Dois velhos amigos e
compadres eram roceiros pela vida toda, pelo menos até ali eram vizinhos de
casa e de roça, esta era divisada uma da outra por uma rua de mandioca. De um
lado um deles, e do outro o mais velho dos dois, ambos tinham família. Naqueles
tempos quase ninguém tinha as terras que gostavam tanto de trabalhar nelas,
salvo os grandes fazendeiros, alguns sitiantes de médio porte outros
favorecidos pela sorte de heranças tinham suas terras, não eram mesquinhos como
nos dias de hoje. A maioria dos camponeses trabalhavam em terras arrendadas, no
caso dos dois compadres, um tinha as suas, o outro arrendava deste. Viviam bem,
as lavouras foram muito prósperas neste ano, então como sempre há pessoas que
apesar de terem família, gostam de viver mudando de um lado para outro, este último
dos compadres, o mais moço deles parecia ter formigas dentro da roupa, parecia
que dava correição na casa onde morava, igual os ciganos, um ano aqui, outro
ano acolá, depois mudava de novo. Não era capaz de ficar dois anos numa área de
terras mesmo que fossem boas, o problema dele era mudar sempre, tinha muita
sorte nas produções da roça mas tinha este defeito. Após um ano bom de
colheita, deu muito lucro a roça. Disse ao compadre: Acho que vou mudar de
lugar este ano vindouro meu compadre! Estou com palpite de mudar e vai ser boa
a minha mudança. O que é isso compadre? Aquieta ai homem? A roça deu bom lucro,
fica quieto. De repente a sua sorte está aqui e o senhor vai andar pelo mundo
atoa em busca de quê? Larga mão disso? Vai virar cigano com a comadre e seus
filhos? Não é compadre, vou mesmo! Está bem disse o outro. Teu juízo é teu
mestre! Teus pés é que te guiam! Sabes o que está fazendo. Depois não venha
choraminguar dizendo que gastou tudo e nada deu certo. Já que insiste em ir:
Boa sorte amigo! Vai em Paz! Pense bem compadre o que vai fazer. Além de tudo o
arrendamento que te cobro é ninharia frente aos outros. Mesmo assim nada valeu
ante a teimosia do outro fez a mudança feliz da vida. Passou o ano em outras
terras, não foi lá estas coisas a produção naquele ano, além de ter pago um
aluguel caro pelas terras de outro. O compadre mais velho parecia adivinhar,
foi só chumbo que o outro tomou, começou a trabalhar de diarista para outros e
a situação apertava cada vez mais. Um dia a mulher lhe disse: Porque não
voltamos lá para o compadre? Estávamos tão bem lá, e você com suas maluquices
de mudar, olhe no que deu? Não vou não mulher! O compadre vai me debochar e rir
de minha teimosia. Estou com vergonha, o compadre estava certo. Relutando mais
um pouco a mulher conseguiu convencê-lo. Já era mês de agosto e até preparar a
terra de novo ficaria meio tarde para o plantio. Ele gostava de plantar no
“cedo” e acabaria plantando no “tarde”. Foi meio sem graça lá sozinho sem a
família, com medo do compadre negar-lhe a cooperação. Se estivesse com a
família seria muito chato ter que ir embora de novo se nada conseguisse. Mas o
seu compadre era gente boa. Nunca faria uma coisa assim. Foi lá! Então
compadre, como está? E a comadre com as crianças? Saíste bem lá onde esteve?
Colheu muito? Nossa que avalanche de perguntas! O compadre sem jeito respondia
meio querendo esconder alguma coisa, parecia estar bem. O compadre mais velho
percebeu que sua situação estava apertada e ele não queria falar claramente.
Deu uma baforada no cigarro, fingindo nada perceber. Disse-lhe: Compadre se
você precisar de alguma ajuda nossa, estamos aqui pronto para lhe dar uma
demão. O outro se animou e contou-lhe a verdade, estava mal e quase sem nada. O
primeiro lhe disse: Não perca tempo homem, vá buscar a comadre com as crianças.
A sua “Palhada” está aí do jeito que deixaste, ninguém ocupou, só está um mato
lascado, vai ter que pular quente e prepará-la até o plantio. Vá logo senão irá
plantar muito tarde. Ele foi e trouxe a família. Era muito esperto pelejou até
dar conta do mato. Em meados de outubro começou a plantar. As suas plantações
só dariam fruto bem mais tarde. Feijão, milho, maxixe, abóboras, quiabos,
melancia, morangos, mandioca batata, verduras e outras, chegariam quando as do
velho estariam quase acabando. Atrasariam muito, mas o velho me dará uma demão,
pensou! Dito e feito. Lá por Dezembro o
compadre do “cedo” já tinha de tudo frutificando, e ele nada ainda. Tinha
vontade de pedir algo que precisava ao amigo mas, tinha vergonha. E o outro deu
uma de mesquinho e não lhe oferecia nada. Vendo-o outro com sacadas de milho
verde e de tudo o que socorre o roceiro, o pobre homem ia com a esposa e filhos
a noitinha na casa do amigo, este assava milho, fazia pamonha, bolos, curau e comiam
juntos com café. Mas não lhe dava uma espiga sequer para levar. Contou que a
roça estava linda, só que a capivara estava atacando. Não sabia como fazer para
deter o bicho daninho, o roedor terrível. Teve uma ideia, fazer um “Fojo,”lá na
beirada da roça, bem na saída do “carpincho”, fez muito bem feito e bem coberto
para pegá-la de surpresa. O amigo não sabendo da armadilha, logo começou
imaginar como faria para adquirir um saco de milho verde e mais coisas. Pensou
consigo: Vou lá á noite roubar do compadre e ele pensará que o estrago é da
capivara. Kkkkkkkkkkkkkk. Vou lograr este pão-duro! Dali uns dois dias ele saiu
á noitinha com um saco de estopa na mão. Justo no lugar onde a capivara saia,
ela já tinha saído primeiro que ele, e caíra no “fojo.” Lá ficou presa naquele
buraco fundo, ficaria até o dia amanhecer, quando o compadre a capturaria. Mas
o buraco era bem feito e tinha um degrau como uma escada, ele lançaria uma
corda com a laçada e a pegaria pelo pescoço. Levantaria ela dependurada até
sair do buraco. Kkkkkkkkkkkk. Coitado do
compadre espertalhão! Depois de colher um meio saco de milho verde, já ia embora,
não vendo a armadilha, no escuro caiu também lá dentro, com saco e tudo. Foi
aquele reboliço, a capivara morde igual cachorro, mas o compadre além de estar
de botas de cano alto foi muito ligeiro, ficou no degrau a noite inteirinha que
Deus deu. Um gatuno embaixo e o outro mais em cima e o saco de milho entre os
dois. Kkkkkkkkkkkkkkkkkk. A pobre comadre acordou no meio da noite e nada do
marido. O que será que aconteceu meu Deus? Ficou aflita. Mas esperou a noite
toda. Logo cedinho o compadre foi na roça ver se a capivara tinha caído na
armadilha. Lá estava o seu compadre e ela juntos. Kkkkkkkkkkkkkkk. Lá dentro do
“Fojo” estava seu amigo, nervoso pra chuchu, vendo o outro lá fora, sua cara
caiu de tanta vergonha. Mas o compadre nem ligou para o acontecido, disfarçou o
que pode. Pera aí compadre, dissera este calmamente, vou em casa rapidinho buscar uma corda para tirar o senhor daí. Esqueci-me
de te avisar homem, que havia feito esta armadilha para a capivara. Voltou
logo, e com a corda mandou que o compadre amarrasse o saco de milho primeiro. Vamos
tirar o teu saco de milho compadre, depois o senhor, e por fim a capivara. Este
rápido de raciocínio contestou: Porque não me tira primeiro? Este saco de milho
não é meu, deve ser da capivara. Foi ela quem caiu primeiro.
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
HISTÓRIAS DE CABOCLOS SERTANEJOS QUE UNS
CONTAM PARA OS OUTROS.
PARA O NOSSO BLOGGER: “COISAS DE CABOCLO DE
LUIZÃO-O-CHAVES”
ANASTÁCIO MS
24/04/2015.
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