O leão estava caçando numa vazante que era serpenteada por uma
campina onde havia muitas árvores frutíferas e uma belíssima relva nos lugares
mais úmidos daquele lugar onde quase todas as caças passavam em busca do que
comer, principalmente os predadores. De um lado havia vegetação assim como se
fora um cerrado ralo, e do outro parecia mais espessa, dando para esconder quem
quisesse ou que pudesse em caso de um perigo iminente. O leão margeava a
vazante do lado esquerdo desde a cabeceira onde o mato era mais fechado, na
esperança de encontrar uma caça, naquela manhã primaveril, pois trazia fome, lá
do outro lado estava um urso, mesmo fora do seu habitat de origem também
sondava alguma presa que pudesse saciar sua fome. Andaram mais pouco e de longe
avistaram um cabrito que pastava tranquilamente a relva fresquinha, descuidado
de tudo. Leão e urso viram o caprino ao mesmo tempo, como é o sistema dos
felinos, o leão lambeu os beiços de satisfação, fixou o olhar com aqueles olhos
miúdos no “bito” para no mínimo encandeá-lo apesar da distancia, só que o vento
abanava do urso para o cabrito, este ainda não tinha sentido o perigo por
estarem desalinhados em suas posições que de acordo o urso aproximasse sentiria
sem dúvidas quando ambos estivessem paralelos, então o cabrito seria alertado
pelo cheiro do urso, e prevenia a sua defesa. O leão estava numa posição de
privilégio por estar recebendo o cheiro do cabrito, claro que não teria que preocupar
com ele. Além de ser mais ágil que o urso, estava plenamente em vantagem de pegar
a caça com mais facilidade, o urso avançando mais, e tentando bloquear ou
atalhar a saída do cabrito em caso deste correr na direção do mato, justamente
onde se encontrava. Avançou mais e o cabrito percebeu sua presença e correu em
sentido contrário. Logrando o urso. Ainda mais sendo o bicho muito pesado para
sair em perseguição dele. Correu em direção ao mato, mas deu de cara, de encontro
com o leão que estava no lado oposto ao do urso e que já espreitava o cabrito
ha alguns minutos, pobre caprino, não teve tempo de nada, pois não sentira o
leão, na cruzada o leão estando prevenido já esperando aquela situação
acontecer, deu um salto e pegou o cabrito, saiu feliz com o petisco na boca.
Ah! meu amigo! O urso vendo aquilo achou muito desaforo, virou uma fera pra
cima do leão que nem se importara com o adversário ocasional. Ia almoçar numa
boa, o urso chega e a coisa ficou diferente, vindo com tudo: Mestre leão: disse
o urso! Esta caça é minha? Favor me devolver! Estava próxima a mim mais do que
a você? Portanto o direito de posse dela é meu? Nada disso, responde o leão!
Ela estava de fato perto de você! Mas correu de ti vindo para o meu lado, eu a
peguei, portanto me pertence. Se fosse para o seu lado e tu a pegasse, seria tua!
Armaram um bate boca sem fim, cada um expondo suas razões, o que ninguém
aceitava o argumento do outro! Por fim o urso propôs um acordo: Vamos nos
debater, uma luta peito a peito, na raça e o que derrotar o outro comerá o
cabrito sozinho! Está feito retrucou o leão, vamos pra poeira logo!
Primeiramente deixaram o cabrito bem na beiradinha do mato ao lado de uma moita
bem verdinha na sua sombra, enquanto se debatiam no duelo, que seriam dois titãs,
o urso tem um tamanho descomunal, peso e força, mas muito lento. Do outro lado
o leão, o rei dos felinos com uma pose de rei mesmo, ágil, atento de muita
força e ligeiro. Então saíram nos sopapos, ali valia de tudo, e de todo jeito
os golpes que davam um no outro. Ninguém levava vantagem, ambos estavam tudo
lanhado pelas garras de um e de outro, a pelagem toda suja de sangue e, nada
definido ainda, pararam para tomar um fôlego, mortos de cansaço, mas nenhum
queria dar o braço a torcer ao outro, pedindo paz, e dividindo a caça em partes
iguais. Por fim o urso disse: Nossas forças são iguais, mestre leão, não haverá
vencedor, o que você acha? Vamos dividir o bicho ao meio? Vamos! É melhor do
que ficarmos aqui numa luta estúpida, sem necessidade, se matando como se
fossemos dois bobalhões! Respondeu o leão!
Vamos descansar um pouco e faremos assim, almoçaremos juntos sem brigas,
sem rusgas ou contendas. Mas acontece que um lobo que descera da campina em
companhia da loba, sua esposa já nos dias de dar filhotes e que naquela manhã
só haviam achado um pomba para o almoço dos dois, ouvindo de longe aquele
quebra-pau entre os dois grandalhões aproximou devagarinho e vendo o cabrito morto
e estirado no chão atrás da moita, não perdeu tempo, pensou assim: enquanto
vocês duelam, me dê licença, por que vou almoçar em paz com a minha esposa,
pegando o cabrito sumiu dali, feliz da vida por ter como agradar a esposa
naquela situação. Bem longe dali fizeram a festa. Agora que os dois
encrenqueiros resolveram fazer as pazes, foram ver onde tinham deixado o
churrasco, estava o lugar mais limpo do mundo. Um fitou o outro muito
desapontado, e concluíram: Fomos logrados e agora? Quem será que aprontou
conosco? Disse o urso! Agora nada interessa, responde o leão! Só fomos traídos
por um esperto e pronto! Também pudera! O que tínhamos na cabeça quando fomos
arruaçar um com o outro, tendo o almoço garantido? Que palhaçada a nossa!
Poderíamos estar livre dessa! A nós só resta guardar esta lição. ”Quando a
cabeça não pensa direito, é o corpo que padece”! O mundo ensina quem não sabe
viver! Quem sabe, de outra vez agiremos de forma diferente. O urso deitou-se
atrás da moita caladinho, muito sem graça, por certo; filosofando também lá com
os seus botões. O leão muito triste com o fato, filosofou ainda alguns minutos mais, depois do caso
passado, arrematou o assunto dizendo em voz alta para o urso ouvir! É esse, o
resultado de quem só pensa em si!
MORAL DA FÁBULA: A GANANCIA É A RUÍNA DE QUEM NUNCA PENSA NO
PRÓXIMO.
REPRODUÇÃO DESTA FÁBULA: LUIZÃO-O-CHAVES. 08/12/2013...........ANASTÁCIO MS.
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