segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A VERDADEIRA HISTÓRIA DE SANTO ANTÔNIO



Conta-se que a muitos anos passados um casal de camponeses pescadores que moravam num lugar a beira mar, num país distante e que tinham três filhos José de dez anos, Felipe de oito e Antônio de sete anos de idade. Dos três meninos, o Antônio era aquela criança desde o nascimento muito miúdo, frágil e de saúde precária, coisas hereditárias. A esposa D. Jacira era também muito fraquinha de saúde, mas dava para ir vivendo, boa dona de casa ordeira e prestativa, Julião o esposo era pescador do mar, viviam da pesca e tocavam um pedacinho de terra onde plantava de tudo para ajudar. Ela era muito devota de Nossa senhora, ele era diferente de tudo, gostava de tomar suas cachaças como é quase natural de todo pescador, não ficava sem o seu gole ás tardes ou quando chegava da pescaria, principalmente quando vendia seu pescado, ai então aproveitava mais. Como a água do mar é salgada, eles se valiam de água doce e potável de uma vertente que jorrava água doce de entre meio umas pedras na cabeceira da roça em um morro pequeno encrustado em uma pequena cordilheira de serras quase a beira mar. Buscavam a água de lá da fonte conforme diziam em sua linguagem camponesa, era trazida a água em vasilhas como corotes cabaças e tinas. Diuturnamente que buscavam água eram os garotos, pela manhã e a tarde, para ser usada durante o dia e para a mamãe tomar banho a tardezinha ou quando precisasse! Julião estando de folga ajudava os garotos na tarefa. Jacira ia lavar roupas lá na fonte na companhia dos filhos quando era o dia da semana escolhido para isso. No mais tudo transcorria dentro da normalidade, em paz salvo um dia ou outro quando Julião bebia uns goles e ficava conversando mole, e só asneiras, de noitinha deitado na esteira ou em cima de um banco, o que é natural de todos aqueles que abusam do uso do álcool. Aquilo aborrecia muito a Jacira, pois dava um mau exemplo para os três filhos já grandinhos, Quando ele sarava ela chegava e pedia-lhe explicações daquele comportamento feio ante as crianças. Ele sem graça, ficava era bravo com ela. Já vem você! Enchendo o “saco de novo”? É o que dizia! Não te falta nada! Deixe-me com minhas pingas! Nada mais tendo a fazer, ficava calada. E o que ela podia fazer? Era rezar pedindo ajuda para Nossa Senhora. Ele de lá ficava caçoando dela, e ainda dizia: Mulher tola fica conversando sozinha! Os dois meninos maiores davam risadas, só o Antônio ficava quietinho junto da mamãe em oração! Ele era desde pequeno temente a Deus! Suas roupinhas eram igual batina de padre, gostava de trajar assim, já os outros não se importavam com nada, qualquer roupa estava boa! O pai então nem se fala, de qualquer jeito se vestia, inda mais se estivesse meio bêbado, ficava sem camisa ou todo desarrumado, até com a braguilha aberta.! Só a mamãe e o “Toninho”, como era seu apelido, é que eram mais distintos e respeitosos, por isso os outros o chamavam de “puxa saco” da mãe! Ele ficava caladinho ante as ofensas dos irmãos mais velhos. Quando iam buscar água na fonte, aí os outros debochavam dele e até judiavam do pobre pequenino, diziam que ali havia onças e que ela comeria o Tonho, porque eles corriam e o deixava só e lá atrás. O pobre e magricelo passava um medo de dará medo! Além disso tudo quando enchiam as vasilhas de água, davam uma mais pesada para o pequeno levar. Ele aceitava por não ter como se livrar dos maiores, sob o risco de apanhar deles, chegava em casa bem mais atrasado do que os dois, a mãe perguntava aos outros: Cadê Tonho? Vocês judiaram dele? Não fizemos nada! Diziam os caras de pau! Ás vezes o pobrezinho chegava chorando de medo e de trazer aquela cabaça d’água mais pesada! A mãe falava, mas os dois safados ficavam rindo dele, e o pai ainda dizia: Tonho tem que ser mais homem! Tem que ser igual os outros, tá muito mole! Fica só na barra da saia da mãe! Assim era a vida deles! Uma ocasião, já na antevéspera de Sexta Feira da semana santa, o Julião chamou a família a boca da noite e disse: Amanhã todos vão jejuar! Todos! É um dia muito especial da igreja católica! Eu tomo minhas cachaças, mas também respeito! Ele dissera isto porque nos anos anteriores todos faziam o sacrifício, menos o Tonho, sua mãe dizia: Deixem ele quietinho em paz, é tão fraquinho, miúdo é muito franzino! Jejuar ele não precisa, não é pecador como nós! E com isso ele não jejuava mesmo, para os outros e o pai aquilo era um insulto! Diziam: Ele não é melhor que a gente! Vai jejuar sim! A mãe dava um jeito e ele escapava! Mas naquele ano, a coisa ficou diferente, ou Tonho jejuava ou levaria uma surra do pai, no sábado de aleluia! A mãe pediu tanto que o velho pai ficou quieto. Arquitetou um plano. De cá do continente avistava uma ilha, a mais de um quilômetro de distancia, era um lugar aprazível, gostoso de ficarem, muitas sombras, fresquinho mesmo além de ter muitas árvores e pés de toda espécie de frutas nativas, outras plantadas. Enfim, era de ficar boquiabertos de tanta fartura de frutas! Nesta época do ano então, nem se fala! Julião caladinho, esperando o amanhecer de sexta feira, foi lá na beira do mar, ajeitou a canoa e um remo deixou tudo limpinho, observou o mar, estava de águas tranquilas, bom para irem até na ilha com os meninos apanharem frutas e trazê-las para casa, mas não avisou nenhum deles que passaria o dia por lá para fazer o Tonho jejuar de qualquer jeito! Queria ver se não jejuaria! De plano feito, acordou os filhos cedinho e disse: Vamos todos na ilha apanhar frutas, garotada? Parece que elas estão cheirando até aqui! Arrume uns sacos ou sacolas e vamos para lá! Vamos Jacira? Convidou ele a esposa! Não Julião, eu não vou! Respondeu ela! Vamos Tonho, também? Traremos mais ainda, se você for! Tonho a principio ficou assim meio desconfiado, mas resolveu ir, antes perguntou a sua mãe, se podia ir, Ela disse: Você é que sabe! Ele foi todo contente, entraram no barco alegres, com os meninos e zarparam, o papai remava a vontade, pois as aguas estavam mansas, o mar calmo e sem demora chegaram. O Julião arrastou o barco para a areia. Deixou-o fora d’agua com o remo dentro. Entraram para o mato e logo foram colhendo as frutas, Que maravilha, de toda espécie, encheram as sacolas os sacos e sentaram na sombra porque o sol já ia alto, para descansarem um pouco enquanto aguardava o momento de sair, isso é o que pensava o Tonho! Coitado dele a hora que convidou o pai e os irmãos para virem embora! Caíram na risada, dizendo: Embora? Só á tarde, meu amigo! Ninguém vai embora agora não! Viemos para cá apanhar frutas é verdade, mas para jejuarmos também! Quero ver se você não jejua hoje? Agora quero ver, sua puxa- saco a nossa mãe não está aqui para defender você! Deram muitas risadas do Tonho, ele tristinho ficou! Derramou lágrimas enquanto debochavam dele! Estavam todos contra ele sozinho, o que fazer agora? Olhou para a direção da casa lá no continente com os olhinhos cheios d’agua! Passou a mãozinha no rosto secando o choro, levantou-se e dirigindo para o mar pertinho do barco, parou e pensou: Como ir para casa agora e sozinho, sem ter forças para remar? Como jogar o barco pesado na agua? Os outros e o pai dando gargalhadas, ele só olhou para trás e tirou sua batinazinha, ficando só de calçãozinho, estendeu-a sobre a superfície das aguas, a roupa ficou na forma de um barquinho, flutuando sobre a mesma. Ele mais que ligeiro pulou dentro dele, com o auxilio das duas mãozinhas fazendo delas dois remos, um de cada lado, zarpou sobre as tranquilas aguas do mar na direção de casa. Quase que enlouqueceram quando viram o Tonho fazer aquilo! Tonho! Volte aqui menino? Você ficou doido? Você vai morrer? Santo Deus, Tonho ficou maluco? Nossa senhora e agora? Aprontaram um berreiro de gritos, mas Tonho nem para trás olhava, sulcava s águas com sabedoria do que estava fazendo! Chegando do outro lado, saiu de cima da batinazinha até ali em forma de barquinho, pegou-a e sacudiu: Estava sequinha! As aguas nem sequer molhou ela e nem afundou com o peso dele em cima! Vestiu-a e saiu feliz da vida indo abraçar a mamãe que ficara só em casa! A mãe tomou um susto vendo-o chegar naquelas horas e sozinho, perguntou: Cadê seu pai e os meninos? Ele disse: Ficaram lá na ilha! Como foi que você veio meu filho? Sozinho, respondeu! Do que viestes? Antes de responder, chegaram o pai e seus irmãos, todos assombrados, com o que Tonho fizera! Acreditaram, porque estavam vendo ele ao lado da mãe! Todos sem graça, sem poder articular uma palavra sequer! Tonho estava ali, vivo e são para quem duvidasse! Sentadinho no colo da mamãe, nem importava com nada ao seu redor! Passado o susto, contaram para a mãe como tudo aconteceu. Ela ouviu toda a história calada. Depois disse ao marido: Eu sei quem Tonho é! Desde pequenino ele é um ente Divino! Parece um anjo do céu! Ele nunca fez nada que me desagradasse! E muito obediente! Isto que aconteceu foi o primeiro milagre dele! Terá muitos pela frente, não sei se alcançarei vê-los!

CONTOS POPULARES QUE OS POVOS CONTAM EM LOUVOR AO SANTO CASAMENTEIRO!
SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA.

REPRODUÇÃO DE LUIZÃO-O-CHAVES       ANASTÁCIO MS     16/12/2013   

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