domingo, 17 de agosto de 2014

OS ANIMAIS TAMBÉM PASSAM POR DIAS DIFÍCEIS NA VIDA.

                         
         
Numa certa época, e por dois anos seguidos uma seca vinha devastando tudo, plantas, pastagens, matas, campos e pradarias, vinha também secando regatos, ribeiros, lagoas e até rios, os animais da mata estavam atribulados com a situação geral. Os predadores então, andavam por toda parte sem dar tréguas ás suas presas que já não tinham onde se defenderem dos tais. Parecia que ninguém conseguiria escapar, se não morresse de fome pela escassez dos alimentos naturais, os que sobrassem, os predadores pegariam na certa. Estava difícil a situação, quase sem solução, não chovia há muito tempo, fazia um calor insuportável, ventos quentes, abafadiço á noite, céus rubro-acinzentado no entardecer e amarelo no alvorecer, nem uma nuvem para dar uma sombra durante o dia, nem que fosse de alguns minutos. Animais magros, com pelos arrepiados sofrendo muito com a estiagem. Os animais que antes puderam, emigraram para outras regiões enquanto deu tempo. Outros deram bobeira e ficaram pensando que ia melhorar! Resultado! Dos predadores ficou o pior. A onça pintada! Tinha comido muitos dos que ainda ficaram na mata, os outros atravessaram o rio seco refugiando em qualquer lugar. O terrível felino sondava-os, corria atrás do que achasse até pegá-lo eram, tatus, cutias, pacas, alguma capivara na beira do rio, algum porco do mato, jabutis, preás, lebres e outros. Estava um inferno a vida dos pobres bichos, que além da fome uma perseguição acirrada. Não havia agua abundante, só alguma poça no meio da mata em alguma grota. Os animais noturnos nem saiam mais, pois a onça é noturna também. Esperando o dia amanhecer para saírem porque a onça ia dormir durante dia, então aproveitavam o horário. O felino estava louco de fome. Dera um carreirão no coelho. Mas este escapou de suas garras. Ficou uma fera, pensou com seus botões: Onde posso tocaiá-lo já que é o único que tem por aqui, os outros deram no pé, as aves sumiram todas. Andando pela mata, somente folhas secas que estalavam nas suas patas quando pisava. Agua, só muito longe e lá no rio e bem abaixo! Lugar de beber era descampado, aberto, não tinha como se esconder para surpreender a cobiçada presa. Deu sorte! Achou uma pequena poça d’agua numa grota que parecia nunca secar, ficou feliz da vida, agora sim, pensou consigo. Terão que vir beber agua aqui e eu os pego sem muito trabalho. Mas algum tempo atrás ela tinha atravessado o rio e ido em uma chácara e pegara um novilho, mas como era muito sacrificado o assalto, foi só uma vez, notou que tinha muitos cães, um velho caçador que era o dono da chácara, viu que era muito risco só por um petisco. Não pôs os pés lá nunca mais. Mas quem bate sempre esquece, e quem apanha sempre se lembra, pois o velho chacareiro que nunca esqueceu daquele fato, jurou que fosse  em qualquer tempo ou lugar, um dia daria cabo daquele felino. Então voltamos a ver o que a onça estava tramando para pegar o Coelho, já que os outros estavam todos foragidos dali. Olhou tudo a sua volta e viu que era um ótimo ponto de observação. O carreiro que descia da barranca era do outro lado, se o bicho entrasse para beber agua ficaria encurralado pelas paredes da grota, teria que correr grota acima ou abaixo caso assustasse dela, se tentasse voltar pela entrada estaria no “Papo” era subida e de um salto o pegaria. Mas o felino tem um cheiro terrível e é sentido pelos animais, inda mais com os ventos como sopravam dia inteiro. Ficou lá de tocaia, vinha um deles e quando sentiu a onça, caiu fora, e os animais da mata são solidários uns com os outros, muito unidos na defesa da vida, vendo ou sentindo o perigo logo dão alarme e os demais entendem e nem por lá tão cedo vão. O Coelho andava ressabiado, muito além de seu jeito de ser, também pudera! Um carreirão daquele! Quem não ficaria velhaco? Sondou, viu a bichona sentada e cochilando. Recuou e pensou. A coisa está preta para o meu lado! Se avançar ela me pega, se não for beber agua morrerei de sede! E agora? Voltou para trás e ficou quebrando a cabeça e espremendo os miolos em busca de uma solução. Ah sim, agora achei o que precisava, esfregou as patinhas uma na outra de contentamento. Procurou uma árvore de nome leiteiro, arranhou a casca dela e escorrendo um leite que parece cola esfregou no corpo todo, rolou nas folhas secas, ficou todo camuflado e esquisito, prendeu as orelhas embaixo do queixo e se foi, parecia um espantalho. Lá chegando perguntou á onça: A senhora me dá licença de beber um pouquinho de agua? Sim! Respondeu a onça. Beba a vontade! Ele desceu sorrateiramente e aproveitou! A onça olhava aquele bicho diferente dos conhecidos e curiosamente perguntou: Quem sois vós? De onde vens? Que nunca vi e nem te conheço? Acabando de beber agua, respondeu: Venho de outra galáxia, estou de passagem por aqui, as aguas de lá secaram! Morreram todos os habitantes e de lá só eu escapei! Nossa, disse a onça! Como te chamas? Meu nome é “Folha Seca”! Respondeu o Coelho. Muito obrigado, já vou indo! Espera aí? Replicou a onça. Por onde você passou não viste o coelho por aí? Não! Não vi! Mentiu o Coelho, bicho safado e de raciocínio rápido, passou na onça uma mentira deste tamanho: Vi somente uma imensidade de outros bichos, bonitos, gordos e bastante. Atravesse um rio que tem logo ali adiante, só que ele está seco. Tem um poço de água, muito grande e fundo bem adiante numa chácara. Só animais grandes como tu, é que tem lá, Anta, Veados, Caititus, queixadas, bezerros, bodes, carneiros, uma criação de porcos mansos além dos demais animais da mata que pra lá imigraram, o velho dá agua para todos. Este velho foi quem me deu de beber, e ele mora sozinho. Não quis ficar com ele porque estou indo para outra dimensão. É muito longe daqui. Porque me perguntas? Não, não precisa responder, atalhou o Coelho, adivinho o que queres, está passando fome aqui esperando aparecer alguma carne! Vou retribuir-lhe agora o favor que me fizeste, me deixando beber agua. Deixe de tolice, siga meu conselho e se dará muito bem! Mude para lá e fartarás de comida. A onça pensou, sabe que vou mesmo! Ah, já entendi! Fugiram daqui e foram parar lá com o velho. Enquanto a onça ligava os pontos, o Coelho deu no pé saiu a ponto de estourar de tanto rir, e a tonta foi na conversa dele, e logo que chegou na chácara, um bando de cães deu pela sua presença vieram de encontro com ela e foi aquele quebra-pau. Parecia que o mundo vinha abaixo. O velho chacareiro ouvindo o barulho pensou, já sei quem é, conheceu pelo acuado dos cães, espere aí, sabia que você um dia voltaria. Vamos ajustar as contas, passou a mão na cartucheira, um facão, uma capanguinha de cartuchos e foi vê-la de pertinho. Era aquela onça mesmo! Estava magra e fraca não podendo correr muito, logo deu acuação, sentou-se no chão bem no pé de uma árvore. Feroz como é, rosnando e fazendo caretas.  Os cães com aquela barulheira, de longe o Coelho ouvia tudo. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Escutou um baita de um estrondo, pensou consigo: O velho lascou fogo nela, caiu na bala! Agora sim! Esta não volta nunca mais! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Agora teremos paz! Saiu contente e foi avisar a bicharada que ia encontrando, que os bons tempos voltaram. Logo o tempo mudou e caiu uma abundante chuva a noite inteirinha dali uns três dias, a mata reverdeceu, árvores deram seus frutos, todas as campinas, cabeceiras e várzeas se tornaram verdejantes e a bicharada festejou o acontecimento! Agradeceram muito ao mestre Coelho, tão pequenino e frágil, mas muito astuto e inteligente, pregou uma peça na onça. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!

SÃO HISTÓRIAS QUE IMAGINAMOS PARA “COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES”
ENRIQUECENDO O NOSSO FOLCLORE QUE NESTE MÊS SE COMEMORA DIA 28/08/2014

ANASTÁCIO 13/08/2014.   LUIZ MOREIRA CHAVES.     

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