Tio, tio Fred? Lá na
casinha de barro pertinho da figueira no fim daquela ruazinha morta tem uma
assombração! Acabei de ver! Deus me livre de um negocio daquele. Viixi, que
coisa mais feia! O sobrinho acabava de chegar assustadíssimo, o coração faltava
pouco sair pela boca de tanto resfolegar. O velhote não acreditando no
sobrinho, disse: Conversa boba essa, menino! Aqui nunca teve dessas coisas?
Quantos anos eu moro aqui, desde menino! Cheguei aqui com cinco anos de idade?
Que é isso? Estás delirando! Ou sua namorada deu-lhe o fora e você está insinuando
isto como desculpa por ter chegado tão cedo assim em casa. Todo sábado e
domingo, você chega lá pelas onze e meia da noite sem nunca ter visto nada? Vá
mentir para lá? Não tio, é verdade mesmo! É assombração sim de verdade! Me diz
uma coisa filho? Você viu? Ou ouviu? Disse-lhe o tio quase acreditando ser de
fato! Olha tio, eu vi um vulto lá dentro, estava meio escuro, por isso não vi
direito, mas parecia sentado e um barulhinho que fazia era assim: Crec! Crec!
Tchaaaa! Não aguentei de tanto medo, sai correndo de lá e só parei aqui. Nunca
mais ponho os pés lá naquele lugar, nunca mais vou ver a Toninha minha namorada
de noite. Não vou mais por aquele atalho. Só vou se for de dia, ou se alguém
for comigo á noite. O tio Fred ficou encabulado com o relato do sobrinho e
disse ao pai do moço que era seu irmão mais velho o Custodio. Compadre, será
que isso é verdade do Juca? O Compadre respondeu, não sei não! De repente pode
ser! Aqui ninguém sabe disso! Tantos moradores neste vilarejo e na colônia ao
redor daqui? Eu duvido muito! Mas o Juca nunca mentiu também! É um moço sério e
não iria mentir para nós! Não sei! O tio muito debochado com o sobrinho, disse
a ele: Você é um molenga, um medroso, um frouxo, eu só calculo se você estiver
com a Toninha e este negócio aparecer! Vai sair correndo e deixa a moça para
trás? E se for um apaixonado por ela e pregar-lhe uma peça! Toma-a de você sem trabalho
nenhum! Carrega para si e você chupa os dedos! Ah! se fosse no tempo que eu
tinha minhas pernas sadias! Você ia ver do que eu seria capaz! Não dá, porque
elas hoje são sem serventia, passo o tempo sentado nesta cadeira de rodas! Não
sirvo para nada. Eu te mostraria como um homem faz, seu “Cagão”. O pobre rapaz
ficou humilhado com o insulto do tio. No fim todos estavam contra ele, que num
gesto decidido falou assim para o tio: Se o senhor é homem quanto fala, eu te
levo no pescoço até lá para que veja se é verdade ou não! Eu tenho forças de sobra
para te carregar aonde o senhor quiser ir e trazê-lo de volta! O senhor é
franzino e eu sou forte. Vamos lá então, “seu Papudo” eu tenho pouca coragem,
mas forças eu tenho muita. O tio hesitou um instante e disse: Vamos então! Suba aqui no meu pescoço e segure na minha cabeça, eu seguro tuas pernas junto ao
meu corpo, disse o sobrinho. Assim fez o tio, lá se foram, com um medo, que o
pobre Juca sentia, aproximando da taperinha da assombração pé- ante -pé com mil
cuidados e a percepção auditiva aguçadíssima. O luar estava bonito, como a casa
era bem na beiradinha da rua dava para ver o claro da lua entrando pela porta
da frente que não tinha a folha, refletia lá dentro no piso de terra batida,
pararam a alguns metros da casa. O rapaz estava com muito medo, mas o tio
dava-lhe um “croque” na cabeça para que chegasse mais perto. O rapaz dava só um
passo de cada vez! O tio insistia, mas ele não ia mais! Tremia todo de tanto
medo! Resolveu ir de uma vez. E foi-se! Quando chegou em frente a porta, ouviram
os estalidos e uma voz vindo lá do escuro! “Está gordo meu Negão?” Nossa! Pra
quê? O sobrinho derrubou seu tio do pescoço bem na porta! Foi aquele tombo que
chega urrou no chão! Largou o tio e saiu correndo que nada podia lhe alcançar! Ora
se não podia! “Seu” Fred levantou de um modo que ninguém sabe como, sarou das
pernas naquela hora, passou correndo pelo sobrinho no trecho até sua casa,
chegou primeiro! E o compadre Custodio assustou-se do mano que chegou correndo
mais que o Juca, e que disse: O negócio é sério Compadre Custodio! Nunca vi um
tareco daquele! Kkkkkkkkkkkkkkkk. Mas
compadre eu não entendi, como o senhor chegou até aqui se é aleijado? Nem eu sei
compadre responde o mano. Quem espantou mesmo foi o sobrinho. Tio, o senhor correu
mais do que eu que sou sadio das pernas. Kkkkkkkkkkkkkkk. Foi a maior das gargalhadas que deram até
aquele dia da vida! Ninguém entendeu! O significado daquilo ninguém sabia!
Vamos ver agora quem sabe?
Parece que o único
que sabe sou eu! Kkkkkkkkkkkkkkkk. Confiram! Naquele vilarejo e adjacências
morava um casal de folgados, não eram muito dados ao trabalho, apesar de que
naquela época as coisas eram fáceis, bom de viver, todos se ajudavam, ninguém
passava apertado por nada. Não existiam cobranças de alugueis, agua era de
poço, luz era lamparina a querosene, fogão a lenha as roças produziam muito,
fartura de tudo, leite de vaca ninguém saia na rua vendendo. Um matava um porco,
todos os vizinhos ganhavam um pedaço, frutas e verduras que tinha nos quintais
ofereciam aos demais de graça, Tempos de riqueza, de amor fraternal e amizades
verdadeiras, não existia miséria como é hoje. Festas diversas e religiosas
enfim muita paz entre os povos. Como ia dizendo, o casal era malandro mesmo. De
dia ele saia observando tudo por ali ao redor, alguém tinha muita galinha ele
vinha á noite e roubava, a esposa depenava a noite mesmo e jogava as penas num
poço velho. Cabritos, carneiros novos, e nas roças amendoim, mandioca, milho,
melancia, verduras, frutas nos quintais tudo isso ele roubava. Para disfarçar o
seu malfeito de quando em quando saia trabalhar de diarista para algum
chacareiro, roceiro, cuidar de rebanhos, vivia na boa, ninguém desconfiava
deles. Nesta noite planejou de ir roubar um cordeirinho fora do vilarejo, levou
a esposa porque iria demorar um pouco, como tinha uma festinha lá no arraial e
o povo estaria entretido e quase todos os moradores estariam lá, era fácil para
levar o carneirinho, na noite anterior tinha dado numa roça de amendoim e levara
meio saco, a esposa ele deixou na casinha de barro no lugar onde o moço
assustou. Ela ficou lá dentro sentada num toco, descascava o amendoim torrado
com casca e comia os grãos, jogando as cascas no chão. Era o barulho: Crec Crec e tchaaa!!. Quando o sobrinho e seu tio
se aproximaram da porta, para ver a assombração, a esposa do malandro pensando
que seria ele com o cordeiro nas costas, perguntou: Está gordo meu Negão?
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
HISTÓRIAS QUE APRENDEMOS AO LONGO DA ESTRADA DA VIDA
CULTURA SERTANISTA RECONTADA E DIVERSIFICADA PELA IMAGINAÇÃO
LUIZÃO-O-CHAVES
14/04/2014 ANASTÁCIO MS.
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