Conta-se que
a muitos anos passados um casal de camponeses pescadores que moravam num lugar
a beira mar, num país distante e que tinham três filhos José de dez anos, Felipe
de oito e Antônio de sete anos de idade. Dos três meninos, o Antônio era aquela
criança desde o nascimento muito miúdo, frágil e de saúde precária, coisas
hereditárias. A esposa D. Jacira era também muito fraquinha de saúde, mas dava
para ir vivendo, boa dona de casa ordeira e prestativa, Julião o esposo era
pescador do mar, viviam da pesca e tocavam um pedacinho de terra onde plantava
de tudo para ajudar. Ela era muito devota de Nossa senhora, ele era diferente
de tudo, gostava de tomar suas cachaças como é quase natural de todo pescador,
não ficava sem o seu gole ás tardes ou quando chegava da pescaria,
principalmente quando vendia seu pescado, ai então aproveitava mais. Como a água do mar é salgada, eles se valiam de água doce e potável de uma vertente que jorrava água doce de entre meio umas pedras na cabeceira da roça em um
morro pequeno encrustado em uma pequena cordilheira de serras quase a beira
mar. Buscavam a água de lá da fonte conforme diziam em sua linguagem camponesa,
era trazida a água em vasilhas como corotes cabaças e tinas. Diuturnamente que
buscavam água eram os garotos, pela manhã e a tarde, para ser usada durante o
dia e para a mamãe tomar banho a tardezinha ou quando precisasse! Julião
estando de folga ajudava os garotos na tarefa. Jacira ia lavar roupas lá na
fonte na companhia dos filhos quando era o dia da semana escolhido para isso.
No mais tudo transcorria dentro da normalidade, em paz salvo um dia ou outro
quando Julião bebia uns goles e ficava conversando mole, e só asneiras, de
noitinha deitado na esteira ou em cima de um banco, o que é natural de todos
aqueles que abusam do uso do álcool. Aquilo aborrecia muito a Jacira, pois dava
um mau exemplo para os três filhos já grandinhos, Quando ele sarava ela chegava
e pedia-lhe explicações daquele comportamento feio ante as crianças. Ele sem
graça, ficava era bravo com ela. Já vem você! Enchendo o “saco de novo”? É o
que dizia! Não te falta nada! Deixe-me com minhas pingas! Nada mais tendo a
fazer, ficava calada. E o que ela podia fazer? Era rezar pedindo ajuda para
Nossa Senhora. Ele de lá ficava caçoando dela, e ainda dizia: Mulher tola fica
conversando sozinha! Os dois meninos maiores davam risadas, só o Antônio ficava
quietinho junto da mamãe em oração! Ele era desde pequeno temente a Deus! Suas
roupinhas eram igual batina de padre, gostava de trajar assim, já os outros não
se importavam com nada, qualquer roupa estava boa! O pai então nem se fala, de
qualquer jeito se vestia, inda mais se estivesse meio bêbado, ficava sem camisa
ou todo desarrumado, até com a braguilha aberta.! Só a mamãe e o “Toninho”,
como era seu apelido, é que eram mais distintos e respeitosos, por isso os
outros o chamavam de “puxa saco” da mãe! Ele ficava caladinho ante as ofensas
dos irmãos mais velhos. Quando iam buscar água na fonte, aí os outros
debochavam dele e até judiavam do pobre pequenino, diziam que ali havia onças e
que ela comeria o Tonho, porque eles corriam e o deixava só e lá atrás. O pobre
e magricelo passava um medo de dará medo! Além disso tudo quando enchiam as
vasilhas de água, davam uma mais pesada para o pequeno levar. Ele aceitava por
não ter como se livrar dos maiores, sob o risco de apanhar deles, chegava em
casa bem mais atrasado do que os dois, a mãe perguntava aos outros: Cadê Tonho?
Vocês judiaram dele? Não fizemos nada! Diziam os caras de pau! Ás vezes o
pobrezinho chegava chorando de medo e de trazer aquela cabaça d’água mais
pesada! A mãe falava, mas os dois safados ficavam rindo dele, e o pai ainda
dizia: Tonho tem que ser mais homem! Tem que ser igual os outros, tá muito
mole! Fica só na barra da saia da mãe! Assim era a vida deles! Uma ocasião, já na
antevéspera de Sexta Feira da semana santa, o Julião chamou a família a boca da
noite e disse: Amanhã todos vão jejuar! Todos! É um dia muito especial da
igreja católica! Eu tomo minhas cachaças, mas também respeito! Ele dissera isto
porque nos anos anteriores todos faziam o sacrifício, menos o Tonho, sua mãe
dizia: Deixem ele quietinho em paz, é tão fraquinho, miúdo é muito franzino!
Jejuar ele não precisa, não é pecador como nós! E com isso ele não jejuava
mesmo, para os outros e o pai aquilo era um insulto! Diziam: Ele não é melhor
que a gente! Vai jejuar sim! A mãe dava um jeito e ele escapava! Mas naquele
ano, a coisa ficou diferente, ou Tonho jejuava ou levaria uma surra do pai, no
sábado de aleluia! A mãe pediu tanto que o velho pai ficou quieto. Arquitetou
um plano. De cá do continente avistava uma ilha, a mais de um quilômetro de
distancia, era um lugar aprazível, gostoso de ficarem, muitas sombras,
fresquinho mesmo além de ter muitas árvores e pés de toda espécie de frutas
nativas, outras plantadas. Enfim, era de ficar boquiabertos de tanta fartura de
frutas! Nesta época do ano então, nem se fala! Julião caladinho, esperando o
amanhecer de sexta feira, foi lá na beira do mar, ajeitou a canoa e um remo
deixou tudo limpinho, observou o mar, estava de águas tranquilas, bom para irem
até na ilha com os meninos apanharem frutas e trazê-las para casa, mas não
avisou nenhum deles que passaria o dia por lá para fazer o Tonho jejuar de
qualquer jeito! Queria ver se não jejuaria! De plano feito, acordou os filhos
cedinho e disse: Vamos todos na ilha apanhar frutas, garotada? Parece que elas
estão cheirando até aqui! Arrume uns sacos ou sacolas e vamos para lá! Vamos
Jacira? Convidou ele a esposa! Não Julião, eu não vou! Respondeu ela! Vamos
Tonho, também? Traremos mais ainda, se você for! Tonho a principio ficou assim
meio desconfiado, mas resolveu ir, antes perguntou a sua mãe, se podia ir, Ela
disse: Você é que sabe! Ele foi todo contente, entraram no barco alegres, com
os meninos e zarparam, o papai remava a vontade, pois as aguas estavam mansas,
o mar calmo e sem demora chegaram. O Julião arrastou o barco para a areia.
Deixou-o fora d’agua com o remo dentro. Entraram para o mato e logo foram
colhendo as frutas, Que maravilha, de toda espécie, encheram as sacolas os
sacos e sentaram na sombra porque o sol já ia alto, para descansarem um pouco
enquanto aguardava o momento de sair, isso é o que pensava o Tonho! Coitado
dele a hora que convidou o pai e os irmãos para virem embora! Caíram na risada,
dizendo: Embora? Só á tarde, meu amigo! Ninguém vai embora agora não! Viemos
para cá apanhar frutas é verdade, mas para jejuarmos também! Quero ver se você
não jejua hoje? Agora quero ver, sua puxa- saco a nossa mãe não está aqui para
defender você! Deram muitas risadas do Tonho, ele tristinho ficou! Derramou
lágrimas enquanto debochavam dele! Estavam todos contra ele sozinho, o que
fazer agora? Olhou para a direção da casa lá no continente com os olhinhos
cheios d’agua! Passou a mãozinha no rosto secando o choro, levantou-se e
dirigindo para o mar pertinho do barco, parou e pensou: Como ir para casa agora
e sozinho, sem ter forças para remar? Como jogar o barco pesado na agua? Os
outros e o pai dando gargalhadas, ele só olhou para trás e tirou sua
batinazinha, ficando só de calçãozinho, estendeu-a sobre a superfície das
aguas, a roupa ficou na forma de um barquinho, flutuando sobre a mesma. Ele
mais que ligeiro pulou dentro dele, com o auxilio das duas mãozinhas fazendo
delas dois remos, um de cada lado, zarpou sobre as tranquilas aguas do mar na
direção de casa. Quase que enlouqueceram quando viram o Tonho fazer aquilo!
Tonho! Volte aqui menino? Você ficou doido? Você vai morrer? Santo Deus, Tonho
ficou maluco? Nossa senhora e agora? Aprontaram um berreiro de gritos, mas
Tonho nem para trás olhava, sulcava s águas com sabedoria do que estava
fazendo! Chegando do outro lado, saiu de cima da batinazinha até ali em forma
de barquinho, pegou-a e sacudiu: Estava sequinha! As aguas nem sequer molhou
ela e nem afundou com o peso dele em cima! Vestiu-a e saiu feliz da vida indo
abraçar a mamãe que ficara só em casa! A mãe tomou um susto vendo-o chegar naquelas
horas e sozinho, perguntou: Cadê seu pai e os meninos? Ele disse: Ficaram lá na
ilha! Como foi que você veio meu filho? Sozinho, respondeu! Do que viestes?
Antes de responder, chegaram o pai e seus irmãos, todos assombrados, com o que
Tonho fizera! Acreditaram, porque estavam vendo ele ao lado da mãe! Todos sem
graça, sem poder articular uma palavra sequer! Tonho estava ali, vivo e são
para quem duvidasse! Sentadinho no colo da mamãe, nem importava com nada ao seu
redor! Passado o susto, contaram para a mãe como tudo aconteceu. Ela ouviu toda
a história calada. Depois disse ao marido: Eu sei quem Tonho é! Desde pequenino
ele é um ente Divino! Parece um anjo do céu! Ele nunca fez nada que me desagradasse!
E muito obediente! Isto que aconteceu foi o primeiro milagre dele! Terá muitos
pela frente, não sei se alcançarei vê-los!
CONTOS
POPULARES QUE OS POVOS CONTAM EM LOUVOR AO SANTO CASAMENTEIRO!
SANTO
ANTÔNIO DE PÁDUA.
REPRODUÇÃO
DE LUIZÃO-O-CHAVES ANASTÁCIO
MS 16/12/2013
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