domingo, 9 de abril de 2017

DUELO DE DUAS SERPENTES 1ª parte.

                                              



A festa já estava para acabar, isto já era lá pelas quatro horas da manhã de domingo quando surgiu um bate-boca atoa por causa de namoradas entre três rapazes da comunidade. Um deles era filho de família de agricultores dali da região e os outros dois eram filhos de um comerciante muito rico e ainda por cima possuía uma fazenda nas imediações da cidade interiorana de Minas Gerais. Como sempre houve e haverá pessoas influentes numa sociedade ou cidade, e que em muitos casos até a justiça se dobra aos caprichos de tais pessoas, elas atuam como se fossem donas da verdade sobre os mais fracos, os menos favorecidos pela sorte, em tempos de outrora isto foi muito falado e aconteceu mesmo em varias partes deste País, nós conhecemos muito deles em especial dos fazendeiros de uma região. Bem, já exemplificamos como são os homens que tem poder aquisitivo melhor que os outros, e o que vai acontecer tem mera coincidência. Os três rapazes da festinha e baile se desentenderam por causa de uma "tabua" para os que não sabem o que é isto. Num baile uma dama é convidada para dançar por um cavalheiro, esta se recusa a ir, ela não vai dançar, e este gesto dela se chama "tabua". A moça era muito bela e disputada pelos rapazes da região e naquela festa parece que estavam todos. O Filomeno era um bom moço, de presença e de bons modos, respeitoso mas muito simples, dançava pouco mais porque os demais eram demais assanhados, ele ficava sempre recantado. Os dois rapazes eram filhinhos de papai e com isso se achavam no direito de serem os melhores e mais bonitos da festa e conquistar tudo, as moças dançavam com todos, eram instruídas pelas mães para que assim fosse, afim de não dar problemas para ninguém. Mas uma delas era diferente, gostou do Filomeno e ja estava de namoro com ele, os dois acharam ruim, e para complicar mais foram tirá-la para dançar, era uma pirraça ao Filó, ela se recusou e disse que não queria dançar aquela moda, saiu da sala dando meia volta pegou da mão do Filomeno e saiu dançando com ele. Vejam o tamanho deste desaforo com o moço rejeitado. Aquilo bastou para ser armada a maior confusão, gerou desfeita, bate-boca e xingos. Queriam impedi-la de dançar, iam obrigá-la a ficar sentada no banco, e ainda vigiada. Já que não quer comigo não será com ninguém disse um dos moços. A turma do deixa disso entrou e acalmou os ânimos. Filomeno ficou quieto sem saber o que fazer, os dois para se vingarem da desfeita avisaram que dariam um "couro" no Filó na saída do baile. Como não era em clube e sim na casa de família numa ponta de rua, ficava mais fácil para descerem o pau no rapaz. Ele não se intimidou, nem um pingo de medo dos rapazes ele sentiu, mas a moça lhe disse. Deixe que eles vão embora, você irá depois. Ele relutou em ir para provar que era homem também, tinha 17 anos e os dois alí pelos 18 e 19 anos. Mesmo sendo dois contra um, ele não temeu, pois era forte e acostumado a derrubar reses no serviço de campo, lidando com boiada, com tropa desde a tenra idade, e bom cavaleiro na fazenda onde trabalhava. Despediu da moça e foi embora, lá adiante estava os dois lhe esperando. Partiram para cima dele e este só tirava o corpo fora, corria o pé neles que focinhavam no chão e descia o braço sem dó. Não conseguiram bater nele, o Filó deixou os dois com a cara amassada de tanto sopapo, ele era bom no braço e os dois almofadinhas se deram mal. O pai dos rapazes quando viu os filhos chegarem arroxeados, apanhados e humilhados virou uma fera. Ninguém bate em meus filhos sem haver troco. Este vagabundo há de ver comigo. Na segunda feira seguinte foi a delegacia. O delegado disse-lhe: Isto não é nada, briga de rapazes por moças é coisa comum, não houve sangue. Deixe isto para lá, além disto a nossa cidadezinha é pacata. O Patrão voltou ainda mais furioso. Contratou dois policias para darem uma lição no Filó. Molhou as mãos deles e ficou tudo certo. Pegaram o Filó e bateram nele uns dias depois, Filó apanhado e inconformado pois não devia aquilo. Partiu dali, sumiu do mapa, ficou com muita vergonha de ter apanhado dos policiais e ouvir as chacotas dos amigos. Saiu jurando vingança: Em mim quem enxovalhou as mãos vai pagar caro! Isto eu garanto, dissera cheio de ódio. Passaram dois anos e um dia chegou á noitinha na cidade um homem novo estranho, mas barbudo, cabeludo e maltrapilho que ninguém sabia quem era. Ficou dois dias na casa dos pais sem sair nem ao menos no terreiro. A noite saiu e foi sondar os policiais que lhe bateram, encontrou um: Tirou de uma pistola e atirou, acertando bem no coração. Fugiu, sumiu e ninguém ficou sabendo quem era o assassino. Dalí mais um ano ele encontra o pai dos rapazes, fez o mesmo. Pois descobrira a trama dele com os policiais. Matou-o também com um balaço bem no coração. Outro reboliço em torno da outra morte,  ficou misteriosa. Passados mais três anos ele voltou e assassinou o outro policial no mesmo lugar do corpo, era exímio atirador de pistola, desta vez foi visto por um bando de crianças que vinham da escola, aquele homem barbudo, maltrapilho e cabeça pelada foi quem matou o soldado da policia diziam. Mas cadê ele? Não se sabe onde se enfiou, abriu o chão e entrou dentro. Sumiu para sempre. Mudando de estado pensou: Nunca mais irei para aquelas bandas, já fiz o que tinha prometido aos canalhas que me bateram. De agora em diante serei novo homem em outro lugar, de respeito, de coragem, só que sinto que fiquei sanguinário, agora comigo é na pistola, seja lá quem for. Nem por isso vou trocar de nome. Dormia pensando no que tinha feito na vida. Um homem novo bonito, de futuro mas com problemas, sentia que alguém ainda atravessaria na sua frente, tinha estragado a vida, não havia mais conserto. Seria perseguido? Seria caçado como a um cão danado? Será que alguém das famílias dos mortos lá de sua terra natal um dia lhe encontraria?  Lhe reconheceria? Sofreria alguma vingança? Ninguém sabe! Mas é bom ficar alerta, como é sabido por todos, até um caso nas escrituras sagradas. Quem mata e foge, nunca terá paz. Caim após matar seu irmão, tornou-se fugitivo e vagabundo pela terra afora. Quem com o ferro fere, com ele será ferido. Filó não quis casar, vivia solteiro, inseguro e desconfiado o tempo todo. As vezes ia nos prostíbulos como todo homem faz, conversava pouco não dizia de onde era, inda mais com mulheres. Tinha amigos, companheiros de trabalho, e era estimado por eles, trabalhava em turmas de empreiteiros e nos folguedos demonstrava sua habilidade com a pistola. Lhe admiravam, cortava um palito de fósforos a dez metros de distância na cabeça de um toco. Treinara muito. Atirava de todas as posições e não errava nenhum disparo. Era bom no gatilho mesmo. Só atirava mortal! Depois das seguidas mortes que fizera na sua cidadezinha, lá foi trocado o comando de segurança da localidade. Veio de longe um primeiro tenente e assumiu o comando da policia do lugar. Era apelidado de Faísca, por seus companheiros de farda, devido sua incrível rapidez no saque e disparo contra quem fosse prender. O tenente faísca revendo os arquivos e vasculhando tudo, encontrou as três mortes em aberto, pareciam misteriosas, resolveu remexer tudo e começar a investigar. Era um homem experiente, de muitos anos na profissão de descobrir e resolver enigmas dos mais intrincados em termos de assassinatos e crimes sem solução. Disse com seus botões: Irei a fundo nesta questão e descobrirei tudo. Primeiro fez amizades com o povo do lugar, a principio eram desconfiados com ele, mas aos poucos foram se abrindo. Conversavam de tudo um pouco. 

continua...

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