Era uma vez um casal que
moravam num pequeno sítio onde trabalhavam na roça. Não tinham filhos, não
tinham dinheiro, nem casa bonita, não tinham bens mas viviam uma vida tão feliz
que todos os amigos, conhecidos e vizinhos admiravam a harmonia que reinava
entre os dois, afeto, carinhos, respeito, consideração, eram oriundos de famílias
pobres, distintas mas muito honradas. Apesar de existirem muito poucos casais
que vivem sem broncas e desacertos entre si, em especial na questão de
afinidades, gênios, naturezas bondosas, sem rispidez de um para o outro,
lealdade, sinceridade, pareciam terem nascidos um para o outro mesmo. Como
sabem é muito difícil pessoas assim não serem invejadas por terceiros que em
muitos casos são casais que tem este sentimento mau de outrem. Aquela
influência maligna em muito destrói a vida de muita gente que não merece. Até
Deus foi invejado por outra força quando por ocasião da criação do paraíso, do
mundo e de todos nós como obra prima de sua bondade. A inveja mora na terra. Imaginem
nós que estamos de frente com ela, lutamos aqui contra tudo o que é mau e somos
tão frágeis! Este casal pareciam duas aves quando pousam no galho de uma
arvore, um fazendo caricias no outro, exemplo: Pombinhos, araras, periquitos
etc. Como esta coisa terrível chamada inveja é mesmo um atraso de vida para
quem a possui e para o outro lado que é invejado também. Os maus fluídos
irradiados por mentes venenosas e transmitidos por olhares como setas
inflamadas de tais pessoas atingem mesmo o alvo, inda mais se este estiver a
descoberto, sem a proteção Divina, vamos
citar um exemplo: Há mulheres que tem um cabelo bonito, bem cuidado, lindo de
se ver, de repente começa a cair sem explicação nenhuma, em muitos casos é
alguém de olhar ruim que lançou olhares invejosos que o povo costuma chamar de
"Quebrante" por que quebra a beleza de alguma coisa, crianças
bonitas, jovens e adultos elegantes, bem quistos, desembaraçados, bem
posicionados na vida, progressistas, bem sucedidos no que fazem e vivem,
pessoas exemplares de conduta impecáveis, plantações, animais de estimação, hortaliças
etc. Voltando ao casal de personagens deste conto, um dia a esposa amanheceu
esquisita, calada com propensão ao desleixo de si própria e da casa. O esposo
percebeu a mudança repentina mas ficou quieto por enquanto, deve ser qualquer
coisa insignificante que a perturbou, mas que logo passará, pensou! Mas não passou,
foi ficando triste, acabrunhada, desalentada, quase não falava com o esposo
mais, este começou a ficar preocupado e indagou-a: Meu amor o que há com você?
Há dias que noto sua indiferença com tudo ao seu redor, até comigo. O que lhe
fiz que a magoou tanto assim: Nada! Respondeu ela! Ninguém me maltratou! Sinto
vontade só de chorar, agora não sei porque! Ele foi para o trabalho ela ficou
em casa naquela profunda tristeza. No outro dia ele precisou fazer uma
viagenzinha curta, que logo mais á noite estaria de volta. Na chegada de sua
casa ao retornar da viagem viu um gatinho preto na beira do caminho, estava
magrinho de dar dó, pegou-o no colo e levou-o para casa, este roncava feliz nos
teus braços como agradecendo-o por tê-lo dado guarida. O homem pensou:
Coitadinho, alguém deve ter extraviado você, vamos para minha casa, lá terá de
tudo e será bem cuidado por minha esposa. Logo a esposa ficou melhor, mas muito
irritada, não tinha mais paciência com seu marido. Desandou a brigar com ele,
nada estava bom para ela, fazia de tudo para tirar a paciência dele também.
Aquele lar que parecia um pedacinho do céu, virou uma coisa, um desarranjo
entre ambos, acabou-se a paz que reinava entre eles dois. Era só brigas,
contendas, desaforos de todos os lados. Nem na hora das refeições paravam de
brigar. Um dia destes ela serviu o almoço, já na mesa quando ele foi tomar a
refeição apareceu no feijão uma barata morta e cozida. Nossa, que nojo! Ele perdeu
a paciência, quis esfregar a barata na cara dela para ter mais atenção quando
fizesse o almoço. Foi aquele pampeiro. Ninguém almoçou! Ele disse: Dê a barata
de comida para o meu gatinho, quem sabe ele comerá! Gato come baratas mesmo!
Saiu sem almoçar. Ela foi ver o gatinho para cuidar dele, este correu dela,
ficou lá longe miando. Relutou muito com o gato, mas este não quis saber de
nada, não lhe atendia mesmo. A pobre mulher ficou sem saber o que fazer,
deixou-o para lá, ele ficou sentado lá no fim do terreiro, se lambendo todo.
Parecia que nem sentia fome, olhando-o bem viu que ele não tinha nada de
magreza, estava de pelos lisinhos e roliço, gordinho até! Ficou imaginando o
que seria aquilo! Foi só o marido chegar no meio da tarde lá vem o gato miando
como se tivesse reclamando da vida para ele. Nesta altura o gatinho estava só
pele e ossinhos, magrinho de dar dó. O marido já bronqueou com ela vendo-o
naquela situação de fome. Enquanto os dois batiam boca por causa do gato este
roçava nas pernas dele e fazia "rom rom". Ela percebeu o que tinha
suspeitado. O gato era o pé de encrenca deles. Pensou consigo: Os gestos deste bicho não me cheiram nada
bem! Gato esquisito? Ora tá magro, ora tá gordo? Calou a boca e pensou: Santa
mãe do céus! O que faço agora? Deu-lhe de comer na frente do marido este comia
grandes bocados de vez como se estivesse morrendo de fome. Naquela tarde ele
precisou fazer uma viagem longa. Só voltaria no dia seguinte lá pelas cinco
horas da tarde. Ela arrumou suas coisas numa sacola e ele viajou á pé. Quando
anoiteceu estava longe de casa e teve que pernoitar ao lado da estrada mesmo,
era longe de qualquer lugar ou habitação que pudesse lhe servir de abrigo, o
tempo estava bom, céu limpo com algumas nuvens de sombras, por sinal havia uma
figueira vermelha e muito grande, frondosa na beira da estrada, ele subiu nela
e se empoleirou num dos galhos bem no alto, armou a rede e ficou sentado nela
com os pés apoiados noutro galho, tomou sua matula, bebeu água de uma cabacinha
que trazia na cintura e ficou imaginando como andavam as coisas lá em casa.
Estavam mal, mas nunca tinha acontecido isto em suas vidas, porque agora? A
noite se foi adentrando olhou no relógio dez, onze horas e logo daria a meia
noite, um silêncio de dar medo, nem as aves noturnas piavam naquela noite
sinistra. Ar parado, nem brisas, nenhuma folha se agitava, os insetos da noite,
grilos e gafanhotos e outros, todos em silêncio. A noite não era como as
demais, parecia adivinhar que algo
estranho iria acontecer. De repente ouviu um barulho de pisadas e murmúrio de
pessoas que se aproximava da sombra da figueira, olhou mas não viu ninguém, o
luar era apagado mal se via a lua entre as nuvens, com uma luz cálida, acanhada, embaixo da figueira era mais
escuro, de repente apareceu a figura de um homem peludo parecido com macaco e deste
tamanho, de rabo e com chifres, com uma tocha de luz amarela nas mãos,
colocou-a no chão e esperou alguns instantes e logo foi chegando mais elementos
da mesma extirpe, mesma qualidade e espectro, parecia visões de outro mundo.
Ajuntou ali uns quantos e começaram como se fossem membros de um conselho em uma
reunião onde discutem suas ideias, razões
e feitos. O grandalhão era o chefe, inquiria dos demais os serviços prestados
até ali. Disse a um: O que fizeste companheiro? Respondeu-lhe o interpelado:
Fui num boteco e fiz uma bagunça danada, fiz um fulano encher o
"Tampo" de cachaça e dar um tapa na cara de outro e este o matou! O
sangue dele estava quentinho e gostoso, tomei porre, estava sedento por sangue
e me fartei. Beleza, disse o chefão! Assim é que se faz. Continue viu? E você o
que fez? Pergunta ao outro: Fiz um casal separar, o homem pensou que a mulher
lhe traía e o fiz matá-la e ao outro o traidor também. Dois mortos e ele tá na
cadeia. kkkkkkkkkkkkk. Ótimo
companheiro, isto mesmo! Vamos acabar com a raça humana aos poucos! Vamos
promover o que pudermos de brigas, contendas, guerras, encrencas por causa de
dinheiro, terras, gado, coisas insignificantes, fofocas também, os homens tem
que brigarem, vamos tirar-lhes a paz nem que seja por um palito de fósforos.
kkkkkkkkkkkkk. Indo ao terceiro: E você o que faz? Este disse: Moro numa casa e
nela me transformo num gatinho preto, o homem me achou na estrada e levou-me
para sua casa, nem sabe o que sou. É daqueles sujeitos tolos, que tudo o que
acha já vai pegando e levando. Se ele soubesse do que sou capaz de fazer! Mas
por enquanto faço-o brigar com a esposa todos os dias. Ele me ama mais do que a
ela, e nisto eu fico a vontade. Fico gordinho quando ele não está em casa e
quando ele chega eu fico magrinho. kkkkkkkkkkk. Ele disse que vai meter a
cabeça dela num tacho de água fervente, caso não me cuide bem. Ele viajou e
logo volta, assim que chegar vou por o "Pau para quebrar". Ela chora
e ele está cada vez mais furioso! Tá no papo aqueles dois, vou atentar mesmo
sem dó. Manda ver, responde o chefe. O homem lá na rede morrendo de medo que
nem suspirava. Até tremia ouvindo aquilo tudo! De repente ouviram o canto de um
galo, longe dali, o chefe apurou os ouvidos e disse: É um galo índio, o canto é
curto, depois ouviram outro mais distante ainda: Este é um garnisé. Quando
ouviram o terceiro galo que era um galo músico, batia a meia noite em ponto.
Esta qualidade de galos não mentem. Informam a hora exata. Saíram todos na
carreira, cada um por um lado. Os demais da cúpula ficaram sem dar explicações
ao chefe pelo tempo ter-se esgotado. Fugiram todos! Escureceu tudo a volta e
silenciou novamente. O homem sentiu um calor no corpo, estava tão gelado e
adormecido pois parecia que tinha saído de uma geladeira, aquele grupo, aquela
falange de espectros desconhecidos e terríveis irradiou um influencia negativa
que o atingiu, respirou aliviado e recobrou as forças que lhe tinham sumido.
Imaginou consigo: Nunca imaginei ver um negocio deste! Passou o resto da noite
em claro, sentado na rede, arrepiava até quando se lembrava daquelas conversas
e daqueles bichos horrendos. Nem retomou
a viagem, voltou dali mesmo para a sua casa no clarear do novo dia. Chegou
antes da hora prevista e combinada com a esposa. Esta o recebeu feliz da vida
como sempre o fizera. Ele chegou assim meio acanhado e preocupado com o que
vira na noite passada lá embaixo da figueira. Nada disse á esposa a respeito do
que viu e ouviu. O gato lá estava magrinho como sempre. Ele deu uma bronca na
esposa por causa do bicho. Mas foi uma
bronca de mentirinha, falsa para enganar o gato a quem ele já ficou sabendo
quem era. Contra esperto? Tem que ser esperto e meio! Pensava consigo: Este gato
me paga! Custará caro sua ousadia! A esposa só derramava lágrimas sem ter como
se defender. O marido disse-lhe: Faça um fogo na trempe e coloque o tacho maior
com água para ferver. Que seja logo! Não quero demora! Hoje você me paga! A
pobre mulher desmaiou até de tanto terror, sabia que morreria mesmo. Ele acudiu
ela mas fê-la acender o fogareiro. Ela fez tudo em prantos, chorava como
criança, ele estava quieto sentado num pilão com o gato no colo acariciando-o.
O gatinho estava todo cheio de razões, roncava de satisfação por ser tão
querido dele. A água ferveu, estava pulando as borbulhas e o homem foi lá e
meteu a pontinha do dedo e viu que estava no ponto mesmo, quase chorou de dor
na queimadura do seu dedo na água fervente. Foi na dispensa e trouxe uma lata
de soda caustica e despejou no tacho. Ficou de modo que o que caísse dentro,
dissolveria em questão de minutos. A mulher via aquilo tudo horrorizada. Como
estava com o gato nas mãos, alisou-o, acariciou-o, fez mímicas com o bicho de
todo os jeitos, este nem sabia o que ia acontecer. Aproximando do tacho gritou
para a mulher: Venha cá, sua vagabunda! Vou lhe mostrar do que sou capaz! Não
quiseste cuidar bem do meu gatinho? Vais ver agora o que é bom? Ela vinha
chorando e quando chegou perto do marido este ao invés de pegá-la pelos
cabelos, arremessou o gato dentro do tacho com toda força que tinha. Quando o
gato caiu lá dentro deu um estouro como se fosse uma bomba, na explosão dentro
do tacho fervente esparramou água quente para tudo o que foi lado! Ficou uma
catinga, um fedor de enxofre que ninguém suportava! Sumiu o gato! A mulher
levou um susto daquele estrondo e ficou sem entender porque ele fizera isto já
que gostava tanto do animalzinho. O marido sentou e com calma lhe contou toda a
história que vira na noite anterior. Ali estava patente um espírito mau, um dos
mais imundos, o da inveja, destruidor de lares e da felicidade alheia
representado e na forma de um simples gato. Nunca mais brigaram por nada desta
vida! A paz voltou a reinar em seu lar! Viveram felizes até o fim.
CONTOS POPULARES DA CULTURA SERTANISTA PARA O BLOGGER.
"COISAS DE CABOCLO DE
LUIZÃO-O-CHAVES" ANASTÁCIO MS 16/07/2016
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