Num dia desses, nós
resolvemos fazer uma viagem pelos caminhos da vida até mesmo por onde já tínhamos
passado em outras épocas, os caminhos vistos, e outros talvez numa projeção da
nossa mente, alguns que ouvimos contar de suas belezas naturais, dos seus
percalços e dificuldades, onde com certeza ainda iríamos passar ao longo da
trajetória de nossa vida, lugares incertos, desconhecidos, descobertos e ainda
não descobertos por nossa mente que até então foi muito perspicaz, curiosa,
criativa, adivinhando, imaginando e calculando as suas dimensões, grandeza,
magnitude, lugares que só mesmo uma mente fértil tenta dizer e explicar que
existe. O irreal, fictício, o real e o verdadeiro. Uma viagem num mundo desconhecido
para que mais tarde e por todos tornasse conhecido, explorado, visto e
contemplado com os olhos materiais e espirituais também. Um sonho, uma
inspiração, uma enlevação, uma coisa que não tem como a gente explicar melhor.
Algo indescritível á nossa faculdade mental. Agora que saímos do mundo das
fantasias e entramos no real e concreto vamos conhecer tudo, se bem que isto
seja impossível de acontecer. Tentando de todas as formas,e rebuscar em todas
as pessoas de todas as idades e eras. Algo impossível de novo. Por mais que
isto pareça certo e convicto, nunca daria certo, porque as pessoas variam muito
de uma para a outra em termos de conhecimentos e inteligência, desenvoltura,
agilidade, altruísmo e cuidadosas em resguardar aquilo que foi adquiriu ao
longo da vida em sabedoria e seus segredos. Contar aquilo que sabe ou que tenha
aprendido, espalhando com alegria para os mais moços, as crianças e
adolescentes, enfim passar a nossa tão bela cultura sertanista de geração em geração.
Ela está fadada ao desalento, e ao fracasso ante tantas tolices que a modernidade
oferece ao povo. Um mundo ilusionista que ludibria em especial as nossas
crianças, que é o nosso futuro. A nossa cultura sertaneja vem aos poucos
perdendo o seu brilho, seu fulgor, a sua beleza, sua história, seus encantos e
realeza. É uma pena que por conta de uma evolução falsa e mentirosa a gente
perde tantas coisas simples e belas de cultivar em nossas vidas, elas nos divertem,
alegram a todas as pessoas que dela toma conhecimento. Até um cientista de alto
nível, um mestre intelectual, um sábio ou aquele que julga que é, ouvem
boquiabertos as histórias caboclas que os matutos contam uns para os outros.
Porque ficaram assim? De tanto estudarem as ideias de outrem. Esquecendo-se de
exercitar as suas ideias, ficam parecendo um dependente químico, não governam
as suas ações. São manipulados como robôs. Há dentre os caboclos sertanejos
muitos que sabem apenas assinar o nome, nada mais. Mas as suas historias tem
fundamento, elas tem um conteúdo harmonioso, perfeito que parecem um
quebra-cabeça bem planejado, estudado, executado nos seus mínimos detalhes,
montado que se encaixam com precisão. Aí está a diferença do estudioso e do
sábio. A simplicidade ainda é maior do
que muitos adjetivos, muitas qualidades que tentam tomar o seu lugar. A
humildade, sabedoria e simplicidade juntas são vindas do alto, o conhecimento
sobe da terra, adquire-se nela e é bem vindo á todos nós. Como dissemos no
inicio desta narrativa cabocla, na alegre companhia do mensageiro desta nossa página,
“O Cavaleiro Solitário” Leopoldo e seu baio o “Corisco”, mais duas montarias e
mais uma pessoa, um professor de Histórias e este velho peão da estrada. Cada
um com uma tarefa. O Leopoldo conhece todo o País, de Sul a Norte e de Leste á
Oeste. Portanto é o nosso guia. O Professor registrando todas as nossas
aventuras nos mínimos detalhes. O velho peão com menos conhecimentos que os
dois, mas com muita experiência de vida nos seus quase oitenta anos de trechos
percorridos no estradão da vida, ante os percalços, as batalhas, as íngremes
ladeiras, nas serras, as descidas perigosas com as curvas traiçoeiras, os
desvios, os falsos atalhos, calmarias, ventos tempestuosos, mudanças climáticas
e repentinas, altas temperaturas, as baixas e muitas outras adversidades que o
tempo e a vida nos apresentam quando menos se espera, ele está sempre atento a
tudo. Desde a chegada em lugar estranho, observa os pontos cardeais, para
depois se acomodarem para o descanso. Duas barracas de campanha, todas as
tralhas necessárias para nós e os animais. Partimos de um ponto qualquer desta
nação cabocla, percorremos todas as estradas, aldeias, vilarejos, povoados,
sítios, chácaras, fazendas, eixos de serras, beira de rios, furnas, garimpos,
chapadas, planícies, vales e onde pode existir um caboclo, uma família
solitária encrustada no mais ermo dos sertões. Encontramos muitos, de acordo
com suas idades estão aposentados, outros ainda em atividades da roça, do
campo, carreiros, pescadores, andarilhos, carreteiros, boiadeiros, comitivas,
tropeiros porque estes povos ao chegarem no pouso após o jantar na beira de um
foguinho, tocam viola, contam histórias de suas aventuras pelo mundo, os
“Causos,” os fatos ocorridos, eles cultivam a cultura sertanista com prazer.
Outros em um casebre lá num cantinho de uma invernada fazendo aceiros de
cercas, aramados ou consertando-os, roçando pastos, invernadas vigiando o gado
nas beiras das matas das onças pintadas, cuidando da tropa. Logo mais á noitinha
estão reunidos no galpão, sentados ao ar livre contemplando as estrelas, e no
firmamento o luar, tomando um chimarrão, um café quentinho nas bocas de noites
frias, enrolados num pala, xale ou até mesmo em cobertores. Tem deles que
forram no chão, no terreiro um saco de estopa, ou um baixeiro, deitam de papo
para cima e ficam vendo as estrelas cadentes mudando de lugar. Outros
balançando numa rede de descanso ouvindo e contando também o que sabe. Uma
troca de conhecimentos diversos. Ali cada um conta uma passagem de sua vida, as
histórias que inventaram, e outras coisas para fazerem as crianças e jovens
acharem graça de tudo isso. Uma diversão costumeira, uma obrigação prazerosa
até mais tarde. Outros juntos na beirada de uma mesa, vão jogar cartas, brincarem
de adivinhações, tudo é valido, tudo é uma cultura que nunca se acaba. Passam
de pai para filho. Viajamos muitos meses. Jornada árdua, cansativa em dias
quentes, outros dias, ventos vindo do quadrante sul com chuvas frias, ventanias
secas do leste, derrubando folhas verdes da vegetação e com poeiras, quando as
nossas montarias cansavam a gente ficava até oito dias num lugar até que nós e
os animais recobrarmos as forças, seguíamos em frente com muito mais ânimo,
coragem e dedicação. Encontramos, conversamos e vivenciamos com pessoas idosas,
alguns ainda lúcidos, outros quase nem se lembram de nada. Muitos que nos
seriam úteis já haviam falecidos, poetas, repentistas, trovadores etc, tivemos
só a lembranças deles que eram pessoas magníficas em sabedoria sertaneja, pena
que para estes não há substitutos á altura. A mentalidade dos jovens é muito
diferente. Dificilmente um filho herda os dons paternos dessa arte. Andamos
muito, viajamos que nem imaginam quanto. Tudo por uma coisa simples como nós, o
folclore, esta cultura tão saudável que admiramos tanto, mas com pouco
rendimento, os mais sábios nesta arte já se foram, exceto uns dois ou três que
conseguimos ler a sua bagagem, mas a história que nós procuramos parece ser
única, não conseguimos encontrar em ninguém ou em recanto algum. É muito bela,
é notória, é linda demais para muita gente saber. Somente duas pessoas sabiam
do conteúdo dela, cada um com uma parte também. Um senhor que há anos partiu
vítima de um acidente de máquina pesada. Deixou-nos uma parte, a que ele sabia.
A segunda nós sabemos. Por isso estivemos este tempo todo em busca da terceira
parte. Fomos para todos os recantos, ribeirinhos, seringais, estâncias, nas
margens do Rio Tocantins, e do Rio Amazonas e seus afluentes de ambos os lados.
Na nascente do Rio São Francisco, nas
encostas da Serra da Mantiqueira. No interior de todos os estados brasileiros.
Mapeamos o País. Fomos aos centros culturais, bibliotecas antigas. Museus do
tempo do Império, museus do Exercito, da Marinha e da Aeronáutica e unidades
militares das fronteiras com o Paraguai, Bolívia, Argentina, Uruguai, Colômbia,
Venezuela, Peru até em presídios, visitamos sua população carcerária. Até
então. Nada! A nossa aventura durou um ano e três meses. Resolvemos retornar á
nossa casinha que parecia esquecida ante tantas aventuras nesta viagem tão
salutar. Não vencemos a batalha, mas também não fomos derrotados. Ganhamos
experiência. Fizemos muitas amizades. Trouxemos e deixamos saudades! Conhecemos
outras culturas, a de muitas etnias de nativos que até então para nós eram
desconhecidos. Conhecemos as variedades dos climas desta Nação. A miscigenação
das raças que habitam esta terra de meu Deus! O Brasil! Vimos fartura de tudo,
e miséria também, daquelas da gente derramar lágrimas de compaixão. Uma
civilização homogênea, animais de todas as espécies. Conhecemos a Pátria da
Agua. A Amazônia selvagem, misteriosa, encantadora, fascinante, perigosa até
uma espécie de víbora perigosa: A Surucucu Apaga-fogo, nas matas do Pará,
antigamente existia muitas nas matas do sul de Minas Gerais divisa com Bahia
nos anos 1935. Vimos também um Capelobo! Coisa horrível a sua origem. Passamos
três noites em três pousos diferentes, revezando o turno, quase sem dormir vigiando
a nossa tropa e os companheiros. Felinos perigosos queriam nos pegar, uma
delas, a onça preta, a temível Pantera Negra. Animal mais sensível ao olhar dos
humanos, a mais ligeira que conhecemos. Estávamos bem armados e com iluminação
de boa qualidade. Saímos vencedores. Vivos, com saúde e contando a história. Os
cursos d’agua, saltos e cachoeiras, lagos e peixes de espécie nunca vista. Olha
gente acho que não dá, não há espaço suficiente para descrevermos toda a nossa
aventura. Paramos por aqui. Tivemos que por em exercício a nossa criatividade
para completar a história, conseguimos sim. Ficou muito bela. Chegamos á uma
conclusão, vamos conservando a nossa cultura com o conteúdo que temos.
Esperamos que surjam nesta geração de pessoas modernas, algum gênio, alguma
pessoa ímpar nestes conhecimentos tão raros neste mundo de tanta gente maluca
onde até os brinquedos de nossas crianças são eletrônicos. O natural, o belo, a
inteligência, e a perspicácia ou agudeza de espírito são esquecidas, foram
desativadas ou dadas em troca destas tolices que um esperto inventou, criou, disseminou,
contagiou e manchou a mais bela de toda a criação: O Ser humano! O engenho
humano! Tudo por causa do dinheiro, como se esta coisa imunda fosse tudo! Até
de Deus esqueceram! A terra está pesteada, doentia, enferma, agonizando numa
miséria extrema, está vivendo seus últimos dias, mas enquanto existir o Divino
Criador, nascerá alguém que o represente aqui na terra em todos os aspectos,
mesmo em dias difíceis como estamos vendo. A Vencedora será a qualidade, e
nunca a quantidade!
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“COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES”
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ANASTACIO MS 20/10/2015