domingo, 26 de abril de 2015

UMA AVENTURA QUE JAMAIS ESQUECEREI!

                                   


Estava para chegar á margem esquerda do rio, faltava nadar mais alguns metros e pronto, estaria livre do pior que poderia me acontecer. Ufa! O coração faltava pouco sair pela boca, as minhas pernas cansadas não obedeciam mais o comando do cérebro, rio largo, aguas pesadas devido a pouca correnteza, braços já cansados também. Mas enfim cheguei são e salvo do outro lado. Salvo as marcas dos dedos do meu agressor na minha garganta. Alcançando a terra firme, deitei no solo exausto. Deixava para trás uma tragédia, uma vida, uma pessoa inerte, estendida no chão, uma dor no peito que jamais aliviaria. Uma lembrança triste, um sentimento de amargura, e um pensamento: Será que Deus me perdoará pelo que fiz? Será que agi em legitima defesa? E se eu não tivesse feito? O que poderia ter acontecido comigo? Estaria no lugar daquele individuo malfazejo com certeza. Só eu sei a angústia que senti quando ele me sufocou pegando-me pelo pescoço e me apertando contra o chão. Estava numa agonia terrível! Ele estava ajoelhado em cima de minha barriga, era maior do que eu, e tinha mais forças, me dominou com certa facilidade quando me pegou. Eu sou franzino comparando com o seu corpanzil. Pensando que era brincadeira dele quando me agarrou. Mas não era! Nas últimas reações de sobrevivência, o instinto de vida me recobrou os sentidos e me ativou a mente, parecia me dizer: Cadê sua arma? Tire-a da cintura e reaja, senão você morre! Senti uma força sobrenatural apossando de mim, num gesto de desespero pude tirar o meu 32 da cintura que estava na parte de trás e eu por cima dele, era impossível acontecer uma coisa daquelas. Mas deu certo. Consegui tirá-lo, apesar de sua mão forte me apertando a garganta consegui vislumbrar o seu queixo enquanto ele olhava para os companheiros de acampamento que tudo presenciavam rindo sem mover um dedo em meu favor, o bruto dizendo á eles: Querem ver como se mata porco? Levou a mão direita na cintura por trás para sacar a faca e me degolar, mas fui feliz, a faca ao sair da bainha enroscou em sua camisa, ou no cós da calça custando sair e nesse interim, coisa de fração de segundos coloquei o cano do meu revólver que era curto embaixo do seu queixo sem que ele percebesse. Apertei o gatilho, no estampido vi sair do alto de sua cabeça um tampo de miolos e um jorro de sangue que jamais verei uma coisa daquela. Aquele pacote humano que estava em cima de mim, caiu para trás, me desafogou, sai debaixo dele com dificuldade eu estava já nas últimas do fôlego que possuía. Eu não havia bebido cachaça, mas ele bebera, estava meio bêbado, por isso fez aquilo comigo. Nunca esperava uma coisa dessas, era meu sobrinho de sangue. Trabalhávamos no mato tirando madeiras, postes de cerca, firmes, dormentes, postes de luz, palanques para mangueiros etc. Éramos habilidosos nessa arte. Mais de 20 companheiros no acampamento, um sábado á tarde, todos de folga, uns tocando violão, outros cantando, uns deitados na rede ou tarimba, outros numa roda de truco e a maioria tomando cachaça entre eles este meu sobrinho que era muito ruim na bebedeira. Fatídica tarde para mim, fim de uma vida feliz, tinha deixado a família para ir trabalhar longe de casa para levar o sustento para ela. Meu Deus, e agora? Sentado na margem do rio enquanto descanso, com a roupa ensopadinha, sem um triste documento, nada nos bolsos. Do jeito que sai debaixo do homem, levantei e olhando ao redor ainda com as vistas embaçadas pelo quase estrangulamento que sofri, ainda tive a coragem e uma loucura de dizer: Quem de vocês aí achou ruim? Estando com a arma em punho, faria o que fosse possível para sair dali ileso. A turma abriu e correram, aproveitei e sai correndo na direção do rio que banhava os fundos do acampamento, caí n’agua com a arma em punho, lá no meio do rio que era largo de dar medo deixei-a cair da mão, estava me atrapalhando a sulcar a agua para nadar mais rápido. Agora em terras estranhas, sem conhecer a sua língua, seus hábitos e costumes, sem conhecer ninguém do outro País. Atravessei a mata que tinha do outro lado, andei quase a tarde inteira já no escurecer ouvi um canto de galo, imaginei: Tem gente por aqui? Vou aproximar, fui com cuidado a roupa ainda meio molhada e cheguei num casebre de pessoas pobres, um rancho, lá vi uma família com duas crianças. Sem saber falar nada de português, fiz senha que estava com fome e queria um prato de comida. Eles perguntaram meu nome, quem eu era e donde vinha. Sinalizei que era sozinho e vinha viajando de lá do outro lado do rio. Mostrei alegria e eles me acolheram com carinho. Ficaram me olhando, perceberam que eu era estrangeiro, mas eram alegres. Sentei-me num toco no terreiro, eles me convidaram para tomar chimarrão. Eles mostraram que conheciam um pouco da minha língua, características das pessoas fronteiriças, ficou mais fácil, só não sabiam falar direito. Nós nos entendemos logo, jantamos proseamos um pouco e logo me deram uma rede para dormir na sala. Passei a noite em claro. Na cabeça mil e um desconforto. Mas logo cedo comemos alguma coisa e decidi ir embora, me ensinaram por onde seguir e dar num vilarejo longe dali. Deram-me uma matula para comer mais tarde, por ser longe. Despedi deles até com lágrimas e fui. Virando do meio dia cheguei ao vilarejo. Algumas casas e só. Ouvi alguns falando meu idioma e logo me animei. Fiz conhecimentos e amizades que logo me gostaram e arranjei um empreiteiro que me ofereceu serviços. Estava precisando mesmo, dali fomos para mais longe e trabalhamos muito tempo até juntei um dinheiro e tirei meus documentos com outro nome e nacionalidade. Tudo clareou em minha vida. O passado não me importunava mais. Aquela horrível cena desaparecera de minha mente, era outro homem, feliz agora, entre aspas. Estava vivendo bem. Para a minha família foi como se eu tivesse morrido. Nunca mais a procurei! Já falava corretamente a outra língua só o sotaque da minha língua de origem que nunca perdi. Trabalhei uns anos com este patrão que muito me estimou. Sempre fui honesto e trabalhador, sendo de confiança dele nos serviços que lhe prestava. Já andava chique, bem arrumado, boas roupas, dinheiro, amigos, mas como nunca gostei da cachaça, continuei o mesmo. Só que á ninguém dizia de onde tinha vindo, era um forasteiro sem pai e nem mãe e criado por mãos alheias e pelo mundo afora. Sempre em segredo á minha vida passada. Não quis mais adquirir outra família, solitário é melhor. Num dia terminamos os serviços de uma fazenda e mudamos para outra. Esta era banhada por um riozinho, um riacho melhor dizendo. Do lado de cá era um porto, onde a gente tomava banho e lavava roupas. Do outro lado era uma praia de uma areia extensa e alva como lã, depois uma mata fechada, era a reserva da fazenda com certeza. Logo no primeiro fim de semana, lá pelas 2 horas da tarde resolvi ir lavar umas peças de roupas, fiz a trouxa e dirigi para a beira do riacho. Era uma descida natural de toda margem de ribeiros lá embaixo na beiradinha da agua tinha uma laje de pedra natural de beira d’agua, assim bem plana onde a gente se sentava e ás vezes estendia roupas para coarar um pouco. Quando fui descendo e olhando para os degraus de terra com cuidado para não tropeçar, levantei a vista para o córrego. Olha a surpresa desagradável que me aguardava: Lá do outro lado na praia em pé estava uma figura, a do meu sobrinho, parecia uma estatua, aquele que eu havia matado alguns anos atrás. Tomei um choque e pensei. Não é possível este homem estar vivo? Meu Deus e agora? O que vou fazer? Fitava-me sério, com aquela mesma roupa daquele dia triste para nós dois. Tirei as vistas por segundos enquanto olhei de lado. Pronto: Sumiu aquela aparição esquisita! Nem rasto ele deixou na areia!  Voltei dali para o barraco e nem a roupa tive vontade de voltar e lavar. Sentei na cama, fiquei pensativo com aquilo. Chorei muito ao recordar aquele desastre na minha vida. Estragou meu dia! Pedi as contas, o meu patrão tomou um susto. Mas porque vais embora rapaz? O que aconteceu amigo? Assim de repente? O que falta para você? Mil interrogações além destas. Nada respondi! Apenas disse-lhe que estava com saudades de correr o trecho. Ia embora mesmo. Despedi dos companheiros com uma tristeza sem fim. Envelheci, já tenho mais de 60 anos, sózinho, solitário, doente e infeliz. Antes de partir desta vida terrena, espero que Deus me perdoe, pelo pecado que cometi. Este mundo é em muitos casos ingrato para alguns. Deixo um recado para os leitores deste conto: Cuidado com más companhias. Independente de serem parentes. Uma delas poderá ser sua perdição! Não existe coisa pior nesta terra do que tirar a vida de alguém! O teu sossego e a tua paz, desaparecem do seu coração, ele fica árido, seco e frio, o teu espirito é tomado por uma angústia sem fim, sem consolo, nada está bom para você.
(Este conto é verdadeiro, o personagem que tomamos o seu lugar para contar esta história é de origem Paraguaia. Mui amigo mesmo, o chamávamos de “Caraí.”) Já é falecido!

HISTÓRIA E FATO QUE OUVIMOS DESTA PESSOA QUE QUERIA ALIVIAR O CORAÇÃO!

ANO 1985. PARA NOSSO BLOGGER “COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES”

ANASTÁCIO MS. 23/04/2015

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