Um velho boiadeiro depois
de muitos anos de viagens no estradão comandando um grupo de peões conduzindo
boiadas por este país afora um dia resolveu montar seu próprio negocio. Além de
uma grande experiência no ramo, tinha algumas economias calculou, planejou,
estudou com calma e paciência, na
conclusão de tudo: De hoje em diante
serei comprador de gado para aqueles que não se aventuram a sair viajando para
esta finalidade. O negócio deu muito certo estava feliz mesmo, só que naquela
época as andanças, viagens e transportes do gado eram a cavalo, viajavam meses
e meses no estradão empoeirado, com chuvas e frio e muita canseira, não eram
como nos dias de hoje que os compradores de gado até para os frigoríficos andam
de carro do ano, as estradas são todas asfaltadas e as de terra são de
cascalhos até nas entradas das fazenda por mais distante que sejam dos grandes
centros e das cidades de importância para estas transações. O transporte do
gado são todos motorizados, caminhões e frotas boiadeiros fazem todo o serviço
com extrema rapidez. Então o nosso velho peão estradeiro tinha sua montaria de
excelente qualidade e um cão de sua guarda. Uma mula de nome "Londrina"
e o seu cão de nome "Forasteiro". Além de outras montarias que lhe
serviam de reserva ou revezamento das contínuas viagens que fazia o mês
inteiro, quando estava baqueados pelo cansaço de tantas viagens pelos sertões,
tirava uns dez dias para o merecido descanso. Dava gosto ver os seus
companheiros do trecho, o cão e a mula e os demais. Coisa interessante são os
animais quando aquerenciam ou se apegam
aos seus donos e aos outros animais, parecem que se entendem um ao outro com
uma perfeição que a gente nem crê. Só vendo mesmo. Nas paradas, e nos lugares
do negócio a mula ficava de rédeas soltas no chão, não precisava amarra-la,
ficava quietinha ali sem se mover para lugar nenhum, parecia uma criança quando
a gente o deixa sentadinho numa cadeira
e pede-lhe para que não saia dali. Isto além do cão ficar sentado espiando ou
deitar-se embaixo da mula e cochilar, mas cuidando dela para ninguém se
aproximar. Era um enorme cão, bem cuidado bem nutrido, seu dono carregava um
cantil de alumínio revestido de lã e com
água na garupa para ele nos dias de calor e viagem causticantes, ele bebia na
copa do chapéu do velho. Sabe aquelas bolsas de couro de carregar na garupa dos
animais? Aquelas como nos filmes de faroeste cheias de água, esta era para a
mula. Esta tinha os cascos bem aparados e ferrados até para não estropiar
durante a viagem, o cão tinha em cada pata um sapatinho de couro feito por
sapateiro qualificado, podiam viajar o dia inteiro mesmo que fosse em estrada
pedregosa, pois nestas estradas os cascos do animal e as patinhas do cachorro
sofrem muito, e com os escorregões e tropeções do animal maior que até racham
os cascos. Era um encanto o cuidado com seus amigos da estrada que o velho tinha.
Trazia no bolso da baldrana uma faca grande e afiada e uma pistola automática
que era a sua defesa em caso de assaltantes lhe cercarem para roubar, mas era
muito feliz o veterano boiadeiro, nunca lhe acontecera nada até ali. Quando nos
folguedos ou onde se encontrava após a realização dos seus negócios, nas
fazendas ou nos botecos de beira de estradas ou lugarejos era admirada a beleza
de seus animais, o cão e a mula! O veterano peão mostrava á todos as
habilidades e préstimos dos dois. Atirava a sua carteira lá no chão e desafiava
quem a pegasse, o cão colocava as duas patas em cima do objeto e ninguém
encostava ali! O Forasteiro não deixava. Outra vez era a mula, dizia: Quem
pegar nas suas rédeas pode leva-la, é sua! A mula acendia as orelhas para o
lado do intruso, refugava e empinava pronta para dar manotaços ou voltando a traseira oferecendo-lhe um par de coices certeiros e mortais. Tudo era diversão para os
espectadores. Carregava muito dinheiro para as compras nas fazendas, tempos
bons quase não havia salteadores naquela época, vez por outra acontecia mas,
era muito raro. Trazia também uma enorme capa de chuva e a cama de couro,
aquelas que a pessoa fica encasulado em caso de pernoitar em algum lugar longe
de casas ou lugarejos. Certa ocasião
viajou longe de seu recanto, levou a carteira recheada de dinheiro,
matula para ele e os amigos durante a viagem, tudo indicava que seria uma longa
viagem. Já tinha mais de uma hora de viagem quando o cão se ausentou deles,
voltando para trás, demorou um bocado e depois retornou e ganindo, latindo para
seu dono, como se lhe chamasse a atenção por alguma coisa, dai a pouco sumiu de
novo e a mula começou a empacar e querer voltar para traz também, como
obedecendo o cão no seu latido e uivo. O patrão não se incomodou com aqueles gestos
dos companheiros, mas estes insistiam, a mula tomava-lhe as rédeas querendo
voltar para traz, o cão deu de sentar e uivar longamente, então o homem pensou
consigo: Este animal está louco! Só pode ser loucura mesmo. Ele nunca fez isto! Parou ficou olhando
o cão a distancia, ele abanava o rabo e se dirigia para traz como quem dizia:
Venha logo amigo, me siga! A mula queria acompanhá-lo mas o homem não quis. Pensou: Vou
matar este cachorro, está louco mesmo, apeou da mula amarrou-a num arbusto na
beira da estrada e seguiu o cão, este estava sentado no meio da estrada olhando-o
e esperando para voltarem juntos para traz. Mas o peão velho sacou da pistola e
deu dois tiros no cão, que saiu cai aqui,
levanta ali baleado mas correndo, o
homem foi atrás dele um trecho longo para acabar de matá-lo. Qual não foi a triste surpresa que teve. O cão caiu no meio da estrada ficando imóvel. O velho foi
até ele ver se estava morto mesmo e tirá-lo dali. Quando removeu o animal viu que
ele estava deitado em cima de sua carteira contendo todo o dinheiro que levava
para comprar o gado. O pobre boiadeiro desabou no chão, caindo em prantos e
lamentando a loucura que fizera com seu animal de estimação. Em desespero
pensava: Meu Deus! Porque fui tão estúpido! Poderia ao menos entender os gestos de meu
amigo! Ele queria me dizer alguma coisa, mas ele não fala! Nem pensei nisso! O velho não
percebeu quando a sua carteira tinha caído do bolso, mas o cão tentou fazê-lo
entender e voltar, mas o boiadeiro não lhe obedeceu. Depois se lembrou da mula que
fizera o mesmo, mas de nada adiantou. Atormentado de remorso e com o rosto
banhado de lágrimas tomou-o nos braços entrando no mato e com a faca cavou uma
cova rasa e nela enterrou seu melhor amigo. Voltou da viagem dali para casa
muito triste. A pobre mula quando passou por ali sentindo o cheiro de sangue do
cão soltou um zurrado lamentoso e muito triste como se despedisse do
companheiro de longas viagens, e que por muitos anos foram amigos inseparáveis.
Os animais também se amam! Ah! se os animais falassem! Melhor dizer: Ah! se os
humanos entendessem os animais! Mas cada um tem a sua linguagem. Em todo segmento de nossa vida temos a
obrigação de conhecer e entender o que fazemos, onde estamos, o que nos rodeia,
com quem trabalhamos, as nossas vizinhanças, as pessoas com as quais nos
lidamos, convivemos e negociamos. Esta faculdade de conhecer e discenir as coisas, pessoas
e animais a nós os humanos é um dom gratuito dado por Deus para facilitar nossa
convivência no meio ambiente. Mas muitos de nós nos tornamos cegos, grosseiros e
estúpidos e não se interessando usá-lo quando é necessário. Nascemos para viver em família, colônia, comunidade, aldeia, sociedade e nunca para sermos solitários,
sabem porque? Porque temos o dom da FALA. Ninguém foi criado para ficar falando
sozinho ou para as paredes. Observem que as pessoas que vivem solitárias nunca
estão só, criam animais de estimação e conversam com eles e todos nos entendem, sejam quais forem. Muitos de nós é que estamos atrasados por não entender eles. São mais sábios do que nós pensamos. Portanto o conhecimento que cultivamos e onde
é aplicado com atenção nos livra de cometer injustiças, porque esta campeia a
miúde o nosso descuido para se exaltar. A injustiça é a maior inimiga nossa,
tanto é que quando a cometemos seja em que circunstância for, e com quem quer
que seja, nós a sentimos, pesa algo diferente na consciência e no coração aí
seremos passiveis de castigos, repreensões e Juízo. Os povos andam muito atarefados, para não dizermos
que andam gananciosos em demasia por dinheiro e que não prestam atenção em nada
á sua volta mas só ao que lhes convém., e muitos tem remorsos do que fizeram
por falta de cuidado. Tchau! - 201
"COISAS DE CABOCLO DE
LUIZÃO-O-CHAVES"
1º DE JUNHO DE
2017
SIGAM
POSTAGENS MAIS ANTIGAS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário