sábado, 22 de outubro de 2016

O VELHO DEFICIENTE E O PEÃO

                                         
            
Em certa ocasião num dos bares mais movimentados da pequena cidadezinha no interior do Estado de S. Paulo estava um peão do trecho tomando alguma coisa. Há uns dois dias estava por ali se divertindo, ora reencontrando com outros amigos do trecho, de longas datas, solteiros, solitários casa não tinham a não ser o acampamento quando trabalhavam pelos sertões com empreiteiros que eram muito comum naqueles tempos de outrora, fora isso paravam nas pensões ou hotéis. Nesta tarde estava sentado numa única cadeira do bar naquele horário. olhava as pessoas passarem na calçada e na porta do bar, também lá do outro lado da rua. De quando em quando tomava um gole da bebida que o dono do estabelecimento lhe servira  De repente entrou no local um senhor de idade avançada e deficiente assessorado por uma muleta num dos lados e na outra mão tinha uma bengala que lhe servia de cajado. Foi direto na mesa do peão e fixou o olhar neste e sem dizer nada deu-lhe uma bengalada na cabeça. O Peão chegou a ver estrelas, tamanha a força que o velho lhe bateu, ainda intimou-o: Me dê esta cadeira pra mim sentar, você é novo pode bem ficar em pé. Saia logo daí! O peão cego de dor e de raiva daquele velho intruso, atrevido e arrogante, não pensou duas vezes: Sacou de uma arma que trazia embaixo da camisa e fez um disparo  no ancião. O velhote caiu ensanguentado no salão do bar, resfolegando e moribundo para morrer, o balaço foi mortal. Dentro de alguns segundos expirou, estava morto. Foi um reboliço da população ao ouvirem o disparo que ecoou na currutela, foi ouvido nos quatros cantos da cidadezinha. Saiu gente de todos os lado para ver o ocorrido. Curiosos não faltou na ocasião, mas as autoridades competentes para atender o caso iria demorar algum tempo, pois nem destacamento de policia existia por perto. Teria que vir de outra localidade, enquanto isto não acontecia o criminoso deu no pé. Era caso raro acontecer isto naqueles tempos, tempos de paz, as criaturas dificilmente se estranhavam um ao outro. Todos tinham trabalho, atividades e afazeres para cuidar. Não havia vadiação como nos dias atuais, tanto é verdade que naquele bar que aconteceu o crime só havia o peão e a vítima naquela data e horário. Até que chegou as autoridades para  atender o caso o peão já estava pra lá de Bagdá. Desconhecido, estranho, forasteiro naquelas paragens. As autoridades só dispunham de informações esporádicas da população. Quando os populares se aglomeraram no local nem sequer repararam as características do desconhecido e delator. Este fugira com muita esperteza e segurança. O caso ficou pendurado, ninguém dava informações precisas,  O caso encerrou por alí. Mas as autoridades ficaram á espreita de algum desconhecido entrar na cidadezinha, poderia ser quem fosse, seria preso e interrogado, posteriormente liberado, foi-se muito tempo sem obterem êxito nas buscas. Um dia em outra cidadezinha alguém dedurou um elemento que julgavam ser o infrator, preso e interrogado ficou por uns tempos na cadeia.  Mas não tinham como provarem, mas a suspeita era forte por parte da policia. Esta resolveu torturá-lo até confessar o crime. Imaginem os senhores o suplicio que este homem sofreu.  Ele possuía uma deficiência numa das pernas, a sua canela era ressequida, era quase só a pele e osso, o que fizeram? Um carrasco preparado para esta tarefa ao entrar na cela onde se encontrava o prisioneiro disse:lhe Caboclo vá contando o que fizeste com o velho lá no bar do japonês que é melhor para você. Me poupará um trabalho muito ruim de fazer, apesar de ser obrigado a executá-lo. Não tenho pena nem dó de ninguém que está nas minhas mãos. Só tinha pena desta mulher apontou o dedo, aquela que aparece naquela foto, ali no corredor, era minha mãe e já faz dez anos que faleceu. O preso lhe respondeu: Não tenho culpa nenhuma do que me acusam, sustentou o meliante. Não sei, retruca o carrasco, é o que vamos ver agora. Dizendo isto pegou uma grosa desta que marceneiros usam para grosar madeiras e moldá-las como é o seu ofício. Amarrou o peão com as mãos para trás, amarrou a perna  seca bem esticada, de modo não poder encolher ou torcer para os lados, pegou a ferramenta e esfregou-a com toda força no osso da canela do infeliz homem, saía tiras da pele,e as poucas fibras da carne e lascas de ossos além de um rio de sangue que banhava até o piso da cadeia. Isto por varias vezes e ainda perguntava ao infeliz: Foi você quem matou o velho? Este respondia entre gritos e lágrimas de dor: Não senhor, não fui eu! Nem conheci o tal velho! Deve ser parecido comigo e vocês confundiram nos dois. Pelo amor de Deus não faça isto comigo! Continuarei te torturando até você confessar o crime respondia o carrasco. Ficou horas nesta agonia, o carrasco lhe interrogando e ele sustentando o "Não". Já não havia mais o que fazer. Nisto chegou um superior que ordenara as torturas, olhou o homem deitado, agonizante de tanta dor, gemendo e chorando de tanta agrura, disse: Com tudo isto este homem nada confessa, deve ser inocente mesmo! Poupe-o, leve ao hospital para ser atendido. Estão suspensas a sessão de torturas até que ele fique curado. Onde ele pisava ficava uma poça de sangue. Depois veremos o que fazer dele. Nunca ví um homem desta natureza disse o carrasco. É capaz que seja inocente como afirma. Levaram-no a casa de saúde e por lá ficou mais de quinze dias. Quando retornou para a cela ficou morrendo de mêdo de voltar a sofrer mais torturas. Mas não aconteceu. O juiz deu o caso por encerrado e libertou-o. Passados muitos anos ele contava o caso aos amigos bem longe dali: Fui torturado com requinte de crueldade por aquele maldito carrasco, que o Diabo o leva para os quintos dos infernos. Teve uma hora que quase confessei, fiz xixi, fiz coco, gritei para tudo o que era Santo que eu conhecia de nome, isto de tanta dor que padeci, mas já tinha sofrido muito e resolvi morrer e nunca contar, seria muito desaforo depois de tanta agrura voltar atrás na palavra dada, homem tem que ser homem, afirmou! Não paguei a justiça terrena. Só Deus pode me condenar por este crime! Reconheço ser culpado pela morte do velho. Pena o que fiz, deveria ter tido um momento de reflexão. Mas perdi a cabeça e cometi esta coisa terrível que é a pior que um ser humano pode fazer na terra enquanto viver. Fiz num repente mais rápido do que um estalo de dedos. Melhor seria sair, e ir embora com um "galo" na cabeça, do que ter ficado sem o osso da canela roído por uma grosa de marcenaria.
CONTO VERÍDICO PARA O NOSSO BLOGGER "COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES".

DEFENDENDO NOSSA CULTURA SERTANISTA- ANASTACIO MS 17/10/2016

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