Numa certa
época, e por dois anos seguidos uma seca vinha devastando tudo, plantas,
pastagens, matas, campos e pradarias, vinha também secando regatos, ribeiros, lagoas
e até rios, os animais da mata estavam atribulados com a situação geral. Os
predadores então, andavam por toda parte sem dar tréguas ás suas presas que já
não tinham onde se defenderem dos tais. Parecia que ninguém conseguiria escapar,
se não morresse de fome pela escassez dos alimentos naturais, os que sobrassem,
os predadores pegariam na certa. Estava difícil a situação, quase sem solução,
não chovia há muito tempo, fazia um calor insuportável, ventos quentes,
abafadiço á noite, céus rubro-acinzentado no entardecer e amarelo no alvorecer,
nem uma nuvem para dar uma sombra durante o dia, nem que fosse de alguns
minutos. Animais magros, com pelos arrepiados sofrendo muito com a estiagem. Os
animais que antes puderam, emigraram para outras regiões enquanto deu tempo.
Outros deram bobeira e ficaram pensando que ia melhorar! Resultado! Dos
predadores ficou o pior. A onça pintada! Tinha comido muitos dos que ainda
ficaram na mata, os outros atravessaram o rio seco refugiando em qualquer
lugar. O terrível felino sondava-os, corria atrás do que achasse até pegá-lo
eram, tatus, cutias, pacas, alguma capivara na beira do rio, algum porco do
mato, jabutis, preás, lebres e outros. Estava um inferno a vida dos pobres
bichos, que além da fome uma perseguição acirrada. Não havia agua abundante, só
alguma poça no meio da mata em alguma grota. Os animais noturnos nem saiam mais,
pois a onça é noturna também. Esperando o dia amanhecer para saírem porque a
onça ia dormir durante dia, então aproveitavam o horário. O felino estava louco
de fome. Dera um carreirão no coelho. Mas este escapou de suas garras. Ficou
uma fera, pensou com seus botões: Onde posso tocaiá-lo já que é o único que tem
por aqui, os outros deram no pé, as aves sumiram todas. Andando pela mata, somente
folhas secas que estalavam nas suas patas quando pisava. Agua, só muito longe e
lá no rio e bem abaixo! Lugar de beber era descampado, aberto, não tinha como se
esconder para surpreender a cobiçada presa. Deu sorte! Achou uma pequena poça
d’agua numa grota que parecia nunca secar, ficou feliz da vida, agora sim,
pensou consigo. Terão que vir beber agua aqui e eu os pego sem muito trabalho.
Mas algum tempo atrás ela tinha atravessado o rio e ido em uma chácara e pegara
um novilho, mas como era muito sacrificado o assalto, foi só uma vez, notou que
tinha muitos cães, um velho caçador que era o dono da chácara, viu que era
muito risco só por um petisco. Não pôs os pés lá nunca mais. Mas quem bate
sempre esquece, e quem apanha sempre se lembra, pois o velho chacareiro que
nunca esqueceu daquele fato, jurou que fosse em qualquer tempo ou lugar, um dia daria cabo daquele
felino. Então voltamos a ver o que a onça estava tramando para pegar o Coelho,
já que os outros estavam todos foragidos dali. Olhou tudo a sua volta e viu que
era um ótimo ponto de observação. O carreiro que descia da barranca era do
outro lado, se o bicho entrasse para beber agua ficaria encurralado pelas
paredes da grota, teria que correr grota acima ou abaixo caso assustasse dela,
se tentasse voltar pela entrada estaria no “Papo” era subida e de um salto o
pegaria. Mas o felino tem um cheiro terrível e é sentido pelos animais, inda
mais com os ventos como sopravam dia inteiro. Ficou lá de tocaia, vinha um
deles e quando sentiu a onça, caiu fora, e os animais da mata são solidários
uns com os outros, muito unidos na defesa da vida, vendo ou sentindo o perigo
logo dão alarme e os demais entendem e nem por lá tão cedo vão. O Coelho andava
ressabiado, muito além de seu jeito de ser, também pudera! Um carreirão
daquele! Quem não ficaria velhaco? Sondou, viu a bichona sentada e cochilando.
Recuou e pensou. A coisa está preta para o meu lado! Se avançar ela me pega, se
não for beber agua morrerei de sede! E agora? Voltou para trás e ficou quebrando
a cabeça e espremendo os miolos em busca de uma solução. Ah sim, agora achei o
que precisava, esfregou as patinhas uma na outra de contentamento. Procurou uma
árvore de nome leiteiro, arranhou a casca dela e escorrendo um leite que parece
cola esfregou no corpo todo, rolou nas folhas secas, ficou todo camuflado e
esquisito, prendeu as orelhas embaixo do queixo e se foi, parecia um
espantalho. Lá chegando perguntou á onça: A senhora me dá licença de beber um
pouquinho de agua? Sim! Respondeu a onça. Beba a vontade! Ele desceu
sorrateiramente e aproveitou! A onça olhava aquele bicho diferente dos
conhecidos e curiosamente perguntou: Quem sois vós? De onde vens? Que nunca vi
e nem te conheço? Acabando de beber agua, respondeu: Venho de outra galáxia, estou
de passagem por aqui, as aguas de lá secaram! Morreram todos os habitantes e de
lá só eu escapei! Nossa, disse a onça! Como te chamas? Meu nome é “Folha Seca”!
Respondeu o Coelho. Muito obrigado, já vou indo! Espera aí? Replicou a onça.
Por onde você passou não viste o coelho por aí? Não! Não vi! Mentiu o Coelho,
bicho safado e de raciocínio rápido, passou na onça uma mentira deste tamanho:
Vi somente uma imensidade de outros bichos, bonitos, gordos e bastante.
Atravesse um rio que tem logo ali adiante, só que ele está seco. Tem um poço de
água, muito grande e fundo bem adiante numa chácara. Só animais grandes como
tu, é que tem lá, Anta, Veados, Caititus, queixadas, bezerros, bodes,
carneiros, uma criação de porcos mansos além dos demais animais da mata que pra
lá imigraram, o velho dá agua para todos. Este velho foi quem me deu de beber,
e ele mora sozinho. Não quis ficar com ele porque estou indo para outra
dimensão. É muito longe daqui. Porque me perguntas? Não, não precisa responder,
atalhou o Coelho, adivinho o que queres, está passando fome aqui esperando
aparecer alguma carne! Vou retribuir-lhe agora o favor que me fizeste, me
deixando beber agua. Deixe de tolice, siga meu conselho e se dará muito bem!
Mude para lá e fartarás de comida. A onça pensou, sabe que vou mesmo! Ah, já
entendi! Fugiram daqui e foram parar lá com o velho. Enquanto a onça ligava os
pontos, o Coelho deu no pé saiu a ponto de estourar de tanto rir, e a tonta foi
na conversa dele, e logo que chegou na chácara, um bando de cães deu pela sua
presença vieram de encontro com ela e foi aquele quebra-pau. Parecia que o
mundo vinha abaixo. O velho chacareiro ouvindo o barulho pensou, já sei quem é,
conheceu pelo acuado dos cães, espere aí, sabia que você um dia voltaria. Vamos
ajustar as contas, passou a mão na cartucheira, um facão, uma capanguinha de
cartuchos e foi vê-la de pertinho. Era aquela onça mesmo! Estava magra e fraca
não podendo correr muito, logo deu acuação, sentou-se no chão bem no pé de uma
árvore. Feroz como é, rosnando e fazendo caretas. Os cães com aquela barulheira, de longe o
Coelho ouvia tudo. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Escutou um baita de um estrondo,
pensou consigo: O velho lascou fogo nela, caiu na bala! Agora sim! Esta não
volta nunca mais! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Agora teremos paz! Saiu contente e foi
avisar a bicharada que ia encontrando, que os bons tempos voltaram. Logo o
tempo mudou e caiu uma abundante chuva a noite inteirinha dali uns três dias, a
mata reverdeceu, árvores deram seus frutos, todas as campinas, cabeceiras e
várzeas se tornaram verdejantes e a bicharada festejou o acontecimento!
Agradeceram muito ao mestre Coelho, tão pequenino e frágil, mas muito astuto e
inteligente, pregou uma peça na onça. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!
SÃO
HISTÓRIAS QUE IMAGINAMOS PARA “COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES”
ENRIQUECENDO
O NOSSO FOLCLORE QUE NESTE MÊS SE COMEMORA DIA 28/08/2014
ANASTÁCIO
13/08/2014. LUIZ MOREIRA CHAVES.
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