combinado amigo, aqui está o dinheiro, já lhe pagou ali mesmo. Mas o compadre resolveu dar um logro na sua comadre, veja se isso não é uma palhaçada dele! Bem de vida, famoso, ganhava dinheiro como poucos ganham. Mas como dizem um provérbio popular dos antigos. "A formiga quando quer se perder, cria asas" Voa alto, mas logo cai num terreiro onde tem galinha choca e já encontra o que não queria. kkkkkkkkkkkk. O compadre chegando na casa do doente, lá estava a comadre sentada nos pés da cama. Lembrou do que dissera a sua comadre, mas se fez de bobo, fingiu não vê-la, pegou o doente e virou-o com a cabeça para os pés da cama. A comadre virou também, tornou a fazê-lo de volta, a comadre fez também! Ficando tudo na mesma. kkkkkkkkkkk. Ela o levaria mesmo. Mas o compadre não desistiu, ficou virando o doente pra cima e pra baixo, a comadre também o acompanhava nos movimentos, até que esta se aborreceu e foi-se embora. Dali a pouco o doente ficou bom e se levantou com saúde, nossa que alegria para os seus familiares. Agradeceram muito ao compadre pelo serviço prestado. Diziam uns: O homem é bom mesmo, nunca vimos igual. Deram-lhe muito dinheiro como gratificação além do pagamento já feito. Levaram-no de volta á sua casa. Chegou todo feliz, só vendo o tanto de dinheiro que recebera, mostrou á esposa. A comadre sumiu, passou muitos dias e quando ele ia de carro para atender outro caso, encontra com a comadre no meio da estrada. Esta o fez parar. Já perguntou-lhe: Porque fizeste aquilo comigo compadre? Que brincadeira besta, de mau gosto? Ninguém me faz de trouxa, compadre! Esqueceu de nosso trato? Não sou de brincadeiras! E agora o que me dizes? O compadre todo assustado com a bronca da comadre, pediu-lhe muitas desculpas pelo ocorrido. A comadre estava uma fera de brava com ele. Você sabia compadre que aquele fulano ia naquela data? Você me impediu de levá-lo, agora vais no lugar dele. Não comadre pelo amor de Deus, não faça isso comigo, ainda tenho crianças pequenas para criar, elas vão ficar sem o pai. Não quero saber, deixe de prosa comigo disse ela, suas crianças e a comadre eu cuidarei. Sapecou a foice na cabeça do compadre e este ficou estendido lá no meio da estrada. Foi um reboliço quando acharam o benzedor morto. Ninguém soube quem o matou! Só diziam lamentando, que pena que o nosso benzedor morreu! Apesar disso ser um conto que o povo conta, em especial os caboclos sertanejos, fica aí uma bela lição de vida! Nós os humanos somos frágeis, volúveis e susceptíveis! Provérbio popular: Todo homem ou mulher tem seu preço! A maioria se entregam ao ver um bom maço de dinheiro! Basta que este apareça na hora certa! Hora certa nada! Hora negativa. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!

CONTO DA NOSSA CULTURA SERTANISTA PARA NOSSO BLOGGER:

" COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES" 31/05/2016.