Um rei saiu para caçar um dia de manhãzinha e se perdeu na
mata, caminhou muito a esmo e mesmo assim, não havia meio de acertar com o
caminho de volta para a casa. Olhava o sol, na posição que se encontrava,
contudo não conseguia se orientar por ele, ora parecia que estava fixo num só
lugar, outra hora dava impressão que ainda era levante. Inconformado com a
situação, o rei sentou num tronco deitado que acabara de pular, decidiu meditar
um pouco, quem sabe tendo uma boa inspiração acharia o rumo de casa. Ficou um
tempão ali imaginando o que faria para sair da enrascada. Estava tão difícil
que nem mesmo conseguia raciocinar
direito. Estava ficando nervoso, quando de repente ouviu um barulho como se alguém
estivesse andando na mata, também ouviu estalidos
de galhos se quebrando. Assim como um animal faz quando anda. Depois ouviu
vozes baixas. Imaginou! Será que é gente que está só andando ou caçando também? Escondeu-se numa moita e ficou
observando o que poderia ser, o barulho
de quem caminha no mato aumentava cada vez mais. Ali quietinho estava, quieto
permaneceu agachado dentro da moita que o cobria sem deixar arestas. Viu por
entre as folhas um casal muito jovem, cada um com um feixe de lenha na cabeça,
como fazem as formigas quando carregam
víveres e que por certo levariam para casa, muito embora quieto e perdido do
rumo de casa, reanimou, porque agora sim, não me preocupo mais em acertar o
caminho, tenho companhia para ir embora com segurança. Os dois pararam ali na
frente da moita que escondia o rei, puseram o feixe de lenha no chão para
tomarem um fôlego. Enquanto sentaram cada um no seu, tiraram o chapéu da cabeça
para abanar um vento no rosto como é
muito comum fazermos quando sentimos calor até que refresquemos um pouco.
Começaram conversando um assunto muito antigo que até hoje as pessoas comentam
e arrazoam entre si para saber quem é o mais errado. Dizia a esposa ao marido:
Hoje nós sofremos para ganhar o pão de cada dia por culpa da nossa mãe Eva,
quando pecaram no paraíso e Deus lavrou a sentença para os dois. Com o suor do
seu rosto comerás o pão todos os dias de suas vidas. Terão que trabalhar
arduamente para terem o que comer em abundancia, culpada de nós estarmos aqui
sofrendo, foi a Eva que comeu da maçã que a serpente mentiu dizendo que nada
fazia de mal se a comesse! Ela comendo deu ao Adão que nem imaginava o que
aconteceria com eles depois de comê-la.
Hoje estamos pagando pelo erro deles, se fosse eu não comeria de modo nenhum. A
serpente instigou sua curiosidade e ela caiu, disse a mulher. Ela é a maior
culpada por ser muito curiosa! Curiosidade dá nisso! Acho que o culpado pelo
pecado foi o Adão que não deveria ter concordado com a Eva, ela que se quisesse,
que comesse sozinha! Eu não daria ouvidos
a ela de jeito nenhum! Portanto a tolice foi do Adão! No lugar dele eu
nem dava bolas para a insinuação dela. Respondeu o rapaz! Acho que a maior
tolice foi a dela, replica a mulher. Deus não havia dito que daquela arvore não
podiam comer os frutos? Os dois estavam cientes! Porque ela teimou então? A
curiosidade dela é quem estragou nossas vidas. Lá no Paraiso ninguém precisava
trabalhar! Agora temos trabalhar muito,
como nós já fizemos hoje. Tinham de tudo sem se preocupar. Nada lhes faltava, o
que é que queriam mais! Estando bem em num lugar, o que é que tinha de ficar
bisbilhotando em outro o que não é da conta! Se Deus nada tivesse falado a
eles, e caíssem como caíram, estavam isentos da culpa. Quem não sabe de nada, a
qualquer momento pode cair em ciladas. Mas sabendo? Ai, já é porque quis! E no
final da história quem “Paga o pato” somos nós, os seus filhos! Encerrando o
assunto o marido disse: Larga a mão disto, o que é bom já nasce feito, e o que
nasceu torto não tem jeito! Vamos levar nossa lenha e vendê-la, senão nada
poremos em nossa dispensa para comermos a semana vindoura! Levantando o feixe
de lenha da esposa, colocou-o na cabeça dela, ergueu o seu também na cabeça e
rumaram para a casa. O rei lá dentro da moita, ouvira tudo, deu um tempo de
alguns minutos para não se identificar com a sua presença e não assustar eles, ganharam
pouca distancia, então o rei saiu da
moita e seguiu-os mantendo uma distancia razoável a ponto de não ouvirem o seu
barulho nas folhas dos arbusto da mata. Andaram um pouco e depois o rei
alcançou-os, porque ouviram o barulho do rei que de proposito fizera para eles
olharem para trás. Vendo o rei em traje de caçador, não reconheceram sua
majestade, julgando que fosse um caçador qualquer. Pararam! Puseram a lenha no
chão e o rei se apresentou alegre com eles, que estavam desconfiados para saber quem seria e de onde saiu assim de
repente. Após os cumprimentos o rei lhes disse: Pobre gente, como vocês
sacrificam tanto para terem o pão de cada dia! Nossa! Carregarem lenha nesta
distancia? São heróis sem medalha na batalha pela vida! Me de o seu feixe de
lenha, menina? Que levarei para você! Leve apenas a minha espingarda. Seguiram
alegres os três conversando até que chegaram no casebre do casal. Lá chegando,
descansaram bastante, tomaram agua, e cearam
pois todos traziam fome. Depois o rei lhes disse: Venham comigo, não quero que
se sacrifiquem tanto assim para viverem! Venham morar comigo, serão meus
hóspedes pela vida inteira. Nunca mais precisarão trabalhar! A vos darei de
tudo o que quiserem. Não terão que preocuparem por nada desta vida! Levarão uma
vida como se estivessem no Paraiso! Ficaram assim, pensando quem seria este
homem para fazer-lhes uma proposta desta! Nem sequer imaginavam que fosse o seu rei aquela figura tão bondosa,
tão simpática e agradável. Aceitaram a
proposta e seguiram com aquele homem desconhecido. Quando chegaram ao palácio,
tomaram um susto! Meu Deus! Dissera o homem! Querida, este homem é o nosso rei?
Quem diria? E agora? Disse ela! Agora está melhor porque viveremos junto do
nosso monarca, replicou o rapaz! O rei ordenou aos seus serviçais, aos arautos
e as camareiras que cuidassem bem daquele casal. Um quarto bem mobiliado e com
todo conforto, de modo que nada lhes faltasse, informando-os á hora das
refeições diárias, recanto de lazer e tudo o que tivesse de melhor seria
oferecido ao casal. Eram hóspedes especiais! Como nunca houvera na corte! Todas
as ordens do monarca foram atendidas a rigor conforme ele determinara! O casal
a principio ficara meio sem jeito, pois nunca tiveram aquele tratamento e nem
regalias assim em sua casa e nem na vida como estavam recebendo ali naquele
lugar tão lindo, gostoso que parecia o céu! Nossa! E como parecia mesmo! Todas as
criaturas dali eram muito amáveis, muito cordiais e lhes tratava bem. Todos os
dias na hora da refeição, sendo a hora que fosse servir, o rei ordenou que
servisse doze pratos de iguarias, recomendou ao casal que poderia servir apenas
onze! Mas aquele prato que estava no centro
da mesa, não poderiam de modo nenhum destampá-lo e muito menos servirem-se dele!
Não mexam de jeito nenhum neste, nunca
toquem nele,disse o rei apontando com o dedo para o prato no centro da mesa!
Ouviram? Sim! Majestade! Estamos cientes! Responderam os dois! Obrigado,
majestade! Os dias se passaram tudo transcorrendo dentro da normalidade. Quando
foi um dia destes a esposa começou a olhar o prato do centro da mesa, o tal que
não podiam tocar, com certa insistência em querer saber o que havia dentro dele
que não podiam ver! O marido nem ligou para isso, continuou como sempre,
despreocupado de tudo, afinal de contas para que se preocupar se nada estava
faltando! Seguia a risca as ordens de sua majestade! Mas a mulher não se
continha, queria porque queria saber o que tinha naquele prato misterioso! Porque isso? Indagava ela ao marido! Se de todos, menos este podemos
comer? Porque deste não podemos? O que será que tem dentro dele? Algum mistério?
Comida diferente? Será ruim, ou bom demais para ninguém saber? O que será? O
que não será? Com esta indagação perturbava a esposo o tempo todo! Era só
sentarem a mesa, começava os olhares curiosos dela na direção do prato! O
marido percebeu que ela não servia o almoço direito, comia pouco, até que ele
perguntou-lhe: Querida o que há com você que não almoça direito! Está doente?
Esta sentindo mal? Diga o que é que tu tens? Ela meio sem jeito disse: Não, não
estou doente, não! Eu quero é saber o que há neste prato dai do centro! Quero
ver o que há dentro dele? Mas o rei não nos disse que nem era para olharmos
para ele? Advertiu o marido! Você não se lembra das recomendações do nosso rei?
Isso não pode! Deixe disto? Não é da
nossa conta? Mas a mulher se tornou uma sarna, igual aquelas coceiras que
incomodam o tempo inteiro, não lhe dava paz um instante, toda hora pedindo para
ele tirar a tampa do prato para ela ver o que continha dentro. Ele tornou a
dizer: O rei nos proibiu de tocar nele! Nunca farei isso que me pedes, por
respeito, obediência, e consideração ao nosso soberano! Tire isto da sua cabeça
e pronto! Não me importune, por favor? Ela ficou aborrecida, levantou da mesa,
saiu e ele ficou sozinho! O rei sem que ninguém visse, sempre observava os dois
fazendo as refeições e conversando. Ouviu tudo e continuou na espreita! No
jantar ela compareceu, mas não quis comer nada! O marido agradou-a mas não houve jeito, só jantaria se visse o
que tinha dentro do prato! O marido não achando contra argumentos para com a
esposa consentiu, ela levantou a tampa do prato e dele saiu um camundongo numa
desabalada carreira bem na direção onde o rei estava de espreita atrás da
cortina! Foi aquele reboliço! E agora o que falar no instante que o rei
apareceu? O camundongo passou entre as pernas do monarca que olhando-os muito sério, balançando a cabeça negativamente
disse: Voltem para o lugar de onde eu vos tirei! Ou seja, lá para o bosque onde
tiravam lenha para dela sobreviverem! Á mulher ele falou: És muito mais curiosa
do que nossa mãe Eva! Ao homem disse: Se tivesse palavra não teria dado ouvidos
para tua esposa agora pouco! Nenhum de vocês dois podem condenar nossa mãe Eva
e nem nosso pai Adão pelas suas fraquezas! Não tiveram outro remédio a não ser
voltar no outro dia cedo para sua casa e continuar na luta pela sobrevivência
como lenhadores. Todos nós cada um com a sua atividade o fazemos.
MORAL DO CONTO: NUNCA JULGUE O TEU PRÓXIMO PELAS SUAS
FALHAS! PORQUE VOCÊ TAMBÉM É FALÍVEL!
CONTO ESCRITO E REPRODUZIDO POR: LUIZÃO-O-CHAVES... É A CULTURA
SERTANEJA DE PAIS PARA FILHOS.
ANASTÁCIO MS 03/12/2013
luizmoreirachaves@gmail.com 014 (67)
3245 0140
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