Era uma vez
um lenhador que morava do lado de cá de um ribeirão caudaloso, piscoso e de
muita correnteza que margeava a beiradinha da mata onde ele tirava lenha para
vender e sobreviver com a sua família. Assim que o atravessava já estava no seu
serviço diário. Num certo dia ele vinha do trabalho, lá pelas, quase seis
horas, ao atravessar o riacho escorregou na pinguela que transpunha o pequeno
ribeirão e caiu na agua, a correnteza o arrastou até mais embaixo. Como vinha
com a sua ferramenta de trabalho ao ombro, o machado caiu e foi para o fundo do
riacho. Nem pode saber ao certo onde a ferramenta caíra. Nadou e saiu do lado
que dava para o caminho de sua casa. Todo molhado, sentou a beira do córrego e
pôs-se apensar como faria para ter seu machado de volta, pois era o único que
tinha. Sem achar jeito para dar buscas, começou a lamentar-se. A quem dera meu
machado de volta! Como as coisas são ingratas! Que tardezinha aziaga! E agora
como farei? Puxa vida! Já é quase noite, com certeza a correnteza durante a
noite cobrirá meu machado de areia e nunca mais o terei. Meu Deus e agora? O
pobre matuto parecia uma criança quando perde seu brinquedo. Mas ele tinha toda
razão, ficou quase em prantos, resolveu ir embora desolado, quando se levantou
ouviu um rumor nas aguas que pareciam vir para o seu lado. Espiou e tal não foi
o seu espanto? Aparecera na superfície das aguas uma figura estranha á seus
olhos, a de uma mulher dos cabelos loiros e compridos, ajeitando-os nos ombros,
uma figura linda, só a metade dela que aparecia sobre as aguas. Braços longos e
com pulseiras que eram brilhantes, anéis nos dedos das suas mãos, tudo reluzentes.
No pescoço tinha colares de brilhantes e de conchinhas, um olhar delicado e
amistoso. Ante aquela aparição que nunca vira antes, ficou sem fala só olhando
aquela coisa que saiu da agua. Ela rompeu aquele silêncio que dominava aqueles
instantes que um fitava o outro. Perguntando-lhe: O que aflige o senhor que
está tão triste e reclamando tanto? Ouvi seus lamentos e vim ver se posso te
ajudar, o que aconteceu? Ele respondeu com certo receio: É que eu vinha do
serviço e escorreguei na pinguela e o meu machado caiu n’agua e não tenho como
recuperá-lo! É a ferramenta do meu ganha-pão para a família, minha esposa e um
monte de filhos. Estou sem saber o que fazer agora e já é noite! Por isso que
estava reclamando da sorte! Ela deu uma risadinha e disse-lhe: Espere um
pouquinho que já volto! Mergulhou na água e ele pode vê-la, era a metade mulher
e a outra metade era peixe. Mas ficou quietinho, pois já ouvira falar naquela
coisa, só que antes nunca tinha visto. Dai a pouco ela saiu e com um machado
nas mãos, era de ouro por inteiro, aquilo reluzia á seus olhos de tão lindo.
Perguntou-lhe: É este o teu machado? O caboclo na sua simplicidade e
sinceridade respondeu: Não, não é esse não! Ela some nas aguas e sai de novo em
instantes com outro machado em mãos, só que este era de prata, reluzia do mesmo
modo do primeiro. Pergunta-lhe outra vez: É este? O caboclinho diz: Não, não é
esse também não! Ela deu o terceiro mergulho e de lá do fundo das aguas surge
com o seu verdadeiro machado, o de ferro com cabo de madeira. Interpela-o pela
terceira vez. É este o seu machado? Desta vez sorrindo da ingenuidade do homem.
Sim, sim é este mesmo moça! Feliz disse a ela: Dê cá este danado que agora não
o deixarei cair mais, no riacho. Ela passou-lhe a ferramenta e pediu que ele
esperasse só mais um pouquinho. Foi lá no fundo d’agua e trouxe os outros dois,
o de ouro e o de prata e lhe deu de presente como recompensa de sua ingenuidade
e sinceridade, percebeu que naquele coração sertanejo não havia ganância nem
malícia! Ele agradeceu a moça, a sereia e foi-se feliz da vida para sua casa.
No dia seguinte amanheceu contando para a vizinhança o que acontecera com ele,
dizia que não precisaria mais trabalhar tanto como antes, pois ficara
riquíssimo. Um dos seus vizinhos que era diferente dele, já arquitetou um
plano. Fingindo que tirava lenhas passando pelo riacho, no mesmo lugar do
vizinho fingiu cair e jogou seu machado n’agua e sentou-se na margem do córrego
e pôs-se a lamentar. Meu Deus e agora que faço? Perdi meu machado! Como vou
viver sem ele? Como ficará minha vida sem minha ferramenta? Vou comer o que? Só
é com ela que ganho meu sustento? Não demorou as aguas balançaram e a sereia
apareceu: O que foi homem, que está lamentando tanto que de lá do fundo das
aguas ouvi suas lamentações? É que perdi meu machado aí nas aguas e não consigo
tirá-lo para amanhã ir trabalhar na mata, é que eu vivo de tirar lenhas,
adiantou o malandro. A sereia deu um mergulho e saiu de lá do fundo do riacho
com um machado de ouro, e outro de ferro, justamente o dele e perguntou-lhe:
Qual dos dois é o seu machado amigo? Pois são os únicos que encontrei lá no
fundo! Sim, sim é este de cá, este amarelinho reluzente, referindo-se ao de
ouro, é este mesmo, responde o mentiroso! A sereia deu uma baita risada e
mergulhou nas águas para não sair enquanto ele estivesse por ali. Sem graça,
cabisbaixo, foi-se embora até sem o seu machado de ferro! Kkkkkkkkkkkkkkkk.
SÃO
HISTÓRIAS QUE ESCREVEMOS PARA “COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES”
Recordações
do nosso tempo de escola. Anos 1950. Luiz Moreira Chaves. 13/09/2014
ANASTÁCIO
MS.
Cresci ouvindo essa história, um velho amigo meu, senhor de idade, sempre querendo ensinar a mim e meu irmão o valor da honestidade, não se cansava de reconta-la quantas vezes fosse necessário para que não nos esquecessemos dela ao longo da vida. Uma história que vou levar comigo pelo resto de minha vida.
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