domingo, 13 de abril de 2014

O SAPO-BOI E O COELHO FOTÓGRAFO



O Coelho que sempre vivera trabalhando só no pesado e nas roças, pois a “Era” só beneficiava os que desta faziam sua profissão, lavrador, agricultor, colonos ou roceiros como queiram. De um modo geral eram todos os animais que lutavam pela sobrevivência neste ramo. Era divertido até, mas cansativo também para todos, com o decorrer dos anos. O Carneiro sendo um exemplo lidava só com lãs, tosquiava os demais, lavava as lãs, fazia baixeiros, cobertores e vestimentas diversas, O Cabrito vendia leite e queijo de cabras, esfolava as peles e trocava-as por outras coisas. Dos chifres dos bodes velhos faziam cachimbos, e “Tabaqueiro”, ou “Cornicho” para os antigos tomarem um“Torrado.” De quando em quando uma “Narigada” kkkkkkkkk. O Cavalo, o Burro e o Boi serviam quem precisasse transportando cargas, no lombo, em cangalhas, cargueiros ou carretas, carroças e carros de bois. O Jumento tinha mais regalias, só informava as horas com muita precisão, é como se fosse um relógio da Matriz. Quando abria o par de queixos zurrando, todos já sabiam que a hora era exata. Mas quem cuidava destes era o Saci-Pererê com muito esmero, cuidadoso como só ele sabe ser, dava-lhes banho e tosava as crinas, para vender, sempre que podia aos que se serviam dos préstimos destes animais, exigia em troca alguma coisa assim como: Fumo para o seu Pito, lá de vez em quando uma cachacinha. O Caipora tinha também sua roça, só plantava fumo, fazia cada rolo deste tamanho na época das colheitas das folhas maduras. Ficava horas e horas sentado num toco  baforando o seu charuto, e vendo a fumaça subir. Negociava com o Gambá, fumo a troco de cachaça. O Cachorro sempre trabalhava de vigia. O Macaco tinha um bananal que só vendo o tamanho da roça. O Gato prestava seus serviços caçando ratos nas “Tuias” de mantimentos, porque estragavam as mercadorias em estoque. O Caititu plantava abóboras, batatas, cará, inhames e mandiocas. A dona Raposa vendia galinhas, patos, marrecos, angolas, e aves diversas, sempre gostou destas criações. O Gambá cultivava uma roça de cana de açúcar, pois herdara de seus antepassados um engenho que nele fabricava rapaduras e melado, um alambique que destilava álcool e cachaça, fabricava também outras bebidas. Negociava com a Raposa frangos em troca de cachaça, pois gostava muito de uma cabeça e pescoço de frango bem caprichado. O Peru vigiava para a Raposa, as suas criações do ataque dos gaviões, acauã, caburés, corujões João- Curutú á noite querendo pegar as aves no poleiro. Para isso dispunha de uma espingarda “Pica-pau” daquelas que carrega pela boca do cano, raspava taboca, fazia buchas, derretia chumbo fazendo “balotes”, além dos chumbos “Cabeça de macacos” e “Chumbinhos mostardas” era farta munição. A Paca cultivava milho e feijões, o rasteiro e o de cordas. O Tatú era vagabundo, vivia fazendo buracos por aí a esmo. Os animais grandes precisavam tomar cuidados para não quebrarem a pata em buracos que ele fazia. Sondava as galinhas da Raposa quando estavam chocas, para comer a noite os seus ovos no ninho. O Lagarto Teiú também vadiava o tempo todo, salvo um dia ou outro, vendia uns vidrinhos de mel de abelhas deste “tamaninho” assim, para pingar nos olhos como se fora colírio, para curar cegueira. Vendia uma “Banha” que só ele sabia onde encontrar, diz que curava picadas de cobras.   A Cutia roubava mandiocas do Caititu, e milho de sua prima Paca para assá-las de noite.  O Porco se encarregava de arar as terras e gradeá-las para a bicharada cultivar seus plantios em épocas certas. A Capivara vivia o tempo todo só tomando banho, não tinha o que fazer. Saia tarde da noite nas roças alheias para fazer danos, pastar suas plantações. Além de feia, preguiçosa, arrastando o “bucho” no chão. Mas falando do Coelho, este sentindo cansado daquela vida monótona, pouco dinheiro, porque na maioria dos negócios se constituía em barganhas de mercadorias entre os comerciantes, resolveu mudar de profissão. Queria ser fotógrafo e desenhista de paisagens ou pessoas, bichos de toda a espécie. Desde pequeno levava jeito para isso, ficava horas e horas admirando as paisagens, as serras, o céu azul, o tempo levantando e preparando para chover, as trovoadas, a chuva caindo, os raios quando riscavam o espaço, dando aquele estrondo quando atingiam a terra ou árvores, as tempestades, o arco-celeste, os ventos, o luar quando era noite, as estrelas cadentes, assistia o amanhecer, do crepúsculo as cores que o sol poente coloria o céu. Tudo isso lhe fascinava. Tinha vontade de colocar num quadro ou retrato estas coisas que achava bonitas e que a natureza criara. Ser um artista era o seu sonho. Um dia decidiu a vida. Vendeu e trocou por material de pintura e o que fosse necessário para um começo da nova profissão a sua quitanda de frutas e verduras e os legumes. Organizou tudo conforme planejara. Lá numa travessia da estrada com o córrego e uma parte que dava para um alagado quando o córrego enchia em épocas de chuvaradas. Lugar aprazível, todos os bichos teriam que passar por ali, todos os dias da semana principalmente nos sábados, feriados e dias santos de guarda. Construiu um barracão grande, e dentro o seu ateliê, terreiro amplo, algumas pedras grandes por ser beira de córrego, alguns troncos de ipê deitado com galhos secos. Plantou algumas flores de diversas qualidades para fazer fundo nos seus retratos e quadros de paisagem. Desviou por meio de um “Rego d’agua” um filete do córrego lá bem em cima, veio serpenteando conforme o acidente do terreno, passando por ali como se fosse uma enxurrada, mas permanente! Cresceu muitas samambaias, chapéu-de-couro, açucenas e outras plantas aquáticas, ficou muito bonito. Lá no fundo virou um brejo onde logo se criou muitos sapos, ao redor do seu barraco, plantou diversas árvores para fazer sombras sem esquecer que algumas ao seu tempo dariam frutas. Inspirado nelas formou no quintal um belo pomar com frutas de toda espécie e qualidades. Olha, ficou uma beleza de lugar, do jeito que sonhara há algum tempo, já andava imaginando que faria fortuna com a nova profissão dentro em breve. Mas por enquanto eram apenas sonhos, vamos esperar para mais tarde, quem sabe! Tendo em mãos tudo o que precisava para iniciar, retratou algumas paisagens, desenhou a sua casa e sua família, esposa e dois filhos, o lugar ao redor, pintou que ficou uma maravilha. Colocou a exposição dos passeantes na beirinha da estrada que logo perguntaram se ele fazia para vender, era isso que ele queria. Deu certo! Bateu palmas de contentamento. O primeiro freguês apareceu, foi o “Jegue da mata”. Dai para frente foi só sucesso. Tudo o que era bicho vinha na sua casa ver a novidade. Nem tinha tempo para comer, só atendendo a freguesia. Tudo transcorria as mil maravilhas. Num destes feriados prolongados, a bicharada acabou de tomar conhecimentos daquele trabalho que o Coelho fazia. Quase todos queria ser fotografados! O preço que o Coelho cobrava era razoável, todos poderiam pagar sem problemas, quem não tivesse dinheiro pagava com mercadorias, gêneros alimentícios. Até nisso ninguém se apertava. Tinha um monte de encomendas, por lá passou o Porco com a família, pediu para ser retratados, combinaram o dia de pagar. A Porca deitou-se e os leitõezinhos se ajeitaram para mamar, o Coelho riscou certinho e o Porco foi-se embora. Vai o Tatú, vem a Paca, a Cutia, o Cavalo, o Cachorro, o Gato até o Javali, cunhado do Porco, enfim todos os bichos. Naquela manhã de sábado, aparece lá um Sapo-boi, um baita bicho. Nada mais nada menos ele pesava uns 8 quilos. Foi fotografado também, marcou o dia de pegar a foto, coincidia com a data do Porco, da Rãzinha e outros. Chegando a data lá vem o anfíbio todo alegre, tinha dado um lustro nos chifres com um monte de sapos, todos curiosos para admirarem a foto do velho Sapo-boi, decerto pensavam: Deve ter saído muito bonita! Nós também vamos tirar. Tal não foi a surpresa e decepção que tiveram, saiu horrível, dava até tristeza de ver tamanha feiura, nossa Senhora que coisa! Ao apresentar a foto para o cliente o Coelho nem imaginava a reação do freguês ao ver seu trabalho tão dificultoso nos mínimos detalhes, saiu perfeito, nem o Coelho esperava uma coisa daquelas. Nossa! Mas o Sapo deu um pulo para trás! Esbravejou assim: É esse o teu trabalho? Isso é o que você faz! Cadê sua fama de fotógrafo? Porque me tratou dessa forma? Isso é deboche com a minha cara? Tá pensando que sou trouxa? Faz um serviço deste e ainda quer cobrar? Não aceito a foto! Pode ficar com ela! Não pago um centavo por este serviço mal feito! Não parece nem com minha sombra? O pobre Coelho tomou um susto que até a fala lhe fugiu. Pera aí mestre Sapo, disse o Coelho! A foto do senhor está perfeita! O senhor deve estar nervoso com outra coisa, meu trabalho é bem feito! Caprichei nos detalhes! Repare bem? O Sapo alterou de novo e foi aquele bate-boca sem fim. O Porco vinha chegando e ouviu aquele “Arranca-rabo”. A Rã e outros bichos pegaram suas fotos e ficaram satisfeitos com o trabalho do Coelho, admiravam, elogiavam mostrando uns para os outros. Pagavam contentes agradecendo ao Coelho. Aquilo para o Sapo-boi foi um insulto. O Porco pegou a foto da esposa com os leitõezinhos e ficou maravilhado. Pagou e já ia indo embora quando o Sapo-boi repetiu que o trabalho do Coelho era um serviço “porco”. Nossa! Aí o Porco pediu-lhe explicações!   Porque  é Porco ? Seu atrevido? Está me desrespeitando? Veja como fala?  A sua foto está perfeita, você achou-a feia? Deveria olhar antes num espelho e entender que você não tem beleza, és feio e quer que a foto fique bonita? Isso não tem cabimento! Pague o Coelho e deixe de arrumar encrenca! O Sapo inchou e veio na direção do Porco como se fosse pegá-lo pelo gogó, este não perguntou nada: Tirou o corpo fora e deu-lhe uma focinhada de baixo para cima naquele barrigão do Sapo que virou três cambalhotas no ar e caiu de ponta lá longe que até amassou um dos chifres.


 . Levantou sem graça, enquanto os presentes ao verem aquilo rolavam de tantas risadas. Bateu o pé: Não pago! Nisto foi chegando mais bichos e assistindo aquela discussão. Por fim o Sapo-boi, desapontado, fez uma proposta para o Coelho que reclamava ter gasto tempo e material com a foto e agora perder tudo? Tinha medo do Sapo com aqueles chifres pontiagudos, sorte dele que o Porco deu-lhe apoio e uma lição no Sapo que acalmou os nervos ligeirinho, então dissera ao amigo: Eu reconheço em parte que sou errado! Tratei, tenho que pagar! Mas a foto não me agrada, também tenho direitos, vou recorrer.  Vou pedir aos meus patrícios que aqui estão um parecer que seja justo! Muito embora me parece que, estão meio divididos. Eram uns cento e tantos sapos, de todos os tamanhos, uma saparia que dava até uma guerra. Afirmou, se eles votarem a seu favor, eu pago a foto e acabamos com a contenda. Se caso votarem ao meu favor, vou-me embora sem pagar nada, a foto fica para você. Concorda mestre Coelho? Sim, respondeu o fotógrafo! Então vamos lá: Pedindo atenção de todos os sapos ali presentes disse: Os que acharem que o Coelho tem razão, por favor, fiquem á minha esquerda, aqui deste lado, apontou com o dedo! Agora os que acharem que a razão está do meu lado, passem para este lado de cá, á minha direita! Serão dois grupos! Contaremos um por um de cada grupo, o grupo que contiver maior quantidade de elementos vencerá!  Foi uma mistura de tantos sapos, passa para lá e passa para cá! A bicharada que assistiu tudo, aprovou a ideia, bateram palmas. O Coelho contou de seu lado:  Deu 61. O Sapo contou do outro que eram seus: Deu 60. E agora? Empate técnico! O Coelho vibrou de alegria! Venci, gritava eufórico! Nada disso, disse o Sapo-boi! Está empatado meu caro! Quer ver? Chamou o dito cujo que gerou a diferença! Venha aqui? Era um Sapo já de avançada idade. Pois não, disse ele: Ás suas ordens! O Sapo-boi disse-lhe: O problema aqui está sendo você, terá que ir embora agora! Você é meu parente, mas eu sou seu superior, terá que me obedecer, não esqueça que sou chefe de todos vocês! Ouviu? O Sapo intimado passou a mão no queixo, pestanejou, pensou uns instantes e respondeu: O senhor está muito enganado, eu não vou á lugar nenhum, porque não estou recebendo ordens dessa natureza. Para isso serei juiz desta causa. Para julgar esta questão ou dirimir alguma dúvida, vão precisar de um Magistrado e eu sou formado em direito, entendo de leis, do jeito que o senhor pensar! Só dependo da aprovação da turma aí dos dois lados! Sou candidato único ao cargo de Juiz para esta questão. Aqui não tem nenhum mais que se habilite! A turma nem esperou nada, aclamaram-no! Aprovado! Aprovado!  Aprovado! Mais uma vez a cara do Sapo-boi cai por terra! Voltando ao assunto, e já de posse do cargo disse agora com autoridade: Vocês do lado direito me respondam: Apontou o dedo para o Sapo-boi que estava bem no meio dos dois grupos dizendo: E este “PAGA” a conta? Sua turma respondeu: NÃO PAGA! Virou para a turma do Coelho do lado esquerdo: E para este, ele “PAGA”? A turma disse: “PAGA”! Nossa! Disse o Juiz, está empatado ainda. Está suspensa a Audiência por hoje! Marcaremos outra, em data a ser definida, aguardem a notificação!  Até os dias de hoje perdura a questão! “PAGA” NÃO “PAGA”. Aquele Sapo-boi que gerou a discórdia com o Coelho, e o que se tornou Juiz, e toda saparia mais os bichos que assistiram, morreram todos de velhos, veio uma nova geração de todos, mas a questão continua do mesmo jeito! Ninguém mudou de lado. Continua sem solução a causa! Quando é noite que chove e logo estia, lá no brejo se ouve até ao amanhecer a turma dos dois lados Cantando assim: “PAGA ?”  “NÃO PAGA !”  /  “PAGA ?”  “NÃO PAGA !”  / “PAGA ?”  “NÃO PAGA !” Virou uma orquestra sinfônica!!!   kkkkkkkkkkkkkkkkk.



HISTÓRIAS QUE APRENDEMOS NO CURSO DA VIDA E CONTAMOS PARA DIVERTIREM.
DA CULTURA SERTANISTA ESTA É UMA HISTÓRIA DAS CENTENAS QUE EXISTEM.
“LUIZÃO-O-CHAVES” E SUAS IMAGINAÇÕES.......    
ANASTÁCIO MS 10/04/2014







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