Quase todas as histórias
que o povo conta uns para os outros, passando conhecimentos, cultura ou até
mesmo para passarem o tempo em rodas de amigos ou familiares quando se reúnem,
nas portas de botecos, onde se aglomeram gente, que sempre tem um contador
desta arte sertaneja, o citadino quase não sabe de nada a esse respeito, menos
ainda de outras culturas a não ser o que estuda e aprende, a cultura sertanista
é muito antiga, data de desde quando o homem pisou na terra, recebendo o dom da
fala, aprendeu a conversar, ver os acontecimentos no dia a dia consigo e com os
outros, sai para viajar ou trabalhar e
vê muitos casos e coisas acontecidas e volta contando para os que não sabem. Isto acaba se
tornando em "Causos" que passam de geração em geração. Nos dias
atuais quase ninguém sabe destas coisas tão simples mas divertidas até. Os
nossos antepassados sabiam muito a esse respeito, nós já sabemos muito pouco. A
evolução dos povos as tecnologias de uns tempos para cá tomou o lugar desta
arte. Rádios, televisão, videogame, celulares, filmes, internet e outras
diversões tomam o tempo das pessoas, ninguém mais, até pais e esposo não dá-se
ao luxo de ao menos conversar com os filhos e esposa em famílias. É cada um
para um lado e solitário, rindo sozinho das coisas que veem nos seus
divertimentos a sós. Veem muito, falam pouco, escutam menos ainda e por fim quase
não aprende a conviver com o seu próximo. O elemento humano está muito
desvalorizado, quase ninguém liga para os outros. Ficam tapados até certo
ponto. Não sabem nem conversar, quando vê um desembaraçado, ficam de queixo
caído admirando como é que aprendeu tanta coisa assim. kkkkkkkkkkk. Não é que o
outro aprendeu tanto, é ele que ficou para traz. Quando contamos algum fato as
pessoas que nos rodeiam ficam boquiabertas e até duvidando daquilo que falamos,
pensam que somos inventores daquele assunto, pensam que somos mentirosos, mas
não somos não! Vivenciamos uma geração maravilhosa, os nossos antepassados eram
pessoas boas, verdadeiras, educadas, respeitosas, sem malícias, ou
preconceitos, sem subestima a outrem, de caráter, de moral elevada, de consideração
ao próximo, de famílias unidas, famílias exemplares, sem divisões, enfim de
condutas irrefutáveis, um modelo para os dias atuais. As pessoas más nunca
deixaram de existir, em toda a história elas sempre marcaram presenças. São
como ervas daninhas no campo, é o mundo do trigo e do joio! Ninguém pode
duvidar, nem achar que tudo é ruim ou bom demais. Tá tudo misturado! Cultive o
que você quiser, a terra dá de tudo, produz o que lançar nela. Só que ela requer
tudo de volta, requer um troco de tudo que oferece aos humanos e a toda criação
que dela depende para sobreviver. Dela saímos e para ela retornaremos sem
dúvida! Não importe quanto tempo demorar, ela tem paciência e espera! Certa
ocasião fomos surpreendido por um caso raro mas verdadeiro, tivemos que dar um
"Couro" num defunto no caixão antes de sepultá-lo. Curioso não? Sim!
Não sabemos a origem desta prática, mas ela é muito antiga, é dos tempos dos
"Corpos Secos", nem sabemos também como foi descoberto, visto os tais
corpos. Quanto ao defunto que apanhou, nós não sabíamos que aquele fulano antes
de morrer há muitos anos dissera que não queria ser enterrado naquela região.
Ele era de outras terras onde nascera e fora criado, queria que o levassem para
lá quando morresse. A gente não adivinha o que os outros pensam e querem. Foi
uma luta para carregar o caixão dele, tempos antigos que os defuntos eram
levados ao cemitério em redes, banguês, atravessados no lombo de animais,
carretas, carros de boi, carroças, pois os cemitérios eram muito longe um do outro
nos sertões, não eram tão movimentados como são hoje em dia. Morriam pouco as
pessoas, assim mesmo eram de velhice. Hoje morre gente de todos os jeitos e
toda hora. De onde o defunto residia até ao cemitério dava uns dois
quilômetros. Teríamos que levá-lo a punhos pela alça do caixão. Uma turma
revezava com a outra, eram bastante gente, na sua maioria homens fortes, quatro
largava da alça do caixão e quatro pegava. O homem era franzino, pesava decerto
uns cinquenta quilos no máximo, parece que só os ossinhos que lhe dava o peso,
magrinho e ainda velhinho. Saímos com o cortejo fúnebre, tudo bem na saída,
andamos um pouco e o caixão começou a pesar como se fosse chumbo que tinha dentro. Assustamos com aquele peso
sem explicações nenhuma. Todos nós, um olhando para os outros, desconfiados e
sem querer ser o primeiro a dar o alarme, cansamos, pusemos o caixão no chão e
sentamos para recobrar as forças. Pusemos a pensar. Sempre fomos bons amigos quando
ele era vivo. Deixe de história "Seu defunto"! Você não engoliu
chumbo para pesar tanto assim? Nós somos fortes, e não estamos aguentando
carregá-lo? Sentados na beira do caminho, ficamos tentando ver ou adivinhar o
que causava aquele desconforto nos companheiros. levantamos várias hipóteses:
Dizem uns que se o "Seu defunto" fora mau enquanto viveu, matando seu
próximo e este ao saber de sua morte veio e sentou em cima de seu caixão, ao
invés de carregarmos um, vamos levar um monte? Outros dizem que ninguém sabia
se ele queria ser enterrado naquele cemitério porque haviam sepultado um seu
inimigo ali, e não queria ser vizinhos de sepultura. ou queria ser levado para
outra localidade, outro cemitério! Ou ao lado de seus entes queridos que foram
antes dele para ficarem juntos. Num abrigo familiar como se fazem nos dias de
hoje. Jazigo de família! Ninguém sabia o que seria a solução mais correta.
Sempre tem nos velórios alguns que aproveitam passar a noite velando o amigo e
tomando uns goles de cachaça. Amanhecem "Cabeçudos," tontos de
sono e da pinga, logo um deles deu uma
opinião: O negócio é que este defunto não quer ir mesmo, mas ele irá nem que
seja na "Marra." Ele não tem querer! Ora se não vai! Estamos aqui para sepultá-lo, ele não manda na
nossa vontade, terá que ir sim! Logo na derradeira viagem querendo por "Gosto
ruim" na sopa? Essa não! Ou se algum de nós te ofendeu e nem percebeu, perdoa nós todos e
vamos ficar de bem "Seu defunto", ódio, rixas, intrigas ou
malquerenças, não levam á nada dissera um dos acompanhantes! Vamos tentar mais
uma vez pessoal, se ele teimar conosco dar-lhe-emos um "Couro".
Defunto não escuta, mas este fica bem avisado. Peguem ai pessoal, agora ele
vai! Andamos uns trinta metros que pareciam trezentos, fazendo uma força de
leão, suor corriam as bagas de nossos rostos, camisas pregadas no corpo de
tanto que suamos, nossas pernas
amoleceram, resfolegando o companheiro ordenou: Parem! Esperem aí que ele já
vai! Vamos dar um "Cacete" nele. Entrou no mato na beira da estrada
quebrou uns galhos de qualquer arbusto com bastante folhas e bem verdinhas,
quanto mais verdinhas melhor, os trouxe e começamos a bater no caixão com o
fulano lá dentro. Foi um sobe e desce de cipoadas que até parecia estarmos
batendo arroz numa banca lá na roça. kkkkkkkkkkkkkk! Jogamos foras os talos, porque as folhas
saíram todas, pegamos nas alças do caixão de novo e ai ele foi! Não deu mais
trabalho até o fim do trecho, até sobrou terra quando sepultamos e alisamos o
seu túmulo com a pá, ele não era miserável, disse um dos acompanhantes.
Deixamos alguns buquês de flores e velas acesas para ele e: Adeus amigo! Viemos
embora contando aquela história feia. Nunca esquecemos disto! 1962.
CONTO PARA O BLOGGER
"COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES"
ANASTÁCIO MS 24/10/2016
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